domingo, 27 de julho de 2014

Em 4 anos, Dilma cresce menos do que Lula em 1

- Correio Braziliense

A decisão do Banco Central de injetar R$ 45 bilhões na economia em um momento em que o custo de vida já rompeu o teto da meta de inflação deixa claro que a prioridade do governo, a três meses das eleições, é apenas evitar que o país mergulhe numa recessão. A avaliação da equipe econômica é de que o país vive um colapso de confiança e que, portanto, é preciso criar uma agenda positiva para reverter o pessimismo de investidores, e das famílias.

Não é para menos. Se a previsão de crescimento de instituições conceituadas como a gestora de recursos Franklin Templeton Investments, o Banco Fibra, e a consultoria GO Associados, se confirme em 0,5%, o resultado do governo Dilma Rousseff só seria melhor do que o do período de Fernando Collor e Itamar Franco na Presidência, entre 1990 e 1994.

Se os prognósticos estiverem corretos, significa dizer que a média de expansão do PIB dos últimos quatro anos seria de apenas 1,69%. Mesmo o crescimento acumulado durante o mandato, de 6,90%, ficaria abaixo da média de expansão da economia apenas no último ano do governo Luiz Inácio Lula da Silva, quando o PIB avançou 7,53%.

No Palácio do Planalto, o sinal de alerta está ligado. A avaliação ainda é de que Produto Interno Bruto (PIB) não enche a barriga do eleitor. Mas, diante da ameaça de recessão, passou-se a temer também pelo mercado de trabalho, que começa a dar sinais claros de perda de força. O pacote de estímulo ao crédito do BC foi lançado na mesma semana em que os prognósticos do mercado financeiro para o crescimento econômico caíram abaixo de 1% pela primeira vez no ano e que o Fundo Monetário Internacional (FMI) cortou em 0,6 ponto a projeção de expansão da atividade para o Brasil em 2014.

Também na semana passada, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou as novas projeções para a economia. A revisão foi ainda maior, de 1,8% para apenas 1%. Para a entidade, "as causas da forte desaceleração são várias e decorrem mais do ambiente doméstico do que da economia mundial", declarou, por meio de nota.

Piora
Os últimos dados preparados pelo Ministério do Trabalho e Emprego, aos quais o Planalto acompanha com lupa, mostram um cenário preocupante para os trabalhadores. Ao excluir dos cálculos os fatores sazonais, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) já sinaliza aumento do desemprego. São dados que ainda podem piorar à medida que novos indicadores econômicos apontarem para a estagnação do crescimento.

Nesta semana, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará os resultados da produção industrial de junho, na sexta-feira. Os economistas do Santander projetam queda de 1,6%, na comparação mensal, com ajuste sazonal. No comparativo anual, o resultado seria ainda pior: contração de 7,2%.

Para os analistas do banco, o baixo resultado "está em linha" com a confiança do empresário industrial, "que vem mostrando quedas mensais consecutivas", escreveram em análise a clientes. Todos os índices de confiança do empresário industrial têm operado no vermelho. O mais recente, elaborado pela Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), atingiu, em julho, o menor patamar da história.

Ao deficit de confiança, diz o economista Vagner Alves, da gestora de recursos Franklin Templeton Investments, somam-se problemas que a indústria enfrenta há décadas, como a falta de mão de obra qualificada, pressões de aumentos de salários e dificuldade em competir com produtos estrangeiros. "A indústria enfrenta um descompasso muito forte. Os salários continuam subindo desde 2008 e a produção estacionou. Isso é perda de competitividade na veia", assinala.

Recessão técnica
Sem a força das fábricas, a economia sofre para mostrar bons resultados. No primeiro trimestre, o PIB brasileiro avançou 0,2%, um dos menores crescimentos entre países do G 20. Como as perspectivas para o segundo trimestre são ainda piores, nada indica uma reversão desse quadro. "Entre abril e junho, a economia deve ter encolhido 0,5%", diz o Vagner Alves, indicando as previsões feitas pela Franklin Templeton Investments.

No cenário em que trabalha, dada a intensidade da queda no segundo trimestre, até mesmo o resultado do PIB primeiro trimestre seria tragado para baixo. "As nossas previsões indicam que o país já está em recessão técnica", observa o economista.

Sem aumentar a produção interna, a indústria também sofre com a competição de importados, que, muitas vezes, chegam a custar até três vezes menos do que similares nacionais. O que ainda ajudava a salvar as vendas das fábricas eram as exportações para países vizinhos, como Venezuela e Argentina. Mas, em meio à forte crise de dólares e diante da recessão, ambos estão com problemas de importar itens brasileiros.

No primeiro semestre, as vendas de itens brasileiros ao exterior caíram 3,4%. Ao mesmo tempo, diante da moderação do consumo interno, as importações também recuaram, num total de 3,8%. Ou seja, apesar de o cenário internacional favorecer o comércio exterior, o Brasil está exportando e importando menos, o que fez a nossa corrente de comércio encolher 3,6% em 2014.

Boa parte dessa queda é atribuída à fraqueza do setor industrial. Diante de problemas de custos e já com margens pressionadas, a indústria brasileira se tornou presa fácil para concorrentes externos. Ao mesmo tempo, ao ver os lucros encolherem, os empresários botaram o pé no freio e engavetaram investimentos.

O economista Bruno Fernandes, da Confederação Nacional do Comércio (CNC), não tem dúvidas de que 2014 será um ano para ser esquecido. "O PIB já está dado. Por mais que a gente esteja a pouco mais da metade do ano, e que o governo tente lançar pacotes salvadores, não há muito mais o que fazer. A economia brasileira vai patinar mais uma vez este ano."

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