quarta-feira, 9 de julho de 2014

Especialistas veem pouco impacto nas eleições

• Vexame da seleção pode afetar humor no curto prazo, mas efeito seria passageiro

Thiago Herdy, Germano Oliveira e Silvia Amorim – O Globo

SÃO PAULO e BRASÍLIA — O mau desempenho da seleção brasileira em campo, ontem, poderá interferir no humor nacional a curto prazo, mas não no resultado da campanha eleitoral que se inicia, na avaliação de especialistas ouvidos pelo GLOBO.

— A Copa tirou o foco nos problemas econômicos e políticos do país. O governo ficou um mês em estado de graça e isso criou um clima de otimismo — disse o cientista político da UFSCar, Fernando Antônio Farias de Azevedo, lembrando a leve recuperação de Dilma na última pesquisa Datafolha.

No entanto, em sua avaliação, para o bem ou para o mal, tratava-se de um “efeito passageiro”. Ele lembra da memória das últimas cinco eleições, que provaria não haver “qualquer conexão” entre o resultado do Brasil na Copa e o das urnas.

Para o cientista político Roberto Romano, da Unicamp, a continuidade do sentimento de otimismo poderia ter beneficiado Dilma.

— Ela vai perder um pouco. Quando o Lula trouxe a Copa, imaginou que seria um passeio, com uma grande vitória brasileira, o que ajudaria o PT a vencer as eleições de 2014. Como isso não aconteceu, algum prejuízo ela terá e isso será usado por seus adversários na campanha, que tudo indica será bastante violenta — disse Romano.

O especialista lembra, no entanto, que problemas reais como a crise econômica e o retorno dos índices de inflação independem do resultado da Copa. E estes, sim, poderiam interferir no debate eleitoral.

— O que salva Dilma de efeitos mais negativos será a ação dos marqueteiros. A sorte é que ela tem o João Santana, que é um mágico e poderá fazer refluir, durante a campanha eleitoral, o pessimismo que permanecerá durante certo tempo — diz Romano.

O sociólogo Luiz Werneck Vianna acredita que o fracasso no futebol tem potencial para dar novo impulso ao desejo de mudança que atinge patamares elevados na população desde o ano passado. Para ele, entretanto, é “irresponsável e oportunista" qualquer análise sobre o impacto disso nas próximas eleições.

— O sentimento de mudança agora em relação à seleção vai se espalhar para outras dimensões e poderá ser um impulso novo para aquele desejo de mudança na população, que apareceu forte nas últimas pesquisas — afirmou Vianna.

Para Fernando Azevedo, “o jogo das eleições é diferente" e “se dá em outro campo":
— Se a seleção fosse campeã, isso não ajudaria a Dilma, assim como a derrota do Brasil não favorece a oposição. O eleitor ficou mais maduro, não mistura os canais. Eleição está de um lado, o esporte, do outro — acredita Azevedo.

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