domingo, 13 de julho de 2014

Ex-ministro de Lula é pivô de crise no comitê de Dilma

• Franklin Martins ameaça deixar coordenação após embate com assessores

• Coordenador havia publicado crítica à CBF e se recusou a retirá-la do ar; petistas dizem que isso criou 'tensão'

Andréia Sadi, Valdo Cruz - Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O comitê da campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff enfrenta sua primeira crise interna na largada oficial da disputa eleitoral e corre o risco de perder um de seus coordenadores.

Ex-ministro do governo Lula, Franklin Martins, responsável pelo site da campanha --o "Muda Mais"--, entrou em atrito com interlocutores da presidente por causa de um post sobre a CBF, publicado depois do que foi classificado como "terrível eliminação da seleção".

Irritado, ele chegou a ameaçar deixar a campanha depois que integrantes do comitê ligados a Dilma pediram que fosse retirado o texto que apontava a CBF como responsável pela desorganização do futebol. "Impera na CBF um sistema que em nada lembra uma instituição democrática e transparente. É preciso mudar", diz o texto do site.

O pedido de retirada do post, no mesmo dia em que Dilma reclamou com o ministro Aldo Rebelo (Esporte) sobre suas declarações defendendo uma intervenção no futebol, não foi atendido por Franklin.

Lula entrou no circuito e tentou acalmar seu ex-ministro, de quem é muito próximo, buscando demovê-lo da ideia de deixar a equipe. O tema vai ser discutido na reunião de coordenação da campanha nesta segunda (14).

Amigos de Franklin confirmam o atrito por causa do post, considerado como "coisa normal na temperatura elevada de eleição", mas negam que ele tenha ameaçado deixar a equipe.

Logo depois da derrota, Dilma buscou encampar a bandeira de reformulação do futebol, defendendo mais profissionalismo. Mas ficou preocupada com o risco de a oposição associá-la a uma estratégia populista, além de reforçar a crítica a seu estilo intervencionista.

Assessores da petista disseram à Folha que a nota da equipe de Franklin foi além do ponto e, em vez de ser propositiva, criou "tensão desnecessária" e um "sentimento de guerra equivocado".

Esse não é o primeiro atrito entre Franklin e dilmistas na organização da campanha de reeleição. Nome de Lula, ele tem sido "escanteado" no processo de decisões.

Nas discussões sobre estratégia de comunicação, João Santana acaba levando a melhor. Desde que defendeu, numa reunião de coordenação no Palácio da Alvorada, que Dilma fosse para o embate político, Franklin não se encontrou a sós com ela.

Ele não gostou, por exemplo, de não ter participado da elaboração do Plano Nacional de Transformação, anunciado com pompa por Dilma na convenção do PT, no último dia 21. Neste caso, não foi só Franklin quem ficou chateado. Na época, apenas Dilma, o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) e João Santana sabiam da ideia.

Por sinal, outra definição sobre a campanha criou desconforto entre Franklin e outros membros da equipe. Ele tentou convencer a presidente que o slogan "Muda Mais" era melhor que o "Mais Mudanças, Mais Futuro", proposto pelo marqueteiro.

Na reunião, Santana explicou a escolha do mote, e o slogan lançado foi o "Mais Mudanças, Mais Futuro".

Novo estilo
Independentemente da saída de Franklin, haverá mudanças. O novo estilo de coordenação da campanha mostra que sai de campo o comando único que imperou em 2010, quando a direção era do então presidente Lula. Entra em cena um duplo comando, que obriga a cúpula de campanha a se equilibrar entre visões nem sempre coincidentes de lulistas e dilmistas.

Na última eleição, Lula era o todo-poderoso. Dava as cartas e tinha um grupo de três assessores de peso --Antonio Palocci, José Eduardo Cardozo e José Eduardo Dutra.

Neófita na política, Dilma só seguia ordens de como se comportar nos embates políticos, sob o treinamento de João Santana. Agora que já não se sente mais como debutante, Dilma promoveu uma renovação quase integral na sua equipe e será mais ativa na definição das estratégias eleitorais, tomando as principais decisões ao lado de Lula.

Em 2014, o comando da campanha está mais diluído entre os petistas, que costumam se reunir às segundas-feiras no Palácio da Alvorada para definir as estratégias.

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