quarta-feira, 23 de julho de 2014

O perfil de quem vai pedir o seu voto

- Correio Braziliense

Dados oficiais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) permitem ver algumas características do "candidato médio" que se inscreveu para participar da disputa de outubro. Ele é homem (70,3% do total em todos os cargos), declara ter ensino superior completo (45,8%), e tem entre 45 e 49 anos (é a faixa etária mais comum, representada por 17% dos concorrentes), embora a idade avance um pouco nos cargos majoritários, como os de senador.

O cargo com o maior número de candidatos é o de deputado estadual, que será disputado por pouco mais de 65% dos postulantes, ou 16.246 pessoas. O hipotético "candidato médio" é empresário, ocupação declarada por 9,3%. Em seguida, aparecem outras profissões tradicionais entre os políticos, como a de advogado (5,5% do total), servidor público e professor. Curiosamente, 1.067 concorrentes, ou 4,2% do total, disseram ser "deputados", como se o cargo fosse uma profissão. Outros 1.050 candidatos adotaram vereador como profissão. A disponibilização dos dados dos 24.917 candidatos na internet foi realizada pela Justiça Eleitoral brasileira na tarde de ontem.

A quantidade de candidatos é a primeira surpresa: o número é 10,5% maior do que o de 2010, quando 22.538 cidadãos disputaram as eleições gerais. Nunca antes tanta gente quis conquistar um cargo eletivo, mesmo que eles, os políticos, tenham saído com a imagem mais arranhada do que nunca dos protestos de junho passado.

Outra mudança significativa diz respeito aos partidos. Em 2010, o campeão em número de candidatos foi o Partido Verde, que então abrigava a candidatura à Presidência da ex-senadora Marina Silva. Agora, em 2014, os petistas serão maioria entre os candidatos aos diversos cargos em disputa. Já o PSB, partido pelo qual Marina concorre à Vice-Presidência este ano, saltou do quinto para o segundo lugar em número de candidatos.

"Formiguinha"
Entre cientistas políticos ouvidos pelo Correio, há divergências quanto à importância do número de candidatos para o desempenho dos candidatos à Presidência da República. Para Ricardo Caldas, a principal influência é nas eleições proporcionais (para deputados estaduais e federais), em que o maior número "significa apenas que o partido arregimentou mais candidatos. E não necessariamente impacta nas eleições majoritárias". "O maior impacto é nas proporcionais. É a chamada "estratégia formiguinha". Quando o partido não tem um nome forte, um "puxador", ele investe em várias candidaturas que o ajudem a atingir o coeficiente eleitoral, nas eleições proporcionais, para eleger parlamentares", diz.

Já para o analista Antônio Augusto de Queiroz, mais conhecido como Toninho do Diap, faz sentido que os partidos com candidatos à Presidência tentem garantir apoios locais com os concorrentes proporcionais. "Esses candidatos servem de suporte para os presidenciáveis em seus estados e em suas localidades", sustenta ele. O grande número de postulantes também traria outros "efeitos colaterais" importantes para os partidos, segundo Toninho. "A votação do partido na disputa pelo Congresso também impacta a fatia que ele vai receber do fundo partidário e no tempo de tevê do horário partidário regular. Então, esse é outro fator que faz com que os partidos busquem aumentar a quantidade de candidatos tanto quanto possível", diz.

O pequeno PSol, com apenas três representantes na Câmara dos Deputados, é o partido com o maior número de candidatos a governador, tendo se apresentado para a disputa em 26 estados e no Distrito Federal. Na corrida pelo Senado, outra pequena legenda de esquerda terá o maior número de postulantes: o PSTU terá candidatos em 20 unidades da Federação, apesar de não ter nenhum representante no parlamento atualmente. O PSol vem logo pouco atrás, com 19 concorrentes ao Senado.

O cientista político e professor da UnB Ricardo Caldas lembra que a tática é comum, e já foi vista em outros anos. "É uma estratégia voltada para a valorização da imagem do partido. É muito comum que legendas pequenas busquem lançar o maior número de candidatos possível, para dar visibilidade à sigla durante o pleito", diz ele. Entre os partidos com as maiores bancadas no Congresso, o maior número de candidatos a governador pertence ao PMDB, com nomes próprios em 18 estados. Em seguida, vêm o PT, com 17, e o PSDB, com 12.

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