segunda-feira, 28 de julho de 2014

Santander atribui a analista informe que fez críticas a Dilma

• Presidente do banco diz que texto foi enviado sem consulta; investigação interna resultará em demissões

• Explicação. Emilio Botín: informe "não foi do banco e sim de um analista que o enviou sem consultar quem deveria"

- O Globo

Ao participar ontem no Rio do lançamento de uma plataforma de e-learning, em parceria com a Telefónica, o presidente mundial do Santander, Emilio Botín, afirmou que o informe enviado este mês aos clientes de alta renda, relacionando a melhora da presidente Dilma Rousseff nas pesquisas de intenção de votos a uma piora na economia, "não foi do banco e sim de um analista que enviou o informe sem consultar quem deveria consultar". Botín disse que o presidente do Santander no Brasil, Jesús Zabalza, "já deu as explicações às autoridades e à presidente Dilma".

Depois da declaração do presidente mundial do Santander, um executivo brasileiro do banco informou que todos os responsáveis pela elaboração e pela aprovação do texto serão demitidos após uma investigação interna, sem dar um prazo para a conclusão dos trabalhos. O texto distribuído aos clientes da categoria "Select", que ganham mais de R$ 10 mil por mês, provocou repercussão negativa no Planalto, o que levou a um pedido formal de desculpas do Santander, enviado à Presidência da República. Segundo o presidente do PT, Rui Falcão, que classificou o caso de "terrorismo eleitoral", a mensagem enviada pelo banco já falava em demissões.

Pesquisa e queda do Ibovespa
O episódio veio à tona na última sexta-feira, quando se tornou público o texto enviado aos clientes de alta renda do Santander. Sob o título "Você e seu dinheiro", a mensagem dizia que a queda de Dilma nas pesquisas eleitorais vinha contribuindo para a subida do Ibovespa. E completava: "Difícil saber até quando vai durar esse cenário e qual será o desdobramento final de uma queda ainda maior de Dilma Rousseff nas pesquisas. Se a presidente se estabilizar ou voltar a subir nas pesquisas, um cenário de reversão pode surgir. O câmbio voltaria a se desvalorizar, juros longos retomariam alta e o índice da Bovespa cairia, revertendo parte das altas recentes. Esse último cenário estaria mais de acordo com a deterioração de nossos fundamentos macroecônomicos".

A mensagem acabou provocando um constrangimento no banco e uma revolta no Planalto. Mesmo após o pedido de desculpas de Botín, o vice-presidente Michel Temer cancelou sua participação na abertura do III Encontro Internacional de Reitores, promovido pelo Santander, a partir de hoje, no Rio.

Banco pediu desculpas em site
O Santander divulgou um pedido de desculpas no site do banco no Brasil, afirmando que o texto não refletia o posicionamento da instituição. "O Santander Brasil vem a público esclarecer que o texto enviado a um segmento de clientes, que representa apenas 0,18% de nossa base, em seu extrato mensal, e repercutido por alguns meios da imprensa, não reflete, de forma alguma, o posicionamento da instituição", dizia o comunicado, acrescentando: "O referido texto feriu a diretriz interna que estabelece que toda e qualquer análise econômica enviada aos clientes restrinja-se à discussão de variáveis que possam afetar a vida financeira dos correntistas, sem qualquer viés político ou partidário".

O Palácio do Planalto evitou manifestações oficiais, e coube ao presidente do PT condenar a análise do banco.

- Vou aceitar a desculpa do banco, mas isso não elide o que aconteceu. O que houve é proibido. Não se pode fazer manifestação em uma empresa que, por qualquer razão, interfira na decisão do voto - disse Rui Falcão, na sexta-feira.

O presidente do PT lembrou que episódios semelhantes já ocorreram em relação a outras campanhas do partido, como a do ex-presidente Lula, em 2002:

- Já vimos esse filme no passado. Eles criaram o Lulômetro para medir como a bolsa oscilava.

O Santander tem no Brasil um quinto do seu lucro, e em 2000 ampliou sua atuação no país ao comprar o Banespa. Matéria publicada sábado no jornal espanhol "El País", lembrou, porém, que após a euforia da cúpula do Santander com a compra do Banespa, o banco "tem sentido as dores de uma economia mais difícil", e que, no ano passado houve "uma queda de quase 10% do lucro, em relação a 2012. Foram 5,7 bilhões de reais. No primeiro trimestre deste ano, uma nova queda da lucratividade: 14,92% menos que no primeiro trimestre de 2013, para um total de 518,4 milhões de reais".

O cenário de insatisfação com os resultados no Brasil já fora manifestado por Francisco Luzón, ex-presidente do Santander para a América Latina, durante o Fórum Desenvolvimento, Inovação e Integração Regional, promovido pelo "El País" no mês passado, em Porto Alegre, quando ele afirmara que "atualmente há investimento de menos, incertezas demais e crescimento baixo".

Emilio Botin, no entanto, reafirmou ontem sua fé no Brasil, e disse que entre os dez mercados onde o Santander investe, o Brasil é o mais importante.

- Venho a cada trimestre a este país lindo - afirmou, acrescentando que gostaria de ter vindo também para a Copa do Mundo, mas "ainda bem que não veio", numa referência às derrotas de Espanha e Brasil na competição. ( Com G1)

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