quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Brasília-DF :: Denise Rothenburg

- Correio Braziliense

O crash da política
Quem disser o que vai ocorrer daqui para frente na campanha eleitoral estará chutando feio.
O Brasil não perdeu apenas um candidato a presidente da República. Perdeu o homem que fazia a ligação entre as diversas correntes da política brasileira. Nos últimos dois anos, Eduardo Campos construiu pontes com o PSDB, de Aécio Neves, fortaleceu os laços com o PPS, o PDT. Até em meio aos aliados de Dilma Rousseff e do próprio PT, ele mantinha contatos. Foi essa capacidade que fez da união PSB-Rede algo palatável.
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A primeira ponte que ele construiu desde que foi procurado por Marina Silva, interessada em apoiá-lo na campanha presidencial, foi entre o PSB e a Rede. Nos últimos meses, todas as vezes em que alguém tentava fazer intriga entre ele e Marina Silva, a candidata a vice, ele logo chamava Marina e, olho no olho, dissipava qualquer dúvida de unidade entre mundos tão diferentes quanto PSB e Rede.
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Ele sabia como ninguém aglutinar leveza com firmeza. Seriedade com um fino humor. Preparava a campanha à Presidência — uma campanha que poucos brasileiros tiveram a chance de conhecer — pronto para se colocar como aquele capaz de juntar o melhor de dois mundos opostos do espectro político, o PT e o PSDB. Esse espaço continua vago. Ainda que Marina Silva surja como a sucessora natural de Eduardo Campos na chapa, ela terá de demonstrar se terá esse talento de aglutinar. Os próximos passos dirão.

Solidariedade
O ex-presidente Lula ligou superemocionado e falou com a dona Renata Campos e com Ana Arraes, respectivamente, mulher e mãe de Eduardo Campos. A família de Eduardo Campos tem recebido a solidariedade de todas as correntes políticas, um
fenômeno inédito.

Olho no Nordeste
Conhecedor dos movimentos da política, o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Augusto Nardes, trabalha na análise das contas e das obras públicas sem deixar de observar os movimentos políticos: "Não queremos nos meter na questão eleitoral porque não cabe ao tribunal mas, pela minha experiência parlamentar, alteram-se totalmente as previsões da eleição. (Tem que ver) qual a repercussão da comoção na Região Nordeste, não se sabe o que vai acontecer", diz ele. Não por acaso, a política parou esta semana.
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"Não vamos desistir do Brasil"
Eduardo Campos,
em sua última entrevista
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Vale a discussão
Sempre atento a detalhes e fatos que muitas vezes passam despercebidos em meio a tragédias, o ex-deputado Paulo Delgado (foto) alerta: "No Brasil, as autoridades deixam que as aeronaves
decolem em qualquer tempo, em qualquer condição. Isso precisa ser visto e estudado", diz.

Freire e Zé/ O ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos sabia como ninguém unir política e cuidado com os familiares. Dia desses, sentado num restaurante de Brasília de frente para o deputado Roberto Freire, Eduardo cortava o bife de José, 10 anos, enquanto conversava com Freire. Terminada a tarefa, passou o prato para o filho: "Toma, Zé, já fiz metade do serviço. Agora, só falta mastigar".

Tiradas na hora/ Repercutir as declarações dos adversários com o ex-governador Eduardo Campos era sempre motivos de boas risadas. Num dado momento, logo depois que ele se lançou candidato ao Palácio do Planalto e os petistas começavam a lhe atirar pedras nos bastidores, ele saiu com esta: "É feito coice de preá. Não faz nem cosquinha".

Sempre alerta/ Seis e meia da manhã. Assessores chegam meio sonolentos ao hotel para o café da manhã, marcado para "por volta das 6". Eduardo Campos, sem pestanejar, já de café tomado, perguntava em meio a um sorriso: "Vieram pro almoço? Tomem logo o café e vamos simbora". E lá saía, pronto para enfrentar a agenda.

À família/ Com as lembranças desses momentos alegres de Eduardo, a coluna deixa os mais sinceros e profundos sentimentos à dona Renata Campos, seus filhos, Maria Eduarda, João, Pedro, José e Miguel. O Brasil perdeu um político ilustre. Ela, o companheiro de uma vida.

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