quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Fernando Rodrigues: Candidatos analógicos

- Folha de S. Paulo

Os principais políticos brasileiros continuam mais analógicos do que nunca. A internet se presta a três usos principais na política: 1) interação entre candidatos e eleitores, governantes e governados; 2) propaganda positiva ou (sobretudo) negativa e 3) arrecadação de fundos por meio de pequenas doações de indivíduos que se tornam comprometidos com uma causa.

Exceto a propaganda negativa com a aspersão de lama generalizada, é raro ver um político interagindo para valer. Existem bate-papos em redes sociais, mas controlados por assessores, em total assepsia e sem espontaneidade. Há quanto tempo Dilma Rousseff, Aécio Neves ou Eduardo Campos não respondem eles próprios a algum cidadão por meio de um post pessoal, sem hora marcada? Esse fato é raridade.

Um aspecto revelador do descaso dos políticos com o meio digital é o fracasso absoluto do financiamento de campanha pulverizado. Em 2010, os candidatos a presidente mais competitivos tiveram um desempenho sofrível na arrecadação por meio da internet. Na atual disputa, a história tende a se repetir.

Há quatro anos, Dilma Rousseff ganhou a eleição presidencial e conseguiu meros R$ 180 mil via web. Marina Silva ficou em terceiro lugar e recebeu R$ 171 mil pela plataforma online. O tucano José Serra, segundo colocado, nem se arriscou a pedir dinheiro em seu site em 2010.

Só agora, a dois meses da eleição, Dilma lançou sua ferramenta de arrecadação na internet. O site de Eduardo Campos tem um aviso, mas está inoperante. Aécio Neves não pretende entrar nesse ringue digital.

Em democracias maduras, receber muitas doações pequenas pela internet é motivo de orgulho para um candidato. Já os eleitores que dão o dinheiro se sentem empoderados para cobrar as promessas feitas pelos políticos eleitos. Talvez essa seja a razão de tal modalidade de financiamento não deslanchar no Brasil.

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