sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Marina abranda discurso e acena para setores críticos a seu nome

• Candidata destacou dois emissários para dialogar com o agronegócio

Cristiane Jungblut, Mariana Sanches e Sérgio Roxo – O Globo

BRASÍLIA e SÃO PAULO - Como forma de neutralizar resistências de vários setores à sua candidatura à Presidência pelo PSB, Marina Silva adotou um discurso mais ameno em relação a temas sensíveis, como agronegócio e energia, a partir do momento em que seu nome foi oficializado como substituta de Eduardo Campos. Mesmo sem um documento, Marina transformou seus posicionamentos numa espécie de declaração de pontos de vista e do que deve nortear o programa de governo.

O documento formal do programa de governo será lançado na próxima sexta-feira e todos os pontos haviam sido discutidos previamente com Marina e Eduardo Campos. O documento terá 240 páginas, com uma versão light, de 20 páginas.

Apoio e financiamento
No tema mais controverso no que se refere às suas posições, o agronegócio, Marina usou tom mais brando, alegando que existem setores no Brasil preocupados em compatibilizar economia e ecologia. Ela defendeu a implementação, de fato, do Código Florestal, embora acenando para a possibilidade de mudanças.

A candidata foi além, e destacou dois de seus principais aliados - o ambientalista João Paulo Capobianco e o vereador e empresário Ricardo Young - para conversar com empresários e tentar angariar apoio e doações para a campanha. O objetivo deles é derrubar a imagem de que Marina é contra o agronegócio e se opõe a avanços tecnológicos como sementes transgênicas.

Capobianco e Young contarão com o reforço do empresário Guilherme Leal, sócio da Natura, que em 2010 foi candidato à vice-presidente ao lado de Marina. Leal já estava apoiando a chapa de Campos financeiramente - doara R$ 400 mil segundo a primeira prestação de contas -, mas agora, segundo interlocutores, está "muito entusiasmado" em assumir algum papel na campanha. Seu engajamento é visto como importante para atrair a confiança do empresariado.

Amanhã, Young e Capobianco terão uma reunião em São Paulo com o presidente da Sociedade Rural Brasileira, Gustavo Junqueira. Junqueira afirmou ao Globo que vê a aproximação com entusiasmo.

Marina e ruralistas estiveram historicamente em lados opostos, tanto no combate ao desmatamento na Amazônia quanto em assuntos de biossegurança. Mais recentemente, o embate se deu por conta da aprovação do Novo Código Florestal. Mas, no entendimento da campanha, ganhar aliados entre o agronegócio é fundamental não apenas pelos votos e pelo apoio financeiro, mas para evitar propagandas negativas à candidata. Entre marineiros, há a percepção de que alguns ruralistas têm ajudado a disseminar o estereótipo de evangélica fundamentalista a respeito de Marina Silva. Integrantes da campanha não descartam, inclusive, escrever uma carta de intenções aos ruralistas para deixar claro que Marina não pretende ser um entrave na atividade econômica do setor.

Defesa do etanol
A conversa com ruralistas começou antes mesmo da oficialização da candidatura de Eduardo e Marina. O ex-ministro da agricultura Roberto Rodrigues participou de conversa com a cúpula de apoiadores de Marina no Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS), criado pela ex-senadora. A campanha acredita que receberá o apoio do setor canavieiro, que tem Rodrigues como um de seus representantes, pela defesa da candidata ao etanol, considerado um combustível mais limpo do que a gasolina.

- Nos surpreendemos com a procura de apoiadores nesta semana. Vários setores do agronegócio, empresas de energia elétrica, setor financeiro já nos procuraram e demonstraram disposição de conversar. O empresariado não quer mais a Dilma (Rousseff, candidata à reeleição) e vai para quem tiver mais chance de vencê-la - afirmou Young, que até o fim do mês deverá se licenciar do cargo de vereador para se dedicar exclusivamente à campanha de Marina.

O pensamento da candidata

Agronegócio:
"Discordo da ideia de que o agronegócio, de forma homogênea, tem restrições (à minha candidatura). Existem vários agronegócios. Tem muita gente que já está na vanguarda de integrar economia e ecologia. Discordo que nossos agricultores produzam sem agenda social e ambiental".

Código florestal:
"Existe na lei um conjunto de medidas que precisam ser tomadas. O Código Florestal foi aprovado no Congresso, e em relação a qualquer lei que não é cláusula pétrea, propostas podem ser apresentadas para melhorá-la. Nosso compromisso é implementar o Código Florestal".

Energia:
"Temos o compromisso de resolver de forma estrutural esse problema que se arrasta. Essa política energética está custando caro ao povo brasileiro. Infelizmente, estamos sujando a matriz energética brasileira. O que está sendo feito com as térmicas (para os momentos de baixa nos reservatórios) tem que ser reduzido (porque o modelo não pode ficar estruturado em usinas térmicas)".

Inflação:
"Em relação à questão da inflação, espero, como dizia Eduardo Campos, que a gente possa não perder este patrimônio do povo brasileiro. Infelizmente, a presidente Dilma vai entregar o país pior (do que recebeu)".

Banco Central:
"Essa é uma questão em que não havia diferença entre os partidos que sustentam a nossa aliança. Defendemos a autonomia do Banco Central como fundamental para restabelecer a segurança da política macroeconômica. Esse foi um tema que foi tratado sem nenhuma divergência dentro da nossa equipe econômica e dentro da nossa relação com os demais partidos".

Relação política:
"Os que estavam lá (no enterro de Campos), mesmo com divergências, deram contribuição, avançaram com o fim da inflação, com a inclusão social. Teremos a disposição de dialogar com o Brasil. Não vamos usar as redes sociais para mentir, caluniar, difamar quem quer que seja. Campanha clara e transparente como eram os olhos de Eduardo".

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