quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Para analistas, Marina terá que ser confrontada

• Especialistas preveem que, após ibope e debate, dilma e aécio serão obrigados a pressionar candidata a detalhar propostas

Alessandra Duarte e Carolina Benevides – O Globo

Num debate horas depois de a última pesquisa Ibope ter mostrado mudança na disputa presidencial, a petista Dilma Rousseff e o tucano Aécio Neves não confrontaram o suficiente a candidata do PSB Marina Silva. Para analistas ouvidos pelo GLOBO, Dilma foi a que mais precisou se defender da cobrança dos outros presidenciáveis na TV Bandeirantes, anteontem. Inclusive de Aécio, que centrou fogo mais na petista, apesar de Marina ter subido dez pontos na pesquisa, ficando à frente do tucano no primeiro turno. Dilma, que na pesquisa aparece atrás de Marina numa simulação de 2º turno, também preferiu manter o embate PT x PSDB, em vez de confrontar a candidata do PSB.

- Dilma e Aécio receberam uma notícia ruim (a pesquisa) e foram debater. Aécio estava assustado, mas conseguia disfarçar sorrindo. Dilma não disfarça, tem aquela expressão enfezada - afirma Eugenio Giglio, professor de Marketing da ESPM-Rio. - Se houve vencedor, do ponto de vista de marketing, foi a Marina, que conseguiu escorregar sem definir propostas, mas marcando a imagem de não ser contra ninguém e querer pegar o melhor de todos.

Para Oscar Vilhena, professor da FGV-SP, a pesquisa "fez com que houvesse mudança muito forte no cenário eleitoral":

- Além disso, a partir da morte do Eduardo (Campos, candidato do PSB), todos já tiveram que se recolocar. Dilma e Aécio sabem que o quadro mudou. Se as próximas pesquisas confirmarem o crescimento de Marina, vai ser impossível manter o discurso polarizado. O apelo da candidata do PSB é forte, e eles vão ter de tentar desconstruí-la.

- Em comparação com 2010, Dilma estava com mais desenvoltura. Passou a impressão de que tinha o controle do seu governo. Aécio fez críticas ao governo já esperadas. Até pressionou Marina também, mas jogou para empatar - acrescenta Claudio Couto, professor da FGV-SP.

Relação com o Congresso
O bom desempenho de Marina se deu, em boa parte, porque ela não foi pressionada o suficiente, diz Eugenio Giglio. Um dos pontos que Dilma e sobretudo Aécio poderiam ter cobrado mais da ex-senadora é como ela governaria, na prática, sem a estrutura partidária:

- Marina falou que consegue conciliar todos, mas não como faria. Ela conseguiu sair do debate sem se posicionar, o que, para o eleitor indeciso, é o ideal. Por isso ela pegou tantos votos dos indecisos e das abstenções. E, por passar a imagem de que consegue uma solução fora da estrutura partidária, também é o ideal para aqueles que, nos protestos do ano passado, não queriam partidos. Além disso, por ela não se posicionar, foi difícil para os adversários atacá-la. Como você se posiciona contra alguém que não tem posição?

- Aécio e Dilma terão que encontrar pontos fracos na Marina, que não tem apresentado propostas. Mas não acredito que apresentá-las seja decisivo nesta eleição. O ponto fundamental é o candidato passar credibilidade quando faz promessas. Isso está sobrando na Marina e em falta para os outros dois - destaca Daniel Aarão Reis, historiador da UFF. - Os adversários podem bater nas bases políticas da Marina. Dilma e Aécio podem tentar mostrar que, por melhor que seja a intenção, sozinho não se vai longe.

Cientista político da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Yan Carreirão sublinha que a petista e o tucano perderam oportunidade de mostrar contradições de Marina: por exemplo, como ela manteria o desenvolvimento econômico e lidar com o agronegócio; e como ela conviveria com o Congresso:

- Ela pode escolher os ministros, mas não o Congresso com o qual vai ter de lidar. Nem tudo depende do presidente. O discurso de conciliar tudo pode pegar bem, mas vimos, pela experiência de (Fernando) Collor, que governar sem base partidária não é algo necessariamente bom.

- A polarização já era, a petista e o tucano vão ter que mostrar propostas concretas - completa David Fleischer, da UnB. - Marina está aí para ficar, não é uma marola.

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