terça-feira, 5 de agosto de 2014

PIB do Brasil entre os piores da América Latina

• Cepal corta para 1,4% a previsão de crescimento do país em 2014. Para analistas do mercado financeiro, a expansão será ainda mais modesta e não passará de 0,86%

Deco Bancillon – Correio Braziliense

O pessimismo que se alastra entre empresários e famílias também alcançou os organismos internacionais. Menos de duas semanas após o Fundo Monetário Internacional (FMI) cortar de 1,9% para 1,3% a projeção de crescimento econômico do Brasil em 2014, ontem foi a vez da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) também revisar para baixo as projeções para o desempenho do país.

A entidade das Nações Unidas (ONU) reduziu de 2,3% para apenas 1,4% a estimativa de alta do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro neste ano. A revisão dos números foi anunciada no mesmo dia em que a pesquisa Focus, do Banco Central, revelou que a projeção do mercado financeiro para o crescimento da economia brasileira, bem mais pessimista, caiu pela décima semana consecutiva. A estimativa passou de 0,9% para 0,86%.

Outros países da região também tiveram as previsões de crescimento revisadas para baixo pela Cepal, mas em intensidade menor que a do Brasil. O México, por exemplo, deverá avançar 2,5%. Até abril deste ano, a entidade projetava que a expansão da economia mexicana seria de 3%.

O mesmo ocorreu com o Chile, onde o organismo internacional tem sede. A estimativa para o crescimento daquele país foi reduzida de 3,7% para 3% em 2014. Em situação pior estão Cuba e Argentina, que tiveram as projeções cortadas em 0,8 ponto percentual. O país da América Central deverá crescer 1,4%, o mesmo desempenho do Brasil. Já o vizinho sul-americano praticamente ficará estagnado, com expansão de apenas 0,2%.

Para a Cepal, latino-americanos e caribenhos foram afetados pela redução do comércio global e pela queda do preço das commodities (matérias-primas com cotação em bolsa). "O barateamento dos preços das exportações segue reduzindo a conta corrente dos países, inclusive do Brasil. Também há menos importações, refletindo a menor demanda das famílias e o baixo crescimento econômico", disse Jurgen Weller, diretor substituto da Divisão de Desenvolvimento Econômico da entidade.

Contudo, nem todos os países da região serão afetados pela redução do comércio global. A secretária executiva do órgão, Alicia Bárcena, lembrou que Colômbia e México têm economia mais dinâmica e crescerão mais do que em 2013. Mesmo com essas exceções, a entidade reduziu a estimativa de crescimento do conjunto da América Latina e do Caribe de 2,7% para 2,2% em 2014, em função, especialmente, dos maus resultados de economias como Brasil, Argentina e Chile.

Defasagem
"Os dados que estão ficando evidentes ao longo do semestre já apontavam para uma desaceleração de vários setores produtivos no Brasil, em especial da indústria, e para a queda das exportações", disse o diretor da Cepal para o Brasil, Carlos Mussi. Ele observou que as previsões da entidade foram feitas no fim de junho e não incorporam dados divulgados no mês seguinte que traçam um cenário ainda mais preocupante para o crescimento econômico de 2014.

É o caso do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-BR) referente a maio, que encolheu 0,18%. Considerado um termômetro para o PIB, o indicador sinaliza que o a economia está a um passo da recessão, o que poderá ficar comprovado no fim deste mês, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará os resultados do PIB no segundo trimestre.

A julgar pelos dados da indústria, as expectativas não são nada favoráveis. O setor teve quatro quedas mensais desde março. Em junho, a produção nas fábricas encolheu 1,4%, o pior resultado desde dezembro. Comparado a junho de 2013, houve retração ainda maior, de 6,9% — o mais baixo desempenho desde setembro de 2009.

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