segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Ricardo Noblat: Não se meta, Dilma!

- O Globo

"Feliz a Nação cujo Deus é o Senhor"
Dilma, cheia de graça, à caça do voto religioso

O que essa gente do governo Dilma Rousseff, ela incluída, imagina mesmo que somos? Um bando de idiotas? Ou de ignorantes? Incapazes de distinguir entre o falso e o verdadeiro? Vai ver parecemos dispostos a ser enganados desde que não nos apertem os bolsos. Nem revoguem direitos e benefícios obtidos a duras penas. Ou que nos foram concedidos em troca de votos. Pois é... Os aloprados estão de volta!

PERDÃO. OS ALOPRADOS não estão de volta. Estão de volta aqueles que a cada eleição tentam por meios escusos influenciar seus resultados. Lula chamou de aloprados os membros de sua campanha à reeleição que montaram um falso dossiê para enlamear a imagem dos candidatos do PSDB a presidente da República (Geraldo Alckmin) e ao governo de São Paulo (José Serra).

ALOPRADO É SOMENTE um tipo inquieto. Ou amalucado. Na época, ninguém contestou o uso impróprio do inocente adjetivo para identificar , de fato, manipuladores da vontade popular . Sinto muito, mas era disso que se tratava. Agora será diferente? Como qualificar os que agiram para transformar a CPI da Petrobras numa despudorada farsa? Uma CPI que poderia afetar o resultado da próxima eleição presidencial?

ALI HAVIA UM GRAVE malfeito a ser investigado capaz de alcançar Dilma a poucos meses da sua sucessão. A Petrobras fez um dos piores negócios de sua vida ao comprar a refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. O negócio foi aprovado pelo Conselho de Administração da companhia presidido por Dilma. Respondam com franqueza: o que foi feito da gestora tida por Lula como exemplar?

DILMA ALEGOU que se baseara num parecer técnico "falho" quando avalizou a compra da refinaria. E que o autor do parecer já fora demitido da diretoria da Petrobras. Descobriu-se, afinal, que o demitido, assim como a atual presidente da companhia, receberam de véspera as perguntas que lhe seriam feitas por senadores do governo escalados para integrar a CPI. Uma ação entre amigos. Ou melhor: um crime!

SOB PRESSÃO DO GOVERNO, o Tribunal de Contas da União (TCU) retirou o nome de Dilma da lista dos eventuais culpados pelo prejuízo de US 792,3 milhões contabilizados pela Petrobras. Deixou de fora da lista o nome da presidente da Petrobras, Graça Foster . E por fim adiou o julgamento do caso. Graça não poderia dispor de melhor advogado de defesa – Dilma, que a nomeou para o cargo.

LEMBRAM-SE DA VEZ que Lula se referiu a Sarney como "um homem incomum?" Foi a maneira que achou para socorrer o fiel aliado, suspeito de alguma tramoia. Graça é "uma mulher incomum", sugeriu Dilma. Que decretou: "Nós não achamos que pese contra ela qualquer processo de irregularidade". Nem contra o marido de Graça, prestador de serviços à Petrobras.

SERIA MAIS RAZOÁVEL que Dilma correspondesse ao que se espera de quem ocupa o cargo mais importante da República, deixando o TCU livre para decidir se lançará o nome de Graça no rol dos responsáveis pelo negócio de Pasadena. Ninguém pediu a opinião dela sobre Graça. Não interessa ao tribunal — e não deve interessar — o que pensa Dilma de sua amiga de fé, irmã, camarada.

O PODER COSTUMA cegar quem o exerce. Embora carente de talento para estar onde foi posta por Lula, Dilma entende que merece se reeleger porque fez um governo estupendo, inesquecível. Por certo, inesquecível, sim... De resto, é tamanha a fraqueza dos seus adversários que ela tem tudo para se reeleger . Se os fados ajudarem, no primeiro turno

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