terça-feira, 16 de setembro de 2014

Dilma promete repassar recursos do petróleo também para a cultura

• Ato de apoio à candidata atrai cerca de 100 artistas e intelectuais do Rio

• Artistas como Chico Buarque, Marieta Severo e Paulo Betti não compareceram ao evento de apoio à candidata

Leandra Lima e Marco Grillo - O Globo

RIO — Com menor presença de nomes de peso em comparação com campanhas petistas do passado, o PT reuniu nesta segunda-feira cerca de 100 artistas e intelectuais em ato de apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff, na Zona Sul do Rio. Aos presentes, Dilma prometeu repassar parte do dinheiro dos recursos do pré-sal para a Cultura. O evento foi aberto ao público, que lotou os quase mil lugares do Teatro Oi Casa Grande.

— Tivemos (uma) parada na expansão dos pontos de cultura. Acredito que o dinheiro do pré-sal teria que ser destinado a pontos de cultura, (fomento) de start-ups e casas de cultura — defendeu a presidente, que depois comentou:

— Fiquem de olho (no pré-sal), porque tem muita gente poderosa de olho. Entrem no site do departamento de energia americano e vejam o que eles dizem sobre isso. Que o Brasil vai ser um dos maiores exportadores de petróleo. Não olhem para isso como se fosse uma coisa menor.

Apesar de ser um encontro voltado para a cultura, outros assuntos ganharam mais destaque, em especial a defesa dos programas sociais implementados durante o governo do PT e a redistribuição de renda. O ex-presidente Lula reconheceu que o setor cultural precisa de mais atenção do governo, e o cantor Chico César defendeu uma maior distribuição de recursos fora de Rio e São Paulo.

Ainda mantendo as artilharias no rumo de Marina Silva, Dilma defendeu a reforma política como forma de se esquivar do discurso “contra os partidos”.

— Reforma política é imprescindível para a gente não cair nesse discurso contra os partidos. Não acredito em reforma política sem participação popular. Por isso, os plebiscitos.

No encontro desta segunda-feira não compareceram, entre outros, artistas como Chico Buarque, Marieta Severo e Paulo Betti, que sempre estiveram em atos como este. Ainda assim, os quase cem artistas e intelectuais que ocuparam o palco do Teatro Oi Casa Grande, no Leblon, fizeram muitos ataques à candidata Marina Silva (PSB). Em seu discurso, que durou uma hora, o ex-presidente Lula, em tom de ironia, fez duras críticas sem citar a adversária nominalmente. Ele criticou principalmente o fato de Marina ter abandonado o PT após ter se deparado com “defeitos” do partido.

Lula sugeriu que, caso sua ex-ministra do Meio Ambiente vença as eleições, seria criado no Brasil um ambiente para se ter um governo como o de Janio Quadros e Fernando Collor, no Brasil, e Silvio Berlusconi, na Itália.

Chico César, Leonardo Boff e Marilena Chauí também fizeram críticas indiretas a Marina:

— Não podemos ter o risco de uma aventura regressiva — disse Marilena Chauí.

Depois do discurso de Marilena, o público e alguns dos convidados que estavam no palco cantaram um refrão que dizia "Marina é só caô" e fizeram um gesto com a mão, como se a candidata do PSB falasse demais. Dilma riu e repetiu o gesto. Próximo a discursar, Boff, que apoiou a candidatura de Marina em 2010, não citou o nome da adversária de Dilma, mas usou uma metáfora:

— Há quem defenda projetos bonitos falando de borboletas, mas se esquece de plantar as flores para que as borboletas venham. As conquistas de doze anos correm riscos e devemos lutar para preservá-las — afirmou o teólogo, que em determinado momento cometeu um ato falho e chamou Dilma de "Presidenta Lula".

Ao citar Fernando Morais, presente entre os convidados, Lula disse que não aceitaria que se fosse escrita uma biografia sua em vida, porque “seria impossível se dizer as verdades”.

— Você acha que, se Bill Clinton fizesse uma biografia em vida, ele citaria o caso com a Monica Lewinski? Que se o Fernando Henrique tivesse feito, ele teria falado do caso dele? — perguntou.

Em seu discurso, Dilma voltou a defender a criminalização da homofobia, sem citar porém, o PL 122/06, que criminaliza a homofobia e que está parado no Senado:

— Temos que combater a discriminação de negros e homossexuais, criminalizando a homofobia.

Dilma também voltou a criticar, como fez pela tarde, o discurso dos opositores que defendem a redução do número de ministérios caso sejam eleitos.

— Querem acabar com ministérios. Não entendem que ministérios tem funções diferentes. Desconfio que querem acabar com o Ministério das Mulheres, dos Negros e dos Direitos Humanos — disse, enfatizando a presença da Ministra da Igualdade Racial, Luiza Bairros

A presidente também mandou um beijo para o autor de “Dilma Bolada”, personagem do Twitter, que estava na plateia.

Ao fim do encontro, que durou mais de três horas, Dilma desceu do palco para tirar fotos com admiradores. Bem-humorada, ela se dedicou à tarefa por cerca de quinze minutos.

— Isso se chama terceirizar selfie, não dá — brincou com um militante que entregou o celular para que outra pessoa registrasse o momento.

Juca Ferreira aplaudido e críticas à imprensa
Ex-ministro da Cultura e coordenador da área na campanha de Dilma à reeleição, Juca Ferreira foi bastante aplaudido e teve o nome gritado quando foi citado por Lula. Já a atual titular da pasta, Marta Suplicy, que também estava no palco, recebeu aplausos mais tímidos. Ao citá-la, Lula ressaltou que não sabe se Marta vai continuar no cargo em um eventual próximo governo de Dilma.

Lula usou uma parte do discurso para criticar a imprensa. O ex-presidente se referiu a mídia como um "partido de oposição" e ironizou o fato de jornais receberem publicidade estatal e publicarem reportagens críticas ao governo.´

— Aumentou a irresponsabilidade do papel do jornalista, que não é perguntar aquilo que ele quer saber, mas aquilo que interessa à candidata falar para o povo brasileiro, porque é ele (povo) que tem que ouvir — disse.

Em outro momento, Lula fez um mea culpa em relação a erros do PT. Atribuindo uma frase à economista Maria da Conceição Tavares, que estava no palco, o ex-presidente lembrou um episódio em que, para rebater uma crítica ao partido, a economista teria dito que "o PT é uma merda, mas é meu partido. Ele não presta, mas é meu".

— Eu estou nessa fase. Ele (PT) tem defeitos, mas é o meu partido — afirmou Lula, que defendeu uma proposta de reforma política com a participação popular e o fim do financiamento privado nas campanhas.

O candidato do PT ao governo do Rio, Lindbergh Farias, assistiu ao encontro da primeira fila da plateia. A ministra da Igualdade Racial, Luiza Bairros, e o ministro da Secretaria de Comunicação Social,Thomas Traumann, também estavam presentes No palco, além de artistas e intelectuais, havia também políticos, como o assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia e o presidente do PT, Rui Falcão. Entre os nomes ligados á cultura que marcaram presença no palco do teatro estavam Beth Carvalho, Alcione, Yamandu Costa, Sergio Mamberti, Emir Sader, Elza Soares, Luiz Carlos Barreto, Chico Diaz, Antônio Pitanga, Ana Paula Lisboa, da Agência de Redes para a Juventude, e Pablo Capilé, da ONG Fora do Eixo. Outros representantes da classe artística, como Osmar Prado, Serguei e Sérgio Ricardo ficaram na plateia.

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