segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Disputas estaduais indicam o fim da polarização PT-PSDB

César Felício – Valor Econômico

BRASÍLIA - A polarização entre PT e PSDB não tende a desaparecer apenas na eleição presidencial: também deve sumir nas disputas para governador no segundo turno. De acordo com as mais recentes pesquisas divulgadas em 25 dos 27 Estados, em apenas um deles, o Mato Grosso do Sul, existe a possibilidade de um segundo turno entre um petista, o senador Delcídio Amaral, e um tucano, Reinaldo Azambuja. O levantamento não levou em consideração o Mato Grosso e Roraima, porque não foram realizadas nesses Estados pesquisas depois da substituição de candidatos impugnados pela Lei da Ficha Limpa.

A contraposição mais comum deve consolidar o PMDB no palanque da presidente Dilma Rousseff e enfraquecer a chance de uma neutralidade tucana se a oponente for Marina Silva (PSB). O PMDB e o PSDB podem disputar o segundo turno em confronto direto em quatro Estados: Pará, Goiás, Rondônia e talvez Paraná, onde a dianteira do governador Beto Richa lhe dá a vitória no primeiro turno, mas dentro da margem de erro.

No Espírito Santo, caso ocorra, o segundo turno deve confrontar o PMDB e o PSB, um cenário que também empurra os peemedebistas para Dilma. O partido do vice-presidente Michel Temer tende a vencer no primeiro turno em Alagoas e no Tocantins e pode enfrentar um segundo turno em outros dez Estados. Em apenas um, o Ceará, existe a possibilidade remota de um segundo turno confrontando PMDB e PT.

O pemedebista Eunício Oliveira lidera as pesquisas com margem cada vez menor em relação ao petista Camilo Santana, mas a pouca expressão dos demais candidatos pode fazer com que a eleição se resolva no primeiro turno. É o mesmo cenário que existe no Rio Grande do Norte, em que o pemedebista Henrique Alves, com apoio do PSB e do DEM, lidera a curta distância do vice-governador Robinson Faria (PSD), que tem o apoio do PT. O PMDB ainda deve estar no segundo turno no Rio de Janeiro, contra o PR. Neste Estado, Anthony Garotinho (PR) apoia formalmente Dilma Rousseff, e Luiz Fernando Pezão (PMDB) dividiu seus aliados entre a presidente e o tucano Aécio Neves. Sem Aécio no horizonte, a aposta de Michel Temer é que Marina fique sem palanque regional no terceiro maior colégio eleitoral do país.

Nos dois principais colégios eleitorais do país, São Paulo e Minas Gerais, a eleição tende a se resolver no primeiro turno, com a provável reeleição do tucano Geraldo Alckmin (SP) e a eleição do ex-ministro petista Fernando Pimentel (MG). Para petistas e integrantes do PSB, o resultado em Minas Gerais será particularmente estratégico, porque pode tirar em uma eventual negociação de apoio no segundo turno a força do senador Aécio Neves (MG), candidato presidencial tucano e presidente nacional da sigla, que está em terceiro lugar nas pesquisas.

"Ele não terá uma posição de solidez em sua base e uma votação nacional que torne o seu apoio em um segundo turno tão importante quanto foi o de Leonel Brizola (1922-2004) nas eleições de 1989", comenta o presidente nacional do PSB, o ex-ministro Roberto Amaral. O dirigente faz referência à disputa presidencial de 25 anos atrás, em que Luiz Inácio Lula da Silva foi para o segundo turno contra Fernando Collor, depois de superar o pedetista Brizola por apenas meio ponto percentual.

Depois de uma tortuosa negociação com Lula, o terceiro colocado naquelas eleições apoiou o petista e transferiu quase a integralidade de seus votos no Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. A ajuda não foi suficiente para a vitória de Lula, mas até hoje é citada como um caso exemplar de transferência de votos. Para Amaral, no segundo turno Marina negociará apoios caso a caso, Estado por Estado.

É o que pretende fazer também o PT, que deve ter um saldo modesto na eleição para os governos estaduais este ano. Além da aposta na vitória de Pimentel no primeiro turno, o partido conta também com a eleição imediata de Wellington Dias no Piauí, admite que poderá ter que enfrentar um segundo turno no Acre e no Mato Grosso do Sul, e ainda tem esperanças nas eleições no Rio Grande do Sul, Ceará, Bahia e Distrito Federal.

"Este segundo turno terá outra lógica. A direção nacional deverá permitir a aproximação com o PSDB, sempre que o oponente local não for um aliado no plano nacional", disse o secretário nacional de organização do PT, Florisvaldo de Souza, acenando com a revogação de uma antiga norma que veda alianças locais entre tucanos e petistas.

Na prática, entretanto, serão poucas as situações em que Dilma poderá trocar apoios com um tucano. Na Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB) deve enfrentar o governador Ricardo Coutinho (PSB) na segunda rodada. Embora Coutinho tenha se aliado localmente com os petistas, o governador está fazendo campanha para Marina.

O PSDB elegeu oito governadores em 2010. Este ano lidera as pesquisas em seis Estados e o caso de Alckmin é o único em que o segundo turno é uma possibilidade remota. Das conquistas de quatro anos atrás, os tucanos abriram mão de disputar em Estados com menor eleitorado, como Alagoas, Roraima e Tocantins, para tentarem preservar a posição em Estados com grandes bancadas. Só não está tendo sucesso em Minas. Aécio, entretanto, não está se beneficiando da força regional tucana. "Estas eleições estão completamente descasadas com a eleição presidencial. Este ano não terá uma onda vinda dos Estados", diz um dos vice-presidentes da sigla, o ex-ministro Eduardo Jorge, que é o presidente do PSDB do Distrito Federal.

Tradicional parceiro do PSDB, o DEM conta com chances de recuperar a Bahia com uma vitória no primeiro turno do ex-governador Paulo Souto. Embora o candidato petista Rui Costa, apoiado pelo governador Jaques Wagner, tenha crescido nas pesquisas, a ascensão está ocorrendo com votos tirados da terceira colocada, a senadora Lídice da Mata (PSB) não abalando o favoritismo do aliado de Aécio.

Um exemplo de descasamento entre a eleição local e a nacional é o Maranhão, em que Flavio Dino (PCdoB) caminha para uma vitória no primeiro turno contra Edson Lobão Filho (PMDB). Lobão faz campanha utilizando a imagem de Dilma e de Lula. Dino, apoiado pelo PSDB e PSB, se definiu como um "síndico de condomínio" e evitou se posicionar a favor de algum candidato.

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