quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Em debate da CNBB, Aécio critica corrupção na Petrobras, e Dilma contesta

• Sorteio não permitiu perguntas diretas entre os principais candidatos

Julianna Granjeia / Sérgio Roxo – O Globo

SÃO PAULO — O candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, e do PSC, Pastor Everaldo, fizeram duras críticas à corrupção na Petrobras durante debate promovido pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), realizada nesta terça-feira. Everaldo, por sua vez, disse que a estatal chegou a ter Dilma no Conselho de Administração e que a presidente diz que não “sabia de nada” sobre o que acontecia na empresa.

Os ataques levaram Dilma a pedir direito de resposta aos organizadores do debate.

— Ao longo da minha vida tive sempre tolerância zero com corrupção. No caso da Petrobras, quero lembrar ao candidato Aécio que quem investigou e descobriu todos os crimes de corrução foi um integrante do governo, a Polícia Federal.

Aécio também conseguiu um direito de resposta depois que a candidata do PSOL, Luciana Genro, o acusou de ser “fanático por corrupção” e de fazer um aeroporto em terras próximas às de sua família, em Minas, quando era o governador.

— Aquele que se dispõe a governar o Brasil tem que ouvir impropérios daqueles que são irrelevantes. São acusações absolutamente irresponsáveis e levianas. Não devemos gastar um tempo tão escasso como o que temos para falar de Brasil. Eu me orgulho muito do que fiz na minha vida, da minha formação cristã e católica — afirmou.

Até os principais temas da pauta política da Igreja Católica, como a relação entre Estado e religião, o aborto e a união entre pessoas do mesmo sexo, foram tratados de forma lateral no debate. Por causa da dinâmica do encontro, praticamente não houve confronto direto entre os principais presidenciáveis.

Apesar de não citarem diretamente o nome dos adversários, os três fizeram, nos primeiros blocos, referências a pontos de propostas dos concorrentes.

No primeiro bloco, os oito presidenciáveis responderam a uma pergunta única sobre o que pensavam da proposta de reforma política apresentada pela CNBB.

Numa referência indireta às mudanças no programa de governo de Marina, Aécio defendeu a consistência de sua proposta.

— A minha proposta de governo não foi construída no improviso nem se modifica ao sabor dos ventos — afirmou ao tucano, acrescentando ser favorável à implantação do voto distrital misto e do fim da reeleição.

Em seguida, Marina, como vem fazendo nas últimas semanas, cobrou dos adversários a apresentação de seus programas de governo.

— Nós apresentamos um programa de governo, temos insistindo que é fundamental que todas as candidaturas apresentem plano de governo.

A candidata do PSB acrescentou que a sua proposta de reforma política “não é fechada”, mas defendeu o financiamento público de campanhas.

— Hoje há uma forte impressão que os políticos não representam o povo.

Dilma, por sua vez, também de forma indireta, se referiu à posição de Marina de críticas aos partidos

— Quando os partidos não existem os poderosos mandam por trás da cena. É o caminho para ditadura ou restrições das liberdades — disse a petista, que defendeu o plebiscito para implantação da reforma política.

A petista se disse favorável ao fim do financiamento privado das campanhas e ao fim das coligações proporcionais.

No segundo bloco, cada candidato respondeu uma pergunta feita por um bispo sem comentário dos adversários. Sem a contraposição das respostas, o clima foi morno, com os presidenciáveis ou exaltando feitos de suas gestões ou apresentando suas promessas.

Marina foi questionada sobre a sua propostas para a juventude. A candidata destacou que 56 mil pessoas são mortas por ano no país, sendo que a maioria é jovem.

— Vamos juntos com o governo do estado ajudar a combater a violência

Dilma exaltou o relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o Mapa da Fome.

— De 2002 até 2013 reduzimos a proporção de brasileiros mal alimentados por causa de programas sociais como o bolsa família, o aumento do salário mínimo, com duas refeições por dia para crianças, o que diminuiu a mortalidade infantil, portanto um aumento significativo da segurança alimentar — afirmou a candidata do PT, ao ser indagada sobre o seu projeto para inclusão social.

Aécio teve que responder como faria para acabar com o analfabetismo no país, caso eleito, e optou por destacar os números de seu governo em Minas Gerais entre 2003 e 2010.

— Temos em Minas a melhor educação fundamental do Brasil em todas as séries.

O tucano ainda argumentou que não acabou com o analfabetismo do estado por culpa do governo federal.

— O governo federal não avançou em responsabilidade que deveriam ser suas.

No terceiro, novamente sem os candidatos poderem se enfrentar, o clima mornou prosseguiu. Marina foi indagada sobre os problemas de saneamento básico do país.

—Temos o compromisso que as cidades possam ter o saneamento básico. E o governo federal tem que se responsabilizar sobre esse tema junto aos prefeitos.

Sobre a criminalização da homofobia, Aécio não respondeu se apoiaria a votação da PL 122, que já tramita no Congresso. Ele afirmou que é necessário discutir qual o melhor instrumento.

— O que tenho dito, para que não paire dúvida sobre nossa posição como vem pairando de outros candidatos, há uma resolução do STF que consagra a união civil de pessoas do mesmo sexo. Defenderei sempre que qualquer forma de discriminação seja crime. O que precisamos é definir se a PL122 é o instrumento adequado, ou se encontraremos outro texto.

Dilma , ao ser questionada sobre a situação da saúde no país, se comprometeu com uma nova fase do programa Mais Médicos em um eventual segundo mandato.

— Nós trouxemos mais de 14 mil médicos que deu cobertura para 50 milhões (de habitantes). Agora, nós vamos fazer o Mais Especialidades. O Mais Especialidades é o reconhecimento de que as pessoas esperam muito nas filas, as pessoas precisam muito de ser atendidas por médicos especialistas e também precisam fazer exames. O Mais Especialidades é a criação de uma rede que integra laboratórios especialistas — afirmou a presidente, acrescentando que o Mais Médicos levou profissionais para comunidades indígenas que não tinham contato nenhum com profissionais de saúde.

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