quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Ex-diretor da Petrobras se nega a falar na CPI

• Costa se nega a responder sobre Petrobras para preservar delação premiada

• Aliados do governo e da oposição trocam acusações; PF gastou R$ 60 mil para levar preso ao Congresso

Gabriela Guerreiro / Mariana Haubert – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Com o silêncio do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, a CPI que investiga irregularidades na estatal virou palco, na quarta-feira (17), para troca de acusações entre governo e oposição a menos de um mês das eleições.

O ex-diretor se manteve calado nas mais de duas horas de sessão, o que agradou ao governo porque o impediu de falar sobre as denúncias contra aliados do Planalto sob suspeita de irregularidades.

A oposição pressionou o comando da CPI para fazer a sessão fechada, mesmo com a recusa de Costa em falar, na esperança de que ele mudasse de ideia. Aliado do governo, o presidente da CPI, Vital do Rêgo (PMDB-PB), chegou a colocar o pedido em votação.

Mas o requerimento foi derrotado por 10 votos a 8, com o apoio em peso do PMDB --partido com o maior número de integrantes citados pelo ex-diretor como participantes de esquema de corrupção na Petrobras, de acordo com a revista "Veja".

A lista de políticos do PMDB que, segundo Costa, estariam envolvidos inclui o ministro Edison Lobão (Minas e Energia), o presidente do Senado, Renan Calheiros, e o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves. Eles negam.

Na sessão, Costa se recusou 17 vezes a responder questionamentos dos congressistas, intercalando as frases "nada a declarar" e "me reservo no direito de ficar calado". O objetivo foi preservar o acordo de delação premiada firmado com a Justiça --por meio do qual pode ter redução de pena se colaborar com as investigações.

A maioria dos integrantes da CPI nem chegou a fazer perguntas diante das constantes negativas de Costa em falar, usando o tempo dos discursos para ataques políticos.

A estratégia da oposição foi ligar as denúncias na Petrobras ao mensalão do PT.

Congressistas do DEM e do PSDB se revezaram em discursos com ataques à presidente Dilma Rousseff (PT), por ela ter sido ministra de Minas e Energia e ter presidido o Conselho de Administração da estatal.

"Esse não é o mensalão dois. É o mesmo mensalão com fontes diferentes pagando políticos", afirmou o deputado federal Fernando Francischini (SDD-PR).

"Ele é chamado de Paulinho por Lula. O governo Lula, Dilma e o PT não aprenderam com o mensalão. O esquema é o mesmo", disse Onyx Lorenzoni (DEM-RS).

Do lado governista, os discursos foram em defesa de Dilma e do "oportunismo" da oposição ao atacar a Petrobras. "O jogo que aqui se faz é o da disputa política. As imagens que estão sendo gravadas têm o objetivo de serem utilizadas nos programas eleitorais", disse o líder do PT, senador Humberto Costa (PE).

Presidente da CPI, Vital classificou o depoimento de "frustrante" e anunciou a prorrogação dos trabalhos da CPI por pelo menos um mês.

A CPI aprovou a convocação da contadora do doleiro Alberto Youssef, Meire Poza, e vai se reunir na semana que vem com o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Ricardo Lewandowski, para reiterar o pedido para ter acesso à íntegra da delação premiada de Costa.

Avião
Costa deixou Curitiba na manhã de quarta escoltado por policiais federais. Foi para Brasília num jato da PF, o mesmo que, em novembro de 2013, transportou os condenados do mensalão.

Além dos quatro agentes que acompanharam o ex-diretor da Petrobras, a PF pagou diárias ao piloto, ao copiloto e a um agente operacional da aeronave. A Folha apurou que a PF gastou cerca de R$ 60 mil com custos da aeronave e diárias.

Por questões de logística da polícia, Costa passaria a noite na Superintendência da PF em Brasília e voltaria para a prisão em Curitiba no fim da manhã desta quinta (18).

Colaborou Fernanda Odilla

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