quarta-feira, 10 de setembro de 2014

FH corrupção no governo 'é quase uma regra'

• Evitando previsões, ex-presidente afirmou que o episódio traz tema da ética de volta à campanha

Isabel de Luca – O Globo

NOVA YORK — O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse nesta terça-feira, em Nova York, que o suposto esquema de desvios bilionários na Petrobras revelou que a corrupção no governo do PT “é quase uma regra”. Após a apresentação de um novo relatório da Comissão Global de Políticas sobre Drogas, da qual é presidente, Cardoso – que repetiu as palavras do presidenciável Aécio Neves (PSDB), ao considerar o episódio “uma outra forma de mensalão” – afirmou que a estatal “caiu nas mãos da política partidária”.

– A presidente Dilma disse que não viu nada, acredito, mas então ela não é uma gerente competente. Não é um caso, são muitos, não é uma prática, é uma constante, não é um desvio, é quase que uma regra, e eu acho que ela precisa dar explicações mais consistentes – declarou Cardoso. – O que estamos vendo é que ela [a Petrobras] caiu nas mãos da política partidária. Não digo nas suas orientações gerais, mas na sua efetivação do dia a dia. A Petrobras é a empresa mais importante do Brasil e está se vendo que houve uma ocupação política.

Sobre os rumos da campanha à presidência, Cardoso evitou especular o que vai acontecer a partir das revelações do ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa. Mas afirmou que se trata de um “escândalo de grandes proporções”.

– Não sei se muda a campanha, mas torna outra vez tema de campanha a ética. Nem é ética no sentido filosófico, é a decência do cumprimento da regra, e isso tem que ser reafirmado na campanha. Não vejo que os candidatos têm responsabilidade direta nessa questão, é muito mais atitude, temos que ser mais restritivos, não aceitar tanta leniência. Por enquanto são afirmações, vai chegar um momento da documentação. Eu não sou precipitado, não vou julgar antes de ver o que se trata, mas está visto desde já que se trata de um escândalo de grandes proporções – disse.

O ex-presidente, que integrou a Comissão de Estudos e Defesa do Petróleo, comentou que sempre foi a favor da Petrobras nas mãos do governo, mas frisou que política de Estado é diferente de política partidária.


– O que eu sempre quis é que a Petrobras fosse uma empresa e não uma repartição pública, por isso achei que era importante quebrar o monopólio para ter competição, para ela poder aparecer como uma empresa e não estar nas mãos de política partidária. Política de Estado sim, mas não política partidária. E isso deu margem a essa corrupção que é inaceitável, e acho que precisamos ir mais fundo — ressaltou.

Cardoso disse contar com órgãos como a Polícia Federal, o Ministério Público e a Justiça para examinar o caso:

— A CPI (da Petrobras) está muito politizada, não fez nada até agora. Eu acho que tem que ir mais longe nisso.

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