domingo, 14 de setembro de 2014

Luiz Carlos Azedo: Agora é com as ruas

• O eleitor está cada vez mais consciente de que seu desejo expresso nas urnas será respeitado. É daí que pode vir a alternância de poder — e não do bla-bla-blá nas redes sociais

Correio Braziliense

A disputa eleitoral chegou ao momento mais decisivo, a três semanas do pleito, cuja principal característica é a volatilidade das intenções de voto da maioria dos eleitores. É uma situação na qual tudo o que é sólido pode se desmanchar e todo cuidado é pouco.

No momento, a presidente Dilma Rousseff (PT) lidera a disputa no primeiro turno; Marina Silva (PSB) está em ligeira vantagem no segundo turno; e Aécio Neves (PSDB) aposta tudo numa mudança de cenário no qual possa avançar graças à “desconstrução” da candidata do PSB.

As últimas pesquisas mostram mais ou menos isso, mas nada impede que o quadro possa se modificar radicalmente até 3 de outubro. A recuperação de Dilma Rousseff nas pesquisas é atribuída à melhora de avaliação de seu governo pela população, em consequência da maciça propaganda feita na televisão.

Pesaram para configuração desse cenário os duros ataques contra Marina Silva, que deverão continuar, do pescoço pra cima, como aconteceu em relação às polêmicas sobre o pré-sal e o Banco Central. Sem falar nos desacertos iniciais do PSB em relação ao programa de governo, no confinamento de sua campanha a ambientes fechados e no pouco tempo de televisão.

A grande interrogação na disputa eleitoral entre o governo e a oposição é a capacidade de recuperação de Dilma Rousseff na reta final de campanha. A melhora dos índices de aprovação do governo é a grande aposta do marqueteiro João Santana, em razão da vantagem proporcionada pelo maior tempo de televisão.

A candidata, porém, parece que tomou gosto pela radicalização do discurso político, recidiva de seu voluntarismo juvenil, e pela pancadaria verbal, na qual sempre cresce diante dos adversários, como ficou demonstrado quando disputou a Presidência em 2010.

Rejeição
Ocorre que a campanha de Dilma tem um ponto fraco: o desgaste eleitoral do PT é muito grande, tanto que a legenda vai mal das pernas nas eleições majoritárias e proporcionais na maioria dos estados.

Além disso, é elevado o índice de rejeição de Dilma Rousseff, da ordem de 42%, segundo a pesquisa do Ibope, contra 25% de Marina e 36% de Aécio. Se persistir nos ataques, o risco da rejeição aumentar é grande.

Dilma pode perder a eleição no segundo turno. Hoje, esse é o cenário provável diante das tendências atuais do processo eleitoral. Quais seriam os demais cenários? A desidratação da candidatura de Dilma, a essa altura do campeonato, parece improvável. A presidente Dilma conseguiu manter sua coalizão unida, conta com o empenho pessoal e decisivo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua campanha e está com o PT na ofensiva contra os adversários.

O cenário alternativo seria a volatilização da candidatura de Marina Silva, sob o fogo cerrado dos adversários, inclusive Aécio Neves (PSDB). O risco desse cenário é o fortalecimento da candidatura de Dilma, para onde estariam migrando os votos perdidos por Marina Silva, provocando um desfecho já no primeiro turno.

Esse risco, porém, é limitado pela radicalização do discurso político da presidente da República, sobretudo em relação à economia, que espanta o establishment, e pelo desgaste provocado por escândalos envolvendo o PT, como o “mensalão” e as maracutaias na Petrobras, que causam ojeriza à parcela significativa da sociedade.

De qualquer maneira, a disputa eleitoral está na boca do povo, nos trens e metrôs, nos bares e restaurantes, feiras e supermercados, farmácias e padarias, barbeiros e loterias esportivas. A campanha de rua deve ganhar mais intensidade. Isso pode ser decisivo numa disputa muito emparelhada.

Ninguém vai levar o eleitor a votar puxando-o pelo nariz. Graças ao voto secreto, direto e universal, com eleições a cada dois anos — temos a maior democracia de massas do mundo —, o eleitor está cada vez mais consciente de que seu desejo expresso nas urnas será respeitado. É daí que pode vir a alternância de poder — e não do bla-bla-blá nas redes sociais.

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