sábado, 6 de setembro de 2014

Lula ataca Marina e diz que ‘governar um país não é clube de amigos’

• Ex-presidente afirma que candidata não leu seu programa de governo ou “não aprendeu nada” quando passou pelo PT

Tatiana Farah – O Globo

SÃO PAULO - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva atacou, nesta sexta-feira, pela primeira vez a candidatura de Marina Silva (PSB), ex-petista que hoje é a maior adversária da presidente Dilma Rousseff na corrida eleitoral. Segundo ele, ou Marina não leu seu programa de governo ou “não aprendeu nada” com os mais de 20 anos como integrante do PT.

— Estou destrinchando o programa da Marina, o programa econômico. Não vou ter divergência pessoal com a Marina. Mas governar um país não é um clube de amigos, é a gente saber com quem vai governar e para quem, qual a orientação econômica deste país — disse Lula, que também falou: — Não sei se a companheira Marina leu o programa que fizeram para ela. Se ela leu, significa que não aprendeu nada nas discussões que fizemos quando ela estava no partido.

Em uma plenária com centenas de dirigentes partidários, candidatos, parlamentares e ministros, o ex-presidente cobrou empenho dos petistas na campanha de Dilma e Alexandre Padilha em São Paulo e criticou a campanha da presidente por mais mostrar obras do governo do que discutir política. Já alertado sobre depoimentos do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que envolvem parlamentares no escândalo, o ex-presidente disse que “dentre nós, se alguém cometer erro, que pague”.

— Muitas vezes, nós, petistas, ficamos acabrunhados porque alguns companheiros, uma pessoa individualmente comete um erro e causa problema para nós — disse Lula, que, depois, se dirigiu a Alexandre Padilha, candidato ao governo de São Paulo: — Nem que seja por um segundo, o teu programa tem de defender a honra deste partido.

Lula disse que o julgamento do mensalão não influiu nas eleições de 2012 em São Paulo, quando Fernando Haddad foi eleito prefeito. Ele citou por duas vezes que integrantes do partido podiam cometer erros, mas que os petistas precisavam “defender a honra” do partido.

— Se dentre nós alguém cometer erro, que pague. Agora, o que a gente não pode é deixar de ter orgulho e auto-estima por ser petista.

Segundo Lula, não há “explicação sociológica” para que Dilma esteja sendo derrotada em São Paulo e amargue 23% das intenções de voto segundo a última pesquisa Datafolha.

— Não há nenhuma explicação para Dilma estar perdendo as eleições aqui. Alguns dizem que é ódio. Eu não acredito. Possivelmente não tenhamos encontrado o tom correto e as palavras corretas para mostrar as qualidades da presidente Dilma.

De acordo com o ex-presidente, é “questão de honra” fazer Dilma vencer em São Paulo. Por considerar esta a “mais difícil” campanha eleitoral do PT, Lula defendeu que ministros e dirigentes tirem férias para participar das mobilizações de rua e disse que vai concentrar sua agenda em São Paulo.

— Não é possivel que a Dilma tenha 23% aqui. Cadê o PT, as mulheres do PT, os deputados do PT? — questionou ele: — Estranho profundamente que a gente tenha demorado tanto para reagir a esse tratamento que estamos recebendo em vários lugares desse estado. Podemos admitir que as pessoas não concordem com a gente ideologicamente, o que não aceitaremos é sermos tratados como se fôssemos de segunda classe aqui nesta cidade ou em qualquer lugar do país.

Lula ironizou a “previsibilidade” citada por Aécio Neves durante entrevista ao Jornal da Globo nesta semana e, quando falou de Marina, disse que ela era um “caso à parte” porque não iria atacá-la. No entanto, atacou seu programa de governo dizendo que, quando foi eleito em 2002, acabou com “essa papagaiada” de autonomia do Banco Central.

— Aécio falou umas 200 vezes a palavra previsibilidade. Fiquei pensando como é que um cara que gosta tanto de previsibilidade não previu que já ia acabar a campanha?

Ele criticou ainda a falta de protagonismo do pré-sal no programa de Marina, dizendo que ela adotou a medida para agradar os usineiros, de forma desnecessária, e defendeu ainda os subsídios dos bancos públicos como forma de desenvolver o país.

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