sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Testemunha liga tesoureiro do PT a doleiro

• Advogado diz que Vaccari frequentava empresa usada por doleiro e tratava de fundos de pensão

Jailton de Carvalho – O Globo

CURITIBA - O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e a contadora Meire Poza não foram os únicos a delatar relações suspeitas de políticos com o doleiro Alberto Youssef e com empreiteiras que têm contratos com a maior estatal brasileira. Em depoimento à Polícia Federal, o advogado Carlos Alberto Pereira Costa, um dos principais auxiliares de Youssef, afirmou que vários políticos frequentavam a GFD Investimentos, uma das empresas criadas pelo doleiro para movimentar dinheiro supostamente ilegal.

Ele disse também que o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, costumava frequentar a CSA Project Finance Consultoria e Intermediação de Negócios Empresariais. A empresa está em nome de Cláudio Augusto Mente, mas teria sido usada por Youssef para lavar o dinheiro recebido do mensalão do PT pelo ex-deputado José Janene (PP-PR), morto em 2010.

Segundo a testemunha, Vaccari fazia contatos diretamente com Cláudio Mente, um dos sócios de Janene na CSA Project, e não com Youssef. Seriam encontros para tratar de negócios com fundos de pensão. As reuniões teriam ocorrido entre 2005 e 2006. De acordo com a revista "Veja", Vaccari já tinha sido citado por Paulo Roberto Costa na lista dos que beneficiados por esquema de corrupção na Petrobras.

O testemunho de Carlos Costa é considerado fundamental para desvendar parte das relações de Youssef com políticos e empreiteiras contratadas pela Petrobras. Carlos Costa era administrador da GFD e, nessa condição, acompanhou boa parte da movimentação financeira e dos contatos políticos e empresariais de Youssef.

André Vargas e luiz Argôlo são citados
Entre os políticos, Costa delatou os deputados André Vargas (sem partido-PR) e Luiz Argôlo (SDD-BA). Ele apontou ainda Youssef como sócio de donos da UTC, construtora criada por ex-diretores da OAS, em vários empreendimentos.

Preso em 17 de março, Costa estava detido até a última segunda-feira. Ele só foi solto porque decidiu colaborar com as investigações e delatar para a Polícia Federal e para o Ministério Público Federal como operava parte da máquina usada por Youssef para movimentar dinheiro.

Ao todo, Carlos Costa prestou 10 depoimentos e deve voltar a dar mais explicações aos investigadores. Na terça-feira, depois de deixar a prisão, ele retornou para São Paulo, onde mora. Num dos depoimentos, o ex-administrador disse que a GFD pagou um helicóptero para Argôlo. O deputado já é alvo de uma investigação determinada pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Carlos Costa relatou também detalhes da relação de Youssef com algumas empreiteiras que têm contratos com a Petrobras. Num dos interrogatórios, ele disse que Camargo Corrêa, Mendes Júnior, OAS e Sanko Sider fizeram pagamentos diretos à GFD por serviços fictícios de consultoria.

Segundo ele, Youssef dizia que os contratos eram uma forma de dar aparência legal a comissões recebidas da6s empresas. A GFD não teria prestado qualquer serviço às empreiteiras. Desde o início do escândalo, as empresas vêm negando irregularidades em transações com a GFD e a MO, outra empresa usada por Youssef para movimentar parte de dinheiro. A Sanko Sider, que vende tubulações, também contratou os serviços das empresas de fachada do doleiro.

Colaboração pode reduzir um sexto da pena
Procurado pelo GLOBO, o advogado Rodrigo Castor Mattos negou que Carlos Costa tenha feito delação premiada. Segundo ele, o ex-administrador apenas decidiu colaborar. A delação implicaria no ressarcimento a danos causados aos cofres públicos, e o ex-administrador não teria condições de honrar compromissos desta natureza. Com a colaboração, ele pode ter redução de um sexto da pena, caso seja condenado. Se fizesse delação, a punição poderia ser reduzida em dois terços. Mattos disse ainda que Carlos Costa era administrador, mas não partilhava as receitas da GFD com Youssef.

- Desde 2011 e 2012, ele dizia que não concordava com aqueles negócios (supostamente ilegais) e que vinha tentando sair da empresa - afirmou Mattos.

Por intermédio da assessoria de imprensa do PT, Vaccari disse que, de fato, esteve na CSA para conversar com Cláudio Mente. Segundo ele, os dois são amigos. O PT sustenta que Cláudio Mente é consultor financeiro e que, no período em que se davam os encontros, entre 2005 e 2006, Vaccari era sindicalista e não tesoureiro do partido. Vaccari sustenta ainda que nunca fez qualquer negócio com Mente.

Em nota, a assessoria do PT diz que Vaccari "repudia as inverdades que estão sendo veiculadas e que são baseadas apenas no depoimento de um advogado que afirmou que provavelmente ele trataria de questões relacionadas à empresa CSA".

André Vargas e Luiz Argôlo não retornaram as ligações do GLOBO. Hoje, o juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, deverá interrogar novamente a contadora Meire Poza. Ela deverá depor como testemunha de acusação no processo em que Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, é acusado de destruir provas sobre supostas ligações dele com Youssef e a lavagem de dinheiro de empreiteiras e campanhas eleitorais. Meire, que mora em São Paulo, será interrogada por videoconferência.

Ontem, depois de se manter calado na CPMI da Petrobras, Costa foi levado de volta para a carceragem da Polícia Federal em Curitiba. Ele deverá permanecer preso para prestar novos depoimentos e apresentar ou indicar onde as provas das acusações que fez contra políticos podem ser obtidas. Ele já teria citado mais de 25 políticos ligados a desvios na Petrobras.

Paulo Roberto Costa foi indicado para a diretoria da Petrobras pelo PP em 2004 e permaneceu no cargo até 2012. Em 29 de agosto, depois de forte pressão da família, o ex-diretor decidiu fazer um acordo de delação premiada e contar o que sabe sobre supostas fraudes em contratos de empreiteiras com a Petrobras. Antes do primeiro depoimento, ele convidou Youssef, até então seu colega de cela, para também fazer acordo de delação.

Youssef recusou e, desde então, os dois estão em celas separadas. Para o Ministério Público Federal, a delação do doleiro é uma questão de tempo. Ele também está sob pressão da família. Quatro dos cinco advogados que o defendem, já se manifestaram a favor da delação. Semana passada, Antônio Figueiredo Basto, advogado de Youssef, disse, pela primeira vez, que não descartava acordo com o Ministério Público.

Figueiredo é o único dos advogados do doleiro que se opõe à delação. Diz também que Youssef não quer acordo. Mas, ainda assim, se mudar de ideia teria o direito de seguir caminho parecido com o de Paulo Roberto Costa e, com isso, receber eventuais benefícios da Justiça. Na terça-feira, Basto acrescentou outro motivo a favor da delação:

- Ele (Youssef) está cercado de delatores.

Ontem, o juiz Moro decidiu mandar Renê Luiz Pereira, um dos réus da Lava-Jato acusado de tráfico de drogas e lavagem, para o presídio federal de Catanduvas.

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