quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Uma reviravolta na eleição de Pernambuco

• Armando Monteiro (PTB) vinha administrando grande vantagem em silêncio, mas com a ascensão fulminante de seu adversário, Paulo Câmara (PSB), ele partiu para o ataque

Eduardo Miranda – Brasil Econômico

A rápida ascensão do ex-secretário estadual de Fazenda Paulo Câmara (PSB) ao governo de Pernambuco, nas pesquisas de intenção de voto após a morte do presidenciável Eduardo Campos, está provocando forte reação da oposição no estado. Em julho, o senador Armando Monteiro (PTB), apoiado por Lula e pela presidenta Dilma Rousseff (PT), liderava com folga na preferência do eleitorado pernambucano, com 43%das intenções de voto, segundo o Ibope, contra apenas 11% de Câmara. Na pesquisa estadual mais recente, do Datafolha, divulgada semana passada, Câmara e Monteiro estão empatados, com 36% cada. A sondagem anterior, divulgada dois dias após a morte de Campos, dava a vitória ao candidato do PTB por 47% em primeiro turno. Ontem, o candidato do PTB convocou uma coletiva de imprensa para cobrar de Câmara explicações sobre sua relação com a Bandeirantes Pneus, empresa proprietária de um avião Cessna utilizado por ele para viagens de campanha.

Segundo Monteiro, a empresa, que responde por crimes de sonegação fiscal, recebeu incentivos fiscais públicos quando o candidato do PSB era secretário da Fazenda, em 2011. Monteiro, que vinha administrando em silêncio o bom resultado, agora mudou a estratégia e faz um discurso mais agressivo. Já Câmara comemora, apostando em uma vitória já no primeiro turno. Em entrevista à Rádio Globo Recife, o candidato afirmou que sua candidatura pegará carona na campanha de Marina Silva, que lidera a eleição presidencial em Pernambuco. De fato, a eleição para o estado pode ser definida no primeiro turno, porque que os demais candidatos somam apenas 3%. Com o empate entre Câmara e Monteiro, qualquer oscilação maior que esse valor pode ser suficiente para que se obtenha os votos necessários na eleição de 5 de outubro.

Na semana passada, em Pernambuco, Lula citou sua amizade com Eduardo Campos, mas disse que foi Monteiro quem o ajudou a desfazer a imagem negativa do governo federal frente aos empresários, quando o candidato era presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e Lula presidente da República. Marina, por sua vez, angariou votos para Câmara ao escolher Pernambuco para iniciar sua campanha, em homenagem ao ex-presidenciável Eduardo Campos, que substituiu na cabeça de chapa do PSB. Natural de Pernambuco, o cientista político e professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (Ebape/ FGV-RJ) Carlos Pereira defende a tese de que Câmara subiria nas pesquisas, independentemente da morte de Campos. O acidente apenas acelerou o processo. "A eleição para prefeito de Recife foi assim. O candidato de Campos começou com menos de 3% e surpreendeu, ganhando a eleição no primeiro turno.

O governo de Eduardo foi muito bem avaliado e a transferência de votos, portanto, era mais que esperada", disse Pereira. Antes da morte do presidenciável do PSB, Monteiro, que foi eleito senador em 2010 na coligação dos socialistas, vinha sendo confundido como o candidato de Eduardo Campos para o governo de Pernambuco, apesar de ter mudado para a oposição. Paulo Câmara, que nunca concorreu a um mandato eletivo, estava até então no ostracismo. Agora, é ele quem colhe os frutos da popularidade do governo estadual. O cientista político não condena as estratégias e afirma que elas são aceitáveis, dada a acirrada disputa. "O comportamento do Câmara, de usar a imagem do Campos, é racional, ele é um candidato que não tem tradição, nunca concorreu numa eleição. É normal ele se colar à imagem do Eduardo, porque é a única alternativa. Por outro lado, Armando Monteiro também ganhou nessa confusão, ao não se colocar enquanto pode como o candidato da oposição", avalia Pereira.

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