sábado, 4 de outubro de 2014

24 horas decisivas

• Marina e Aécio disputam quem vai ao 2º turno com Dilma, que diz não distinguir adversário

Silvia Amorim, Sérgio Roxo, Germano Oliveira, Maria Lima e Miguel Caballero – O Globo

SÃO PAULO, BELO HORIZONTE, RIO e BRASÍLIA - As últimas 24 horas que antecedem a eleição de amanhã serão marcadas por um duelo entre Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB) para ver quem irá ao segundo turno contra Dilma Rousseff (PT), que lidera as pesquisas. Aécio e Marina estão empatados tecnicamente no segundo lugar da disputa presidencial, conforme pesquisa Datafolha de intenção de voto divulgada esta semana, e vão hoje para as ruas dos dois maiores colégios eleitorais, Minas Gerais e São Paulo, em clima de tudo ou nada. O candidato tucano aposta na máquina partidária do PSDB para atropelar a adversária na linha de chegada, enquanto Marina investe na internet para compensar a menor estrutura e nos ataques ao adversário. Já Dilma, que ainda tem possibilidade matemática de vencer a eleição em primeiro turno, voltará às origens. Ela fará caminhadas hoje em Belo Horizonte, onde nasceu e foi criada, e em Porto Alegre, onde fez carreira política. A presidente disse que está preparada para qualquer circunstância eleitoral e que não tem preferência por adversário em eventual segundo turno.

Aécio pretende reforçar a ideia de ser o verdadeiro voto útil, por ter mais estrutura que Marina para governar e enfrentar os problemas do país. A candidata do PSB vai apostar no poder de mobilização da internet e insistir em que é o novo e a única capaz de derrotar Dilma. A candidata do PSB começou a bater na tecla de que os tucanos são fregueses do PT e que Aécio é o adversário que a presidente espera.

Na campanha de Aécio, a estrutura partidária do PSDB em Minas Gerais e em São Paulo é a principal aposta para concretizar uma virada eleitoral. No estado paulista, onde o partido tem a sua maior e melhor organização, Aécio deposita suas esperanças na ofensiva final dos candidatos a deputados. A equipe tucana reforçou a distribuição de "colas" com o número e o nome de Aécio ao lado dos candidatos a deputados do PSDB.

Aécio quer virada em Minas Gerais
Em Minas, essa estratégia também estará nas ruas hoje, mas o foco será o corpo a corpo de Aécio na região mais populosa do estado. O núcleo estratégico da campanha acredita que o senador somente conseguirá chegar ao segundo turno se virar a disputa presidencial em Minas. Aécio já conseguiu passar a frente de Dilma e Marina em Belo Horizonte, mas Dilma lidera no estado com 36%. Aécio tem 31%, e Marina, 17%.

Não foi à toa que o candidato fez uma imersão em Minas Gerais nos últimos dias. Somente ontem, visitou cinco favelas em Belo Horizonte.

- Vamos continuar amanhã (hoje) um processo que se intensificou muito nos últimos dias e que tem como maior diferencial a estrutura partidária do PSDB. Temos um volume de campanha muito grande, que ganhou ainda mais força com esse clima de otimismo. O partido está fervendo nas bases. Todos estão ouriçados - afirmou o candidato a vice de Aécio, Aloysio Nunes Ferreira.

Aécio disse ter ficado impressionado com a repercussão de sua participação no debate da TV Globo, na noite de quinta-feira, e com as informações que chegam dos estados sobre seu crescimento nos trakings encomendados pelo partido.

- Que loucura! Hoje nas ruas as velhinhas batiam nas minhas costas e diziam que tinham me visto no debate. O Geraldo (Alckmin, governador de São Paulo) me ligou dizendo que no interior eu já chego a 39% das intenções de votos e no estado estou com 31% nos nossos trakings. Dilma está com 30%, e Marina caiu para 22%. E eu cheguei a cair para 14% lá. Estou feliz porque me manter numa curva ascendente para um eventual segundo turno é muito importante - comemorou Aécio.

Se for para o segundo turno, Aécio disse estar preparado para a "pancadaria":

- Quem entra numa disputa dessas tem que estar preparado. Mas tem que ver o alcance desse terrorismo. Estou acostumado a enfrentar essa gente.

Perguntado sobre a declaração do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso da necessidade de ele e Marina se unirem em eventual segundo turno, Aécio disse que isso é assunto para depois.

- Eu tenho o maior respeito pela Marina, mas sobre o segundo turno eu só falo no segundo turno. O que posso dizer é que temos a convicção do melhor projeto, e temos mais condições de vencer o PT no segundo turno, e enfrentar o grande caos que vamos receber do governo - afirmou Aécio.

A campanha de Marina também adotou o discurso do voto útil. Ontem, no Facebook da candidata, foram postadas mensagens destacando sua maior possibilidade de bater Dilma no segundo turno. Para compensar a menor estrutura partidária, Marina aposta alto na mobilização nas redes sociais, onde tem boa penetração. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os sites, ao contrário das demais propagandas eleitorais, não precisam ser suspensos no dia da eleição.

- A campanha da Marina sempre teve que recorrer muito às redes sociais por conta de uma estrutura partidária muito menor que a dos adversários - disse Caio Túlio Costa, coordenador de mídias digitais da campanha do PSB.

A própria Marina postou ontem um vídeo em que se compromete em fazer as mudanças no país mantendo as conquistas. Na gravação, ela usava o mesmo broche com que foi ao debate da TV Globo com o número 40.

O PSB também está usando as redes para divulgar o número de Marina. De acordo com a pesquisa Datafolha, divulgada na quinta-feira, os eleitores da presidenciável são os que menos conhecem o seu número na urna eletrônica: apenas 53%. Entre os que votam em Aécio, o índice é de 58%, e em Dilma, 68%.

- Mobilizamos os candidatos a deputado para distribuir material informando o número - afirmou Walter Feldman, coordenador-geral da campanha.

Marina diz que Aécio é freguês do PT
Para tentar que a perda de intenção de votos, apontada pelas pesquisas, não perdure numa proporção que permita a ultrapassagem de Aécio, Marina adotou nova palavra de ordem contra o candidato tucano. O discurso para conquistar indecisos e minar o adversário é lembrar as três recentes derrotas do PSDB para o PT em segundo turno para presidente. Marina quer fixar no eleitor a ideia de que ela é mais competitiva para enfrentar Dilma.

- O PSDB é um segundo turno descendente. Nós somos um segundo turno ascendente - disse Marina, recorrendo a uma de suas frases de efeito, antes de embarcar, ao lado de seu vice, Beto Albuquerque, no Aeroporto Santos Dumont, no Rio. - O PT sabe disso, tanto é que a presidente Dilma quis dar uma chance (no debate) para o Aécio, porque ele já é o segundo turno de estimação do PT. É assim que o PT ganha as eleições. E o PSDB está se conformando em ser o segundo lugar de estimação do PT - completou.

Antes, Marina havia feito seu último ato de campanha no Rio, onde ela teve expressiva votação em 2010, com uma carreata pelas ruas da Tijuca, ontem à tarde. Durante o evento, Beto Albuquerque já havia citado a "freguesia" do PSDB para o PT, reforçando a ideia de que o voto em Marina é mais eficaz para quem quer tirar Dilma e o PT do poder.

- Não adianta botar no segundo turno um candidato acostumado a perder para a Dilma, para o PT - discursou Beto.

Ainda na Tijuca, Marina concedeu rápida entrevista em que procurou afastar a imagem de abatimento ou preocupação com as últimas pesquisas.

- A pesquisa definitiva é no dia 5 (amanhã), e nós estaremos no segundo turno. E aí, o tempo de televisão será igual e o debate será sobre propostas. Será o povo que decidirá nossa ida ao segundo turno, e não as estruturas e os marqueteiros - argumentou.

Dilma participou ontem de carreta em São José dos Campos, interior de São Paulo, ao lado de Alexandre Padilha, candidato do PT ao governo do estado, do ex-presidente Lula e do candidato ao Senado, Eduardo Suplicy. A candidata à reeleição se disse preparada para enfrentar Marina ou Aécio.

- Estamos preparados para enfrentar primeiro e segundo turnos. Não tenho preferência (por adversário).

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