segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Aécio faz aceno a Marina, que sinaliza apoio a ‘mudança’

• Campanha tucana vai usar alianças estaduais com PSB para atrair Marina; na propaganda, meta é separar governo Dilma do de Lula

Pedro Venceslau, Débora Bergamasco, Isadora Peron, Denise Chrispim Marin, Suzana Inhesta e Ricardo Chapola - O Estado de S. Paulo

No primeiro pronunciamento que fez depois de confirmada sua passagem para o segundo turno, o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, homenageou o ex-governador Eduardo Campos, morto em um acidente aéreo durante e campanha, e afagou Marina Silva, candidata do PSB que terminou o 1.º turno em 3.º lugar na disputa. Os tucanos acreditam que o discurso mudancista da ex-ministra poderá levá-la a apoiar Aécio.

No seu discurso após o resultado, em São Paulo, Marina fez o que foi interpretado como um aceno ao candidato oposicionista ao afirmar que os brasileiros mostraram nas urnas que não concordam com os rumos tomados pelo atual governo da presidente Dilma Rousseff (PT). “O Brasil deu sinais de que não quer mais o que está aí”, disse Marina, sem citar nomes.

Em Belo Horizonte, o candidato do PSDB, foi na mesma linha: também sem citar Marina, afirmou: “É hora de unirmos forças. Minha candidatura não é de um partido político”.

Aécio ainda fez afagos explícitos à ex-ministra, mas disse que não tinha conversado com ela. O tucano reiterou os elogios feitos pela manhã, ao votar na capital mineira. “Tenho enorme respeito pessoal pela ex-ministra, mas não posso antecipar apoio.”

O candidato do PSDB iniciou sua fala destacando os ideais de Campos. “Quero deixar uma palavra de homenagem a um homem público honrado, que foi abatido por uma tragédia no meio dessa campanha, o Eduardo. Seus ideais e seus sonhos têm a minha deferência”, disse Aécio.

Segundo aliados de Aécio, interlocutores do candidato tentarão se aproximar de Renata Campos, viúva de Campos, para que ela faça uma ponte com a candidata do PSB. “Tenho um enorme respeito por ela (Renata), mas não tenho nenhum encontro marcado. Sou muito cauteloso em relação a isso.”

Apesar da sinalização, Marina disse que os partidos da coligação vão se reunir nos próximos dias para tomar uma decisão oficial. O anúncio deve acontecer até a próxima sexta-feira.

“O programa é a base de qualquer diálogo neste segundo momento”, afirmou. Segundo ela, o documento que apresentou à sociedade - e que foi alvo de diversas críticas tanto de petistas quanto de tucanos - “é coerente com outro caminho, com outra maneira de caminhar”.

O posicionamento de Marina, que foi filiada ao PT por mais de duas décadas, surpreendeu aliados mais próximos. Antes de a ex-ministra chegar ao local onde fez seu pronunciamento oficial, na zona oeste de São Paulo, a maioria apostava que ela ficaria neutra na disputa, como fez em 2010.

Questionada por jornalistas se tomaria essa mesma decisão, ela afirmou que ao se aliar a Eduardo Campos no ano passado, depois de o Tribunal Superior Eleitoral negar o registro do seu novo partido, foi um sinal de que estaria disposta a tomar posições. “Eu assumi a postura de não me recolher numa anticandidatura, o que pode indicar uma tendência. Assumi o compromisso da mudança indo apoiar Eduardo Campos”, disse.

Críticas. Segundo integrantes da campanha, as fortes críticas que Marina sofreu do PT desde que assumiu a candidatura após a morte de Campos, em meados de agosto, serão levadas em conta na hora de tomar a decisão.

Pessoalmente, o vice da chapa, Beto Albuquerque, disse que não iria aceitar apoiar a reeleição de Dilma após a onda de ataques petista. “Eu não sou cara de levar desaforo para casa. Nem de esquecer calúnias, vilanias ou mesmo boatos contra a nossa candidatura”, disse.

Apesar da derrota surpreendente nas urnas, Marina não demonstrou abatimento durante o seu pronunciamento.

Ela aproveitou o momento para agradecer o apoio da militância, da família e da coordenação da campanha.

Reunião.Aécio disse que amanhã terá uma reunião com os coordenadores da campanha em São Paulo para preparar suas agendas de viagens. Questionado se manteria a estratégia de atacar a gestão da presidente Dilma no 2.º turno, Aécio disse que não faz a “política do ódio”.

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