quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Celso Ming - O fator credibilidade

• Se a confiança for restaurada, ficará mais fácil repassar a conta da crise e liderar o País para a virada

- O Estado de S. Paulo

Há os que advertem que pouco importa a lista dos novos integrantes da equipe econômica, porque quem manda é ela. Dilma não é apenas a presidente do País; é o ministro da Fazenda, o chanceler, o presidente do Banco Central, o secretário do Tesouro… Há os que coçam a ponta da orelha e pensam alto: mas quem sabe, depois de tudo o que ouviu, ela mude…

Outros, ainda, preferem dizer que mais importante do que conhecer o estado maior da economia é conhecer a política que será executada. Bem, aí as coisas se misturam. Não basta ter um bom cavalo; é preciso também um bom cavaleiro. E não basta um bom cavaleiro; é preciso que o cavalo também responda. Ou seja, tanto importa a política como quem vai executá-la. Ou, por outra variante, a escolha da equipe já é indicação do que será a política.

Hoje, a questão-chave é a credibilidade, que é o maior déficit deste governo. Se a credibilidade for restaurada, ficará mais fácil repassar a conta da crise e liderar o País para a virada.

O ministro Guido Mantega é boa gente, fala mansa, alta capacidade de molejo, mas não tem perfil para comandar o navio para a mudança de rumo. Para ele, nem há o que mudar. Mas essa conversa não cabe mais; ele já foi dispensado.

A presidente Dilma, ao contrário, afirma que a hora é de mudança. Mas ela quer de fato mudar? Como é turrona, o mais difícil para ela é passar o recibo de que errou. Se a determinação dela é mudar a política econômica, é mais provável que mude sem reconhecer publicamente que esteja mudando. Pode até dar um cavalo de pau, mas seguirá jurando que manteve a direção.

É um equívoco imaginar que um nome que inspira confiança aos investidores potenciais, como o de Luiz Trabuco ou Henrique Meirelles, os que passaram a circular nos últimos dois dias, imporia condições prévias para assumir um alto posto de chefia da política econômica. Coisas assim não se impõem. A presidente sempre poderá dizer que é mais do que claro que o novo ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central terão autonomia para formular e conduzir a política econômica. O problema é o que vem depois. Ministros e presidente do Banco Central são demissíveis a uma canetada -ad nutum, como preferem dizer os senhores juristas. No dia a dia, o presidente da República sempre pode mudar de ideia ou sentir a injunção dos fatos para esquecer ou pospor o compromisso que foi assumido anteriormente.

Do ponto de vista de quem assumir o Ministério da Fazenda ou o Banco Central, a autonomia (relativa) não é uma garantia obtida de uma vez por todas, antes de abrir a cortina do palco.
Tem de ser reconquistada a cada dia, como o respeito mútuo no casamento. E isso pressupõe não apenas capacidade de convencimento, mas, também, solidez de posições e a confiança do chefe.

O secretário executivo do Ministério da Fazenda, Paulo Caffarelli, tem razão quando afirma, como o fez nesta terça-feira, que uma política fiscal forte é condição para executar as demais políticas, como para derrubar os juros e a inflação. Ele só não tem razão quando sustenta que essa condição exista hoje.

Não importa muito a questão ideológica. Um ministro da Fazenda pode defender a primazia da política social ou, então, pode entender que é preciso ser mais conservador. Mas, para ser eficaz, em nenhum caso pode abandonar a solidez dos fundamentos da economia. O primeiro mandato do presidente Lula foi assim.

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