sábado, 4 de outubro de 2014

Miriam Leitão: Intenção e voto

- O Globo

O Brasil é um país tão grande que alguns pesquisadores do Datafolha viajam dois dias até chegar a locais onde, com seus tabletes nas mãos, consultam os eleitores. É o que conta o sociólogo Mauro Paulino, diretor do instituto de pesquisas. Ele disse que esta eleição é peculiar, o voto está volátil, mas lembrou que quem entra no segundo turno ganhando, em geral, vence.

Fui ao Datafolha para gravar um programa para a Globonews sobre a natureza da escolha numa eleição e os desafios de pesquisar país tão complexo. Seiscentos pesquisadores do instituto estão com seus tabletes fazendo entrevistas, que não podem demorar mais que 15 minutos, do contrário o eleitor se cansa. E é preciso ir do centro de São Paulo ao interior do Amazonas para perguntar a intenção de voto do eleitor, com uma complicação:

— Uma pesquisa é sempre um retrato do passado.

A realidade continua se movendo e, quando há uma eleição disputada como esta, mudanças podem acontecer no caminho das urnas. Ao chegar, enquanto se armava o equipamento, perguntei: quem vai ganhar a eleição? Ele riu e disse: “posso dar uma lista de três?”

Eu estava lá para entender alguns dos enigmas deste processo eleitoral. Por exemplo: como o país viveu uma explosão de protestos de rua, em junho de 2013, e hoje a candidata do governo está tão na frente nas pesquisas?

— O pano de fundo desta eleição começou em junho de 2013. Ficou claro ali que a maioria queria mudanças. As pesquisas mostraram que 80% pediam isso e agora são 74%. Por isso, os candidatos usaram essa ideia em suas campanhas. Mas um terço dos que querem mudança acham que Dilma é que vai realizá-las. É o que está prevalecendo na classe de renda mais baixa, beneficiária dos programas sociais, e da classe média intermediária e emergente.

A eleição não está decidida, mas, como se sabe, todas as pesquisas mostram o favoritismo de Dilma Rousseff. Isso desafia outra velha afirmação das eleições, a de que a economia joga um papel fundamental na definição do voto. A conjuntura é bem negativa. O país está estagnado, e a inflação está persistentemente alta. Outros indicadores estão em deterioração, mas não afetam diretamente o bolso do consumidor num primeiro momento. Mas inflação sempre elevou o mau humor do eleitor.

Mauro Paulino explica que o fator que neutraliza isso é a baixa taxa de desemprego:

— Dos pesquisados, 70% tem segurança no emprego. Havia um pessimismo crescente com a economia, mas o horário eleitoral melhorou essa percepção pela propaganda do governo.

O diretor do Datafolha acha que será acirrada até o último instante a disputa pelo segundo lugar, já que o candidato do PSDB, Aécio Neves, e a candidata do PSB, Marina Silva, estão se aproximando cada vez mais, com a curva descendente de Marina e a ascendente de Aécio, movimento que se for confirmado nas pesquisas de hoje pode continuar até o dia da eleição. Segundo ele, mesmo havendo só 5% de indecisos, há pessoas que mudam o voto até a urna. E aí cabe a pergunta: pesquisa influencia o voto?

— Há eleitores que se pautam por pesquisas. A democracia é um jogo de influências. Tudo atinge o eleitor, inclusive as pesquisas e existem pessoas que preferem votar nos que estão ganhando, mas os estudos que fizemos é que essa influência não chega a 5%.

Contrariando o que muitos disseram, Mauro Paulino acha que é a televisão — o horário gratuito, e principalmente as pequenas inserções durante a programação — o que mais influencia o voto. A mídia social atinge bem menos, até porque apenas 25% têm acesso à internet diariamente.

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