segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Valdo Cruz - A face do segundo mandato

- Folha de S. Paulo

Foi aos 45 minutos do segundo tempo. Uma vitória suada e sofrida, depois de um domingo em que os petistas chegaram a temer uma derrota de Dilma Rousseff para o tucano Aécio Neves.

Resultado da reeleição apertada, na qual foi a petista com a menor taxa de apoio desde 2002, a presidente pregou no discurso de vitória "união, diálogo e mudanças", num aceno de paz depois de uma campanha petista marcada pela agressividade.

Presentes em seu pronunciamento, as promessas de união e diálogo foram duas virtudes bem escassas em seu primeiro mandato --reclamadas e reivindicadas por aliados, sindicalistas e empresários.

Mudanças foram um desejo marcante do eleitorado nesta eleição, o que levou quase metade do país a desaprovar a gestão dilmista. A petista terá de atender este anseio da população brasileira, que também vem de boa parte de seus eleitores.

A dúvida é como a reeleita Dilma cumprirá tais promessas. A seu estilo, já que pode se sentir dona da vitória. Ou mais dependente de Lula, que entrou de corpo e alma na reta final.

De olho na manutenção do projeto de poder do PT, o ex-presidente deseja influenciar mais na segunda administração de sua criatura. Afinal, pode ser o candidato à sua sucessão.

Só que a presidente estará mais livre para tocar seu projeto de governo. Ela, que no primeiro mandato não deu muito ouvidos a Lula, porque mudaria agora? Talvez queira deixar exatamente sua marca.

O problema é que a segunda fase dilmista está a exigir ajustes na economia, ao contrário do que aconteceu com seu padrinho político. Lula montou um primeiro mandato ao estilo do mercado, mas fez uma segunda administração à sua cara.

Já Dilma imprimiu sua marca na primeira fase de governo. Deu no que deu. Inflação alta e crescimento fraco. Agora, começa o segundo mandato tendo de fazer ajustes para evitar pôr em risco suas conquistas, como desemprego baixo. A conferir.

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