sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Auditoria externa não vai assinar balanço trimestral da Petrobrás

• Price se recusa a assinar demonstrações contábeis trimestrais da Petrobrás antes do resultado das investigações sobre corrupção na empresa; estatal diz que vai publicar balanço no prazo 'mais breve possível' e sem a avaliação de auditores externos

Ricardo Grinbaum, Josette Goulart, Antonio Pita - O Estado de S. Paulo

A auditoria PriceWaterhouseCoopers decidiu que não vai assinar nenhuma demonstração contábil da Petrobrás até que a companhia conclua as investigações internas abertas para apurar denúncias de corrupção, surgidas nos acordos de delação premiada da Operação Lava Jato. Na quinta-feira, 13, depois de revelado pelo estadão.com.br e pela Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, que a Price não daria seu aval para as informações contábeis trimestrais da empresa, a Petrobrás informou que não divulgará seu balanço nesta sexta-feira, 14 – data-limite segundo as regras de mercado.

De acordo com comunicado enviado na noite de quinta, ao mercado, a empresa informou que vai divulgar os resultados no prazo “mais breve possível” e estimou a data em 12 de dezembro. A Petrobrás informou também que a divulgação dos dados será feita sem a revisão pelos auditores externos – o que não ocorre normalmente com empresas de capital aberto, com ações negociadas na Bolsa.

De acordo com as regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM, xerife do mercado brasileiro), as empresas de capital aberto têm até esta sexta, 14, para divulgar seus resultados trimestrais. Caso não o façam, seus administradores podem sofrer sanções ou serem multados.
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Questionada sobre o fato de uma empresa negociada na Bolsa de Nova York adiar a publicação de balanço, a SEC (responsável pela fiscalização do mercado americano) informou que, em tese, a não entrega de documentos pode levar à suspensão de negociação das ações por até dez dias úteis. A SEC também está investigando as denúncias de desvios na Petrobrás.

O Estado apurou que os auditores decidiram não assinar a demonstração contábil da empresa por temerem os impactos que a eventual comprovação dos desvios denunciados pelo ex-diretor da empresa Paulo Roberto da Costa possa ter sobre os números. Se alguma obra foi superfaturada, a estatal terá de descontar de seus ativos o valor desviado.

Controles internos. Para assinar qualquer balanço da empresa daqui para a frente, além da conclusão das investigações, a auditoria vai exigir que a companhia comprove que os controles internos são capazes de detectar e barrar irregularidades em outras diretorias. Por enquanto, a Petrobrás investiga possíveis irregularidades nas obras do Comperj, no Rio, e da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco.

No início do mês, a auditoria já havia informado ao conselho de administração da Petrobrás que não poderia aceitar nenhuma informação prestada pela subsidiária Transpetro enquanto fosse presidida por Sérgio Machado, também investigado na operação Lava Jato. O executivo acabou sendo afastado da função por este motivo. Machado foi acusado de ter uma evolução patrimonial incompatível com seu cargo.

A Price informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que em razão de cláusulas de confidencialidade não pode fazer nenhum comentário sobre seus clientes.
A Price audita o balanço da Petrobrás desde 2012 e durante esse período não informou problemas no balanço da companhia. A associação que reúne auditores tem defendido que não é papel de auditor fazer investigações.

Algumas fontes próximas à Price dizem que o papel da auditoria foi o de pedir à própria Petrobrás que contratasse escritórios terceirizados para fazer a investigação sobre o assunto quando as denúncias chegaram à imprensa. A estatal acabou contratando os escritórios de advogados Trench, Rossi e Watanabe Advogados, do Brasil, e Gibson, Dunn & Crutcher, dos EUA, conforme informação prestada nesta quinta-feira pela empresa à CVM. / colaborou Altamiro Silva Júnior

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