terça-feira, 18 de novembro de 2014

Graça Foster: empresa holandesa 'pagou e corrompeu empregados'

Escândalos na Petrobras

• Presidente da estatal diz não ter nome de envolvidos ou valor do suborno

Bruno Rosa e Ramona Ordoñez – O Globo

A presidente da Petrobras, Maria das Graças Silva Foster, admitiu ontem pela primeira vez que a holandesa SBM Offshore subornou funcionários e ex-funcionários da estatal. A empresa, que faz leasing de plataformas de petróleo, informou na semana passada ter fechado acordo de US$ 240 milhões com autoridades holandesas para encerrar as investigações e não ser processada por suborno.

- A SBM oficializou para nós, há meses, que pagou e corrompeu empregados da Petrobras. Então, não tem a menor chance de continuar trabalhando conosco até que tudo esteja absolutamente esclarecido. Imediatamente informamos à SBM que ela não participaria de nenhuma licitação conosco enquanto não fossem identificados a origem e o nome de pessoas que estariam se deixando subornar dentro da Petrobras. E foi isso que aconteceu. Tivemos duas licitações recentes, que foi Libra e Tartaruga Verde, das quais a SBM não participou - revelou Graça, em entrevista concedida na sede da estatal.

Apesar de ter destacado que a SBM não vai mais participar de licitações da Petrobras enquanto o assunto não for complemente esclarecido, Graça Foster disse que os oito contratos que estão em andamento com a empresa seguem em ritmo normal:

- Temos contratos com a SBM de (operação de) oito FPSOS (navios-plataforma), com performance acima da média. Não vamos interromper contratos com ela nem com outras empreiteiras que estão trabalhando conosco até que tenhamos informações que sejam tão avassaladoras assim que justifique que nós encerremos contratos - disse a executiva.

Risco de suspensão
A Petrobras esclareceu que, se identificada uma não conformidade em processo contratual e confirmado procedimento irregular, a empresa pode ser suspensa de seis meses a dois anos.

Graça destacou ainda que a Petrobras tentou obter mais dados sobre o suborno:

- Fizemos algumas visitas, idas, à Holanda, aos Estados Unidos, inclusive, para tentar obter informações, nomes, sem sucesso. Então, até hoje, não sabemos quem (se envolveu) nem quanto (recebeu). Quem paga essa conta é a própria SBM, que fica fora das nossas licitações - disse.

Graça Foster disse ainda que foi Jose Formigli, diretor de Exploração e Produção (E&P), quem comandou a auditoria interna da estatal para apurar os casos de irregularidades com a SBM. No Brasil, a Controladoria Geral da União (CGU) determinou semana passada a abertura de processo de responsabilização contra a holandesa. As investigações vão apurar a possível obtenção de vantagens indevidas pela empresa e o pagamento de propina a agentes públicos federais durante contratos com a Petrobras.

US$ 139 MILHÕES
A polêmica surgiu em fevereiro, quando a mídia holandesa publicou reportagem sobre suspeitas de pagamento de propinas pela SBM à Petrobras. Segundo denúncia de um ex-funcionário da SBM, a companhia teria mantido um esquema de suborno em vários países para obter vantagens em contratos de fretamento e operação de plataformas. Isso teria alcançado a cifra de US$ 250 milhões. Desse valor, US$ 139 milhões teriam sido repassados à Petrobras, segundo as denúncias.

A SBM Offshore informou em 2012 que estava investigando supostos pagamentos envolvendo vendas através de intermediários entre 2007 e 2011 e levou o caso à Justiça holandesa. Depois, admitiu que poderia ter violado leis anticorrupção e que poderia estar sujeita a investigação criminal em países africanos.

Em abril, a SBM Offshore confirmou que pagou US$ 139 milhões a representantes brasileiros, mas informou que não havia encontrado irregularidade sobre subornos a funcionários públicos ou representantes de empresas.

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