terça-feira, 25 de novembro de 2014

José Paulo Kupfer - A equação de Dilma

- O Estado de S. Paulo

O processo de definição dos nomes que vão compor a equipe econômica, na partida do segundo mandato de Dilma Rousseff, é um caso clássico do peculiar estilo de comunicação da presidente. Mesmo tendo escolhido economistas cujo perfil atende aos reclamos de uma necessária correção de rumos na condução da economia,

Dilma produziu tensão, incertezas e desconfianças. Desagradou à esquerda e à direita, deixando com um pé atrás a faixa do centro que viu as indicações com bons olhos. Está claro que, no segundo mandato, vencer a batalha da comunicação, campo em não tem mostrado habilidade nata, será crucial para Dilma.

Não há dúvida sobre a filiação ideológica do indicado para a Fazenda, Joaquim Levy - o economista é um fiscalista militante. Mas também não há dúvida de que os desarranjos nas contas públicas se tornaram, ao cabo do primeiro governo Dilma, a mãe dos desequilíbrios macroeconômicos que hoje se refletem em pressões inflacionárias, cambiais e no setor externo, contribuindo para constranger o crescimento e ameaçar os ganhos sociais das últimas duas décadas. Um nome como o de Levy, tudo isso considerado, deveria fazer sentido. Só que, no ambiente contaminado do momento, detonou reações negativas para todos os lados.

Sua escolha por Dilma é um reconhecimento tácito de que fracassaram os experimentos de política econômica do primeiro mandato e, de fato, não promoveram os benefícios esperados. Passado o embate eleitoral, deveria importar menos a impressão de que Levy estaria melhor num governo oposicionista do que o fato de a decisão de convidá-lo representar um bem-vindo aceno à mudança, na direção de um ajuste.

Ninguém pode negar que o figurino ideológico que veste bem em Levy, o economista com doutorado na Universidade de Chicago, meca do pensamento econômico ortodoxo, é o do formulador de políticas liberais. Contudo, essa constatação, isolada, não autoriza a concluir que seu nome não foi digerido pela direção do PT, como tem circulado. É possível assegurar que, nessa esfera, não houve veto, ao contrário do que possivelmente ocorreria se a preferência recaísse no ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles.

A comunicação tumultuada na divulgação dos nomes da equipe econômica não permitiu que se tivesse a menor ideia das atribuições delegadas aos escolhidos - um ponto-chave da equação do novo governo. Não se pode esquecer que é comum, nas montagens de equipes ministeriais, adaptar as tarefas e objetivos das Pastas não só às necessidades do momento na economia, mas também aos da política e até ao perfil dos escolhidos. Fazenda e Planejamento, por exemplo, já desempenharam desde as funções críticas de formulação e condução das grandes políticas até a mera atividade de acompanhar Orçamentos. De Simonsen-Velloso, no governo militar, até Mantega-Belchior, em Dilma 1, passando por Malan-Serra, nos primeiros tempos de FHC e Palocci-Mantega, no Lula 1, esses arranjos são a regra, não a exceção.

Com Levy e o ex-secretário executivo da Fazenda Nelson Barbosa, de perfil moderadamente desenvolvimentista, no Planejamento, a montagem que parece definida para o segundo mandato de Dilma lembra a que inaugurou os anos Lula.

Tanto naquele tempo quanto agora, um governo mais à esquerda iniciou o mandato em meio a desajustes macroeconômicos, com um grupo mais ortodoxo na Fazenda e outro mais heterodoxo no Planejamento. Funcionou.

Sim, há diferenças marcantes entre um período e outro. A principal delas é que, na entrada dos anos 2000, a economia global se encontrava numa etapa ascendente e agora vive uma fase de baixa, com risco de se estender. Outra remete às características pessoais de Lula e Dilma. É sabido que a presidente tem sido insistentemente aconselhada a deixar os ministérios a cargo dos ministros. Mas seu histórico intervencionista faz com que ainda prevaleçam justificadas desconfianças.

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