sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Luiz Carlos Azedo - Quem não samba vai embora

• O ambiente nos gabinetes dos ministros é o pior possível, embora a presidente da República tenha sido reeleita e todos tenham se empenhado pela sua vitória

Correio Braziliense

A saída da senadora Marta Suplicy (PT-SP) do Ministério da Cultura precipitou, no Palácio do Planalto, a demissão dos demais ministros do governo atual, com a presidente Dilma Rousseff ainda na Austrália, onde participa da reunião do G-20. Os que vão permanecer no governo, embora não tenham mais certeza disso, foram constrangidos pelo ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, a colocar os cargos à disposição e a continuar a rotina de trabalho como se nada estivesse acontecendo. Vai ser difícil.

O próprio Mercadante (Casa Civil) e Mauro Borges (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), Manoel Dias (Trabalho), Marcelo Néri (Assuntos Estratégicos), Clélio Campolina (Ciência e Tecnologia), Moreira Franco (Aviação Civil), Francisco Teixeira (Integração Nacional), Luis Inácio Adams (Advocacia-Geral da União), José Henrique Paim (Educação) e César Borges (Portos) colocaram os cargos à disposição. Foram atropelados por Marta Suplicy, que pediu pessoalmente ao presidente em exercício, Michel Temer, que assinasse sua demissão e publicasse no Diário Oficial da União para que pudesse voltar logo ao Senado.

O ambiente nos gabinetes dos ministros é o pior possível, embora a presidente da República tenha sido reeleita e todos tenham se empenhado pela sua vitória, mais ou menos como aquela história do garçom que serve café frio e nem cumprimenta direito o chefe, porque sabe que faz parte da mobília e ministro está caindo, com toda a sua entourage junto. Na verdade, o governo está parado há pelo menos três meses, quando caiu a ficha dos petistas e aliados de que o risco de derrota era grande e a turma voltou para os estados para pôr o bloco na rua. Não foi à toa que os gastos secretos com cartões corporativos pararam na Lua.

Em Doha, no Qatar, Dilma minimizou as críticas de Marta à política econômica, tratou com naturalidade sua demissão e fez críticas veladas a Mercadante por orientar os colegas a colocarem os cargos à disposição. Na conversa que teve com a presidente da República, dois dias após as eleições, a senadora havia explicitado as queixas e as divergências, e a carta de demissão estava mais ou menos no script. A petista deixou claro que teria uma atuação independente no Senado, voltada para os eleitores paulistas. Marta se prepara para disputar a Prefeitura de São Paulo. O que acontecer daqui por diante será consequência disso.

Filme queimado
Dilma promete reestruturar seu governo a partir da volta da reunião do G-20, na Austrália, quando anunciará o novo ministro da Fazenda. Essa escolha está sendo a maior dificuldade. Na conversa de seis horas que teve com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu padrinho político, ele deixou muito claro que o nome de sua preferência era o do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles. Dilma, porém, resistiu à indicação.

O que pesa contra Meirelles é sua relação com a JBS, a maior financiadora da campanha eleitoral de Dilma e, também, a maior beneficiária da generosa política de financiamentos do BNDES para a formação de grandes grupos monopolistas nacionais. O governo concedeu R$ 5 bilhões de empréstimos à empresa de Joesley Mendonça Batista e passou a ser o maior acionista minoritário do grupo, com 30,4% das ações.

Por causa das relações heterodoxas com o grupo, um inquérito para investigar o possível favorecimento por parte do BNDES em uma operação de emissão de títulos chegou a ser aberto pelo Ministério Público Federal do Rio de Janeiro em fevereiro do ano passado. Meirelles foi contratado como consultor da JBS para gerenciar uma dívida de R$ 10 bilhões. Dilma disse a Lula que a nomeação de Meirelles a deixaria numa saia justa. Rola até a piada nas redes sociais de que Dilma já implantou o financiamento público: libera o empréstimo do BNDES e recebe uma parte como doação de campanha.

Os demais cargos da Esplanada serão anunciados gradativamente, ao que tudo indica, em sincronia com a reestruturação da base do governo na Câmara. Caso o critério seja adotado para valer, a mudança somente será completada depois da eleição do presidente da Câmara dos Deputados. O Palácio do Planalto ainda tenta impedir a escolha do líder do PMDB, Eduardo Cunha, para a chefia da Casa. É uma estratégia que tem todas as chances de dar errado. Será mais fácil o desafeto ganhar a guerra e, depois, ainda emplacar um novo ministro na Esplanada do que o PT derrotá-lo.

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