sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Operação da PF acelera disputas internas no PP

César Felício - Valor Econômico

BRASÍLIA - No centro do escândalo da Petrobras, o PP caminha para um ajuste de contas dentro da sigla. A ala que mantinha ligações com o deputado José Janene (1955-2010), já em minoria dentro do partido, terá que se defender sozinha. A cúpula do partido, hoje controlada pelo senador Ciro Nogueira (PI) e pelos deputados Aguinaldo Ribeiro (PB) e Eduardo da Fonte (PE), atua para tentar manter o ministério das Cidades, também cobiçado por outros aliados da presidente Dilma Rousseff. E a ala oposicionista da sigla, integrada entre outros pela senadora Ana Amélia (RS) e pelo deputado Esperidião Amin (SC), pede um expurgo dentro do partido. "É preciso extirpar a laranja podre que contamina todo o balaio", comentou a senadora gaúcha.

Janene foi coordenador direto do esquema de desvio de recursos da Petrobras, segundo os depoimentos já divulgados no contexto da Operação Lava-Jato conduzida pela Polícia Federal e pela Justiça do Paraná. Ele foi sucedido na função pelo doleiro Alberto Youssef, de acordo com os depoimentos de delação premiada do próprio Youssef e do ex-diretor de abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, na operação da PF. Mas o novo esquema debilitou o controle do grupo sobre a bancada na Câmara.

Em 2011, o deputado Nelson Meurer (PR) foi destituído da liderança na Câmara. Em fevereiro do ano seguinte, o então deputado Mario Negromonte (BA) foi substituído no ministério das Cidades pelo deputado Aguinaldo Ribeiro (PB). Dois meses depois, Costa foi demitido da diretoria da Petrobras. Negromonte assumiu uma cadeira no Tribunal de Contas dos Municípios da Bahia, renunciou ao mandato e se desfiliou. Seu filho, Mário Filho, elegeu-se deputado. Deixam este ano de ser deputados frequentadores do escritório de Youssef, como João Pizzolatti (SC) e Aline Corrêa (SP).

"No PT e no PMDB, a Operação Lava-Jato pode levar a uma crise no coração dos partidos. No caso do PP, os protagonistas já saíram do centro para a periferia", afirmou um deputado fluminense. O raciocínio parte do pressuposto de que o presidente da sigla, Ciro Nogueira, ficará relativamente preservado do processo de denúncias. O senador teria sido citado em um dos depoimentos vazados para a imprensa dados pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Nogueira divulgou uma carta em setembro em que diz que irá renunciar ao mandato caso se comprove seu envolvimento no caso.

O senador do Piauí ainda não reuniu formalmente o partido para fazer uma avaliação do processo eleitoral, iniciar o processo de negociação da participação no governo ou discutir o alcance das investigações na Polícia Federal.

"Posso estar sendo otimista, mas o que necessitamos fazer no PP é uma autópsia. No caso do PT e do PMDB eles vão ter que fazer uma biópsia. Eles terão que lidar com o presente, nós teremos que lidar com o passado", disse Esperidião Amin.

De acordo com um atual integrante da cúpula do PP, o grupo que era vinculado a Janene dentro da sigla deverá estar reduzido a cerca de dez dos 37 deputados eleitos. Ainda há alguma dúvida em relação ao número final porque a direção da sigla ainda não terminou de identificar as ligações e compromissos de todos os 14 novos deputados do partido.

Dentro da cúpula do legenda, há pressa em se sair da paralisia decisória em função da reforma ministerial que a presidente deve desencadear. A sigla ocupa a pasta das Cidades desde 2006, mas o ministério é cobiçado hoje por outros partidos governistas, como o PSD do ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que elegeu 38 deputados e conta atualmente apenas com a pasta da Micro e Pequena Empresa. A intenção do partido seria a de recolocar no cargo Aguinaldo Ribeiro, que saiu do ministério para renovar seu mandato na Câmara.

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