sexta-feira, 14 de novembro de 2014

PT agora cobra Ministério ‘mais qualificado’

• Deputados cobram ministério "mais qualificado" e se queixam do desgaste de defender governo

Bancada do PT critica Dilma

Fernanda Krakovics, Isabel Braga, Simone Iglesias e Danilo Fariello

BRASÍLIA - Depois do ministro Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência, e da ex-ministra da Cultura Marta Suplicy, ontem foi a vez de a bancada do PT na Câmara desfiar um rosário de reclamações em relação ao governo Dilma Rousseff. Apesar de o partido contar com 17 integrantes na equipe de Dilma, os petistas defenderam a necessidade de a presidente ter um Ministério "mais qualificado" e com mais representatividade política. Cobrando mais diálogo e maior participação no segundo mandato, os deputados do PT atribuíram o desempenho ruim da sigla nas eleições deste ano ao desgaste da defesa do governo Dilma.

- Como um partido que está há 12 anos no governo perde 19 deputados federais e só elege dois senadores? Tínhamos 149 deputados estaduais no Brasil e agora elegemos 109. Houve perda de protagonismo do PT na formatação e execução de políticas públicas. No PT, estamos muito mais expostos para defender o governo nas questões mais difíceis. Enquanto isso, representantes de partidos aliados, que fizeram campanha para Aécio (Neves) e Marina (Silva), estão na ponta da execução de políticas do governo - queixou-se o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS).

Para o líder do PT na Câmara, Vicentinho (PT-SP), é importante que para o segundo mandato a presidente Dilma defina um Ministério com "cara nova" e "dinâmico". Dos 39 ministérios, 17 estão sob comando do PT, mas, para deputados, muitos nomes não representam o partido.

Participantes da reunião, que começou pela manhã e entrou pela tarde de ontem, afirmaram que no momento em que o debate resvalou para críticas ao governo os ministros Ricardo Berzoini (Relações Institucionais), Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Gilberto Carvalho (Secretaria Geral) já tinham ido embora. Parte da bancada endossou as críticas feitas pela ex-ministra Marta Suplicy, que, ao pedir demissão, desejou que Dilma "seja iluminada ao escolher a nova equipe econômica, que resgate a confiança e a credibilidade em seu governo".

Queixas de falta de diálogo
Os deputados também reclamaram da falta de diálogo do Palácio do Planalto com a bancada antes de enviar projetos para o Congresso. E disseram que isso não acontecia no governo Lula. Para os deputados, o PT se sacrificou pelo governo e acabou ficando isolado na Câmara. Isso estaria prejudicando agora o partido na disputa pela presidência da Casa.

- Ninguém se importa de comprar brigas. Mas, enquanto isso, o resto da base está negociando, o governo acaba cedendo, e nós ficamos com a imagem de pouca flexibilidade - disse o deputado Jorge Bittar (PT-RJ).

A bancada também reclamou do perfil técnico do atual Ministério e do fato de ser composto por pessoas de pouca expressão:

- A Izabella Teixeira (ministra do Meio Ambiente) é do Rio. Durante a campanha, na hora da guerra, o que ela agregou para vencer a batalha? Em que comunidade ela foi? Com que sindicato se reuniu? Para ser ministro tem que ter ligação com movimento social, ter representatividade política, não pode ser só técnico - afirmou um deputado do Rio.

Muitos deputados petistas perguntaram para o presidente do partido, Rui Falcão, como andam as negociações para a reforma ministerial, e ele respondeu que ainda iria conduzir conversas internas no PT sobre o tema. Na reunião, Berzoini disse que o processo da reforma ministerial não tem pressa, e que o ritmo será determinado pela presidente.

Na quinta-feira da semana passada, Dilma reuniu deputados e senadores petistas no Palácio da Alvorada para um coquetel, como forma de mostrar disposição ao diálogo.

- As coisas estão caminhando, houve o coquetel, depois ministros estiveram na reunião da bancada. Há boa expectativa porque a relação vem melhorando substancialmente - disse Vicentinho.

Sobre as críticas à presidente Dilma e ao governo, durante o encontro de ontem, o líder petista enfatizou que são naturais e da essência do partido.

- Houve avaliações individuais mais duras, mas, na média, foi uma análise positiva - afirmou Vicentinho.

Lobão vai entregar carta de demissão
O ritmo de entrega de cartas de ministros colocando os cargos à disposição da presidente Dilma para a composição da nova equipe estancou depois que ela minimizou a iniciativa do ministro Aloizio Mercadante de pedir os cargos. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, confirmou que também entregará uma carta de demissão à presidente nos próximos dias. Aliados da presidente veem a saída de Lobão do ministério como certa.

- Não entreguei ainda, vou entregá-la, até porque é uma recomendação para todos fazerem. Entregarei amanhã, ou na segunda-feira, ou na terça - disse Lobão ao GLOBO, ontem.

Em discurso a agentes do setor elétrico em Brasília, Lobão disse ter orgulho do corpo técnico e das instituições integrantes do ministério, do qual está à frente há seis anos.

- Eu, amanhã, posso sair daqui, outro virá, outro pode sair, e o sistema prosseguirá, porque está estruturado em bases realistas e responsáveis - disse ele no evento de lançamento do Plano Nacional de Energia 2050, que visa à expansão do setor até aquele ano.

Em tom de despedida, Lobão ressaltou que, a despeito de visões pessimistas e da situação hidrológica de poucas chuvas, não houve racionamento de energia elétrica em 2014.

Ele afirmou ainda que sentia como uma "agressão" as críticas de que não havia planejamento no setor elétrico, uma vez que o governo estava apresentando um plano para daqui a 36 anos.

- Temos aperfeiçoado esse modelo (energético). Oxalá os próximos também o façam - disse Lobão.

Na reunião com a bancada do PT na Câmara, Gilberto Carvalho falou sobre a posse de Dilma. Disse que a ideia é fazer uma grande festa popular, com a presença de muitos filiados e jovens, e pediu mobilização por parte dos deputados. A meta do partido é levar 100 mil pessoas às ruas de Brasília, no dia 1º de janeiro, para mostrar a força da presidente Dilma no início do segundo mandato.

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