quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Delator diz que entregou à Justiça de 35 a 40 políticos

• Ex-diretor da Petrobras confirma ter feito acusações em depoimentos sigilosos

• Questionado em CPI, Paulo Roberto Costa diz que corrupção atinge obras em outros setores e se espalha pelo país

Gabriel Mascarenhas e Gabriela Guerreiro – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa surpreendeu os integrantes da CPI criada pelo Congresso para investigar a estatal ao quebrar o silêncio e confirmar que entregou dezenas de políticos em seus depoimentos à Justiça, mantidos sob sigilo pelo Supremo Tribunal Federal.

Sem entrar em detalhes para não comprometer o acordo de delação premiada, Costa fez um "esclarecimento inicial" nesta terça (2), na sessão em que foi convocado para acareação com outro ex-diretor da estatal, Nestor Cerveró.

Preso durante a Operação Lava Jato, que desvendou o maior esquema de corrupção envolvendo a petroleira, Costa só foi solto depois de fazer o acordo e admitiu que entregou "algumas dezenas" de políticos ao ser questionado pelos integrantes da CPI.

Após a sessão, confidenciou a dois deputados o número de políticos que citou. Um dos que ouviu o dado foi Julio Delgado (PSB-MG). "Eu perguntei: como é isso, quantos são?'. Ele me disse que são de 35 a 40 do PP, PMDB e PT."

O delator disse que chegou a ficar "enojado" com o que ocorria na estatal e que a corrupção está espalhada pelo país. "O que acontecia na Petrobras acontece no Brasil inteiro: nas rodovias, ferrovias, nos portos, aeroportos, nas hidrelétricas. Isso acontece no Brasil inteiro. É só pesquisar."

Ele não falou sobre a acusação, que fez à Justiça, de que Cerveró recebia propina. O ex-diretor da área internacional negou: "É uma ilação".

Costa fez um breve histórico de sua entrada por concurso na estatal, em 1977, mas admitiu ter chegado ao alto escalão graças a indicações políticas --foi diretor de Abastecimento de 2004 a 2012.

Ele, que cumpre prisão domiciliar, diz estar "profundamente arrependido".

"Desde o governo Sarney, governo Collor, governo Itamar, governo Fernando Henrique --todos--, governo Lula, governo Dilma, todos os diretores da Petrobras e diretores de outras empresas, se não tivessem apoio político, não chegavam a diretor! Isso é fato. Pode ser comprovado."

E continuou: "Infelizmente, aceitei. Se pudesse, não faria isso. Esse cargo me deixou onde estou hoje", disse.

Ele chegou a dizer que sonhava em ser presidente da Petrobras e que passou a sentir ojeriza do esquema do qual participava. Foi, segundo diz, quando enviou à Casa Civil, em 2009, e-mail com questionamento feitos pelo TCU (Tribunal de Contas da União).

O e-mail foi revelado pela revista "Veja". Na época, Dilma Rousseff chefiava a Casa Civil. À CPI Costa negou que o envio ocorreu por interesses escusos ou porque queria interferência do Executivo.

"Nessa época, eu já estava enojado. Aquele processo estava me enojando. [O objetivo] foi alertar de que estávamos com problemas", disse.

"Queria que ele explicasse o que é o enojamento' e por que não tomou nenhuma ação para desenojar' o processo", afirmou o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS).

Costa não deu novos detalhes sobre sua delação. Repetiu, porém, que confirma tudo o que foi dito, segundo ele, em mais de 80 depoimentos.

Disse que virou delator para "deixar a alma mais pura" e atendendo ao apelo da família. "Perguntaram: Por que só você, cadê os outros? Você vai pagar sozinho?'"

A disposição dele em falar animou a oposição. O deputado Izalci (PSDB-DF), questionou se o ex-presidente Lula e a presidente Dilma foram informados sobre os desvios.

Costa disse que, por ele, nunca. Aproveitou para desmentir que Lula o chamasse de Paulinho: "É folclore".

Cerveró repetiu o roteiro de sua primeira fala à CPI, em setembro. Voltou a dizer que não sabia nada sobre a existência de um cartel de empresas, de superfaturamento em obras e propina.

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