terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Dilma pedirá aprovação do MP para novos ministros

Ministério com aval do MP

• Dilma afirma que fará consulta ao órgão antes de definir nomeações para o governo

Catarina Alencastro – O Globo

BRASÍLIA- Com dificuldades para fechar o novo Ministério e com receio de que possa ter que explicar a entrada de denunciados em corrupção já no início de seu segundo governo, a presidente Dilma Rousseff revelou ontem que pretende submeter os indicados pelos partidos da base ao crivo do Ministério Público. A presidente afirmou que quer saber antes se o candidato a ministro tem algum envolvimento no esquema de desvio de dinheiro da Petrobras que está sendo investigado pela Polícia Federal e Ministério Público, já que na próxima fase das apurações da Operação Lava-Jato será revelada a participação de políticos nas irregularidades .

Em um café da manhã oferecido a jornalistas que cobrem o Palácio do Planalto, a presidente minimizou a possibilidade de prosperar alguma iniciativa da oposição sobre abertura de processo de impeachment contra ela. Segundo Dilma, não há crise , apenas uma investigação. A presidente disse que a ideia de impeachment que vem sendo aventada por grupos de manifestantes nas redes sociais e nas ruas é ultrapassada e não cabe no Brasil atual. A presidente fez também uma defesa veemente da presidente da Petrobras, Graça Foster , e anunciou sua manutenção no cargo junto com toda a diretoria da empresa.

A presidente afirmou não ver indícios de irregularidades na atual diretoria, mas que tr ocará o conselho administrativo da estatal. Quanto a Graça, Dilma questionou a quem interessa sua demissão e garantiu que não falta credibilidade a ela. A presidente disse que Graça tem sofrido grande pressão para sair e que chegou a colocar o cargo a disposição, caso a exposição que vem sofrendo por conta das investigações do bilionário esquema de desvio de dinheiro da estatal cause prejuízo ao governo ou a Petrobras. Dilma afirmou que quem praticou corrupção será punido, mas que a Petrobras não será destruída nesse processo. Sobre o vultoso montante de recursos desviados da empresa, Dilma disse achar absurdo.

Dilma minimizou as acusações da ex-gerente de Abastecimento da Petrobras Venina Velosa , de que Graça havia sido informada pessoalmente sobre irregularidades na empresa. Para a presidente, é preciso confirmar denúncias com provas. A presidente informou ainda que pretende nomear quase todos os integrantes de sua equipe até o próximo dia 29. E que a forma pode ser em duas etapas ou em uma só . O segundo escalão do governo, inclusive presidentes dos bancos públicos, só será formado , disse, depois que todos os ministros estiverem escolhidos. Leia trechos da entrevista:

Aval do MP para ministros
"Eu consultarei o Ministério Público mais uma vez. Qualquer pessoa que eu for indicar eu consultarei o que tem quanto à pessoa. Eu não quero que ele me diga o quê. Eu só quero que ele me diga sim ou não. Eu vou perguntar o seguinte: "há alguma coisa contra fulano que me impeça de nomeá-lo? Só isso que vou perguntar. Não quero saber o que ele não pode me dizer. Como disse outro dia o (José) Mujica (presidente do Uruguai), muito sabiamente, a gente não pede coisa que não podem dar nem pergunta coisas que não podem ser respondidas. Vocês (jornalistas) podem perguntar, nós, não.

Indicações políticas
"Eu não vou demonizar aqui indicação política. Não contem comigo. É de um simplismo grotesco em um país fazer isso. É não ver um palmo à frente do nariz no resto do mundo. O problema do Brasil não é se são políticos ou se são técnicos. Isso veio da ditadura. Eu sou da época que era assim, eu com 19, 21 anos, era assim: o que era límpido e bom eram os tecnocratas. O que era nefasto era esse povo subversivo que devia estar na cadeia. Aqui no Brasil não é uma questão de políticos versus técnicos. Ninguém está acima do bem e do mal. Então, essa categoria políticos são maus e técnicos são bons, a mim não convence e eu não farei isso . Não acho que a corrupção seja uma questão do lugar em que a pessoa está situada. É uma questão muito mais complexa. Essa história de a elite brasileira sempre achar que o estado era dela, deu no que deu e agora estamos saindo disso."

Impeachment
"Num regime democrático não é uma guerra, não tem vencido. Tem quem vai ser governo, quem vai ser oposição. E daí a quatro anos, muda. Muda ou se mantém. Quem ganha tem um desafio, tem de governar para todos, não pode ser mesquinho. Acho que tem de saber perder, essa história de querer provocar impeachment a cada virada do ponteiro do relógio, é um pouco ultrapassada, eu diria. É ultrapassado, porque cabia no Brasil dos anos 1980, dos anos 1990, não cabe no Brasil desta década.

Demissão da diretoria da Petrobras
"Eu não tenho nenhuma indicação de que falta credibilidade à Graça Foster para fazer isso (demiti-la). Não tenho essa indicação. E acho estranho porque eu li nos jornais, tem hora que eu olho nos jornais e fico meio perplexa, que eu teria de procurar um nome do mercado e botar dentro da Petrobras. Ora, a Petrobras não é uma empresa simples, não é uma empresa trivial."

"Venina tem que provar acusações"
"Como é que você tipifica uma alegação sem prova? Tem que ter alguma prova apresentada sobre qualquer conduta da presidente Graça Foster. Eu conheço a Graça. Eu sei da seriedade dela. A Graça assumiu a gestão da Petrobras e mudou toda a diretoria. E abriu todas as investigações que estão em curso dentro da Petrobras."

Pressão sobre Graça Foster
"Ela recebe um nível de pressão que poucas pessoas seguram. Ela segura pelos compromissos que tem com a Petrobras e com o país. Agora, eu acredito que cria-se um clima sem apontar uma falha dela, cria-se um clima muito difícil pra ela. Agora, por isso eu vou tirar? Eu penalizo ela por algo que não é responsabilidade dela? A quem interessa tirar a Graça Foster? O que que tem por trás disso? Eu vou interromper o processo? A crise não é crise. Tem uma investigação sobre corrupção no Brasil que é fundamental que haja porque é a primeira vez que esse País muda a sua prática patrimonialista.

Sem irregularidades na diretoria
"Eu não vejo nenhum indício de irregularidade na conduta da atual diretoria da Petrobras. Não compactuo com indício de irregularidade. Acho que as pessoas que praticam irregularidades têm que ser punidas. Agora, quando eu não vejo corrupção e irregularidade , eu não posso querer punir ."

Montante desviado
"Acho absurdo os volumes de dinheiro (desviados por) alguns funcionários".

Não vão destruir a Petrobras
"Acho a investigação fundamental, isso não significa que a gente, ao punir, vai destruir a Petrobras. Não vai, não. Não vai acabar com modelo de partilha nem de conteúdo nacional. Não vai, não. No que depender do meu governo, não tentem achar que em algum momento nós compactuaremos com qualquer processo de fragilidade institucional da Petrobras."

Luta contra o rebaixamento
"Trabalhamos com o seguinte fato: com uma luta incansável para não rebaixarem a nota da Petrobras. Estamos em uma situação complexa na área de petróleo. Eu passei a campanha passada inteira dizendo porque não iria reduzir o preço do petróleo. A situação hoje do mercado de petróleo vai obrigar todas as médias e grandes empresas a fazerem revisão dos seus negócios. A Petrobras, do ponto de vista de sua atividade , vai muito bem, obrigada. Nós estamos atingindo produção de barris muito boa. Isso torna a situação da Petrobras muito boa. E ela vai melhorar bastante ."

Conteúdo das delações
"A Petrobras tem um caixa que permite a ela passar este ano sem recorrer ao mercado. Além disso é importante dizer porque não fecharam o balanço. É de todo oportuno que se saiba o teor das delações premiadas porque se não soubermos não sabemos o volume indevidamente re tirados dos cofres da Petrobras. Precisamos saber disso porque vamos ter que dar baixa. Nós vamos ter que lançar como prejuízo. A gente pede para o MP nos informar. Desde o início eles falaram que vão fazê-lo em algum momento quando informarem a todo o país. Nós estamos esperando."

Combate à corrupção
"Temos feito todas as investigações. Nós nunca dirigimos as investigações, não nomeamos para diretor da PF ninguém que seja vinculado a partido porque tem alguns cargos que não se pode colocar nem meia pessoa filiada. Então, a PF tem integral independência de fato."

Reforma política
"Ou nós temos um projeto de reforma política e transitamos ele ou não sairá reforma política. Eu sempre achei que para legitimar , por exemplo, o fim do financiamento privado de campanha, não pode ter a pessoa jurídica. Essa é a minha proposta. Mas será preciso criar um consenso para se levar adiante."

Porto de Mariel
"Foi ridículo a forma pela qual a campanha no Brasil tratou a questão de Mariel. A questão de Mariel foi tratada no Brasil com preconceito. Hoje quando os Estados Unidos reatam relações com Cuba mostra claramente que o Brasil estava certo em financiar o porto de Mariel. Agora que o porto é o mais próximo da Flórida, ficou o must."

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