domingo, 7 de dezembro de 2014

Embora estável, a situação do governo não é tranquila

• Petista tem as expectativas menos otimistas desde a reeleição de FHC

Mauro Paulino, Alessandro Janoni - Folha de S. Paulo

A aparente estabilidade na aprovação ao governo Dilma Rousseff pode surpreender os que acompanharam a evolução dos acontecimentos pós-eleições. O esforço da oposição em manter-se ativa como representante dos que saíram insatisfeitos das urnas, as novas revelações do escândalo da Petrobras e o debate sobre o perfil do novo ministério não impactaram a avaliação da opinião pública sobre o desempenho geral do governo.

No caso de corrupção na Petrobras, apesar da grande maioria ter ouvido falar do tema e ver responsabilidade da presidente no episódio, efeitos mais expressivos na imagem da petista são anulados pelo reconhecimento por parte dos entrevistados de que no seu governo há investigação e punição dos envolvidos.

Quanto às mobilizações populares da oposição, sua ocorrência localizada e regional --assim como o ruído em suas intenções-- tem servido muito mais para fixar a ideia de provincianismo na empreitada do que propriamente para gerar fato político relevante para a população.

Mas o quadro está longe de ser confortável para o governo. O crescimento de quatro pontos na reprovação a Dilma reflete a percepção dos primeiros movimentos da presidente em direção ao seu 2º mandato. O teor das ações desperta insegurança no imaginário de parte dos brasileiros sobre o futuro, sobretudo em relação à economia. O otimismo que a campanha petista injetou no eleitorado durante o 2º turno, ancorada em comparações com a gestão tucana, desidrata-se agora diante dos fatos recentes.

A austeridade no discurso da nova equipe econômica, a confusão sobre o projeto que altera as metas do governo, o aumento dos juros e de preços, compõem um cenário de incertezas que aumenta a desconfiança da população.

Além do refluxo pessimista sobre inflação, poder de compra e desemprego, o crescimento de cinco pontos percentuais ao longo dos últimos quatro anos na taxa dos que citam espontaneamente a economia como a área de pior desempenho do governo Dilma e o recuo de seis pontos no índice dos que citam o setor como o de melhor atuação nesse espaço de tempo surgem como ameaça para os próximos meses de governo.

A petista apresenta o menor índice de otimismo na taxa de expectativa do novo governo desde a reeleição de FHC. Ao se considerar o conceito de satisfação como o de expectativa atendida, dado seu patamar minguado, Dilma deveria estabelecer como meta a elevação de sua aprovação para taxas superiores aos 50% de expectativa atual.

Demandas represadas desde as manifestações de 2013 aguardam espaço na agenda, travada pelas incertezas na economia. Em conjunto com o noticiário sobre corrupção podem despertar novamente os fantasmas de junho.

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