segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Petistas querem Integração Nacional

Andrea Jubé – Valor Econômico

FORTALEZA- O PT abre a semana com a expectativa de que a presidente Dilma Rousseff deflagre a próxima etapa da reforma ministerial com a definição do espaço da sigla no segundo governo, antes de iniciar as conversas com os demais aliados. O partido - ao qual Dilma prometeu protagonismo no próximo mandato - quer manter as pastas da área social, reivindica a Integração Nacional para o governador Jaques Wagner, da Bahia, e busca ampliar sua participação no segundo escalão. Dilma embarca para Quito nesta quinta-feira, para a reunião da Unasul, mas antes de viajar, deve se reunir com o presidente do PT, Rui Falcão, para tratar da pauta ministerial.

A presença de Dilma no encontro do diretório nacional do PT no último fim de semana, em Fortaleza - com o palco armado, nos bastidores, pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - selou a reconciliação dela com a legenda, embora ainda haja desconfiança de setores do partido com a Dilma mais política e simpática. As relações estavam estremecidas desde a reeleição. Primeiro, porque a presidente não reconhecia, publicamente, o papel dos petistas na campanha. O partido convocou militantes e movimentos sociais a sair em peso às ruas, principalmente no segundo turno, quando a derrota parecia iminente.

Esse sentimento agravou-se, quando Dilma fez o primeiro aceno do novo governo aos setores conservadores, com as indicações do economista Joaquim Levy, de perfil ortodoxo, para o Ministério da Fazenda, e da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) para a Agricultura.

Nos bastidores, lideranças petistas pontuavam que, com um pouco mais de tato, Dilma poderia ter acrescentado ao menos um nome do partido ao primeiro lote de anúncios, a título de contraponto, como Miguel Rossetto e Jaques Wagner. Ambos são considerados pule de dez no novo ministério.

Ausente no encontro do diretório petista, Lula fez o meio de campo para o comparecimento de Dilma. Convidado, ele preferiu não ir e pavimentar o caminho para a reaproximação dela com a legenda. Ele disparou telefonemas para lideranças nacionais e estaduais, recomendando que interviessem para acalmar os ânimos partidários. O resultado dessa operação foi o discurso mais "habilidoso e político" de Dilma nos últimos tempos, na avaliação de um importante dirigente. Para essa fonte, Dilma não demonstraria tanta desenvoltura se o seu antecessor - líder máximo da sigla - estivesse presente, porque ele poderia intimidá-la. "Tem horas em que a ausência de Lula ajuda", disse.

Pela primeira vez, Dilma agradeceu, explicitamente, o PT, os dirigentes partidários e a "militância guerreira", e foi aplaudida várias vezes. Num momento em que brasileiros insatisfeitos com a derrota do PSDB saem às ruas pedindo o impeachment da petista, pelas suspeitas de ligações do PT com a corrupção na Petrobras, e até mesmo intervenção militar, Dilma pediu que o partido esteja ao seu lado. "Conto com vocês para que juntos encaremos com serenidade os golpistas de sempre".

A presidente confirmou que seu partido terá papel central "no protagonismo dos aliados e dos movimentos sociais", mas lembrou que como se trata de um governo de coalizão, ela terá de reservar espaço aos demais coligados.

Dilma também surpreendeu ao comparecer ao jantar oferecido a ela pelo governador eleito do Ceará, Camilo Santana, já que não havia confirmado presença. No restaurante, de frente à Praia do Futuro, ladeada pelo governador e pelo presidente Rui Falcão, ela saboreou ostras frescas, distribuiu sorrisos, confraternizou e fez selfies. Depois que foi embora, um deputado federal reeleito confidenciou ao Valor: "Quero ver quanto tempo dura isso", referindo-se à fartura de simpatia da presidente.

É nesse clima de reconciliação que o PT espera iniciar a discussão sobre seu espaço no ministério e no segundo escalão. Reivindica a Integração, invocando a eleição de um terço dos governadores do Nordeste - Rui Costa, da Bahia, Wellington Dias, do Piauí, além de Camilo Santana, que a escoltaram em Fortaleza. O argumento é de que a pasta dialoga diretamente com o Nordeste, região que votou em peso na petista. Mas esse pleito implica em uma queda de braço com o PMDB, que cobiça as pastas da Integração e da Educação.

O PT também pleiteia uma fração maior da rede de cargos federais nos Estados, em superintendências e delegacias regionais de órgãos como Sudene, Incra, Docas e o Banco do Nordeste. Nesse caso, os pedidos se justificam pelo fato de serem esses postos estaduais que materializam as políticas dos ministérios e refletem a força partidária no plano federal. Petistas queixam-se da perda de espaço para aliados do Planalto em suas bases eleitorais, por causa da distribuição desses cargos.

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