quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Raquel Ulhôa - Chumbo grosso

• Oposição acha que clamor popular pode levar a impeachment

- Valor Econômico

Às 3h da madrugada da votação do projeto de lei que permite o descumprimento da meta de superávit primário pelo governo, o deputado Jutahy Júnior (PSDB-BA) recebeu, pelo Facebook, a pergunta: "Você ainda está aí?" Entendendo a mensagem como cobrança de um eleitor que acompanhava a longa sessão pela televisão e não o enxergava no plenário, Jutahy tratou de pedir a palavra rapidamente e fazer um discurso, para ser visto e mostrar que estava presente.

Pelas redes sociais ou manifestações presenciais, setores antipetistas da população cobram cada vez mais da oposição atuação mais firme contra o governo Dilma Rousseff. Mobilizados ou não por partidos políticos, pequenos grupos começam a ocupar galerias e a se manifestar na porta do Congresso com uma pauta meio confusa, mas um protesto comum: contra o PT e o governo.

"Se, anteriormente, a oposição não tinha o apoio popular, porque existia uma certa anestesia por parte da sociedade em relação ao governo do PT, agora que tem é lógico que vamos poder reverberar com muito mais capacidade. Não é que fomos omissos. É que hoje a sociedade acordou", diz o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), um aguerrido líder da oposição, que em fevereiro assume mandato de senador.

Caiado começa, em janeiro, a estudar o regimento do Senado, para conhecer bem todos os instrumentos legais dos quais a oposição dispõe na Casa para atrasar votações de interesse do governo e forçar o debate. O senador eleito quer acabar com o acordo de líderes em torno da pauta. Defende que todas as matérias sejam debatidas e que o Senado não seja "cordeirinho" do Planalto. "Se a sociedade hoje está nesse processo quase que de erupção, não é justo que a Câmara dos Deputados e o Senado não reflitam essa realidade", afirma.

O PSDB, por sua vez, está estruturando o grupo técnico de acompanhamento das ações do governo, das execuções de programas e projetos e dos indicadores sociais e econômicos. A estrutura vai funcionar no Instituto Teotônio Vilela (ITV), órgão de estudos e formação política ligado ao PSDB. A expectativa do presidente do partido, senador Aécio Neves (MG), é que comece a funcionar em fevereiro, já com o novo mandato de Dilma em andamento.

O próprio Aécio tem demonstrado disposição maior do que a habitual de bater no governo. Um exemplo recente foi a resposta dada a uma declaração do ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência), que o chamara de "playboyzinho". O senador disse que a declaração confirma a "baixa estatura política" de Carvalho e que, apesar de estar há 12 anos no governo, "a principal marca da sua biografia será sempre o seu envolvimento com a as graves denúncias de corrupção na Prefeitura de Santo André (SP), que culminaram com o assassinato do prefeito [Celso Daniel], ainda não esclarecido".

Se ensaia uma atuação mais combativa em 2015, a oposição tem dificuldade de traçar estratégias, por estar sempre sendo surpreendida pela profusão de denúncias, especialmente no caso Petrobras. "Estamos diante de uma situação sem controle. É tanta associação de mal-feitos, que isso pode gerar um clamor das ruas por um 'Fora Dilma'", diz o líder e presidente do DEM, senador José Agripino (RN).

Da Operação Lava-Jato da Polícia Federal surgem, a cada dia, novas revelações sobre o esquema de corrupção na Petrobras. As ações da empresa caem e investidores movem ação coletiva contra a empresa nos Estados Unidos, buscando ressarcimento pelas perdas.

Em duro discurso, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, fala em "assalto à Petrobras" e em substituição da diretoria. Técnicos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) recomendam a desaprovação das contas de campanha da presidente. E, reforçando o desgaste do PT, surge a notícia de que a empreiteira Camargo Corrêa, investigada na Lava-Jato, mantinha contrato sigiloso com o ex-ministro José Dirceu, condenado por corrupção no mensalão.

Tudo isso quando o Congresso está encerrando o embate em torno do projeto do superávit, cuja tramitação já havia se tornado mais tensa com a publicação do decreto da presidente condicionando a liberação de recursos de emendas de parlamentares à aprovação à aprovação da proposta. Tudo isso deu força para a atuação da oposição nas últimas semanas. internamente, Dilma também sofre as consequências da briga entre "lulistas" e "dilmistas". "Ela está prisioneira do que o PT fez. Não tem como se livrar. Ela está dormindo com o inimigo", diz Jutahy.

Para lideranças petistas - que têm sido consideradas tímidas na defesa do governo -, a oposição está "patrocinando" o "impeachment" de Dilma. Embora digam que, neste momento, o objetivo não é esse, dirigentes tucanos e do DEM já não tratam o assunto como "algo exótico", como faziam até pouco tempo.

O argumento é que o conjunto de evidências de irregularidades no governo pode crescer tanto e chegar tão perto da presidente, que a oposição será obrigada a defende o afastamento. Para o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), ainda não existem as condições jurídicas e políticas para haver o impeachment, mas elas podem se concretizar.

Oposicionistas com inserção no meio empresarial apontam um novo problema que Dilma pode enfrentar a partir de 2015: a desobediência civil por parte do setor produtivo. Grandes empresários já teriam aventado a hipótese de deixar de recolher impostos, alegando corrupção, mau gasto do governo e a perspectiva de perdão, por meio de um programa de refinanciamento qualquer.

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