quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Tumulto no Congresso adia votação de manobra

Tumulto suspende votação sobre meta fiscal

• Pancadaria nas galerias da Câmara interrompe sessão; após decreto, PMDB decide apoiar proposta do governo

Cristiane Jungblut, Júnia Gama, Maria Lima e Isabel Braga – O Globo

O governo fracassou ontem na sua quarta tentativa de votar a proposta que permite o descumprimento da meta fiscal de 2014. Um clima de guerra se instalou na sessão do Congresso, com brigas e xingamentos entre manifestantes, parlamentares e seguranças nas galerias da Casa, o que levou o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) a suspender os trabalhos.

Após dias de rebeldia entre os aliados, os principais partidos da base entraram em acordo para ajudar o Palácio do Planalto a aprovar a medida. Porém, a oposição, com ajuda de um grupo que acompanhava a sessão nas galerias da Câmara e gritava palavras de ordem contra parlamentares da base, conseguiu impedir a análise do projeto.

Após mais de uma hora de confusão, Renan interrompeu os trabalhos e remarcou a sessão para as 10h de hoje. O cancelamento foi uma vitória da oposição. Como faltam ser apreciados os vetos presidenciais, há o risco de a votação da mudança da meta fiscal só ocorrer no dia 9.

- Vinte e seis pessoas instrumentalizadas, provocando o Congresso, tumultuando. Não dá para trabalhar e conduzir a sessão dessa forma - disse Renan.

PMDB muda de opinião, de olho em ministérios
Na semana passada, os deputados peemedebistas, junto a outros partidos da base aliada, esvaziaram a sessão que apreciaria a medida e impossibilitaram a votação. A mudança de postura que levou os peemedebistas a se mobilizarem para a sessão de ontem, favoráveis ao governo, se deve a três fatores: distribuição de espaços na reforma ministerial em curso, liberação de verbas para estados e municípios (sobretudo através de emendas parlamentares) e a campanha pela eleição de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para a presidência da Câmara.

O plenário da Câmara, onde ocorrem as sessões do Congresso, virou um verdadeiro ringue. Enquanto nas galerias havia enfrentamento entre seguranças, manifestantes e parlamentares da oposição, alguns deputados e senadores trocavam xingamentos no plenário, a poucos metros de Renan, que parecia atônito com o tumulto. A confusão começou quando ele mandou esvaziar as galerias, por volta das 19h45m. Nesse momento, os manifestantes gritavam palavras de ordem contra Renan e o PT.

- Ditador (para Renan)! O PT roubou! Vai para Cuba! - gritavam os cerca de manifestantes nas galerias.

A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e a senadora Vanezza Grazziotim (PCdoB-AM), que estavam discursando, entenderam que foram xingadas de vagabundas. Jandira exigiu providências.

- Não ouvi, mas a deputada disse que estavam nos chamando de vagabundas. E a deputada Manoela D´Ávila (PCdoB-RS) contou que havia uma manifestante nos chamado de safadas - disse Vanessa.

- Chamar de vagabunda é inadmissível! Minha proposta é que se esvaziem as galerias. Que se respeitem os parlamentares! - disse Jandira.

Os seguranças foram às galerias para retirar os manifestantes, a maioria ligada ao PSDB, e usaram até uma arma que dá choque. Os líderes dos partidos de oposição, então, subiram para proteger os manifestantes, e começou a briga. Os mais exaltados eram os deputados Ronaldo Caiado (DEM-GO), líder da Minoria no Congresso, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), Fernando Francischini (SD-PR) e Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) - este, o mais irritado, que chegou a empurrar e dar cotoveladas num segurança:

- Me solte que eu sou deputado! - gritava.

Uma idosa de 79 anos, Ruth Gomes de Sá, afirmou ter sido agredida pelos seguranças.


- Eles me deram uma gravata! - disse a aposentada, que disse ser ligada ao PSDB.

Num dos momentos mais tensos , os deputados Felipe Maia (DEM-RN) e Assis Melo (PCdoB-RS) trocaram acusações e empurrões. Assis teve que ser contido por colegas do partido e Maia, pelos correligionários democratas, inclusive seu pai, o senador Agripino Maia (DEM-RN). Outro embate ocorreu entre Domingos Sávio (PSDB-MG) e Amauri Teixeira (PT-BA).

- Disse ao Amauri que ele era gordo, mas não era dois! - contou Sávio, que está usando muletas por ter operado um dos joelhos.

Os manifestantes, parte deles convocada pelo deputado Izalci (PSDB-DF), registraram boletim de ocorrência por terem sido agredidos.

O governo terá dificuldade para conseguir quorum hoje.

- Foi uma vitória nossa (da oposição) - admitiu o líder do PSDB, Antônio Imbassahy (BA).

Em campanha, Cunha quer evitar confronto
Na reunião de segunda-feira no Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff deixou claro que, se o Congresso não aprovar a mudança na meta fiscal, estados e municípios sofrerão as consequências, até com corte de verbas para obras já em andamento, o que prejudicaria as bases políticas dos deputados.

Em reunião da bancada do PMDB, ontem, houve críticas ao decreto editado por Dilma, que condiciona a liberação de emendas parlamentares à aprovação desse projeto. No entanto, os deputados mostravam-se dispostos a apoiar o governo e cobraram a definição dos nomes e ministérios a serem ocupados pelo partido no segundo mandato presidencial.

Outro motivo para a decisão de cooperar com o governo é a campanha pela presidência da Câmara, iniciada oficialmente ontem por Eduardo Cunha. O deputado sofre fortes resistências do Palácio do Planalto e quer amparar arestas para melhorar suas chances de ser eleito.

Anteontem à noite, durante a reunião das lideranças da base com Dilma, o deputado sugeriu que fosse reeditado o compromisso de não se votar projetos da chamada pauta-bomba, com forte impacto nos cofres públicos.

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