segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

OPINIÃO DO DIA: Fernando Henrique Cardoso

É preciso redesenhar a rota do País. Dois terços dos entrevistados em recentes pesquisas eleitorais dizem desejar mudanças no governo. Há um grito parado no ar, um sentimento difuso, mas que está presente. Cabe às oposições expressá-lo e dar-lhe consequências políticas.

É a esperança que tenho para 2014 e são os meus votos para que o ano seja bom."

Fernando Henrique Cardoso, “Mudar o rumo”. O Globo, 5 de janeiro de 2014.

A "guerra psicológica"de Dilma - É um papo muito cabeça

Dilma fala em "guerra psicológica", conceito da ditadura, que a prendeu e torturou. Também emula o estatismo dos generais. Será a síndrome de Estocolmo, doutor Freud?

Daniel Pereira

Os psicólogos chamam de síndrome de Estocolmo a reação que leva pessoas mantidas presas a emular seus malfeitores. Os cientistas políticos, mais cínicos e distantes, dizem que esse processo nada mais é do que a simples necessidade do "oprimido de se tornar opressor". Seja como for, em algum grau, a presidente Dilma Rousseff demonstra admiração pelo regime militar, que a prendeu e torturou por seu envolvimento com grupos armados. Ela já elogiou publicamente a capacidade de planejamento do governo do general Ernesto Geisel, com cuja honestidade pessoal a toda prova e personalidade incontrastável ela claramente se identifica. Sua crença na economia centralizada e no protagonismo do Estado é irmã siamesa das concepções de governo dos militares brasileiros durante o ciclo dos generais.

Na semana passada, Dilma saiu-se com outra tirada cara aos generais: a ideia de que seu governo está sofrendo uma "guerra psicológica". Melhor parar por aí, presidente, senão daqui a pouco a senhora ressuscita o "Brasil, ame-o ou deixe-o".

Em 2013, a economia brasileira registrou um crescimento modesto. As contas públicas se deterioraram e a inflação chegou a superar, momentaneamente, o teto da meta fixada pelo próprio governo. Milhões de brasileiros foram às ruas protestar contra os governantes e a péssima qualidade dos serviços públicos, derrubando por meses as altas taxas de popularidade da presidente da República. Dilma Rousseff também perdeu o apoio de um de seus principais aliados, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), que anunciou a pretensão de disputar a próxima sucessão presidencial.

O ano que se anunciava auspicioso foi, na verdade, repleto de dificuldades para a presidente. Mas 2013 não foi ruinoso para o Brasil nem para Dilma. Ela cedeu aqui e ali em suas convicções econômicas e, graças a isso, o Banco Central retomou sua capacidade de controlar a inflação, enquanto o sucesso de algumas privatizações — a do Aeroporto do Galeão, principalmente — mostrou aos investidores privados internos e externos que o governo prioriza a participação deles no desenvolvimento do Brasil.

Mas, apesar disso, a presidente viu-se alvo de uma "guerra psicológica", um despropósito para um país pacífico e um período de relativo crescimento econômico e inegável paz social. Disse ela em pronunciamento à nação:

"Se alguns setores instilarem desconfiança, especialmente injustificada, isso é muito ruim. A guerra psicológica pode inibir investimentos".

Uma guerra precisa necessariamente da existência de dois lados antagônicos, hostis e violentos. No caso da guerra psicológica capaz de inibir investimentos descrita pela presidente fica-se sem saber quem seriam as partes beligerantes. Os investidores não podem estar contra os investimentos. Seria ilógico. Ela não pode ter se colocado de um lado da trincheira e os setores instiladores de desconfiança do outro — pois no seu governo quem mais solapou o ímpeto dos investidores foram seus discursos e os dos seus subordinados.

Em 1969, auge da ditadura brasileira, o país era governado por uma Junta Militar formada pelos comandantes da Marinha, Exército e Aeronáutica, apelidados pelo povo de Os Três Patetas. A junta governava por atos institucionais. No de número 14, Os Três Patetas entenderam que sofriam uma "guerra psicológica adversa" (grave seria se fosse uma guerra favorável) e decidiram que a situação era tão séria que para se defenderem poderiam até aplicar a pena de morte. Estavam lutando contra moinhos de vento, e tudo o que desejavam mesmo era o poder absoluto. No caso de Dilma, falar em "guerra psicológica" foi apenas um caso de realocação de responsabilidades com vista ao ano eleitoral de 2014.

A presidente Dilma entra na campanha como favorita. Na área social, os programas governamentais de combate à pobreza têm mostrado resultados. Mesmo na economia, há alguns trunfos. O ritmo de contratações perdeu força, mas as empresas continuam abrindo vagas. A taxa de desemprego, de apenas 4,6% da população ativa, nunca foi tão baixa. Números ruins, como os da balança comercial — que registrou em 2013 o pior saldo em treze anos — e os das contas públicas, diminuíram a confiança dos investidores nas perspectivas do país, mas ainda não se refletiram no bolso dos eleitores.

Além disso, em 2014 espera-se que se consolide a retomada da economia mundial, com aceleração no ritmo de crescimento dos Estados Unidos e da Europa, algo de que o Brasil poderá se beneficiar. Mesmo assim, o cenário não é tão róseo quanto Dilma propala, de olho nas urnas. Até o ex-ministro Delfim Netto, conselheiro informal da presidente, já disse que o governo tem errado e colaborado, por exemplo, para inibir investimentos privados.

A luta de Dilma Rousseff pela reeleição não se anuncia tão simples quanto a conquista do primeiro mandato, em 2010, quando, entronizada por Lula e embalada por um crescimento econômico de 7,5%, venceu o tucano José Serra. Mais talvez do que admiração inconsciente pelos militares, os recursos retóricos de viés autoritário usados por Dilma explicam-se pela necessidade de fazer crer que tudo vai bem, e que o problema está nos outros.

É o velho papel de vítima encarnado pelo PT quando seus integrantes são pilhados cometendo crimes ou quando o governo fracassa em alguma área. Se o crescimento não chega a 3% ao ano e os investimentos privados não saem do papel, a culpa é da ""guerra psicológica". Afora isso, para a presidente o país vai às mil maravilhas. Quem pensa diferente ou quem critica o governo é contra o Brasil.

O ataque aos pessimistas, mesmo sem nominá-los, é flagrantemente infundado. Desde a posse de Dilma, os analistas do mercado fizeram estimativas bem mais otimistas do que os números reais divulgados nas duas últimas semanas. Não se faz "guerra psicológica" errando para cima — ou seja, apostando em indicadores melhores do que os constatados. O crescimento econômico ficou abaixo do esperado, e a inflação surpreendeu para mais . O mercado pode ser acusado de excesso de otimismo, e não do contrário.

Os rivais de Dilma na corrida rumo ao Palácio do Planalto acusam a presidente de vender ao distinto público eleitor um país de faz de conta. "Temos problemas macroeconômicos que precisam ser enfrentados. Há três anos seguidos a América Latina tem crescido 40%, 50% de média a mais que o Brasil. Temos a inflação de volta batendo na porta dos brasileiros", disse Eduardo Campos. 

Para o pré-candidato do PSDB, o senador mineiro Aécio Neves, Dilma descreve o país como uma "ilha da fantasia". "Nenhuma palavra sobre as famílias vítimas das chuvas e as obras prometidas e não realizadas. Nenhuma menção à situação das contas públicas, à inflação acima do centro da meta, ao pífio crescimento da economia", afirmou o tucano ao criticar o discurso de Ano-Novo da presidente.

A retórica do otimismo é parte do arsenal eleitoral que já está sendo usado por Dilma Rousseff para conquistar a reeleição — com a ajuda da potente estrutura que ela controla a partir do Palácio do Planalto. A presidente já aumentou o ritmo das viagens pelo país, com destaque para cidades que concentram grande número de eleitores, a fim de anunciar pacotes de bondades que incluem de distribuição de tratores a prefeitos a promessas de obras pelo país afora.

Ela tem usado como nunca as vantagens de estar no comando da máquina pública. Tem explorado as cadeias de rádio e televisão. Desde que assumiu, Dilma convocou redes nacionais de rádio e televisão nada menos que dezessete vezes. No mesmo período de tempo, o primeiro mandato, seu antecessor fez onze pronunciamentos.

Neste início de ano, a presidente lançará mão de mais uma ofensiva. Fará uma reforma ministerial. O objetivo não é melhorar a eficiência do governo, mas, ao dividir os cargos de primeiro escalão entre os partidos, fechar a maior coligação eleitoral da história política brasileira. Isso lhe dará palanques, mas, principalmente, um tempo ainda maior na propaganda eleitoral pela televisão.

Para chegar a esse objetivo vale tudo. Protagonistas do mensalão, como o PTB de Roberto Jefferson, receberão cadeiras no ministério. O governo também usará a publicidade institucional para reforçar programas de apelo popular, como o Mais Médicos e o Minha Casa, Minha Vida, e pretende abrir os cofres para ampliar os investimentos públicos.

Tudo indica que Dilma vai recorrer ao velho hábito dos governantes brasileiros de, em anos de eleição, despejar dinheiro na economia para garantir o emprego e a renda do eleitor em alta. A conta vem sempre mais tarde. Se ela perder, o novo presidente que se vire. Se ela ganhar, tem mais quatro anos para pôr a casa em ordem. Não precisa ser o doutor Sigmund Freud para saber o impacto psicológico positivo desse truque.

Fonte: Revista Veja

Veto de Dilma na LDO abre brecha para afrouxar controle de gastos de obras

Presidente tira artigos da lei que definiam tabelas do Dnit e da Caixa como referências de preços para projetos rodoviários e de construção civil; uso desses valores é fixado por decreto, que pode ser mudado a qualquer momento pelo governo

Fábio Fabrini e Ricardo Della Coletta

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff abriu uma brecha para afrouxar o controle sobre custos de obras públicas em 2014, ano em que tenta um novo mandato, e pretende acelerar a entrega dos serviços antes de ser impedida pela lei eleitoral de participar de inaugurações. A medida preocupa órgãos de controle como o Tribunal de Contas da União (TCU) e também pode ser contestada no Legislativo.

Ao sancionar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), no dia 24, Dilma vetou artigos que definiam tabelas oficiais, mantidas pela Caixa Econômica Federal (CEF) e pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), como referências de preços para projetos de construção civil e rodoviários, respectivamente. Essas regras foram transpostas para um decreto presidencial editado em abril, que pode ser alterado pelo Planalto a seu critério, sem autorização do Legislativo, e que só vale para o Executivo. É a primeira vez em 14 anos que os parâmetros de precificação de obras públicas não constam da LDO.

Por se tratar de um veto, a medida pode ser derrubada pelo Congresso, em sessão conjunta após o recesso. Mas isso é considerado improvável: é preciso o apoio de 257 deputados e 41 senadores, em votação aberta, e o governo mantém ampla maioria na Câmara e no Senado.

Com o veto na LDO, a regra é mantida pelo decreto, que pode ser revogado a qualquer momento pelo Executivo. Assim, o Planalto poderia instituir outros parâmetros de custo, livrar determinadas obras das exigências ou mesmo fixar margens de tolerância para além do máximo previsto nas tabelas oficiais.

Desde 2000, a LDO prevê o Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil (Sinapi) - gerido pela Caixa, com base em preços pesquisados mensalmente pelo IBGE nas 27 unidades da Federação - como tabela oficial de obras desse tipo. Para as rodovias, o Dnit adota o Sistema de Custos Referenciais de Obras (Sicro), atualizado a cada dois meses, em 24 Estados.

O uso das duas bases de dados é regra, salvo em situações em que o gestor justifique o motivo de se abrir a exceção. É o caso de uma instalação nuclear, por exemplo. A flexibilização dos parâmetros de referência tradicionalmente previstos na LDO é um pleito antigo de grandes empreiteiras.

O veto preocupa os órgãos de controle, que se baseiam nos dois sistemas para apurar desvios e mau uso de dinheiro público. Em 2013, o Tribunal de Contas da União (TCU) achou sobrepreço e superfaturamento em 29% das obras com verba federal que auditou por meio de seu programa de fiscalização. Nos quatro anos anteriores, o porcentual variou de 34% a 56%.

Para o presidente do TCU, Augusto Nardes, a decisão enfraquece os mecanismos de fiscalização e causa surpresa. "Surpreende, porque a presidente tem tido um discurso muito favorável a que aconteça um controle por parte do governo em relação a fraudes, desvios e irregularidades. Com somente o decreto, isso se fragiliza. É como uma portaria, que eu aprovo e, a qualquer momento, posso modificar", afirmou.

Nardes acredita que a presidente deve ter sido "mal orientada" por sua equipe ao vetar os artigos. "O que preocupa é que o poder central tem de dar exemplo aos Estados e municípios, portanto tem de ser firme nessa questão de mostrar o caminho", disse. Nardes vai conversar com os presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), sobre as possibilidades de reverter o quadro. Para ele, manter a LDO como aprovada seria uma demonstração de "força" do Legislativo.

'Abuso de poder'. O governo enviou o projeto da LDO ao Legislativo sem as referências de preço. A alegação era de que o atual modelo representava um entrave à eficiência das obras.
O relator da LDO, deputado Danilo Forte (PMDB-CE), retomou os parâmetros de custo em seu substitutivo, aprovado em plenário. Parecer das consultorias de Orçamento da Câmara e do Senado classifica a regulamentação por decreto de "abuso de poder" e sugere que o Congresso o "suste". Forte disse que o veto deve ser alvo de críticas e de disputa com o Planalto na volta do recesso. "Há algumas situações em que se pode usar a falta de parâmetro (na LDO) para viabilizar desvios de recursos."

Ao justificar o veto, Dilma afirmou que a LDO é revisada anualmente, mas os critérios para elaborar o orçamento de obras e serviços "transcendem" um exercício financeiro. Por isso, uma norma sem prazo de validade garantiria "a necessária segurança jurídica". O Planalto poderia ter enviado ao Congresso um projeto de lei, alheio à LDO, que tornasse as duas referências permanentes, mas alega que o decreto foi uma solução "mais rápida".

Como o decreto vale só para o Executivo, cabe aos demais poderes criarem suas regras - só o Judiciário, por meio de resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), adota o Sicro e o Sinapi, mas agora tem liberdade para fazer alterações.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Juro do cheque especial chega a 146% ano ano

Taxa atingiu o maior nível em 18 meses

R$ 21,2 bi em dívida e juros anuais de 146%

No início do ano, depois dos gastos extras com as festas e as férias e das despesas com impostos, os brasileiros costumam mergulhar no cheque especial, cujas taxas estão nos maiores níveis em 18 meses. Saldo devedor aumenta 16% em 2013

Diego Amorim

O cheque especial deveria, em tese, ser usado somente em casos de extrema necessidade. Mas, de tão acessível e estimulado pelos bancos, o dinheiro extra acaba se incorporando ao salário de milhares de brasileiros. Em 2013, ainda sem contabilizar as compras de Natal, o saldo devedor dessa modalidade cresceu 16,3%, mais que o dobro do salto registrado nas dívidas com cartão de crédito. O montante atingiu R$ 21,2 bilhões em novembro, indicam os dados mais atualizados do Banco Central.

Animados com os valores a mais disponíveis na conta, os brasileiros costumam se enrolar com o cheque especial com a mesma facilidade que usufruem dele. Não raras vezes, os juros altíssimos tumultuam a vida de quem abusa desse tipo de empréstimo: a taxa média cobrada pelo sistema financeiro vem subindo há seis meses consecutivos, tendo alcançado, no último levantamento do BC, o patamar de 146,4% ao ano — o maior desde junho de 2012.

Quem gastou muito na virada do ano e não poupou ao menos parte do 13ª salário pensando nos meses seguintes terá de se esforçar para vencer a tentação e fugir do cheque especial neste início de 2014, orientam especialistas. Se for preciso recorrer a algum tipo financiamento para pagar os impostos tradicionais de começo de ano (IPVA e IPTU), a matrícula escolar dos filhos ou outras despesas urgentes, a sugestão é recorrer a modalidades com juros menores, como o crédito pessoal (86,4% ao ano) ou o empréstimo consignado (24,5% anuais, na média).

A taxa de inadimplência de quem se pendurou no cheque especial apresentou uma queda no fim de 2013, após três meses seguidos de alta. Ainda assim, os 8,1% computados pela autoridade monetária é bem maior que o índice total para pessoas físicas: de 6,7%. Em uma lógica bem semelhante à daqueles que optam por pagar apenas o mínimo da fatura do cartão de crédito, quem adia a quitação dos débitos com o cheque especial entra em uma “bola de neve” da qual dificilmente se sai livre de estragos financeiros.

Experiência desastrosa
O acúmulo de dívidas por causa da despesa extra de juros nas alturas fez a terapeuta Jeanine Duarte, 46 anos, tomar uma decisão radical há dois anos. Assumindo ser quase impossível não se apropriar dos valores do cheque especial — sempre em evidência no saldo bancário —, ela pediu ao banco que bloqueasse o acesso ao empréstimo. “Não quero nem ouvir falar em limite do especial. Agora, está tudo sob controle e conto somente com o meu salário”, comenta.

As experiências desastrosas com uma verba fácil de ser utilizada empurraram Jeanine — e tantos outros brasileiros — para outras dívidas, na tentativa de se livrar de um quadro mais complicado. “Como os juros altos vão sendo debitados automaticamente, a gente não tem a noção exata do tanto que está gastando”, diz. “A verdade é que, com o crédito ali disponível, eu não conseguia ficar sem contar com ele”, reconhece.

O cheque especial, reforça o educador financeiro Reinaldo Domingos, é uma das modalidades de crédito mais fáceis de ser usada, uma vez que quase não há burocracia para aprovação. Em muitos casos, o limite é aumentado sem mesmo o cliente pedir ou ser avisado. “Por ser um tipo de financiamento já aprovado, é também um dos mais arriscados e traiçoeiros. A pessoa cai numa areia movediça e, quando percebe, está engolida pelas dívidas”, alerta o autor do livro Terapia Financeira.

Geralmente, as dívidas com o cheque especial começam pequenas e devagar. Depois, viram rotina, ganham proporções maiores e fogem do controle. É a porta de entrada, completa Domingos, para uma situação de inadimplência. “Usar essa modalidade como parte do salário é praticamente um suicídio do ponto de vista financeiro”, define o especialista, que insiste na recomendação de, em caso de emergência, apelar para os créditos pessoal ou consignado. “Se for para tomar empréstimo, que seja o de menor juros.”

Válvula de escape
Embora na maioria das vezes seja usado de maneira displicente, o cheque especial pode ajudar bastante quem precisa cobrir alguma despesa inesperada e por um curto espaço de tempo, pondera o economista e professor do Ibmec em Brasília José Ricardo da Costa e Silva. Alguns bancos, inclusive, permitem a utilização do crédito sem a cobrança de juros por alguns dias. “O problema é que as pessoas se acostumaram a usar o cheque especial como válvula de escape”, afirma.

Por trás dos números de saldo devedor e de inadimplência divulgados pelo Banco Central, é possível perceber, na avaliação de Silva, como os conceitos de educação financeira ainda precisam ser aprimorados no país. “O brasileiro tem de aprender, de uma vez por todas, a conviver com o salário que tem”, insiste o economista, classificando como abominável o uso do cheque especial como algo integrado à renda. “Arcar com uma taxa de juros na casa dos três dígitos ao ano não faz o menor sentido.”

Fonte: Correio Braziliense

Inflação pode afetar desemprego em 2014

Preços mais altos e reajustes salariais menores, previstos para este ano, podem levar mais gente a procurar vagas

Empresários e consultores preveem mercado de trabalho em baixa, mas recuperação global pode ajudar

Claudia Rolli

SÃO PAULO - Com o ritmo menor de criação de vagas e a renda mais pressionada pela inflação, a tendência é que o desemprego volte a crescer em 2014.

Não porque as empresas vão demitir mais, afirmam os analistas. Mas, sim, porque mais gente vai procurar emprego para completar o orçamento da família, ao mesmo tempo em que a oferta de vagas será menor.

Esses movimentos em direções opostas devem elevar em até um ponto percentual a taxa de desemprego, na previsão de consultores, economistas e representantes da indústria e do comércio.

Os dados mais atualizados para 2013, até novembro, são de taxa de desemprego de 4,6%. Desde janeiro, o saldo de novos empregos (trabalhadores admitidos menos demitidos) foi de 1,547 milhão.

Como em dezembro geralmente há corte de vagas, 2013 pode ter a mais baixa criação de empregos desde 2003, período de incertezas na transição dos governos FHC e Lula.

A piora deve ocorrer mesmo com as vagas temporárias que podem ser criadas na Copa e nas eleições.

"A forte desaceleração do mercado de trabalho em 2013 deve se acentuar em 2014. O desemprego só não cresce porque o número de pessoas à procura de vagas caiu em 2013, assim como o total de pessoas ocupadas", diz Fabio Romão, da LCA Consultores.

A população ocupada cresceu 2,1% em 2011, 2,2% em 2012 e deve fechar o ano de 2013 em 0,8%, segundo previsão da consultoria.

Aurélio Bicalho, economista do Itaú Unibanco, ressalta que a queda da população ocupada foi maior entre mulheres, jovens e os que não possuem carteira assinada.

Mais pressão
Enquanto o crescimento da renda real (descontada a inflação) foi de 3,4% na média de 2007 a 2012, no próximo ano deve ficar entre 0,7% a 1,5% nas projeções dos economistas. Ou seja, a renda deve crescer metade do percentual dos últimos seis anos.

Segundo o IBGE, o crescimento do rendimento na média de janeiro a novembro foi de 1,7%; ritmo inferior ao de anos anteriores.

Para os técnicos do Ipea, além de o salário mínimo ter reajuste menor em 2014, o próprio desaquecimento da ocupação deve levar a reajustes menores neste ano.

Na média dos acordos analisados pelo Dieese em 2013, o aumento real (acima da inflação) foi de 1,19% --menor valor desde 2009 (0,73%).

"A inflação corrói os ganhos nos salários e afeta o poder de compra dos trabalhadores. Esse efeito deve se repetir em 2014", diz Rafael Bacciotti, economista da consultoria Tendências.

A inflação medida pelo IPCA em 2014 deve ser um pouco acima da de 2013, avaliam os analistas.

Para Alexandre Loloian, coordenador de análise da Fundação Seade, porém, em 2014 o emprego e a renda vão "continuar andando de lado", com desemprego baixo, pela menor procura por trabalho. Mas ele ressalta que, com a possível recuperação americana e a retomada dos investimentos no Brasil, pode haver melhora.

Fonte: Folha de S. Paulo

“A gente faz o diabo”- Agenda oficial ajuda Pimentel a reforçar base em Minas Gerais

Candidato ao governo mineiro, ministro do Desenvolvimento esteve em seu reduto eleitoral 29 vezes em 2013

Ezequiel Fagundes

BELO HORIZONTE - Candidato do PT ao governo de Minas Gerais em 2014, o ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, tem usado solenidades oficiais, muitas delas sem qualquer relação com sua pasta, para ganhar mais visibilidade em seu reduto político em ano pré-eleitoral. Um levantamento feito pelo GLOBO na agenda de compromissos do ministro mostra que ele voou 29 vezes até Minas, entre janeiro e dezembro de 2013. 

No mesmo período, foi ao Rio e a São Paulo apenas dez e 11 vezes, respectivamente. Em seu estado de origem, o ex-prefeito de Belo Horizonte tem privilegiado o contato direto com prefeitos e vereadores do interior participando de inaugurações de grandes obras, entregas de maquinário e cerimônias de formaturas de alunos da rede pública. Já no Rio e São Paulo, o petista opta por eventos bem mais discretos como reuniões fechadas e despachos internos.

Em março passado, Pimentel começou o périplo pelas Alterosas. Na oportunidade, ele foi a estrela de uma palestra promovida pela Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), em Juiz de Fora, na Zona da Mata. Batizado de Plano de Desenvolvimento Industrial Regional — Rotas para o futuro 2013, o evento virou palanque de campanha com discursos de promessas de obras de infraestrutura para a cidade, após vários anos de gestão do PSDB e hoje comandada pelo peemedebista Bruno Siqueira, aliado político do senador Aécio Neves.

Para uma plateia de prefeitos, vereadores, empresários e sindicalistas, o ministro garantiu a retomada da negociação para a construção do contorno ferroviário de Juiz de Fora, orçado em R$ 400 milhões. Entusiasmado, Pimentel fez questão de destacar que a obra seria incluída no cronograma do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Antes das promessas de obras, Pimentel fez um resumo das ações dos governos do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff, realçando a importância do PAC e do Minha Casa Minha Vida. Após a palestra, ele participou de um almoço com 15 prefeitos da região.

Em setembro, acompanhou a presidente Dilma até Uberlândia, na cerimônia de formatura de 2.634 alunos do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). Sentado ao lado da presidente, evitou falar ao público. E nem precisou. Em seu discurso, Dilma levantou a bola: “É o ministro mineiro que vocês conhecem, o nosso ministro Pimentel, é o ministro do emprego”. Ele ainda visitou Uberlândia em outras duas oportunidades. No início de outubro, esteve numa feira da indústria. Já no fim do mês, representou Dilma na entrega de kits de retroescavadeira, motoniveladora e caminhões caçamba para 88 cidades com menos de 50 mil habitantes.

Ministro faz promessas na área de Educação
Em uma rodada de palestra da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), desta vez em Montes Claros, no Norte de Minas, em março do ano passado, em discurso para empresários, comerciantes e políticos locais, Pimentel se comprometeu a lutar pela instalação de um escritório da Sudene na cidade, a principal da região.

Em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, o ministro participou de mesmo simpósio organizado pela Fiemg. No mês seguinte, ele voltaria a Minas. Na carona da presidente Dilma, ele participou de cerimônia de entrega de 1.640 apartamentos populares do programa Minha Casa Minha Vida, em Ribeirão das Neves, uma das cidades mais pobres da Região Metropolitana da capital. Em junho, ele voou para Araxá para dar palestra no Conexão Empresarial, um evento promovido por jornalistas amigos do petista. Nesse dia, ele falou sobre a proposta de transformação do Cefet-MG em universidade tecnológica.

— Embora não seja a minha área, eu trabalho muito próximo e ligado ao ministro Mercadante (da Educação). Eu tenho certeza que a gente vai conseguir levar isso adiante com o Ministério da Educação, vamos trabalhar com as lideranças de Araxá para conseguir isto — declarou.

Agenda eleitoral em Minas
No fim de novembro, o ministro discursou na abertura do Encontro Estadual de Prefeitos e Secretários Municipais do Estado de Minas Gerais, no auditório de um hotel no Centro da capital mineira, que ficou totalmente lotado. Ao contrário das visitas a Minas, no Rio e em São Paulo o petista participou de agendas sem peso eleitoral, como reuniões de conselhos de administração do BNDES, encontros com os presidentes da Fiesp, Volkswagen, Avianca, Abimaq, Eletrobrás e Anfavea.

Procurado, o ministro Fernando Pimentel não quis dar entrevista sobre o assunto. Por meio de nota da assessoria de imprensa do ministério, ele informou que ao longo de quase três anos no cargo cumpriu 68 agendas em Minas e outras 117 em outros 12 estados do país.

Em 14 oportunidades que veio a Minas, segundo a nota, foi como integrante da comitiva da presidente Dilma Rousseff. Em cinco oportunidades, ele representou a presidente. “É natural que por ser de Minas Gerais o ministro seja convidado a falar ou a participar de encontros empresariais em mais eventos no estado”, diz trecho da nota.

Fonte: O Globo

'Nervosinhos' - Aécio Neves

Ao antecipar o anúncio do cumprimento do superavit primário, na sexta-feira, o ministro Guido Mantega agiu como aquele chefe que gosta de contar uma piada para desanuviar um ambiente carregado. Todo mundo dá uma gargalhada forçada, por obrigação, a reunião termina, as pessoas vão embora, mas os problemas continuam sobre a mesa sem qualquer solução à vista.

Com base apenas em fatos recentes, preparei aqui uma lista resumida de cinco motivos para que o ministro possa entender por que os brasileiros estão "nervosinhos" com a situação da economia.

1) Fragilidade no superavit primário: o resultado foi atingido com ajuda de receitas extras, como o bônus da privatização do campo de petróleo de Libra, que não vão se repetir em 2014, tornando o equilíbrio fiscal ainda mais duro de ser alcançado ao longo do ano.

2) Queda na balança comercial: divulgados na última semana, os números da balança comercial brasileira tiveram o pior desempenho em 13 anos.

3) Desvalorização da Petrobras: para tristeza da memória de tantos nacionalistas que se recordam da campanha "O petróleo é nosso", em 2013 a estatal foi a empresa de capital aberto que mais perdeu valor de mercado em termos nominais, segundo a consultoria financeira Economatica. Em apenas três anos, o governo Dilma conseguiu a façanha de reduzi-la a menos da metade do seu valor. Entre os motivos, está a gestão orientada para render dividendos políticos ao Partido dos Trabalhadores.

4) Recorde na carga tributária: enganou-se quem acreditava que a situação dos impostos no Brasil não podia mais piorar. A Receita Federal divulgou a carga tributária de 2012, que bateu mais um recorde e chegou a 35,85% da renda nacional.

5) PIB em baixa, inflação em alta: a bravata do "pibão" na casa dos 4%, prometidos para 2013, deve acabar reduzida a um humilde "pibinho" abaixo de 2,5%. Além disso, o ano de 2013 ficará conhecido como aquele em que a inflação, de péssima lembrança, voltou a assombrar as feiras e os supermercados.

Essa é a realidade que as autoridades se recusam a admitir publicamente.

Em junho, a presidente Dilma Rousseff acusou a oposição de agir como o Velho do Restelo, personagem de Camões que representa o pessimismo. A economia, entretanto, continuou à deriva. Agora, a presidente reclama de uma suposta "guerra psicológica", "capaz de inibir investimentos e retardar iniciativas". Já para o ministro Guido Mantega, são os "nervosinhos" que atrapalham o sucesso dos planos formidáveis do governo.

As crianças costumam ter amigos imaginários. Os petistas cultivam os inimigos imaginários. Assim, fica mais fácil livrar-se das responsabilidades para as quais foram eleitos.

Aécio Neves, senador (MG) e presidente nacional do PSDB

Fonte: Folha de S. Paulo e Portal do PSDB

O Brasil pode dar certo? (2) - Renato Janine Ribeiro

Os que falam mais da economia que da sociedade

A Europa desenvolvida tornou realidade, na metade do século XX, direitos sociais relevantes. Ninguém precisa perder o patrimônio para ser tratado de uma doença séria, ou gastar boa parte de sua renda para se locomover. É isso o que chamo um país "dar certo". Os efeitos não são só materiais. Também explicam por que as pessoas não furam fila nem invadem o acostamento: sabem que há lugar para todos, que a demanda atende à oferta. Não temos isso no Brasil.

Uma discussão do tema, no Facebook, sugeriu que a centro-direita (ou os liberais, como preferem ser chamados) parece mais consciente, do que a centro-esquerda, da premência deste nosso desastre social. Reconhecer um problema é um passo para resolvê-lo. Só que a centro-direita propõe soluções que não levam em conta, ou só levam em conta enquanto obstáculo, não como oportunidade, a complexidade política de implantá-las.

Parte-se da crença de que a economia brasileira está em séria crise. As políticas distributivistas do PT teriam estancado o espírito de iniciativa empresarial. Seria preciso devolver - ou criar - condições para uma forte expansão econômica. As medidas sugeridas reduzem o papel do Estado, aumentam a concorrência, favorecem a contratação de empregados (isto é, favorecem sua demissão: o diagnóstico é que não se contrata por receio da burocracia que cerca o desligamento do funcionário).

Essas análises estão certas, estão erradas? Não discutirei aqui. Mentes brilhantes as endossam. Mas trazem problemas políticos.

O primeiro está no próprio enunciado da questão que coloquei - do que o Brasil precisa para "dar certo". Os liberais acreditam saber o que falta para o País atender à demanda da rua por transporte, educação, saúde e seguranças decentes - mas suas propostas não vão além de fórmulas teóricas. Na política a teoria é necessária, mas insuficiente: o fundamental é construir, politicamente, as medidas que levem numa determinada direção. Explico.

Em 1994, o País estava travado, tanto pela inflação quanto pela indefinição de quem investiria, o Estado ou a iniciativa privada. Tendo domado a inflação graças ao Plano Real, FHC também venceu as resistências à privatização. Poderia ela não ser a melhor solução, certamente não era a única, mas foi a que ganhou apoio político. Já em 2002, o descontentamento com a desigualdade social permitiu que Lula mudasse o rumo de nossa política. Nos dois casos, houve demanda e liderança políticas. Mas hoje, quando nossos liberais propõem reformas econômicas para resolver sérios problemas sociais, não as traduzem em linguagem política. Ficam na teoria. Daí que lhes seja fácil responder a uma pergunta como a minha, às vezes até ironizando sua suposta ingenuidade, mas que não consigam fazer a teoria deles passar à prática. O problema é que, na política, a melhor teoria vale pouco, se não trouxer resultados.

O segundo problema é que a pasta dental não volta para dentro do tubo. Desregulamentar o mercado de trabalho para fazê-lo crescer causa desconfiança. Como convencer as pessoas de que terão mais e melhores empregos, se não tiverem garantia nenhuma deles? A inclusão social dos últimos anos, embora tenha se dado mais pelo consumo do que pela educação ou cultura, trouxe exigências irreversíveis. Pelo menos enquanto estiver no horizonte o consumo dos bens de consumo necessários (o iogurte de FHC, a geladeira de Lula etc.), não há condições políticas de sustá-lo. Haja China para nos exportar tudo isso, a preço que os ex-miseráveis possam pagar... Mas dificilmente alguém ganhará uma eleição sem aumentar o consumo, o que significa ampliar o crédito ao consumidor, o que implica ir na contramão do que os liberais pregam. Não interessa aqui se eles têm razão ou não; o ponto é que seu discurso não terá apoio político.

Política não é ter razão. Aliás, hoje a centro-direita acredita estar certa e se irrita porque os eleitores não votam nela; só que, vinte anos atrás, era o PT que se sentia assim. Recordar é viver.

Mais um problema. As demandas que hoje prevalecem são sociais, mas as propostas das oposições são essencialmente econômicas. O que é lógico, se elas consideram que a economia está em frangalhos e não sustentará nem o que existe, quanto mais uma expansão do gasto (ou investimento) social. Mas a economia é, quando muito, um meio, enquanto construir uma sociedade justa é um fim, o mais importante dos fins que nos podemos propor. Em especial, não se percebe que, como o cobrador do conto homônimo de Rubens Fonseca, estamos cansados de esperar, e os mais pobres mais que todos nós. Se alguém disser que, para se chegar à elementar justiça social, será preciso dar uma longa volta - seja pelo estatismo, seja pelo neoliberalismo - dificilmente ganhará a confiança do eleitorado. Estamos fartos de desvios que acabaram se eternizando.

Talvez por isso as pesquisas, que mostram a maior parte da população sequiosa de grandes mudanças, não beneficiem a oposição. (O governo é o favorito, não só pelo balanço de uma inclusão social que se realizou sem custos para as classes abonadas, como por ter oposições menos atentas do que deveriam à realidade social). Mas pode ser que em 2014 algum candidato a governador inove, propondo em termos concretos e confiáveis uma agenda que contemple transporte, saúde, educação e segurança públicos. Ou em 2016, alguns candidatos a prefeito despertem para as reivindicações populares. Penso que serão excepcionais: isto é, poucos em quantidade e altos em qualidade. Mas poderão renovar o panorama político brasileiro.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.

Fonte: Valor Econômico

Guerra psicológica - Paulo Brossard

Em sua mensagem de fim de ano, a senhora presidente, em rede de rádio e televisão, mencionou fatos, supostos ou reais, de suma gravidade; nada menos que uma guerra psicológica contra o Brasil. Isto, dito por alguém do primeiro escalão, do segundo ou mesmo do terceiro, já seria temerário, pelos inevitáveis e variados efeitos que não poderiam deixar de atingir o país, mas é simplesmente espantoso quando dito pela chefe do governo e do Estado, titular do Poder Executivo, que envolve a maior soma de poderes que homem possa possuir e exercitar, que tenha a chefia da administração, exerça o comando supremo das Forças Armadas, tenha a palavra final nas relações internacionais, inicie o processo legislativo, para dizer o menos.

É chocante que isso tenha sido dito pela chefe do governo e do Estado, valendo-se de inexcedível rede de comunicação. Ou a presidente tem ciência dessa situação, cujas consequências podem ser incalculáveis e de difícil aferição, ou, se a denúncia formulada não tiver seriedade, o mínimo que se pode dizer é que a autoridade terá demonstrado a ausência do imprescindível senso de responsabilidade.

Desgraçadamente a mensagem em causa, da “guerra psicológica”, assoalhada pela senhora presidente, parece não ter nenhuma objetividade, pois nela tudo é hipotético, “se alguns setores, seja por que motivo for, instilarem desconfiança, especialmente desconfiança injustificada, isso é muito ruim”. Isto “se alguns setores instilarem desconfiança”, ou seja, trata-se de mera hipótese, “se” e nada mais. Mas não é só. Na mesma linha, acrescenta a mesma alta autoridade que “a guerra psicológica pode inibir investimentos e retardar iniciativas”, ambas as passagens contêm mera possibilidade ou hipótese apenas possível e nada mais. Aqui a leviandade é mais lamentável e mais comprometedora da dignidade das instituições e, o que é gravíssimo, patrocinada pela chefe do governo e do Estado.

Confesso que escrevo este artigo com o maior constrangimento cívico e com a consequente indignação, ainda que com uma forma extremamente contida. A verdade é que muito e muito mais poderia e deveria ser dito, diante da inédita e inaudita inconsciência revelada. Desnecessário dizer da minha perplexidade em face do acontecido. O certo é que, se nem todos os presidentes eram dotados de atributos excepcionais, de nenhum se poderia dizer que teria incidido em semelhante claudicação funcional.

Alguns dos maiores jornais do Brasil publicaram essa matéria na primeira página, em suas edições do dia 30 de dezembro. Após a estupenda história da “guerra psicológica”, a senhora presidente repetiu “compromisso de manter o equilíbrio das contas públicas e controle da inflação”. Aqui o expediente cheira a pilhéria, pois foi exatamente a deterioração das contas públicas ao longo do ano uma das maiores causas que minaram a confiança dos investidores, e a inflação continuou em patamares elevados, tanto que, para enfrentar o câncer da inflação, o juro que se mantivera estável na casa dos 7,25% ao ano de outubro de 2012 a abril de 2013, foi sendo elevado até atingir o índice dos 10%, como tinha sido em janeiro de 2012. É dessa forma que as contas públicas, de braços dados com a inflação, refletem as benemerências do governo que se esfalfa na reeleição em campanha aberta, afrontosa à lei eleitoral.

À medida que se entrava no quarto trimestre, os maus resultados administrativos começaram a ser conhecidos e, em breve, os dados completos estarão sendo divulgados em toda a sua amarga objetividade.

Por fim, em lugar de uma mensagem adequada ao encerramento de um período de notórias e variadas dificuldades, a nação foi testemunha de um desengonçado autoelogio em ritmo eleitoral, com fogos de artifício de muitas formas e cores.

*Jurista, ministro aposentado do STF

Fonte: Zero Hora (RS)

Do direito ao dissenso à guerra psicológica - Luiz Carlos Azedo

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O que a presidente Dilma Rousseff chama de guerra psicológica nada mais é do que a constatação de teimosos fatos econômicos

Se há um partido que usou e abusou do direito ao dissenso desde a sua fundação foi o PT, que nasceu como alternativa aos partidos clandestinos de esquerda que permaneceram na ilegalidade na reforma partidária do regime militar de 1979, como o PCB, o PCdoB e o MR-8, sob o manto protetor do PMDB de Ulysses Guimarães. O partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou dessa prerrogativa até mesmo na eleição do ex-presidente Tancredo Neves, no colégio eleitoral, e na aprovação da Constituição de 1988.

Tanto quanto a alternância de poder, o direito ao dissenso é uma espécie de oxigênio para a democracia. Garante a sobrevivência de todas as minorias: políticas, religiosas, culturais, étnicas, de orientação sexual. É uma espécie de selo das sociedades pluralistas. O direito ao dissenso representa a possibilidade de um grupo de pessoas e/ou ideias ganhar força e vir a ser uma alternativa de poder. Por isso, quando a maioria quer impor suas posições a tudo e a todos, sem respeitar os direitos das minorias, estamos no caminho do autoritarismo.

Por que toda essa digressão sobre o que parece tão óbvio? Ora, porque o discurso de ano-novo da presidente Dilma Rousseff, ao acusar os críticos de sua política econômica de promover uma “guerra psicológica”, foi uma perigosa e surpreendente agressão ao dissenso, ainda mais partindo de quem sempre fez questão de exercê-lo. Simples assim. Talvez por sugestão de um de seus assessores mais próximos, quiçá do marqueteiro João Santana — Deus queira que não tenha sido ideia do general-ministro José Elito, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, o que seria mais grave —, Dilma recorreu a um velho conceito da Doutrina de Segurança Nacional do regime militar: “Se alguns setores, seja porque motivo for, instilarem a desconfiança, especialmente desconfiança injustificada. Isso é muito ruim. A guerra psicológica pode inibir investimentos e retardar iniciativas”, disse com todas as letras.

Lembra-me o professor Silas Ayres, antigo colega do ICHF-UFF, de que a Lei de Segurança Nacional de 1967 dizia:

Art. 3º A segurança nacional compreende, essencialmente, medidas destinadas à preservação da segurança externa e interna, inclusive a prevenção e repressão da guerra psicológica adversa e da guerra revolucionária ou subversiva.

§ 1º A segurança interna, integrada na segurança nacional, diz respeito às ameaças ou pressões antagônicas, de qualquer origem, forma ou natureza, que se manifestem ou produzam efeito no âmbito interno do país.

§ 2º A guerra psicológica adversa é o emprego da propaganda, da contrapropaganda e de ações nos campos político, econômico, psicossocial e militar, com a finalidade de influenciar ou provocar opiniões, emoções, atitudes e comportamentos de grupos estrangeiros, inimigos, neutros ou amigos, contra a consecução dos objetivos nacionais.

A pena para esse “crime” era de dois anos na época da ditadura. A nova Lei de Segurança Nacional de 1983, ainda em vigor, ressalta Ayres, excluiu o conceito, mas manteve como crime fazer propaganda de guerra (sem explicitar que tipo de guerra), com pena de até quatro anos.

Duvido que passe pela cabeça da presidente Dilma Rousseff, que é testemunha viva dos horrores dos porões da ditadura, a aplicação de tal dispositivo, mas usar o conceito no seu discurso foi uma ideia, digamos, de jerico. Em tempos de comissões da verdade, é importante registrar que tal conceito — uma invenção dos franceses na Guerra da Argélia — justificou cassações de direitos políticos, prisões e torturas de milhares de oposicionistas que nunca participaram da luta armada contra o regime, até mesmo assassinatos, como os de Rubens Paiva, Vladimir Herzog e Manoel Fiel Filho, só para citar os mais conhecidos.

O que a presidente Dilma Rousseff chama de guerra psicológica nada mais é do que a constatação de teimosos fatos econômicos. Outro dia mesmo, o cientista político e jornalista André Singer, ex-porta-voz do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, classificou-os de “armadilha lulista”, inspirado em um diagnóstico do economista Luiz Gonzaga Beluzzo, ex-professor de Dilma na Unicamp, segundo o qual o Brasil está prisioneiro de uma espécie de garrote cambial. Por isso, teriam fracassado a estratégia de redução da taxa de juros e a retomada do crescimento, sem embargo de outros gargalos econômicos. A origem da suposta guerra psicológica contra a política econômica e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e da deterioração das relações da presidente Dilma com o grande empresariado nacional não está entre os oposicionistas e os críticos de sempre que atuam no mercado. É mais fácil encontrá-la na Meca do petismo: as conversas e os debates sobre economia que rolam no Instituto Lula.

Fonte: Correio Braziliense

2014 começou em 2007 - José Roberto de Toledo

A imagem difundida pelas elites partidárias lembra o quadro clássico de Almeida Júnior: o brasileiro seria uma espécie de Jeca político. Fica sentado ao pé da porta picando fumo, e só se mexe de dois em dois anos para ir votar - isso porque o voto é obrigatório. Nada mais superado, para não dizer falso.

O estudo do Estadão Dados publicado ontem sobre as filiações partidárias mostra que essas elites precisam rever os seus conceitos, sob o risco de serem atropeladas pelos fatos - de novo. Em junho, os protestos da juventude urbana em busca de uma causa já passaram por cima do jequismo político de gabinete.

O Brasil tem 18 milhões de filiados a partidos políticos, e crescendo: 77% dessas filiações ocorreram a partir de 1995. Hoje, 11 em cada 100 eleitores são membros de uma agremiação. Pouco? É o triplo da proporção na Alemanha. Se estivesse na Europa, a taxa brasileira seria a terceira maior do continente.

De onde vem tanta partidarização? Das disputas pelo poder local.

Estudando 18 milhões de registros, o Estadão Dados descobriu que o ciclo eleitoral brasileiro tem sete anos de duração e começa sempre no ano anterior a um pleito municipal. É quando os pré-candidatos a prefeito e a vereador se mobilizam para filiar mais eleitores. Só assim eles se viabilizam no partido e na urna.

Quanto maior é a proporção de filiados a um partido numa cidade, maior a chance de aquela legenda lançar candidato a prefeito. Mais candidaturas, mais prefeituras ganhas. Quanto mais máquinas municipais, mais deputados federais a legenda tende a eleger dois anos depois. Mais deputados eleitos significa mais tempo de propaganda na TV. Sem minutos de TV não se elege um presidente.

Esse ciclo eleitoral de sete anos é um fato histórico. Foi a explosão de filiações ao PT em 2003 que permitiu ao partido aumentar o número de prefeitos eleitos em 2004, que, por sua vez, foram essenciais para formar a bancada petista na Câmara em 2006, o que garantiu tempo de propaganda necessário para Dilma Rousseff se eleger em 2010.

O ciclo se comprova quando analisado na ordem inversa. A candidatura presidencial de Eduardo Campos em 2014 só é possível porque o PSB cresceu em deputados federais em 2010 - e isso se deveu, em boa parte, ao aumento das prefeituras ganhas pelo partido em 2008, o que foi fruto da filiação em massa de 2007.
PT e PSB são os dois únicos partidos grandes que têm aumentado seu poder municipal. Os petistas se beneficiaram da conquista do poder federal e triplicaram seus prefeitos desde 2000. No caso do PSB, o crescimento só começou depois da retomada do controle do partido por Miguel Arraes e seu neto, em 2003. Desde então, o partido conquistou 232% mais prefeituras.

No sentido inverso, desde 2000 o PSDB tem cada vez menos prefeitos e influência na política local. Os tucanos se ressentem da perda da máquina federal para o PT e da falta de uma ação municipalista como a do PSB. Mantêm-se no jogo pela inércia, mas o embalo dos anos 90 está mais fraco a cada eleição. Caciques demais e índios de menos encolhem o partido.

O PMDB é campeão de filiados, e, por isso, de prefeitos. Mas é outro que vive das conquistas do passado. Perde prefeituras e, em seguida, deputados federais. Como confederação de caciques regionais, mantém a hegemonia no Congresso, e seu tempo de TV é o mais cobiçado nas eleições presidenciais. Tudo isso depende, porém, das filiações nos anos que antecedem as eleições municipais. Mas também aí o PMDB tem perdido força.

O próximo ciclo de poder começa logo após esta eleição: as siglas que filiarem mais gente, principalmente nas pequenas cidades, tendem a crescer nos sete anos seguintes. Os demais correm risco de encolher. Assim, 2014 definirá o próximo presidente, mas 2015 determinará quem vai mandar no longo prazo.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Última oportunidade - Valdo Cruz

Depois do descanso de final de ano, Dilma Rousseff volta hoje ao batente. Pela frente, toda montagem de acordos políticos para armar uma ampla aliança em torno de sua campanha pela reeleição.

Entre seus aliados, muita gente diz que esta pode ser a última grande oportunidade para tirar da petista benesses e dividendos políticos. Depois, se for reeleita, ela pode reencarnar a mandatária durona do primeiro ano de mandato.

Aquela que jogava pesado e resistia às pressões dos partidos de sua base de apoio no Legislativo. A que ficou famosa pela faxina na Esplanada dos Ministérios, quando ministros foram demitidos em série.

Depois, a dura realidade de governo, com queda de popularidade e dificuldades na economia, tornou a presidente mais flexível e mais aberta ao diálogo --com seus aliados e também com o setor empresarial.

Então, confidencia um peemedebista, o "negócio" é aproveitar o momento e aumentar já o espaço no governo com a reforma ministerial. O PMDB, por sinal, quer emplacar mais ministros, só que outros aliados desejam colocar pelo menos um, como o PTB e o novo Pros.

Em jogo, uma moeda disputada. O tempo de TV dos partidos na propaganda eleitoral. Dilma quer ter mais do que o dobro do tempo de todos seus adversários juntos. Uma tática para sufocá-los na largada.

Enfim, o fato é que, entre seus apoiadores, é quase consenso que, sem a obrigação de ser reeleita, Dilma pode ser mais Dilma num eventual segundo mandato, ouvindo menos, o que já tem feito, seu mentor Luiz Inácio Lula da Silva.

Aí, diz um observador palaciano, o governo tende a gastar mais, o número de ministérios vai cair, a vida de petistas e aliados ficará mais difícil e as broncas só vão aumentar.

Um amigo presidencial tem visão oposta. Diz que Dilma aprendeu com seus erros e fará um segundo mandato melhor. A conferir.

Fonte: Folha de S. Paulo

Por ora, refém de Marina - Ricardo Noblat

“Ele não tem o traquejo para isso”
Fernando Henrique Cardoso, sobre a hipótese de Joaquim Barbosa candidato a presidente

No final do ano passado, em conversa com um amigo a bordo de um avião que os conduzia ao Rio de Janeiro, Eduardo Campos, governador de Pernambuco e aspirante a candidato à presidência da República pelo PSB, desabafou num momento de irritação:
- Não aguento mais ouvir dos meus interlocutores: ‘A Marina está de acordo?’ Há momentos em que eu, simplesmente, não entendo o que ela fala. Não entendo mesmo.

A tão louvada habilidade política de Eduardo será testada nos próximos meses pelo gênio difícil da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva. Salvo uma inesperada ou uma repentina e incontornável desavença entre os dois, Marina fará parte da chapa de Eduardo na condição de vice. Mas a que preço?

Mal anunciou sua filiação ao PSB enquanto não registra seu partido, o REDE, Marina se opôs a um acordo quase firmado por Eduardo com setores da área rural do centro-oeste, o que traria para seu lado uma parcela do DEM representada por Ronaldo Caiado (GO), líder do partido na Câmara dos Deputados.Bateu duro nos ruralistas, acusando-os de conservadores e de adversários do meio ambiente. 

Sugeriu que eles não poderiam ter nenhuma afinidade com uma nova via política que se oferece como alternativa ao PT e ao PSDB. Ameaçou saltar fora do barco de Eduardo. Foi um corre, corre. Caiado enfureceu-se. Eduardo engoliu em seco. Em seguida, Marina levantou a questão das candidaturas aos governos estaduais. Na negociação com Eduardo tentou impor nomes do REDE que a acompanharam na adesão ao PSB.

A questão não foi resolvida. No Paraná, por exemplo, o PSB caminha para apoiar a reeleição do governador Beto Richa (PSDB). Marina é contra. Empenha-se para que o PSB apoie um nome inexpressivo, mas próximo do REDE. No geral, Marina se comporta como se fosse uma agente do PT infiltrada no PSB, dificultando o mais que pode qualquer aproximação entre o partido e o PSDB. Foi o que faz no caso de São Paulo – e ali ganhou a parada.

O PSB paulista faz parte do governo Geraldo Alckmin, assim como fez dos governos do PSDB que o antecederam. E por sua maioria quer apoiar a reeleição de Alckmin. Em troca poderá emplacar um dos seus nomes como candidato a vice-governador. Eduardo parecia de acordo. Sonhava em dividir o palanque de Alckmin com Aécio. Aí Marina disse não sob o argumento de que o PSB tem de se diferenciar do PSDB. Não pode enfrentá-lo na disputa pela presidência da República conciliando com ele logo no principal Estado do país. No primeiro turno, cada partido deve mostrar seu DNA. No segundo predomina o embate puramente eleitoral, imagina Marina. Se dependesse dela, o candidato do PSB ao governo de São Paulo seria a deputada Luiza Erundina (PSB). Eduardo aceita a indicação. Foi ele que lançou Erundina como candidata a prefeita de São Paulo na última eleição. Erundina quer se eleger mais uma vez deputada federal.

O PT está grato a Marina. É forte a chance do partido de eleger os governadores de Minas Gerais (Fernando Pimentel) e do Rio de Janeiro (Lindberg Farias). O eventual enfraquecimento de Alckmin fortalece a chance de o PT eleger Alexandre Padilha governador de São Paulo. Eduardo garante que num segundo turno, o PSB apoiará Alckmin. A se ver.

Tudo vale a pena se a recompensa não for pequena, acha Eduardo. Até suportar Marina – desde que ela o recompense com parte dos votos que atraiu em 2010 quando candidata a presidente. Marina foi a maior de suas conquistas até aqui.

Fonte: O Globo

Política - Cláudio Humberto

Dilma quer pilotar até avião
A presidente Dilma Rousseff, que completa agora em janeiro três anos à frente do governo brasileiro, criou uma série de regras extraoficiais que melhor atendem a seu perfil controlador. Segundo gente próxima, em viagens, a cabine do tenente-brigadeiro Joseli Parente Camelo fica aberta para que ela possa entrar e interferir em planos de voos e até sugerir mudança de rotas para desviar de nuvens e evitar turbulências. Autoridade máxima do transporte oficial aéreo desde Lula, o tenente-brigadeiro Joseli se desdobra para atender pedidos absurdos de Dilma. Não foi só uma vez que Dilma mandou Joseli sobrevoar países, e até fazer escala, ddsem autorização prévia, depois de o avião já ter decolado. Conhecida pelo pavio curto, Dilma se recusa a viajar com experientes capitães. Só aceita pilotos e copilotos cuja patente é de major e coronel.

Mal nas pesquisas
Com medo de sequer ir ao 2º turno na disputa ao governo do Paraná, a ministra petista Gleisi Hoffmann (Casa Civil) agora quer que o senador Roberto Requião (PMDB-foto) desista de se candidatar e componha blocão.

Funai na mira
Diante do conflito entre índios e a população em Humaitá (AM), após o desaparecimento de três moradores supostamente mortos para vingar morte de cacique, a bancada ruralista decidiu pressionar investigações contra Funai e a aprovação da PEC 215, que transfere ao Congresso a demarcação de terras indígenas e quilombolas. Irritada com pedágios cobrados por índios, a população chegou a queimar a sede da Funai.

Caixa preta
Deputados alegam que Congresso não pode se omitir sobre denúncias de trambicagem da Funai, que atenderia a interesses estrangeiros.

Sem assistência
O prefeito de Humaitá, José Cidinei (PMDB), fez apelo ao Exército para garantir a assistência dos índios, que foram isolados após a tensão.

Pensando bem...
...o Brasil deve ter crescido uns 0,10% com o descanso das autoridades em janeiro.

Dízimo
O papa Francisco abriu o cofre e liberou R$ 11,7 milhões para quitar parte das dívidas da Jornada Mundial da Juventude. Apesar da grana enviada pelo Vaticano, a JMJ ainda deve R$ 31,5 milhões.

Já era
O Ministério da Justiça cancelou a licitação que contrataria o sistema de indexação de balística. A Coluna adiantou o suposto direcionamento à Evofinder no processo. Mas a russa não abaixou o valor da proposta.

Estratégia
De olho em melhorar superávit primário de 2013, o governo postergou os pagamentos de obras e compras. Nos últimos quatro dias do ano, aplicou R$ 4 bilhões, dobro do aplicado até 27 de dezembro: R$ 2 bi.

Eles podem
Se a chefe passeia, eles podem: os ministro da Justiça e Trabalho nem disfarçam "despachos internos". Com tudo azul na área, caíram fora.

Frase
"Aprendi com o meu avô (Miguel Arraes) o valor das alianças políticas"
Governador Eduardo Campos (PSB), justificando a entrada do PSDB em seu governo

Cota feminina
A bancada feminina pressiona pela votação, este ano, da PEC 590/06, que impõe a presença de pelo menos uma mulher na composição das Mesas Diretoras e comissões permanentes na Câmara e no Senado.

Firme e forte
Aos 77 anos, diabético e na fila de espera para transplante renal, o ex-governador Joaquim Roriz (PRTB) teve 27% de intenção de voto em pesquisa do Instituto Parlamento, entre 20 e 24 de dezembro de 2013.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Para mudar de verdade o Brasil - Marcus Pestana

A esperança é o combustível do futuro. Ano Novo, vida nova. O Brasil amanhece 2014 com vontade de mudar. As pesquisas indicam: 64% dos brasileiros querem mudança. O Brasil quer mudar, o Brasil precisa mudar.

Há claro esgotamento de um ciclo. A democracia brasileira já deu mostras de sobra de seu amadurecimento. A alternância de poder foi positiva nos últimos 20 anos. Construímos um país melhor que tínhamos antes da redemocratização. Mas, em 2014, temos um encontro com a mudança.

Há sintomas evidentes da perda de capacidade transformadora dos governos do PT. Baixo crescimento, exacerbação do presidencialismo de cooptação, política externa exótica e contraproducente, contabilidade criativa e inflação alta, produtividade estagnada, tímidas ações de parceria com o capital privado, raquítica taxa de investimento público e baixa capacidade operacional, burocracia e corrupção, estagnação dos avanços sociais, a maior taxa de juros do mundo, intervencionismo desorganizador, baixíssima qualidade na educação, 44% da população sem esgoto, subfinanciamento e má gestão na saúde, arroubos autoritários namorando o controle da mídia e o confronto com o Supremo. Não é pouca coisa, não é devaneio oposicionista. São fatos, esta incômoda presença no quadro político chamada realidade. É ela que impõe mudanças.

Consciente de seu papel histórico, ancorado na sua experiência, alicerçado em seus quadros políticos, técnicos e intelectuais, é que o PSDB apresentou, através de seu presidente nacional, senador Aécio Neves, documento estratégico que sinaliza a construção de uma forte alternativa política que pretende dar conta das mudanças necessárias e da complexa agenda do Brasil do século XXI.

O documento intitulado “Para Mudar de Verdade o Brasil”, lançado em Brasília, no último 17 de dezembro, se baseia em três pilares essenciais: restabelecer a confiança, promover a cidadania e patrocinar a prosperidade. Não se trata de um programa de governo ou de um plano de ação governamental. As ideias inovadoras e as marcas do futuro governo do PSDB, com detalhamento, forma e conteúdo, ficarão reservadas para a campanha, principalmente no horário nacional de rádio e TV. Agora trata-se de demarcar campo, política e ideologicamente, com diretrizes estratégicas, valores e conceitos essenciais. O documento visa encorpar nosso discurso diante dos três outros campos que se apresentam para a sucessão presidencial: o da continuidade liderado por Dilma, o dos dissidentes do bloco lulista capitaneados por Marina Silva e Eduardo Campos e o de extrema esquerda tendo à frente o senador Randolfe Rodrigues, do PSOL.

A oposição social democrata, referendada por suas práticas transformadoras em governos municipais, estaduais e federal, entra no jogo com liderança clara, a do nosso experiente e habilidoso pré-candidato Aécio Neves, e com um conjunto de ideias e valores presentes no texto (disponível no www.conversacombrasileiros.com.br).

Marcus Pestana, deputado federal e presidente do PSDB de Minas Gerais

Fonte: O Tempo (MG)

O que esperar de 2014- Gustavo Loyola

Clima eleitoral pode envenenar a política econômica, que opera com remendos e fogos de artifício

Em 2013, a economia brasileira teve mais um ano decepcionante em termos de crescimento, pressagiando que os quatro anos da administração Dilma Rousseff (2011-2014) deverão se caracterizar como um período de estagnação econômica. Várias são as causas para esse mau desempenho da nossa economia, mas a inépcia da própria política econômica sobressai-se como uma das principais responsáveis pelo marasmo que atingiu o Brasil a partir de 2011.

Os desafios impostos pela conjuntura econômica internacional serão maiores no ano que se inicia. A mudança de sinal da política monetária americana continuará afetando os fluxos internacionais de capitais e tornando os investidores mais cautelosos em relação às economias emergentes. Num contexto como esse, a qualidade das políticas domésticas se mostra mais fundamental ainda para condicionar a trajetória de crescimento no curto e no médio prazo.

O ano novo pode trazer uma correção de rumos na política econômica doméstica, mas também pode ser um ano de redobradas apostas nas políticas equivocadas que estão contribuindo para o baixo crescimento da economia e ameaçando as conquistas obtidas a partir da estabilização monetária e das reformas macroeconômicas dos anos 1990. Desse modo, estamos diante de uma encruzilhada em que a escolha do caminho será definidora das chances do crescimento do país nos próximos anos.

Nas urnas, em 2014, os brasileiros terão a oportunidade de escolher seus governantes pelos próximos quatro anos. A disputa eleitoral representa uma boa oportunidade para discussão das opções de política econômica que se encontram diante de nós. Ocorre que o baixo crescimento econômico dos últimos anos parece ainda não sensibilizar os eleitores, já que as condições do mercado de trabalho se mantêm relativamente favoráveis, embora o ritmo de criação de empregos tenha declinado no ano passado. No entanto, a continuidade do marasmo na economia, agravado por uma inflação teimosamente acima da meta de inflação, fatalmente trará prejuízos mais sérios ao emprego ao longo do tempo.

Numa situação como essa, existe o risco de considerações eleitoreiras nortearem as decisões do governo em 2014. Infelizmente há sinais preocupantes apontando nessa direção, como a política adotada para as tarifas públicas no ano passado e o afrouxamento do controle do endividamento dos Estados e municípios. A julgar pelo que se viu até agora, parece pouco provável que o governo se dedique em 2014 à correção dos equívocos cometidos na política econômica, o que pode levar a uma estratégia de transferir os ônus do ajuste todos para 2015, quando teríamos que "pagar a conta", apresentada sob forma de juros e impostos mais elevados e, possivelmente, inflação também mais alta, pela necessidade de recomposição dos preços administrados.

Entretanto, o agravamento das condições de mercado pode forçar o governo a iniciar a correção de rumos na política econômica ainda em 2014. Na área fiscal, o risco iminente de rebaixamento da classificação de risco do país pode induzir ao abandono de práticas contábeis heterodoxas para fechar as contas públicas e à volta das boas práticas de gestão fiscal responsável, a fim de elevar o superávit primário para patamares mais condizentes com a manutenção da solvabilidade da dívida pública nos próximos anos. Por sua vez, na área monetária, as expectativas de inflação próximas a 6% clamam por uma ação mais decisiva do Banco Central que poderia optar por uma instância mais conservadora na política monetária em 2014, com vistas a buscar a convergência das expectativas de inflação para 4,5% num prazo razoável.

Tais mudanças, se realizadas, representariam o abandono da visão dominante nos últimos anos de que o crescimento econômico seria fundamentalmente resultado dos estímulos ao crescimento da demanda agregada. Com isso, abrir-se-ia espaço para maior ênfase em políticas direcionadas para o crescimento sustentável da economia que exige elevação da taxa de investimentos e a aceleração do crescimento da produtividade dos fatores de produção. A condução recente do programa de concessões parece indicar o reconhecimento por parte do governo da necessidade de atacar o problema dos gargalos na oferta, mas ainda é muito pouco diante das dificuldades do ambiente de negócios no Brasil.

Parece óbvio o esgotamento do modelo de crescimento baseado no indiscriminado uso de estímulos à demanda agregada e no intervencionismo excessivo do governo da economia. O ano novo traz uma oportunidade para uma mudança qualitativa na política econômica, que deveria voltar a se basear nos pilares da responsabilidade fiscal e monetária e na consecução de reformas macro e microeconômicas que substituiriam, com enormes vantagens, o ativo e imprevisível intervencionismo setorial que vem caracterizando até aqui a gestão da presidente Dilma. Contudo, o clima eleitoral de 2014 pode envenenar a política econômica que continuaria a operar através de remendos e fogos de artifício até o próximo réveillon. A correção, então, custaria muito mais caro ao país.

Gustavo Loyola, doutor em economia pela EPGE/FGV, foi presidente do Banco Central

Fonte: Valor Econômico

Trem de ferro – Manuel Bandeira

Café com pão
Café com pão
Café com pão
Virge Maria o que foi isto maquinista?

Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa fumaça
corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo na fornalha
que preciso
Muito força
Muita força
Muita força

Aô ...
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
De inagaseira
Debruçada
No riacho
Que vontade de cantar

Aô ...
Quando me prendera
No canaviá
Cada pé de cana
Era um ofício
Aô ...
Menina bonita
Do vestido verde
Me da sua boca
Pra mata minha sede
Aô ...
Vou mimbara vou mimbara
Não gosto daqui
Nasci no Sertão
Sou de Ouricirri

Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente .