segunda-feira, 21 de julho de 2014

Opinião do dia: Luiz Werneck Vianna

Não se pode mais não sentir, os ventos de mudança sopram de todas as direções. As jornadas de junho de 2013 no Brasil, que se alongaram nestes primeiros meses de 2014, com novos temas e outros personagens, especialmente em torno da questão da habitação popular, ameaçam pegar um forte vento de cauda com o surpreendente desastre da seleção nacional na Copa do Mundo.

Luiz Werneck Vianna, sociólogo político. É professor-pesquisador da PUC-Rio. O Futebol e a política. O Estado de S. Paulo, 19 de julho de 2014.

Aliados na chapa nacional, PT e PMDB disputam 75% dos eleitores nos Estados

• Desgaste na relação entre os partidos no âmbito federal leva legendas a se aliarem em locais que somam apenas 1/4 dos votantes do País, metade do índice de 2010

Daniel Bramatti e Rodrigo Burgarelli - O Estado de S. Paulo

O aliado mais importante do PT no governo federal será um de seus principais adversários nas eleições estaduais deste ano. Candidatos a governador petistas vão concorrer com peemedebistas em Estados que concentram 3 de cada 4 eleitores do País.

As relações entre PT e PMDB nunca foram exatamente de lua de mel, mas 2014 marca um afastamento significativo entre os dois partidos nas disputas estaduais. As alianças vão abranger apenas 25% do eleitorado, metade da taxa registrada na eleição de quatro anos atrás.

Os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que, desde o início do primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006), o número de apoios mútuos entre PT e PMDB nas disputas para governador vem aumentando constantemente. Mas esse fenômeno se concentra nos Estados de menos peso eleitoral.

Em 2002, os dois partidos não dividiram nenhum palanque estadual. Mas isso ocorreu por imposição legal: o TSE determinou a chamada verticalização das alianças, ao proibir coligações nos Estados entre partidos que, no plano federal, eram adversários. Na época, o PMDB apoiou formalmente o candidato tucano à Presidência, José Serra, e indicou a candidata a vice-presidente na chapa, a então deputada Rita Camata (ES). Essa aliança inviabilizou qualquer acordo entre peemedebistas e petistas nas disputas para governador.

De lá para cá, e sem a regra da verticalização, o número de Estados em que um dos dois partidos apoiou o outro passou de 5 em 2006 para 9 em 2010 e 10 neste ano. Hoje as siglas estão juntas em vários Estados com eleitorado pequeno, como Alagoas, Tocantins e Mato Grosso. A única exceção é Minas Gerais, onde o PMDB apoia o candidato petista, Fernando Pimentel. Em 2010, os dois estavam juntos não apenas em Minas, mas também no Rio de Janeiro, no Paraná e no Ceará, Estados que estão entre os dez de maior eleitorado no Brasil.

Base fragmentada. Esse afastamento é, muitas vezes, explicado pela dinâmica da política local, mas também reflete o esfriamento da relação PT-PMDB na esfera federal. Isso foi notado primeiro no Congresso e, posteriormente, nas discussões para formação de alianças eleitorais em 2014. Parte dos líderes peemedebistas passou a defender abertamente o rompimento com a presidente Dilma Rousseff e o apoio a seu principal adversário na corrida eleitoral, Aécio Neves (PSDB).
Os chamados dissidentes peemedebistas mostraram controlar cerca de 40% da cúpula do partido na convenção que aprovou, por 59% dos votos válidos, a permanência de Michel Temer (PMDB) como vice na chapa de Dilma. Em 2010, a aliança com os petistas foi aprovada por uma margem muito maior - quase 85%.

O PSB, integrante da base governista até meados do ano passado, se afastou ainda mais do PT nos Estados desde 2010, em função da mudança na conjuntura federal com o lançamento da candidatura do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos à Presidência. Em setembro, o partido entregou os cargos que ocupava no governo federal e, de lá para cá, Campos tem feito críticas à gestão Dilma. Por ora, o candidato do PSB ainda poupa o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem foi ministro entre 2004 e 2005.

Nas eleições estaduais de 2006, os dois partidos eram adversários em Estados que somavam 51% do eleitorado nacional. Agora, esse número passou para 88% - ou seja, quase 9 em cada 10 eleitores.

Interações. A chegada do PT ao poder federal impulsionou a “promiscuidade” do partido nas disputas estaduais. Quando faziam oposição ao governo Fernando Henrique Cardoso, os petistas só fizeram coligações regionais com 36% dos partidos existentes em 1994 e 52% das legendas de 1998. Em 2002, com a verticalização e Lula ainda candidato sem vitória no currículo, a taxa foi a 55%. E só cresceu nos anos seguintes: 64%, 73% e 77% em 2006, 2010 e 2014.

Já o PMDB sempre se relacionou com diversos parceiros: em 1998, o arco de alianças estaduais incluiu 93% dos partidos existentes. Na eleição seguinte, com a verticalização, a taxa caiu para 38%. Depois, foi a 89% (2006), 85% (2010) e 87% (2014).

Para entender. Em 2002, o Tribunal Superior Eleitoral impôs a verticalização das alianças partidárias, que proibia coligações nos Estados entre legendas adversárias no plano federal. O Supremo Tribunal Federal ratificou a medida para 2006, mas, meses depois, o Congresso derrubou a regra, permitindo coligações estaduais dissonantes das alianças nacionais. Com isso, os acordos regionais privilegiam as correlações de forças nos Estados e o tempo de propaganda eleitoral em lugar de afinidades ideológicas ou de um projeto de poder presidencial.

Peemedebistas citam programas federais, mas esquecem Dilma

• Dos 18 candidatos da legenda nos Estados, todos falam em parceria, mas só um menciona a petista nominalmente

Ricardo Brito, Débora Álvares - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff tem sido esquecida pelos candidatos a governador do PMDB, principal aliado na esfera nacional, como mostram as propostas de governo dos 18 candidatos do partido. Nos programas inscritos na Justiça Eleitoral, os peemedebistas citam pelo menos uma vez a necessidade de atuação em parceria com o governo federal nos próximos quatro anos, mas poucos mencionam Dilma ou sua gestão.

Seis dos 18 candidatos do PMDB têm apoio formal do PT, como o alagoano Renan Filho. Ele foi o único a citar Dilma nominalmente no plano. No programa, disse que a "principal plataforma política" do governo da presidente é eliminar definitivamente a miséria absoluta no País.

"Para isso, o conjunto de iniciativas vai contar com mais R$ 100 bilhões em recursos públicos até 2014, por exemplo. Esse ambicioso objetivo não pode ser alcançado sem a colaboração direta dos entes subnacionais, principalmente os Estados e municípios", destacou. O governo é mencionado 20 vezes, nas 41 páginas do programa.

Paulo Skaf, candidato do PMDB em São Paulo, fez uma citação protocolar ao programa Minha Casa Minha Vida nas 25 páginas do documento. Skaf começou a campanha sem colar sua imagem à da presidente, apesar de Dilma ter dito que conta com dois palanques no Estado - o dele e o do petista Alexandre Padilha.

O programa do governador de Sergipe e candidato à reeleição Jackson Barreto faz sete citações elogiosas aos programas federais, em 68 páginas. Coligado com o PT, ele assumiu o posto após a morte do petista Marcelo Déda, em dezembro.

Parceria. Mesmo sem apoio do PT do Rio, que lançou Lindbergh Farias, o governador e candidato à reeleição Luiz Fernando Pezão foi o que mais exaltou a parceria federal: "Por meio de uma parceria estruturada com o Governo Federal, a nossa atual gestão vem implantando o maior projeto social da história do Rio de Janeiro: o PAC das Comunidades".

Crítico do governo no Senado, o paranaense Roberto Requião faz 17 referências à gestão federal em 158 páginas. Ao todo, faz oito citações a programas de abrangência nacional. Ao tratar do Luz Para Todos, o peemedebista cita o antecessor de Dilma, mas não a atual governante. "O programa visa a atender famílias que pratiquem agricultura de subsistência, integrem projetos de assentamento, habitem comunidades indígenas ou estejam localizadas em municípios de baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador Roberto Requião fizeram, em 22/06/2009, a ligação do consumidor de número 2 milhões do programa, em Congonhinhas."

Embora tenha declarado que vai dar palanque a Dilma, o candidato do PMDB no Ceará, Eunício Oliveira, elogia no programa a primeira gestão estadual do tucano Tasso Jereissati, que disputará o Senado pela chapa.

Dilma governa de costas para a população, diz Aécio

Carmen Pompeu - Agência Estado

O candidato a presidente Aécio Neves (PSDB) disse, neste domingo (20), em Juazeiro do Norte, a 560 quilômetros de Fortaleza, que a marca do atual do governo é "governar de costas para a população". Ele acusou a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT, de se distanciar das ruas e do povo. "Eu vou conversar com as pessoas, olhar, ouvir", disse o tucano após assistir à missa de 80 anos da morte do Padre Cícero.

Ao lado do ex-governador do Ceará, Tasso Jereissati (PSDB), Aécio dividiu a área destinada às autoridades com os petistas Camilo Santana, candidato ao governo cearense, e José Guimarães, que tenta se reeleger deputado federal. Cerca de 30 mil pessoas estavam presentes. A missa foi celebrada pelo bispo do Crato, dom Fernando Panico. Na homilia, o sacerdote pediu aos candidatos que fossem justos e dessem atenção especial aos pobres, principalmente aos sertanejos.

Camilo Santana, a vice, Izolda Cela, o candidato a senador Mauro Filho e José Nobre Guimarães sentaram na primeira fila. Dez minutos depois, chegaram Aécio Neves, Tasso, o prefeito de Juazeiro do Norte, Raimundo Macedo, e o deputado federal Raimundo Gomes de Matos (PSDB). No momento da bênção da paz, todos se cumprimentaram respeitosamente e ao final, cada grupo seguiu o que estava previsto na agenda para este domingo. Camilo retornou para Fortaleza, enquanto Aécio seguiu para a Colina do Horto.

Aécio desembarcou em Juazeiro ontem à noite. Seguiu em carreata para o Crato, onde fez corpo a corpo na Expocrato. Algumas pessoas chegaram a confundi-lo com Eunício Oliveira (PMDB), candidato a governador e companheiro de chapa de Tasso, que disputa o Senado. Apresentado às pessoas por Tasso, Aécio foi bem recebido. Eles caminharam por mais de uma hora pela exposição.

Foi a primeira visita ao Ceará, desde a oficialização de sua candidatura. "Não há candidato à Presidência da República que se possa considerar responsável e sério que não comece sua caminhada pelo Nordeste", afirmou. "Nessas andanças é que sentimos o carinho da população e a voz do povo pedido mudança. Creio que somos a melhor opção para que isso ocorra", disse Aécio.

Nas entrevistas, acusou o PT de promover terrorismo eleitoral contra ele. "Quanto às ameaças e esse terrorismo eleitoral, isso é uma prática costumeira dos nossos adversários e do PT, que está assustado hoje com o que está vendo, com a rejeição das pessoas às suas propostas. Diria hoje que o PT é um partido à beira de um ataque de nervos."

"A todo instante percebemos a mentira buscando ser a condutora das ações daqueles que querem se perpetuar no poder. Para cada mentira que disserem, vamos dizer dez verdades. Vamos não apenas manter o Bolsa Família, como também iremos ampliá-lo e aprimorá-lo. Os programas sociais que têm dado certo não são programas de um partido ou de um governo, são da sociedade brasileira, disse o candidato.

Comitê decide blindar Dilma da campanha de rua

Vera Rosa - Agência Estado

O comitê da reeleição decidiu blindar a presidente Dilma Rousseff da campanha de rua nessa largada da disputa. Com a popularidade em baixa, Dilma participará mais de eventos fechados e de meia dúzia de comícios, mas seu primeiro compromisso de campanha será com sindicalistas, em São Paulo. Para "vender" a imagem da presidente que está "ao lado do povo", Dilma vai vestir o figurino de candidata na plenária da Central Única dos Trabalhadores (CUT), no próximo dia 31, organizada sob medida para enaltecer os feitos do governo.

A estratégia de aproximação com os movimentos sociais não para aí. No dia 7 de agosto, Dilma receberá o apoio de dirigentes de cinco centrais num megaencontro marcado para o Ginásio da Portuguesa. Até um grupo da Força Sindical, entidade que aderiu à campanha do candidato do PSDB, Aécio Neves, reforçará o coro pró-Dilma. O ato reunirá, ainda, dirigentes da União Geral dos Trabalhadores (UGT), da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), da Conlutas e da Nova Central, além da CUT.

Irritada com a rede de intrigas e o fogo "amigo" que tomaram conta do núcleo de sua campanha, Dilma pediu ao presidente do PT, Rui Falcão, que acalme o partido e abafe as divergências na equipe. A ordem é investir na divulgação de números positivos do governo e polarizar cada vez mais a disputa com Aécio.

Na eleição de 2010, a então candidata do PT teve apoio quase unânime de todas as centrais. Nos últimos tempos, porém, a presidente se distanciou dos movimentos sociais e enfrentou protestos. O temor do comitê da reeleição é que Aécio e o candidato do PSB, Eduardo Campos, ganhem espaço nesse terreno, que tradicionalmente sempre foi fiel ao PT.

Queda de braço
Coordenador da campanha, Falcão procurou amenizar, na última segunda-feira, 14 , a queda de braço no comitê da reeleição, que já preocupa o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Há tensão e mal estar no Palácio do Planalto e no comitê com o jornalista Franklin Martins, ex-ministro da Comunicação de Lula e responsável pelo monitoramento das redes sociais na equipe de Dilma. Motivo: o site "Muda Mais", sob a responsabilidade de Franklin, publicou no dia 9 um post com fortes críticas ao presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), José Maria Marin.

Dilma não gostou e o comitê foi alvo de rumores de que Franklin -- em rota de colisão com o marqueteiro João Santana -- entregaria o cargo, o que não ocorreu. Na prática, Franklin e Santana têm várias discordâncias sobre como conduzir a comunicação da campanha.

"Houve uma divergência momentânea, totalmente superada", afirmou Falcão. "Ter ideias diferentes faz parte de qualquer campanha. Isso não significa crise. Temos todos uma relação de respeito, sem estresse". O presidente do PT negou que, a partir de agora, as publicações do site "Muda Mais" tenham de passar pelo seu crivo ou pela análise de Dilma. "O Muda Mais não tem autocensura nem é controlado pelo PT", insistiu Falcão.

Oposição se fortalece nas áreas em que PT venceu

Diógenes Campanha, Patrícia Britto – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - A maioria dos Estados que deram as vitórias mais expressivas à presidente Dilma em 2010 agora apresenta quadros adversos à petista.

Há quatro anos, um grupo de dez Estados rendeu a ela 13 milhões de votos de vantagem, no primeiro turno, sobre o segundo colocado.

Agora, em nove desses Estados, os adversários da petista na corrida ao Planalto terão palanques fortes.

Seis deles estão entre os dez maiores colégios eleitorais: Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Ceará.

A perspectiva de eleições mais difíceis ao PT nesses locais se deve a divergências regionais com siglas da base aliada, além da saída do PSB da órbita do governo.

Na Bahia, por exemplo, onde Dilma obteve 2,7 milhões de votos a mais que José Serra (PSDB), o PMDB estará ao lado de Paulo Souto (DEM), que lidera as intenções de voto e apoiará o tucano Aécio.

No Ceará, o senador Eunício Oliveira (PMDB), líder nas pesquisas, abriu o palanque para o candidato do PSDB.

Em 2010, os partidos estiveram juntos na chapa que reelegeu o governador Cid Gomes (Pros), então no PSB.

Bases de rivais
Dilma também deve ter dificuldade para repetir as vitórias obtidas em Pernambuco e Minas Gerais, bases eleitorais de seus rivais.

Em Pernambuco, o PT terá de fazer campanha contra o ex-governador Eduardo Campos (PSB).

"Acredito que ela vence [no Estado], mas não deve ser uma vitória muito larga sobre Eduardo Campos, que aqui vai polarizar com ela", afirmou o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE).

Mas ele diz acreditar que, em um eventual segundo turno contra Aécio, a presidente herdará os votos de Campos. "O sucesso de Eduardo está muito vinculado a Lula, Dilma e as parcerias feitas."

Em Minas, com Aécio na disputa, Dilma não deverá contar com o voto casado difundido entre tucanos do Estado em 2010 que ficou conhecido como "Dilmasia" –com a petista para presidente e Antonio Anastasia (PSDB) para governador do Estado.

Sua aposta no segundo maior colégio eleitoral é o ex-ministro Fernando Pimentel.

No Rio, terceiro maior colégio eleitoral do país, o PT rompeu com o governo do PMDB e Dilma terá que dividir os principais palanques com seus rivais.

As chapas petistas também deverão ter dificuldades no Maranhão, no Piauí, na Paraíba e no Rio Grande do Sul.

Campos tenta recuperar apoio no meio empresarial

• Resultado de pesquisas prejudica arrecadação de campanha de pessebista

• Em terceiro lugar na corrida presidencial, candidato do PSB vê queda de entusiasmo de grandes financiadores

Marina Dias, David Friedlander - Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - As últimas pesquisas jogaram água fria no esforço que o ex-governador Eduardo Campos, candidato do PSB à Presidência da República, tem feito para recuperar apoio no meio empresarial.

Sua equipe notou que empresários perderam entusiasmo com sua candidatura nos últimos meses e torcia por colocação melhor nos levantamentos antes de bater à porta dos grandes financiadores.

O ex-governador declarou à Justiça Eleitoral que pretende gastar até R$ 150 milhões para financiar sua campanha.

Aborrecidos com a política econômica da presidente Dilma Rousseff, que concorre à reeleição, muitos empresários viam Campos como uma opção no início do ano, mas ele está em terceiro lugar na última pesquisa do Datafolha, com 8% das intenções de voto. Agora, estão mais inclinados pelo senador Aécio Neves (PSDB), que registra 20%.

O candidato do PSB despertou a atenção do setor produtivo quando se aliou à ex-senadora Marina Silva, em outubro do ano passado. Muitos analistas passaram a tratá-lo como a surpresa da corrida eleitoral, e ele foi convidado a conhecer fazendeiros, banqueiros e investidores.

Nas últimas semanas, aliados de Campos voltaram a procurar empresários e sentiram um clima menos eufórico. "Dilma vai receber mais do que todo mundo, porque é favorita", diz um experiente arrecadador de campanha.

A Folha ouviu quatro dos maiores doadores da campanha eleitoral de 2010, que pediram para não ter seus nomes publicados. Três disseram que ajudarão Campos, mas que as quantias mais gordas irão para Dilma e Aécio.

"A campanha está começando agora e há muito para acontecer", afirma o economista Henrique Costa, tesoureiro da campanha de Eduardo Campos. "O custo da campanha é elevado, mas não é nossa ambição atingir o teto de arrecadação de R$ 150 milhões. É difícil competir com partidos mais estruturados."

No esforço para convencer empresários de que Campos continua no jogo, seus aliados passaram a vender a ideia de que ele, e não Aécio, teria mais chances de vencer Dilma se houver segundo turno.

A pesquisa mais recente do Datafolha, concluída na semana passada, mostra que a petista teria 44% das intenções de voto contra 40% do tucano se o segundo turno fosse hoje. Caso o adversário fosse Campos, Dilma teria 45% frente a 38% dele.

Mapa eleitoral
Campos tem usado outro argumento para dobrar os que preferem Aécio: é preciso patrocinar um terceiro candidato para que a disputa não seja definida no primeiro turno.

A equipe do ex-governador tem mostrado a empresários um gráfico com o mapa das votações obtidas pelo PT e pelo PSDB no segundo turno de 2010, quando a presidente Dilma Rousseff foi eleita.

Segundo os dados, os eleitores do Norte e do Nordeste foram responsáveis pela vitória de Dilma. Campos, do Nordeste, e Marina, do Norte, poderiam anular a vantagem petista nessas regiões.

Por influência de Marina, a campanha definiu que não se empenhará para buscar doações de indústrias de bebidas alcoólicas, tabaco, armas e agrotóxicos, mas houve conversas com a Ambev, gigante mundial da cerveja.

Campos esteve com representantes da empresa na semana de largada da campanha. A cervejaria confirma que ajudará o pessebista, mas ressalva que serão contribuições modestas. Nas eleições de 2010, a Ambev deu R$ 5 milhões a vários candidatos.

Campos também procurou o grupo JBS, do setor de carne. Terceiro maior doador em 2010, com R$ 76 milhões para candidatos de vários partidos, o grupo deu R$ 2 milhões ao PSB em 2013 e afirma que voltará a apoiá-lo neste ano.

Rubens Ometto, dono do grupo Cosan, acompanhou Campos recentemente em encontros com outros investidores. À Folha, o empresário afirmou, por meio de sua assessoria, que "não vai declarar apoio a nenhum candidato" e que "apoia a democracia e o crescimento do país".

Pacote para a saúde vira principal bandeira

• Ex-governador irá anunciar hoje plano de aumentar investimentos na área em R$ 40 bi

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos, lançará nesta segunda-feira (21) um ambicioso pacote de promessas para a saúde, mas ainda não detalha de onde virão os recursos para cumprir todas as metas.

O ex-governador de Pernambuco usará a inauguração de seu comitê central, em São Paulo, para dizer que, se eleito, pretende destinar 10% da receita corrente bruta da União para a saúde. No ano passado, esse percentual significaria R$ 40 bilhões a mais para o setor, que contou com uma verba de R$ 99,8 bilhões.

O projeto atende à reivindicação do Movimento Saúde+10, formado por dezenas de entidades da área, e também consta do programa de governo de Aécio Neves, candidato do PSDB ao Planalto.

Em setembro do ano passado, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, disse que o governo de Dilma Rousseff não tinha recursos para financiar a proposta.

Campos vai anunciar também um plano de carreira federal para médicos, como mostrou a Folha, além da construção de cem hospitais, 50 maternidades e uma policlínica para cada uma das 500 regiões de saúde do país.

O pessebista propõe ainda o credenciamento de hospitais para suprir o déficit de 11 mil leitos e a adoção de medida --não especificada-- para acabar com as filas no SUS (Sistema Único de Saúde).

Aliados de Campos afirmam que o candidato vai explicar o financiamento de algumas das propostas já nesta segunda, mas que sua equipe tem até o final de julho, quando uma nova versão do programa de governo será entregue ao TSE, para detalhar verbas para cada área.

Ao lado da defesa do passe livre para estudantes, o pacote da saúde será a principal bandeira de Campos nas próximas semanas.

Campos ainda patina como nome do Nordeste

• Candidato do PSB tenta se associar à região, mas não consegue romper domínio petista

Lucas de Abreu Maia - O Estado de S. Paulo

Quando a candidatura presidencial de Eduardo Campos (PSB) ganhou ares de irreversível, em outubro passado, o então governador de Pernambuco era visto como uma ameaça à hegemonia eleitoral petista no Nordeste. Até agora, porém, essa hipótese não se concretizou. À exceção de Pernambuco, Campos tem na região desempenho semelhante à média nacional, segundo pesquisas feitas em Estados nordestinos nas últimas semanas.

O Estadão Dados reuniu consultas eleitorais feitas desde o início do ano, em âmbito estadual, que pesquisaram o voto para candidatos a presidente. Esse banco de dados revela que, nos oito Estados do Nordeste em que foram feitos levantamentos presidenciais (não foram encontradas pesquisas em Sergipe), as intenções de voto no candidato do PSB vão de 6%, no Ceará, a 13%, na Paraíba. Nos mesmos Estados, a presidente Dilma Rousseff (PT), que busca a reeleição, tem 44% e 55%, respectivamente. A candidata à reeleição chega a 63% no Piauí.

Pernambuco é a exceção. Lá, Campos e Dilma estão tecnicamente empatados - ele tem 40% da preferência dos eleitores e ela, 39%. A presidente está isolada no primeiro lugar no resto do Nordeste.

De acordo com a média das últimas pesquisas nacionais calculada pelo Estadão Dados, Campos tem hoje 10% das intenções de voto dos brasileiros. Como nos Estados nordestinos o apoio ao candidato varia entre 6% e 13%, fica claro que seu desempenho na região não é melhor que na média nacional. Isso por causa da margem de erro, que chega a 4 pontos porcentuais em alguns Estados.

Performance. É verdade, porém, que o Nordeste é onde o candidato do PSB se sai melhor em comparação ao resto do País. Diferentemente do cenário nacional, em que aparece em terceiro lugar nas pesquisas, Campos está em segundo em Alagoas e na Paraíba. Mas nem isso é motivo para o candidato do PSB comemorar. Sua colocação se deve ao fato de o concorrente tucano, o senador Aécio Neves, se sair particularmente mal no Nordeste.

Os dois candidatos de oposição a Dilma estão, na verdade, tecnicamente empatados na maioria dos Estados da região. Mesmo com 20% dos votos em todo o Brasil, Aécio consegue, no máximo, 14% em colégios eleitorais nordestinos - no Maranhão e no Piauí. Em Pernambuco, terra natal de Campos e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o tucano tem votação de nanico: 3%.

Discurso. O candidato do PSB tem repetido que quer ser o candidato do Nordeste e que vai trabalhar para ganhar a eleição na região e, assim, chegar à Presidência da República. Nas duas primeiras semanas de campanha oficial, Campos visitou cinco dos nove Estados da região.

Em seu discurso, o ex-governador de Pernambuco costuma lembrar suas raízes nordestinas e afirmar que Dilma não deu ao Nordeste o mesmo valor que a região deu a ela. Campos acusa a presidente, que teve votação massiva na região em 2010, de ter investido pouco e de não ter concluído obras importantes, como a transposição do Rio São Francisco - muitas delas iniciadas ainda na gestão Lula.

Desde as eleições de 2006, o Nordeste tem sido a região de melhor desempenho eleitoral dos candidatos do PT. No primeiro turno de 2010, Dilma venceu em todos os Estados nordestinos e recebeu 55% dos votos da região. / Colaborou Isadora Peron

Alianças nacionais podem travar palanques estaduais

• Sem regra clara, exibição de apoio a presidenciável é tema de desavença

• Fim da verticalização não deixa claro se candidato pode mostrar na TV e no rádio apoio diverso do plano federal

Diógenes Campanha, Patrícia Britto – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Candidatos a governador que divergem das alianças nacionais de seus partidos ainda não sabem se poderão usar imagens e declarações dos presidenciáveis que apoiam em seus programas eleitorais no rádio e na TV.

Um exemplo prático: um candidato a governador do PTB, partido nacionalmente fechado com Aécio Neves (PSDB), pode usar imagens da presidente Dilma na TV se petebistas e petistas estiverem coligados neste Estado?

Ninguém tem certeza das respostas. As regras não são claras, e políticos, coordenadores de campanha, especialistas e decisões do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) se contradizem sobre o tema.

A dúvida é se o fim da verticalização, regra de 2002 que obrigou partidos a repetirem nos Estados as alianças nacionais, liberou ou não o uso de candidatos a presidente de coligações diferentes nas propagandas estaduais.

O questionamento, hoje, ocorre em ao menos seis Estados. Neles, legendas que integram a coligação de Dilma querem abrir espaço para rivais da petista, como Aécio e Eduardo Campos (PSB).

É o caso, por exemplo, de peemedebistas que já declararam apoio a Aécio no Espírito Santo e no Piauí, e a Campos no Rio Grande do Sul e em Mato Grosso do Sul.
Apesar de seus partidos estarem aliados a Dilma no plano nacional, eles pretendem expor rivais da petista em seus programas eleitorais.

Candidata ao governo gaúcho, a senadora Ana Amélia Lemos, do PP, partido aliado a Dilma, já afirmou que poderá "pintar na testa" o nome de Aécio, se for proibida de usar o tucano em seu programa.

O presidente do PP-RS, Celso Bernardi, diz que consultará a Justiça Eleitoral para saber se é possível divulgar o tucano no rádio e na TV, mas a campanha da senadora usará a imagem dele em panfletos e redes sociais.

A primeira edição de material impresso, no entanto, foi feita sem o tucano. Bernardi afirma que houve atraso no envio de imagens de Aécio, e que as próximas versões terão o presidenciável.

Existe ainda um exemplo inverso. Em Pernambuco, o senador Armando Monteiro Neto (PTB) teve a candidatura a governador costurada para criar um palanque para Dilma, mas seu partido acabou se aliando a Aécio.

Monteiro Neto invoca o fim da verticalização para dizer que poderá contar com Dilma em seu programa.

Já o presidente nacional do PTB, Benito Gama, mentor do apoio a Aécio, promete confrontar o senador se ele insistir em exibir a petista.

"Se eles botarem o Aécio, não tem problema, mas se botarem a Dilma, sim", afirma.

Divergências
A maioria dos candidatos interessados no tema argumenta que poderá contar com a participação de presidenciáveis rivais de seu partido por estarem coligados a essas siglas em seus Estados.

As exceções são Ivo Sartori (PMDB-RS) e Eunício Oliveira (PMDB-CE), que acreditam que a Lei Eleitoral não permite que exibam rivais de Dilma.

"Quebraram a verticalização do ponto de vista das alianças, mas não no rádio e na televisão", diz Eunício.

Mas até especialistas e ministros do TSE divergem.

Em agosto de 2010, o então presidente da corte, Ricardo Lewandowski, liberou a participação de presidenciáveis em programas de candidatos estaduais coligados no plano local, mas rivais no nacional.

"A autonomia assegurada na formação das coligações deve se estender às escolhas para realização da propaganda eleitoral", disse em seu voto, seguido pela maioria.

Menos de dois meses antes, a corte havia decidido que isso não era permitido.

Agora, o TSE informa que questões sobre o uso de presidenciáveis nas propagandas eleitorais deste ano serão analisadas caso a caso.

"A segurança jurídica em legislação eleitoral é bastante frágil. Se muda a composição do plenário do TSE, muda o entendimento", diz o advogado Newton Cava, que assessora a campanha de Ivo Sartori no Rio Grande do Sul.

O plano dos petistas

Denise Rothenburg – Correio Braziliense

A perspectiva de segundo turno na sucessão presidencial e a rejeição da presidente Dilma Rousseff com o eleitorado terminaram por levar o PT a partir para uma estratégia justamente oposta ao que foi feito em 2010. Enquanto lá atrás a ordem foi vender a imagem de Dilma como o melhor produto do mercado, o PT agora partirá para dizer que a reeleição representa a certeza da manutenção de um projeto que engloba todos os programas em curso. Ou seja, os programas vão para um primeiro plano, assumindo assim um papel principal, enquanto Dilma Rousseff fica como coadjuvante dentro da sua própria campanha.

O martelo ainda não foi batido, mas, dentro do PT, cresce a cada dia a vontade de seguir por esse caminho. Assim, não estaria em discussão se a presidente é mal-humorada ou sobre o seu estilo de decidir. Diante de números do governo, dizem os petistas, Dilma não precisará estar o tempo todo na rua, fazendo campanha ou se expondo a vaias nos grandes centros. A ideia é restringir um pouco a movimentação da candidata e priorizar a participação em eventos fechados. O fato de Dilma ser presidente da República no exercício do mandato ajuda nessa estratégia de não deixá-la tão exposta.

O lançamento oficial desse discurso como peça de campanha será no próximo dia 31, em São Paulo, num encontro promovido pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), que é apontado como o primeiro grande compromisso da corrida pela reeleição. Até lá, a presidente se concentrará em ações de governo, algumas, entretanto, com forte apelo eleitoral. Hoje, ela recebe os integrantes do Bom Senso Futebol Clube, uma organização que pretende reformular o futebol brasileiro. É o segundo encontro de Dilma com esse grupo em menos de três meses. Eles estiveram no Planalto no final de maio, antes do início da Copa do Mundo da Fifa.

Militantes
Enquanto Dilma se recolhe, os petistas divergem nos bastidores e fora dele sobre a proposta de colocar o discurso da manutenção do projeto como o recurso capaz de garantir a vitória, uma vez que as pesquisas indicam o desejo de mudança. "Além de mostrar o legado, temos que ter a capacidade política de mostrar o que pretendemos fazer com o país. Nossos adversários agora são vivos e defendem os nossos projetos, como o Bolsa Família, o Minha Casa, Minha Vida. Temos que ter clareza de mostrar que o caminho mais seguro é com quem já está mudando o país", diz o deputado José Guimarães (PT-CE), que pretende ainda usar os programas sociais como formadores de novos militantes da campanha pela reeleição. "Eleição é menos intelectual e mais rua, temos que formar comitês dessas conquistas, do Bolsa Família, do Minha Casa, Minha Vida, do Pronatec, em todo o canto", diz.

Quanto às pesquisas que apresentam a candidata numa situação de empate técnico com o senador Aécio Neves (PSDB-MG) num cenário de segundo turno, Guimarães acredita que, nesse momento, essas consultas não são definidoras do quadro eleitoral. Ele aposta no maior tempo de tevê de Dilma como um fator preponderante para melhorar a performance dela com o eleitor. "A campanha mal começou, por isso, não dá para tomar essas pesquisas como absolutas. A rua é fundamental, mas o palanque eletrônico é definidor. Prefiro acreditar na paciência e seguir com calma. Ideias mirabolantes, de tirar isso de cena, botar aquilo, não levam a nada. Precisamos nos concentrar agora em como transitar entre o legado e o desejo de mudança. Não é preciso ser marqueteiro para perceber que o nível de cobrança na campanha será alto", afirma.

Missa em Juazeiro
O candidato à Presidência da República Aécio Neves (PSDB) afirmou, ontem, que pretende tornar o Bolsa Família um "programa de Estado", em Juazeiro do Norte (CE), ao participar de missa de celebração de morte dos 80 anos do Padre Cícero. O tucano alegou que as afirmações de que ele acabaria com o projeto caso fosse eleito são "terrorismo eleitoral". "Tenho um projeto que transforma o Bolsa Família em um programa de Estado, para que ele seja um programa definitivo, independentemente de qual seja o governo que venha ganhar, qual seja o partido político", disse. Candidata à reeleição, a presidente Dilma Rousseff (PT) não participou ontem de compromissos oficiais ou de campanha. Eduardo Campos, do PSB, também não cumpriu agenda pública.

Ricardo Noblat: 'Me acode, Lula!'

A se defender, Lula ataca. Jamais se explica, sempre acusa.
Fernando Henrique Cardoso.ex-presidente

- O Globo

Quem disse indignado na semana passada: “A política está apodrecida no Brasil”? E quem disse: “É preciso acabar com partidos laranjas, de aluguel, que utilizam seu tempo [de propaganda eleitoral no rádio e na TV] para fazer negócio"? Por último, quem disse que deveriam “ser consideradas crime inafiançável doações de empresas privadas para partidos”? Está de pé? Melhor sentar. Foi Lula quem disse. Acredite!

Estou de acordo: não é de hoje que Lula diz o contrário do que faz. Ou afirma algo que nega amanhã. Ou simplesmente reescreve fatos conhecidos. Procede assim porque acha que a política é para ser feita assim. Aprendeu de tanto observar os costumes alheios quando era líder sindical ou político novato. Aprendeu, também, depois de perder três eleições presidenciais seguidas.

Agora, chega! – concluiu em 1998 ao ser derrotado pela segunda vez por Fernando Henrique. Deve ser por isso que sempre o trata mal. Parece esquecido de que foi cabo eleitoral dele. Adiante.Lula mandou chamar à sua presença o presidente do PT, à época José Dirceu. E ordenou-lhe que jogasse as regras do jogo para elegê-lo. Não estava mais disposto a bancar o bobo.

A semente do escândalo do mensalão caiu em terra fértil quando Lula, na companhia de José Alencar, seu futuro vice, assistiu à compra por pouco mais de R$ 6 milhões do apoio do PL do então deputado Valdemar Costa Neto. O negócio foi fechado em um apartamento de Brasília. Lula e Alencar ficaram no terraço. Dirceu, Delúbio Soares, tesoureiro do PT, e Valdemar, se trancaram num quarto.

O efeito devastador sobre o governo do escândalo do mensalão obrigou Lula a convocar uma cadeia nacional de rádio e de televisão para pedir desculpas aos brasileiros. Uma vez terminado o julgamento do mensalão, disse que ele jamais existiu. E acusou o Supremo Tribunal Federal, cuja maioria dos ministros foi nomeada por ele, de ter se curvado à pressão da mídia. Incoerência? Que nada. Esperteza!

Em 2005, Severino Cavalcanti (PP-PE), presidente da Câmara dos Deputados, renunciou ao cargo e ao mandato para escapar de ser cassado. Recebera um mensalinho pago pelo dono de um restaurante. Lula saiu em defesa dele três anos depois. Afirmou que o respeitava muito. E culpou parte da “elite paulista” pela queda de Severino. Ainda não existia a “elite branca” capaz de vaiar Dilma.

A um amigo, em conversa recente, Lula referiu-se a Dilma como “aquela mulher”. Lamentou não ter combinado abertamente com ela que a substituiria já este ano como candidato a presidente. Dilma conta a história de que consultou Lula sobre seu desejo de voltar ao poder. E diz que ele negou o desejo. Antes de se lançar candidato do PSB à vaga de Dilma, Eduardo Campos ouviu de Lula que não disputaria a eleição.

O “Volta, Lula!” esfriou. O “Me acode, Lula!” só faz esquentar. Para tristeza de Dilma. Ela imaginou que chegaria às vésperas da eleição deste ano menos dependente de Lula. Mas não. Em primeiro lugar, depende de Lula para se reeleger. Em segundo, do engenho e arte do seu marqueteiro. O tempo de propaganda eleitoral de Dilma será três vezes maior que o de Aécio e cinco vezes maior que o de Eduardo. Por que?

Porque Lula costurou uma aliança de 10 partidos, a maioria de aluguel, que doou a Dilma seu tempo de propaganda em troca de dinheiro e de cargos no governo. Se tudo der certo, Lula promete acabar com os meios reprováveis que teriam ajudado Dilma a se reeleger. Você acredita?

José Roberto de Toledo: Frankenstein eleitoral

- O Estado de S. Paulo

Um terço dos eleitores que declaram voto em Geraldo Alckmin (PSDB) no Datafolha dá a seu governo nota 6 ou pior. É, ao mesmo tempo, uma vulnerabilidade do tucano e um sinal de que nem Paulo Skaf (PMDB) nem Alexandre Padilha (PT) se tornaram conhecidos o suficiente dos paulistas. Ou - pior para a oposição - não os convenceram de que são melhor opção que Alckmin.

A eleição para governador de São Paulo mal existe no noticiário, e menos ainda na cabeça do eleitorado. A Copa no Brasil agravou o que quase sempre ocorre: o monopólio das atenções vai para a eleição presidencial.

Em situações assim, governadores bem avaliados levam vantagem, e não apenas porque estão mais presentes na memória do eleitorado. Quando há um problema que o eleitor acha que precisa resolver com urgência - como no Rio de Janeiro -, ele presta mais atenção às candidaturas. Em São Paulo é diferente.

Apesar da falta de água, do PCC e do aumento dos crimes contra o patrimônio, Alckmin ainda leva nota 6,2 dos paulistas. Praticamente voltou ao patamar em que estava antes de eclodirem as manifestações de rua em junho de 2013. Mas a eleição para governador não está definida antes de começar.

O PT ainda tem a simpatia de 18% dos eleitores paulistas. Hoje, 46% desses petistas dizem que vão votar em Alckmin. Padilha só está conseguindo cativar 13% dos simpatizantes de seu partido, menos até do que Skaf - que tem 20% no petismo.

Após a propaganda eleitoral começar na TV com Lula no papel de "âncora" dos petistas, é provável que esse simpatizante do PT migre para Padilha. Nem todos, pois 24% dizem que não votariam nele de jeito nenhum, mas a maioria. Pode ser o suficiente para levar o ex-ministro a um patamar equivalente ao de Skaf.

A questão é se isso bastará para provocar dois turnos em São Paulo, algo que não acontece desde 2002, quando Paulo Maluf teve 21% dos votos, tirou eleitores de Alckmin e, por tabela, ajudou José Genoino (PT) a ir ao segundo turno.

Metade dos eleitores de Dilma Rousseff (PT) em São Paulo está declarando voto em Alckmin, segundo o Datafolha. A chapa "Dilmalckmin" é a segunda mais popular entre os paulistas hoje, com 13% das preferências. Só perde para a "Alckmécio", que chega a 18% do eleitorado. Muitas partes vão trocar de corpo até a urna e reconfigurar esse Frankenstein eleitoral.

Só o amor elege. A eleição para senador em São Paulo tende a ser mais surpreendente do que os 34% de José Serra (PSDB) contra os 29% de Eduardo Suplicy (PT) no Datafolha fazem crer. Suplicy tem potencial para virar a disputa - mas depende dos caciques petistas para crescer. Não é algo que virá automaticamente. Há corpo mole. O senador precisará de Dilma e de Lula.

Fato raro entre seus colegas de partido, Suplicy vai melhor entre eleitores com nível superior (37%) do que entre quem tem baixa escolaridade (24%). Há oito anos sem disputar eleição, está 10 pontos atrás do ex-governador e ex-prefeito Serra no eleitorado mais pobre. É aí que Dilma e Lula podem ajudá-lo.

Só metade dos simpatizantes petistas e só 40% dos eleitores de Dilma declaram voto em Suplicy. A única chance do senador é aumentar seu alinhamento com a presidente, e, assim, fazer a máquina do PT começar a trabalhar para ele.

Por outro lado, se começar a criticar muito os tucanos, Suplicy também pode perder votos: hoje, 1 de 4 eleitores de Alckmin prefere o petista a Serra. Se o debate se polarizar, o tucano tende a avançar no eleitorado do governador, entre o qual só atinge 50% por enquanto.

Em resumo, tanto Suplicy quanto Serra precisarão melhorar suas relações com os respectivos colegas de partido - o que não é fácil para nenhum deles. O mais bem sucedido na conquista do "amor" partidário tende a ganhar a vaga paulista no Senado.

Valdo Cruz: Sem-convite

- Folha de S. Paulo

Para quem lidera as pesquisas e tem chances de vencer no primeiro turno, ainda que menores, soa inexplicável o nível de atritos e de tensão na campanha de Dilma.

Para quem sabe que um segundo turno pode ser mortal, como mostra o Datafolha, fica mais compreensível o ambiente de conflitos que tomou conta da equipe dilmista.

A quantidade de fios desencapados no comitê da petista revela um quartel-general dividido sobre a melhor estratégia para combater o inimigo --reflexo da existência de um "duplo comando" na campanha.

Dois grupos disputam o controle do pedaço. O do ex-presidente Lula, que reinou absoluto em 2010. E o da presidente Dilma, que não quer só cumprir ordens, como na eleição passada, mas ditar as regras agora.

Dizem que o clima foi pacificado depois da briga entre o lulista Franklin Martins e os dilmistas sobre o tom agressivo do site Muda Mais, que desagradou Dilma no episódio de ataques à CBF de Marin.

Mas é só aparência. O ar segue sufocante. A situação de Gilberto Carvalho, amigo de Lula e ministro de Dilma, é um exemplo. Dilmistas o querem fora do governo. Isolado dentro do Palácio do Planalto, ele gostaria de ficar onde está, mas sabe que a decisão é da presidente.

Cena recente é retrato fiel desta disputa. No balanço oba-oba protagonizado pelo governo sobre o "sucesso" da Copa, o Planalto convocou 16 ministros para bater bumbo. Um observador atento sentiu falta da presença de Gilberto Carvalho.

Ele e sua equipe foram os responsáveis por desarmar a bomba mais temida pelo governo durante a Copa, que poderia estragar a imagem do torneio: a dos protestos país afora, principalmente dos sem-teto em São Paulo. Ganharam o jogo sem fazer alarde, mas não foram convidados para a festa final da vitória.

Há quem diga que Gilberto não foi porque não quis. Mas quem viu a lista dos convocados jura que, nela, não estava o nome do ministro.

Renato Janine Ribeiro: Quem perderá as eleições?

• PT ou PSDB: um deles conhecerá uma amarga derrota

- Valor Econômico

No dia 27 de outubro, segunda-feira, acordaremos sabendo quem venceu as eleições presidenciais. (Ou já no dia 6, se não houver segundo turno). Hoje, todos querem saber quem vai ganhar. Mas é importante perguntar quem vai perder. Dos grandes partidos que disputaram a Presidência nos últimos 20 anos, pelo menos um ficará fora do governo federal - PSDB ou PT. Um, depois de 12 anos fora do poder, o outro, depois de 12 anos no poder. Que consequências isso trará?

Primeiro cenário: o PSDB perde sua quarta eleição consecutiva. Isso será duríssimo para ele. Ficará em dúvida se, um dia, reconquistará a Presidência da República. Terá falhado o nome novo, simpático, cordato que substituiu os postulantes paulistas. A questão não será se Aécio Neves, cheio de energia, concorrerá de novo em 2018; será se o partido ainda terá gás para disputar a hegemonia no Brasil. O problema não é pessoal. Não tem a ver com Aécio. A questão é partidária. Estará o PSDB apto a disputar, ainda, o poder?

Num artigo recente, sugeri que no Brasil não ocorre alternância no poder. Uma força política, quando derrotada, não volta à Presidência da República. (Falo dos períodos democráticos, 1945-64 e 1985 para cá). O PMDB de Sarney não voltou ao poder, nem o PRN de Collor, nem - ainda - o PSDB. Se os tucanos perderem mais uma eleição presidencial, talvez as forças que ele congrega tenham de assumir uma nova identidade. O partido que hoje é "a oposição" poderá se esvaziar.

O segundo cenário, a derrota do PT, terá consequências ainda mais dramáticas. Aliás, seguramente o Partido dos Trabalhadores perderá uma das próximas eleições - só não sabemos qual. Há um desgaste natural no poder. E até é bom um partido que nasceu com o DNA da oposição, da contestação (já o PSDB surgiu com o DNA da governabilidade, da responsabilidade), retemperar-se ouvindo o coro dos descontentes. Um dia o PT perderá a eleição presidencial - não sabemos, ainda, quando.

Mas, se o PT for para a oposição, poderá sofrer mais que os tucanos. Estes têm bases sólidas nos dois Estados mais populosos, São Paulo e Minas Gerais - e parece que vão conservá-las. Contam também com o apoio da mídia, o que os ajudou a retirar, dos petistas, a hegemonia que estes obtiveram ao longo dos anos que culminaram na eleição de Lula. No segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, órgãos de imprensa que hoje fazem ferrenha campanha contra o PT eram simpáticos a uma parte das ideias petistas. 

Criticavam o PT como ingênuo, idealista, irrealista - mas jamais o acusavam de ser realista demais ou corrupto. Não importa aqui quem tem razão; analiso a imagem que se tinha, a que hoje se tem. Um PT na oposição, sem apoio nos Estados ricos e com a antipatia da mídia, poderá ser mais fraco do que foi durante o governo tucano. Mais que isso, perderá não só seus aliados inconfiáveis de hoje, mas também todo um contingente de pessoas que aderiram ao PT no governo, porém não estariam dispostas à travessia no deserto de um PT devolvido à oposição.

Se para o PSDB perder a eleição pode ser muito ruim, para o PT pode ser ainda pior.

Com tudo isso, a eleição pode se decidir por poucos votos ou por uma circunstância imprevisível. Vejamos a final da Copa. Ela consagrou a Alemanha como a melhor seleção, paradigma para o mundo. Mas imaginemos que Messi emplacasse seu chute no segundo tempo. Ele perdeu o gol por poucos metros... 

Hoje estaríamos aplaudindo a espontaneidade sul-americana, não a organização germânica, no futebol. Foi por um fio. A eleição de 2014 também pode ser por pouco. Não falo, aqui, em números - só lembro que alguma surpresa, alguma coisa inesperada, pode fazer a diferença. Mas o resultado, uma vez obtido, é final. Quem perde, perde.

Deixei o PSB+Rede para o fim. Uma derrota, salvo se for esmagadora, pouco prejudica a parceria de Eduardo Campos com Marina Silva. Uma vitória - que é improvável, olhando de hoje - possivelmente consolidaria sua união. Pois a questão é se continuarão juntos ou tomarão rumos distintos. São diferentes demais, penso eu, para manterem um casamento que é de interesse, não de amor. Se não tiverem o cimento da vitória, poderão ir cada um numa direção. 

A Rede tem o futuro do idealismo. É hoje a única força política com algum relevo a dispor de uma identidade nítida, um forte apelo, um senso de futuro. O PSB, com Eduardo Campos, é um projeto de poder. Estão tentando, nestes meses, somar o fim ao meio, o idealismo da Rede ao realismo do PSB. Mas são demasiado água e azeite para se fundirem. De qualquer forma, são quem menos sofrerá com uma derrota.

A Rede tem mais a ganhar mantendo-se longe do poder, porque há de apurar seus projetos, construir seus quadros, preparar-se para ser uma alternativa de governo só na hora adequada - um pouco como fez o PT, no passado. O grupo de Marina, se chegar ao poder cedo demais, pode perder o que faz suas qualidades. 

Já o PSB, depende. Em todo caso, é mais que improvável que um dia o PT renove a oferta a Eduardo de ser seu candidato em 2018. Suas relações parecem rompidas. Já com Aécio presidente, será difícil Eduardo ficar na oposição. Para dizer, fazer o quê? Que diferença sensível ele marcará em face do PSDB? Agora, se Dilma ganhar, Eduardo poderá herdar votos tucanos para 2018. O que, afinal, indica que a situação não será ruim para os nossos dois "terceiros" candidatos, Eduardo e Marina, enquanto certamente será ruim para pelo menos um dos dois partidos hoje hegemônicos. Deles, o ou os que perderem terão que rever não só suas políticas e estratégias, mas sua própria identidade, talvez a própria existência.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.

Diário do Poder – Cláudio Humberto

- Jornal do Commercio (PE)

• Lula manda Franklin ficar na campanha de Dilma
Em pé de guerra com o marqueteiro João Santana – o queridinho da presidenta Dilma –, o ex-ministro Franklin Martins recebeu determinação do ex-presidente Lula para aguentar a onda e permanecer na campanha presidencial. Dirigentes do PT desconfiam que o vazamento da crise do Planalto, após publicação de post contra CBF no site Muda Mais, teria sido estimulado por Dilma, para pressionar Franklin a pedir demissão.

• Pode vir quente
A briga começou após Franklin se recusar a retirar do ar post com críticas ao futebol, com ataques diretos ao presidente da CBF, José Maria Marin.

• Queda de braço
A fim de enfraquecer Franklin, Dilma mandou desvincular o Muda Mais de sua campanha à reeleição. O site é coordenado pelo ex-ministro de Lula.

• Todos contra uma
O conselho deliberativo da Associação Médica Brasileira também decidiu, em reunião na sexta, se posicionar contra política de saúde de Dilma.

• Veto explícito
Ninguém confirma, mas a ex-prefeita de Fortaleza Luizianne Lins (PT-CE) não é bem vinda no comitê do candidato de seu partido, Camilo Santana.

• Serra considera Kassab o ‘melhor adversário’
O ex-governador José Serra foi convencido pela cúpula do PSDB de que não poderia ter sido melhor a decisão de Gilberto Kassab (PSD-SP) de ser seu adversário na disputa ao Senado. Na avaliação da sigla, apesar de roubar mais votos de Serra do que de Eduardo Suplicy (PT), Kassab não atacará o tucano em sua campanha, como ocorreria se Gabriel Chalita (PMDB) ou Henrique Meirelles (PSD) fossem os candidatos.

• Dos males…
A direção do PSDB acredita que, além de evitar bater em Serra, seu padrinho político, Gilberto Kassab não deverá sair do terceiro lugar.

• … o menor
Ciente de que deverá sair derrotado, Kassab já aposta na criação do Partido Liberal para servir de ‘janela’ a políticos após as eleições.

• Camaleão
O comentário no PSDB é que Kassab será ministro de qualquer jeito em 2015. Com a reeleição de Dilma ou com vitória de Aécio Neves.

• Poderoso
O novo subchefe para Análise e Acompanhamento de Políticas Governamentais da Casa Civil, Jorge Rodrigo Messias, tem poder com o ministro Aloizio Mercadante. Foi secretário de regulação do Ministério da Educação e lá realizou um trabalho considerado de alto nível.

• Religião à parte
Apesar de ser evangélico de carteirinha, o senador e candidato ao governo Marcelo Crivella (PRB-RJ) já avisou ao pastor Everaldo que apoiará a reedição do governo Dilma, do qual fez parte como ministro.

• Céu de brigadeiro
A conselheira do CADE Ana Frazão analisa com amigos a possibilidade de se lançar a vaga do quinto constitucional de tribunal regional federal. Ela tem a simpatia de Beto Vasconcelos, chefe de gabinete de Dilma.

• Aposta alta
Presidente do PSDB-SP, Duarte Nogueira aposta que a quantidade expressiva de candidatos majoritários do partido ajudará a praticamente dobrar bancada federal em 2015: “Esperamos chegar a 70 deputados”.

• Em pé de guerra
O PROS e o PT do Ceará brigam por tudo. O governador Cid Gomes impôs a cor laranja a seu candidato a sucessão, Camilo Santana. O PT quer vermelho. O PT queria o comitê de campanha numa avenida tradicional das siglas de esquerda. O PROS impôs no Parque do Cocó.

• Só pra contrariar
A governadora Rosalba Ciarlini (DEM-RN) tem pedido a prefeitos votos para a deputada Fátima Bezerra (PT) ao Senado contra Wilma de Faria (PSB), que está na chapa apoiada pelo senador José Agripino (DEM).

• Padrão Itaú
Cliente do Itaú foi à agência, pôs dinheiro para despesas das férias em cartão de débito, fez o que o banco exigiu, inclusive trocar a senha etc. Mas ao chegar na Europa descobriu que o cartão não valia e estava sem dinheiro. E sem chances de resolver o problema durante a viagem.

• Apoio a Reguffe
Pedro Simon (PMDB-RS) viajou a Porto Alegre e não foi ao lançamento da candidatura de Antonio Reguffe (PDT-DF) a Senador, mas enviou mensagem. “Reguffe não é uma esperança, é uma realidade”, disse.

• Pensando bem
… Lula desafia o PSDB a provar que alguém criou mais mecanismos anticorrupção do que ele, mas não abre o bico sobre a amiga Rose.

Painel - Bernardo Mello Franco (interino)

- Folha de S. Paulo

A fonte secou
A nova alta de Geraldo Alckmin (PSDB) no Datafolha jogou as campanhas de Paulo Skaf (PMDB) e Alexandre Padilha (PT) no divã. Os adversários do governador paulista se convenceram de que a crise do sistema Cantareira não afetou sua popularidade. A menos que haja falta d'água generalizada, eles agora acreditam que o peso do tema na disputa será residual. PMDB e PT têm pouca esperança em reduzir a vantagem do tucano até o início da propaganda de TV, em 20 de agosto.

Lázaro Por incrível que pareça, aliados de Skaf agora torcem pelo crescimento de Alexandre Padilha (PT), estacionado em 4% das intenções de votos. Se ele não sair do atoleiro, ficará difícil convencer os doadores de que haverá segundo turno.

Geni Duda Mendonça, o marqueteiro de Skaf, atribui as dificuldades do petista à má fase de seu partido em São Paulo. "Dilma não está bem, Haddad não está bem e o PT não está bem no Estado. A culpa não é do Padilha..."

Tô nem aí A vantagem folgada de Alckmin reforça a estratégia tucana de fingir que a eleição não começou. A ordem é deixar o candidato tocar a vida como governador.

Quem poupa tem O comitê de Aécio Neves (PSDB) receitou "otimismo, mas pés no chão" aos encarregados de captar doações para a campanha. Os tucanos pretendem evitar clima de "oba-oba" com a queda da presidente Dilma Rousseff (PT) nas simulações de segundo turno.

Dona Flor A campanha de Dilma quer agendar atos separados com os quatro principais candidatos ao governo do Rio. Todos eles a apoiam, ao menos no papel.

Quatro maridos Com Luiz Fernando Pezão (PMDB), a petista reunirá prefeitos do interior. Com Anthony Garotinho (PR), deve visitar o norte fluminense. Ela ainda planeja ir à Baixada com Lindberg Farias (PT) e reunir evangélicos com Marcelo Crivella (PRB).

Consolação Aliados se preocupam com a queda de Dilma no Rio, mas ressaltam que os votos perdidos não migraram para Aécio. Desde novembro, a presidente recuou de 41% para 35% no Estado. O tucano oscilou de 16% para 17%, diz o Datafolha.

Calabar do sertão O único prefeito do PSDB na região do Cariri, no interior do Ceará, declarou voto em Dilma. Chico Santana governa a pequena Abaiara, de apenas 10 mil habitantes.

Bola dividida Quando a presidente reclamou das críticas à CBF no site de campanha "Muda Mais", petistas tentaram convencer Franklin Martins a assinar a autoria do texto, para desvincular as opiniões da chefe. O ex-ministro não topou.

Bola neles O jornalista Juca Kfouri, que conhece a fundo as mazelas do futebol, acha que o artigo não merecia reparos. Para ele, a crítica à cartolagem "foi até suave".

Zé da Galera O ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD) resolveu palpitar sobre futebol. Sugeriu a Dilma que ela defenda o reconhecimento biométrico de torcedores. A medida, afirma, barraria a entrada de brigões nos estádios.

Correria O novo jingle de Rui Costa, o candidato do PT ao governo da Bahia, diz que ele "é correria". A gíria se refere a gente dinâmica, que faz acontecer. O ritmo escolhido foi o arrocha, sucesso na periferia de Salvador.

Água fresca Resta uma dúvida entre observadores da política baiana. O "Rui é correria" seria um contraponto ao adversário Paulo Souto (DEM), de 70 anos, ou ao governador e aliado Jaques Wagner (PT), chamado pelos rivais de "wagareza"?

-----------------------------------------
Tiroteio
O Lula precisa beber muita água para parar de ter miragens. O PT nunca esteve tão próximo da derrota em São Paulo.
DO DEPUTADO JOSÉ ANIBAL (PSDB-SP), sobre a declaração do ex-presidente de que "nem água para beber" o governo de Geraldo Alckmin consegue garantir.
----------------------------------------

Contraponto
Ouçam o professor

Os deputados viajaram na história ao discutir, na semana passada, a revogação do decreto de Dilma Rousseff que criou o Sistema Nacional de Participação Social.

--Dilma agiu como Luís 14. Para ela, "l'Etat c'est moi!" --arriscou Inocêncio de Oliveira (PR-PE).

--O governo quer instituir os sovietes em pleno século 21! --emendou Darcísio Perondi (PMDB-RS).

Chico Alencar (PSOL-RJ), que é historiador, interveio:

--É bonito ouvir tantas citações, mas a história não se repete. E o que debatemos aqui está a anos-luz do Absolutismo francês e da Revolução Russa!

Vinicius de Moraes: Soneto sentimental à cidade de São Paulo

Ó cidade tão lírica e tão fria!
Mercenária, que importa - basta! - importa
Que à noite, quando te repousas morta
Lenta e cruel te envolve uma agonia

Não te amo à luz plácida do dia
Amo-te quando a neblina te transporta
Nesse momento, amante, abres-me a porta
E eu te possuo nua e fugidia.

Sinto como a tua íris fosforeja
Entre um poema, um riso e uma cerveja
E que mal há se o lar onde se espera

Traz saudade de alguma Baviera
Se a poesia é tua, e em cada mesa
Há um pecador morrendo de beleza?