segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Opinião do dia: Fernando Henrique Cardoso

Vejo fantasmas? Pode ser, mas é melhor cuidar do que não lhes dar atenção. A democracia entre nós, já disseram melhor outros personagens, é como uma planta tenra que tem de ser cuidada e regada com exemplos, pensamentos, palavras e ações todos os dias. Cuidemos dela, pois.

Sociólogo, foi presidente da República. Artigo: Falta sentimento democrático. O Estado de S. Paulo, 3 de agosto de 2014.

Denúncia de fraude na CPI da Petrobras será apurada

• Segundo revista, diretores da estatal tiveram acesso prévio a perguntas; oposição pede substituição de relator

Catarina Alencastro, Isabel Braga e Tatiana Farah – O Globo

BRASÍLIA e SÃO JOSÉ DOS CAMPOS (SP) - O presidente da CPI da Petrobras, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) informou ontem que determinará a abertura de um procedimento para investigar a denúncia da revista "Veja" de que a presidente da Petrobras, Graça Foster, e ex-dirigentes da estatal tiveram acesso prévio a perguntas que seriam feitas por parlamentares governistas durante seus depoimentos à comissão, e também receberam as respostas.

Em nota, Vital do Rêgo, que preside as duas CPIs que investigam a estatal (a exclusiva do Senado e a Mista), destacou a importância da comissão e disse que qualquer favorecimento que reduza o poder de investigação prejudica os trabalhos.

"O presidente entende que qualquer favorecimento que possa levar à mitigação do poder investigatório é prejudicial ao trabalho desenvolvido pelo colegiado. Por isso, e ante à necessidade de apurar responsabilidades sobre o material veiculado, além de possíveis infringências legais, determinará a instalação de procedimento próprio para o necessário esclarecimento dos fatos, sem prejuízo ao desenvolvimento dos trabalhos da comissão", diz a nota, na qual Vital do Rêgo não se pronuncia sobre o pedido da oposição para que ele deixe a presidência das CPIs.

O relator da CPI mista da Petrobras, deputado Marco Maia (PT-RS), disse que defende a investigação das denúncias, mas não quer que problemas da CPI do Senado contaminem a Mista.

- É preciso primeiro investigar as denúncias em relação à CPI do Senado, se de fato ocorreu o repasse das perguntas. Mas isso não tem nada a ver com a CPI Mista. Não é momento de politizarmos o trabalho sério da CPI Mista - disse Maia.

A oposição aproveitará o esforço concentrado do Congresso esta semana para cobrar providências sobre as denúncias. O líder do PSDB no Senado e candidato a vice na chapa de Aécio Neves, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), se reúne hoje em Brasília com outros líderes para ver que providências podem ser tomadas na Justiça e nos Conselhos de Ética da Presidência e do Senado.

Secretaria nega participação
Ontem, em campanha no interior de São Paulo com Aécio, Aloysio cobrou explicações da presidente Dilma Rousseff. Segundo ele, "seria impossível que ela não soubesse que estava se armando este crime contra uma instituição da República". Para Aloysio, a manutenção no cargo do relator da CPI, o senador José Pimentel (PT-CE), ficou inviável:

- Pelas denúncias, Pimentel seria uma das peças chave para essa armação. Ele não pode continuar como relator.

Aécio também voltou a condenar o episódio:

- Isso é extremamente grave. Brincam com a inteligência dos brasileiros. Se confirmadas essas denúncias, estamos diante de uma grande farsa.

Pimentel manteve a decisão de não se pronunciar e só falar sobre as denúncias hoje. A liderança do PT no Senado e os dois assessores citados como os que teriam feito as perguntas - Marcos Rogério e Carlos Hetzel - também não quiseram falar. Em nota, a Secretaria de Relações Institucionais negou ter elaborado perguntas, e o assessor especial do órgão Paulo Argenta garantiu que jamais preparou as questões:

- Não participei da elaboração de pergunta nenhuma. Não sei que história é essa.

Como parte da investigação, a oposição também cobrará a convocação de todos os senadores e assessores citados na revista.

Aécio faz campanha com Serra em SP

• Tucano diz que pt legou ao país "clima de insegurança e desânimo"

Tatiana Farah – O Globo

São José dos Campos (SP) - Acompanhado pela cúpula do PSDB paulista, incluindo o candidato ao Senado José Serra, o candidato tucano à Presidência, Aécio Neves, se encontrou ontem com dirigentes do partido no Vale do Paraíba, região do estado voltada para o setor de tecnologia, e prometeu investimentos em inovação, caso seja eleito. Em discurso, Aécio disse que o governo petista "fracassou na condução da economia" e legou ao país "um clima de insegurança e desânimo".

O tucano tem usado a palavra "desânimo" para se contrapor às declarações da presidente Dilma Rousseff de que a oposição tem criado um clima de pessimismo em relação à economia.

- Não é um pessimismo em relação ao Brasil, mas, sim, em relação a esse governo, que não tem mais capacidade de ousar. Não fracassaram só na economia, mas na gestão do Estado. O Brasil se transformou num grande cemitério de obras inacabadas - disse Aécio.

Serra, que disputou com Aécio a indicação do PSDB para concorrer a presidente, chegou atrasado à visita ao mercado municipal de São José dos Campos, e foi aguardado por Aécio, por Aloysio Nunes, candidato a vice-presidente, e pelo governador Geraldo Alckmin para que tomassem café juntos. Mineiro, Aécio comeu pastel, mas não dispensou o pão de queijo.

No palanque, Aécio não poupou elogios aos tucanos paulistas, dizendo que a presença de Serra na campanha tem, para ele, "impacto muito grande e positivo". Dezenas de dirigentes partidários, deputados e candidatos regionais ouviram os discursos. Aloysio disse que a campanha do PSDB é uma "campanha de voluntários". No entanto, entre os participantes que aguardavam Aécio no mercado, havia mulheres que contaram ter recebido R$ 50 para agitar bandeiras de campanha.

Campos participa de carreata no interior de Pernambuco

• Candidato do PSB foi a Caruaru, onde os principais líderes políticos o apoiam

Letícia Lins – O Globo

CARUARU (PE) - O candidato do PSB à sucessão presidencial, Eduardo Campos, comandou ontem uma carreata em Caruaru, Pernambuco, estado onde tem sua base eleitoral. De acordo com os organizadores, cerca de cinco mil carros percorreram 16 bairros da cidade.

A cidade não foi escolhida à toa: seus principais líderes políticos apoiam o PSB. O candidato de Campos a governador, Paulo Câmara, que ainda patina nas pesquisas, o acompanhou. Campos, que estava na carroceria de um carro aberto, distribuiu abraços e apertos de mão. Depois, falou ligeiramente com jornalistas:

- Foi uma grande largada. Daqui para a frente vai ser isso. Estou completamente seguro, o povo está animado, e vamos construir uma bela vitória.

Durante a carreata, centenas de pessoas ocuparam as calçadas agitando bandeiras e chamando o candidato pelo apelido de família: Dudu. A animação da carreata, no entanto, contrastou com o total desrespeito dos militantes às normas de segurança no trânsito. Havia motoristas bebendo cerveja, mulheres e até crianças se pendurando nas janelas dos carros, e pessoas agitando bandeiras ou soltando rojões com os carros em movimento.

- Nós orientamos a militância para que seguisse as normas de segurança. Mas, em um evento deste tamanho, fica difícil controlar. Nós solicitamos aos militantes que não desrespeitassem as leis do trânsito, mas chega um momento que a coisa fica sem controle - disse o coordenador da campanha Rubens Rodrigues Júnior.

Antes, o candidato havia passado no município de Timbaúba, na Zona da Mata. Marina Silva, que tem escoltado Campos em todos os eventos de campanha, desta vez não estava presente. Quarta-feira, Campos participa da sabatina dos presidenciáveis na Confederação Nacional da Agricultura (CNA), em Brasília.

Aécio: País poderá retomar crescimento sustentável

Elizabeth Lopes – O Estado de S. Paulo

O candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, rebateu neste domingo, 3, a estratégia que vem sendo utilizada pela presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT), sua adversária nesta corrida presidencial, de taxar a oposição de pessimista. Após caminhada no centro de São José dos Campos, Aécio disse que pessoalmente é otimista com relação à potencialidade do País e em resgatar a capacidade de crescimento da economia e do desenvolvimento da sociedade brasileira. "Contudo, a incapacidade do atual governo para sinalizar um cenário melhor para o futuro é a razão do pessimismo não apenas da oposição, mas dos empresários e de vários setores da economia, basta olhar os índices da FGV."

Segundo o tucano, o discurso da oposição não pode ser classificado de pessimista, simplesmente porque reflete, no seu entender, a realidade que o País vive atualmente. "O governo petista fracassou na gestão do Estado, o Brasil é hoje um cemitério de obras paradas e eles (PT) fracassaram não apenas na economia, mas na educação, saúde e outras áreas essenciais. Vivemos um quadro de estagflação e crescimento econômico pífio. Além disso, falta decência, eficiência e ousadia aos inquilinos que estão hoje no poder (governo petista)", argumentou.

Para o candidato do PSDB, "o atual governo, pela incapacidade gerencial, pela incompreensão da verdade do mundo, pelo aparelhamento absurdo da máquina pública, permitiu que o Brasil viva hoje um cenário preocupante, que se reflete nos investimentos". E destacou que todos aguardam o que vai acontecer nas eleições para saber o que irão fazer. E previu que sua eventual vitória nas urnas vai criar um ambiente adequado, com regras claras, marcos regulatórios compreensíveis e simplificação do sistema tributário para que o País possa, a partir de 2015, retomar um ciclo de crescimento sustentável por um longo período. "Cada vez mais eu me convenço de que isso é possível", frisou.

Aécio visitou neste domingo o Mercado Municipal da cidade, situada no Vale do Paraíba, ao lado de correligionários tucanos, como o governador do Estado e candidato à reeleição, Geraldo Alckmin, o candidato ao Senado José Serra e o suplente José Aníbal, o vice em sua chapa, senador Aloysio Nunes Ferreira, o ex-governador Alberto Goldman, e líderes locais, como o ex-prefeito e deputado federal Emanuel Ferreira. No mercadão, o presidenciável tucano comeu pastel e um pão de queijo. Indagado sobre a qualidade da iguaria mineira, disse que estava muito bom, "no padrão mineiro." Cerca de 100 pessoas participaram da visita, que durou cerca de meia hora. Após essa agenda, as lideranças tucanas foram para o diretório da sigla na cidade, onde concederam entrevistas e fizeram breves discursos aos militantes.

Aécio: PSDB irá ao Senado Federal sobre CPI da Petrobras

Elizabeth Lopes – O Estado de S. Paulo

O candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, reiterou neste domingo, 3, que seu partido irá entrar com representação no Conselho de Ética do Senado Federal para apurar as denúncias publicadas pela revista Veja de que o governo e lideranças do PT teriam passado previamente para os principais depoentes da CPI da Petrobras, dentre eles a presidente Graça Foster e outros ex-diretores da estatal, perguntas que seriam feitas por parlamentares, com o intuito de combinar as respostas.

Depois de visitar o Mercado Municipal de São José dos Campos, no Vale do Paraíba, Aécio disse que o PSDB estuda também entrar com representação na Comissão de Ética Pública da Presidência da República, que avalia a conduta ética na administração pública, para dar a oportunidade de os citados na denúncia esclarecerem o que realmente aconteceu. "Temos que tirar as nossas principais empresas, no caso da Petrobras, da Eletrobras, das garras de um grupo político que delas se apoderou para manter-se no poder a qualquer custo", defendeu,

Para o senador, a denúncia é extremamente grave. "Brincam com a inteligência dos brasileiros. Se confirmadas estas denúncias, nós estamos diante de uma grande farsa. Uma farsa que, na verdade, avilta o Congresso Nacional em uma das suas funções fundamentais, que é a de fiscalizar e investigar ações do governo, mas também atenta contra a dignidade da sociedade brasileira porque faz com que todos participassem sem saber de uma grande encenação."

Serra
O candidato ao Senado pelo PSDB, José Serra, que acompanhou Aécio na visita à cidade de São José dos Campos, também considerou grave a denúncia sobre a CPI da Petrobras. "É um outro escândalo, um atrás do outro. Agora caberia a CPI da CPI, mas com a eleição (em curso) não vai dar tempo. Então, espero que o nosso próprio povo, sabendo o que aconteceu, faça a sua CPI nas urnas, em outubro", disse Serra, destacando que o episódio é uma "imoralidade porque se faz uma CPI e, junto, faz-se um combinado com senadores que têm mandato popular e deveriam representar o povo, com os que serão interrogados". "Realmente é um jogo muito pouco decente para dizer o mínimo."

Aloysio: ação de Dilma em CPI da Petrobras será apurada

Elizabeth Lopes – O Estado de S. Paulo

O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), candidato a vice na chapa presidencial do tucano Aécio Neves, afirmou que seu partido irá apurar as responsabilidades da presidente Dilma Rousseff na denúncia de que seu governo e lideranças do PT teriam treinado os principais depoentes da CPI da Petrobras que investiga contratos superfaturados da estatal, como a compra de uma refinaria em Pasadena, nos EUA. "Vamos apurar, pelo menos, a responsabilidade moral de Dilma neste episódio", garantiu.

O senador tucano, que participou neste domingo, 3, de agenda da campanha de Aécio Neves, em São José dos Campos (SP), disse que é preciso investigar a presidente Dilma neste episódio porque "é impossível que ela não soubesse que estava se armando este crime contra uma instituição da República". Aloysio disse que já conversou com o senador Agripino Maia, presidente nacional do DEM e coordenador-geral da campanha de Aécio Neves à Presidência da República, e as ações serão impetradas conjuntamente pelo PSDB com os partidos de oposição, como o Democratas.

"Vamos já nesta segunda-feira, 4 entrar com várias representações", destacou. E citou que algumas dessas representações serão contra "os funcionários do Senado que participaram deste conluio, contra os parlamentares que agiram como bonecos de um teatro de marionetes e contra os funcionários da Secretaria de Relações Institucionais". Ao falar da secretaria, o senador do PSDB disse que o titular da pasta, ministro Ricardo Berzoini, "já esteve implicado no escândalo dos aloprados", suposto dossiê confeccionado por lideranças petistas contra os candidatos tucanos nas eleições gerais de 2006.

Afastamento do relator
Aloysio Nunes defendeu, ainda, o afastamento do relator da CPI da Petrobras no Senado, José Pimentel (PT-CE), "porque ele foi uma das peças-chave dessa armação". E considerou muito grave a denúncia, divulgada pela revista Veja, porque no seu entender ela representa uma fraude contra uma instituição do Congresso Nacional. "Imagino se isso acontecesse no congresso norte-americano, o que o presidente do Senado dos EUA faria?", indagou, cobrando também providências de Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado brasileiro.

A denúncia da revista Veja desta semana, informando que o governo e lideranças do PT teriam passado previamente para os principais depoentes da CPI da Petrobras, dentre eles a presidente Graça Foster e outros ex-diretores da estatal, perguntas que seriam feitas por parlamentares, com o intuito de combinar as respostas, tem como base um vídeo de uma reunião entre José Eduardo Sobral, chefe do escritório da Petrobras em Brasília, com o advogado da empresa, Bruno Ferreira, além de outra pessoa não identificada. A comissão de inquérito foi aberta no primeiro semestre deste ano depois de denúncias sobre contratos superfaturados da Petrobras, incluindo a compra da refinaria de Pasadena, nos EUA.

Para Aloysio Nunes Ferreira, essa "armação é uma confissão de culpa da Presidência da República, com relação a todos os desmandos ocorridos na Petrobras". Segundo ele, o governo vem procurando "abafar esses escândalos de todas as formas". E disse que o episódio representa algo "muito feio, pois é como um estudante que vai para o exame levando cola".

Vídeo sobre CPI da Petrobrás pode derrubar relator

• Cobrado pela oposição, afastamento do senador José Pimentel (PT) pode ajudar estratégia do Planalto de afastar Dilma do caso

Vera Rosa e Nivaldo Souza - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O Palácio do Planalto e o comando da campanha de Dilma Rousseff à reeleição montaram neste domingo, 3, uma estratégia para descolar a presidente da tentativa da oposição de associá-la à possibilidade de fraude na CPI instalada no Senado para investigar irregularidades na Petrobrás. A denúncia de que depoentes da CPI receberam com antecedência as perguntas – publicada pela revista Veja – foi desqualificada pelo Planalto, mas integrantes da oposição e até da base aliada admitem que a situação pode levar à destituição do senador José Pimentel (PT-CE) da relatoria da CPI.

“A providência a ser tomada é o afastamento do relator que, até que se esclareça esse assunto, está sob suspeita de ser um dos participantes da farsa”, disse o tucano Aloysio Nunes, candidato a vice-presidente na chapa de Aécio Neves. A linha de ação do PSDB foi traçada durante um encontro do qual participaram Aécio, o governador Geraldo Alckmin (SP) e o ex-governador e candidato ao Senado José Serra, além de Aloysio.

No lado do Planalto, após reuniões e trocas de telefonemas, a Secretaria de Relações Institucionais, chefiada por Ricardo Berzoini, divulgou uma nota para negar as informações de Veja. Segundo a publicação, Paulo Argenta, assessor especial do ministério, teria sido um dos responsáveis pela preparação das questões.

“(...) A Secretaria de Relações Institucionais informa que não elaborou perguntas para uso dos senadores na referida CPI. Questionado, o assessor Paulo Argenta garante que jamais preparou questões que seriam realizadas durante os depoimentos na referida CPI”, diz o texto.
A ordem no Planalto e na campanha de Dilma é bater na tecla da “disputa política” e da “armação” engendrada pela mídia para tentar vincular a presidente a um escândalo. O discurso oficial é que a CPI sempre foi um “assunto do Congresso”.

Combinações. Segundo a revista, integrantes do governo e senadores do PT treinaram depoentes da CPI, “vazando” as perguntas que seriam feitas e combinando as respostas. Um dia antes do depoimento de José Sérgio Gabrielli, ex-presidente da Petrobrás, ele e o relator José Pimentel teriam acertado quais seriam as perguntas e respostas. O mesmo esquema teria sido usado com a atual presidente da empresa, Graça Fortes, e com Nestor Cerveró, ex-diretor da área internacional.

A CPI foi criada após o Estado revelar que Dilma votou favoravelmente à compra de 50% da polêmica refinaria de Pasadena, no Texas, quando era ministra da Casa Civil e presidia o Conselho de Administração da Petrobrás. Ao Estado, ela informou que só aprovou a transação porque recebeu “informações incompletas” de um parecer.

O vice-presidente da CPI, senador Antônio Carlos Rodrigues (PR-SP), disse que os integrantes do grupo ouvirão nesta terça-feira, 5, as explicações de Pimentel. Depois disso devem definir uma “nova diretriz” para a CPI.

Presidente da CPI da Petrobras diz que investigará a própria comissão

Pedro Parisi - Valor Econômico

BRASÍLIA e SÃO PAULO - O presidente da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI) da Petrobras, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), afirmou ontem que abrirá uma investigação para apurar a própria comissão, na tentativa de identificar os responsáveis pelo adiantamento de perguntas feitas por parlamentares governistas à presidente da estatal, Graça Foster, ao ex-presidente Sérgio Gabrielli e a ex-dirigentes da empresa.

"Qualquer favorecimento que possa levar à mitigação do poder investigatório é prejudicial ao trabalho desenvolvido pelo colegiado", disse o presidente da CPI da Petrobras, em nota. Vital afirmou ter ficado surpreso com a denúncia publicada pela revista "Veja", que informou que os principais depoentes da CPI teriam recebido previamente questões elaboradas por um assessor especial do Palácio do Planalto e por assessores das lideranças do governo e do PT.

A Secretaria de Relações Institucionais, liderada pelo ministro Ricardo Berzoini (PT), rebateu as acusações em nota e disse que "não elaborou perguntas para uso dos senadores na referida CPI".

A denúncia envolvendo a CPI da Petrobras foi amplamente usada no fim de semana pelo candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, para atacar sua principal adversária na disputa eleitoral, a presidente Dilma Rousseff. Ontem, em campanha no interior paulista, Aécio disse que o PSDB entrará com representações no Conselho de Ética do Senado e da Presidência para investigar as suspeitas.

Candidato a vice na chapa de Aécio, o senador Aloysio Nunes Ferreira (SP) afirmou que as representações serão contra Dilma, parlamentares, funcionários da Petrobras, do Senado e da Secretaria de Relações Institucionais.

Ao fazer evento de campanha na cidade de São José dos Campos, Aécio disse que a denúncia é "extremamente grave". "O que se vê ali são as empresas públicas, funcionários públicos colocados a serviço de um projeto de poder", afirmou. "Temos que tirar as nossas principais empresas, no caso da Petrobras, da Eletrobras, das garras de um grupo político que delas se apoderou para manter-se no poder a qualquer custo", disse.

Líder do PSDB no Senado, Aloysio afirmou que Dilma é "pelo menos, responsável moral" pela suposta fraude. "É impossível que ela não soubesse o que estava se armando este crime contra uma instituição da República", disse.

O ex-governador de São Paulo e candidato ao Senado José Serra (PSDB) disse que caberia uma CPI da CPI, mas "no meio da eleição não dá tempo". "O ideal é que o povo faça sua CPI nas urnas".
Durante o evento de campanha, Aécio voltou a criticar os rumos da política econômica. "Infelizmente o atual governo deixará como legado de estagflação, com a estagnação do crescimento. Vamos ser o último país em crescimento na América do Sul. A inflação ultrapassando o teto da meta", afirmou. O tucano buscou votos no interior paulista, reduto eleitoral do governador e candidato à reeleição, Geraldo Alckmin (PSDB), que o acompanhou. Serra também acompanhou os tucanos na caminhada na cidade paulista.

Hoje os três principais candidatos à Presidência terão agendas em São Paulo, maior colégio eleitoral do país. A partir desta segunda-feira a campanha começa a ser acompanhada diariamente pelas emissoras de televisão.

Dilma marcou na última hora um evento em Guarulhos, segundo cidade mais populosa do Estado, governada pelo PT, para inaugurar um posto de saúde. Será a segunda visita ao Estado em menos de uma semana: na quinta-feira esteve em Guarulhos, para receber apoio da CUT, e foi à inauguração de templo da Igreja Universal do Reino de Deus, na capital.

O candidato do PSB, Eduardo Campos, fará um evento com jovens, na capital paulista. Também na cidade de São Paulo Aécio buscará apoio do agronegócio, ao participar do 13 º Congresso Brasileiro do Agronegócio. (Com agências noticiosas)

Campanha de massa

• Com o início do horário eleitoral em 19 de agosto e a arrecadação ainda tímida, candidatos à Presidência da República adaptam a estratégia e apostam nos grandes centros para conseguir atingir o maior número possível de eleitores

Paulo de Tarso Lyra – Correio Braziliense

Depois de um mês de campanha exclusivamente pé no chão (veja quadro ao lado), os candidatos ao Palácio do Planalto inauguram neste mês de agosto uma nova etapa da corrida eleitoral: a disputa televisiva. Além da apresentação das propostas nos principais telejornais, eles se preparam para os programas eleitorais que irão ao ar a partir de 19 de agosto. Dilma Rousseff (PT), Eduardo Campos (PSB) e Aécio Neves (PSDB) terão de encaixar nas agendas horários para as gravações em estúdio. E cada um deles montou sua estratégia nesta fase inicial de tevê, aliada às viagens escolhidas a dedo para agregar valor ao discurso de campanha.

Segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, oscilando na casa dos 20% das preferências, o tucano Aécio Neves vai se dedicar à apresentação ao eleitorado. Segundo apurou o Correio, a estratégia dos marqueteiros do PSDB, neste primeiro momento, será contar a história do candidato, sua origem em uma família de tradição política, o parentesco com Tancredo Neves (eleito presidente de forma indireta após o fim da ditadura militar) e a trajetória como deputado federal, presidente da Câmara dos Deputados, governador por dois mandatos e senador da República.

De acordo com aliados, mesmo tendo uma pauta clara de propostas a serem apresentadas para convencer o eleitorado a aderir à sua candidatura, Aécio ainda precisa tornar-se conhecido nacionalmente — ele tem o nome muito associado ao Sudeste. Há um ano, quando lutou para assumir a presidência do PSDB, Aécio tinha em mente esta necessidade: ao optar por liderar os correligionários, ele também fazia uma opção pragmática por criar uma linha de diálogo própria com um exército de peessedebistas que multiplicaria sua imagem pelo Brasil.

O roteiro de viagens também é diversificado. Neste fim de semana, o tucano voou de Paraná e Rio Grande do Sul, para atrelar sua imagem à de dois líderes nas pesquisas para governador: Beto Richa (PSDB-PR) e Ana Amélia (PP-RS). No próximo fim de semana, a intenção é voar para o Acre, estado comandado há muito tempo pelo PT, e para Manaus, governado pelo correligionário Arthur Virgílio. Na semana seguinte, o Nordeste terá atenção total. A intenção é visitar todos os estados da região nos dias 12,13 e 14. "O Nordeste merecerá uma atenção toda especial, não na campanha, mas no governo. Levaremos o exemplo do que fizemos em Minas Gerais, onde, no fim do nosso mandato, tínhamos gasto três vezes mais per capita na região mais pobre de Minas do que nas regiões mais ricas", anunciou ele, após evento de campanha em Minas Gerais.

Conciliar agendas
A presidente Dilma Rousseff deve equilibrar mais, neste mês agosto, a agenda de campanha e a oficial, como presidente. Em julho ela foi, dos três principais candidatos, a que menos viajou. Mas, agora, o comando de campanha avisou que ela mudará a estratégia. "Pretendemos centralizar as viagens neste momento nos quatro principais colégios eleitorais brasileiros: São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia", disse o presidente nacional do PT, Rui Falcão.

Além de aproveitar para, de uma vez só, atingir um número maior de eleitores, Dilma precisa atuar fortemente nesses estados para reverter a rejeição que enfrenta em relação aos principais adversários na corrida pelo Planalto. O Nordeste, tradicional reduto eleitoral do PT, não será esquecido. Mas lá ela contará com a presença de um companheiro luxuoso. "Estamos aguardando o ex-presidente Lula definir a agenda de viagens dele com Dilma para os estados nordestinos", confirmou Falcão.

Na propaganda eleitoral, a equipe do marqueteiro João Santana está preparando um bombardeio de informações sobre os principais programas sociais do governo: Mais Médicos, Minha Casa Minha Vida e Bolsa Família. Será apresentada uma presidente que aprofundou as transformações e a inclusão no país, aliado a um slogan que ela deixou escapar durante a sabatina dos presidenciáveis na Confederação Nacional da Indústria (CNI). "Eu tenho que mostrar o que eu fiz. E, se eu fiz, sou capaz de fazer mais, e melhor."

Não será só um balanço dos quatro anos de governo. A propaganda petista servirá também para debater a necessidade de acelerar as melhorias nos serviços públicos — educação, saúde e mobilidade urbana — e um debate acirrado com a oposição em torno da plataforma econômica. "Eduardo disse que reduziria a inflação a 3%. Dilma lembrou que isso gera desemprego e ele calou-se", comemorou o vice-presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP).

O PSB reforçará ainda mais no horário eleitoral o discurso de que Eduardo Campos e Marina Silva representam a oportunidade de mudança após 20 anos de polarização entre PT e PSDB no governo federal. Interlocutores do candidato socialista apostam na exposição de imagens de ambos nas caminhadas feitas com o povo, para mostrar que o discurso do PSB está em sintonia com as demandas feitas pelas ruas em junho do ano passado. Com menos tempo de televisão e menos dinheiro em caixa, as viagens tendem a se concentrar nos grandes centros, para atingir com menos gastos o maior número de eleitores possível.

Dilma larga com problemas onde há mais eleitores

• Presidente não tem aliados fortes em Estados como a Bahia e dividirá votos com adversários em Minas e Pernambuco

• Além de problemas políticos, petista enfrenta cenário adverso na economia; país deve crescer 1%

Fernando Canzian – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Na eleição presidencial deste ano, Dilma Rousseff (PT) terá dificuldades maiores do que em 2010 em regiões que agregam mais da metade do eleitorado.

A presidente também enfrenta cenário adverso na economia. Em 2010, o Brasil cresceu 7,5%. Em 2014, a previsão é de 1%, ou menos.

Há quatro anos, Dilma venceu José Serra (PSDB) no segundo turno com vantagem de 11 milhões de votos --sendo 10,7 milhões no Nordeste.

Bahia e Pernambuco, maiores colégios eleitorais da região, deram mais de 70% de votos à petista, embalados por candidaturas fortes que apoiavam Dilma.

Neste ano, o líder na corrida estadual na Bahia, Paulo Souto (DEM), com 42% de intenção de voto, apoia Aécio Neves (PSDB).

Em Pernambuco, Dilma já divide as intenções de voto com Eduardo Campos (PSB), ex-governador do Estado e seu ex-aliado.

Em 2010, Dilma venceu em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país. Neste ano, quem lidera as pesquisas no Estado é Aécio Neves (PSDB), ex-governador.

Além de Bahia, Pernambuco e Minas, a presidente não tem aliados fortes em São Paulo, Paraná e no Rio Grande do Sul.

Ao lados dos problemas políticos, Dilma enfrenta um atoleiro econômico.

Em 2010, o Nordeste crescia a taxas chinesas. Na época da eleição, as vendas no comércio avançavam em um ritmo anualizado de 12%. Atualmente, esse ritmo é de pouco mais de 6%.
"Na média, os indicadores são muito mais desfavoráveis [para o PT] nesta eleição, na comparação com 2010", afirma Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.

Embora a taxa de desemprego em 2010 fosse próxima da atual, o ritmo de criação de novas vagas formais teve forte queda (ver gráfico).

Fragilidades
Para o cientista político Carlos Ranulfo, da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Dilma deve enfrentar o segundo turno nesta eleição. "Mas entrará em piores condições do que o PT em disputas anteriores", diz.

"Dilma está fragilizada e desgastada, fato que não existia em 2010, quando Lula bombava"", completa.

Neste ano, o ex-presidente Lula voltará a ter papel importante na disputa eleitoral, principalmente no Nordeste, acredita Fernando Abrucio, cientista político da FGV-SP.

Entre a penúltima e a última pesquisa do Instituto Datafolha, Dilma recuou de 55% para 49% das intenções de voto no Nordeste.

Dilma cria mantra para reagir a críticas

• Presidente rotula adversários de pessimistas como parte da estratégia para as sabatinas

João Domingos - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Ciente de que o cenário econômico é adverso e de que a eleição deste ano será mais disputada do que a de 2010, a presidente Dilma Rousseff montou com sua equipe de campanha uma série de argumentos que serão usados como vacina contra as críticas da oposição em sabatinas e debates daqui para a frente, além da tentativa de convencimento dos empresários, de que não tomará nenhuma atitude que possa prejudicá-los.

A ideia é que a candidata petista insista, à exaustão, que a oposição tem um discurso pessimista e agourento contra o País e que ela, Dilma, tem o domínio completo de todos os assuntos, desde os que lhe são mais familiares, como os de energia, aos espinhosos, como o escândalo do mensalão.

A unificação da linguagem para a criação de uma série de vacinas direcionadas à campanha à reeleição de Dilma teve início em fevereiro. Um dos coordenadores da campanha afirmou que a presidente se preparou em vários ensaios e media training para responder a todas as cobranças que forem feitas pela oposição e por segmentos da sociedade.

Diante da constatação de que a economia ia mal, que a tendência era um Produto Interno Bruto (PIB) de baixo crescimento, de inflação em alta e subida nas taxas de juros, a candidata foi aconselhada a criar um fórum permanente de diálogo com empresários para a campanha da reeleição. A ideia era reunir sugestões dos mais diversos segmentos empresariais para tentar neutralizar as críticas amplificadas pela oposição.

Na época, pensou-se até na possibilidade de Dilma editar um documento específico, fixando compromissos da presidente para alavancar a indústria. Nos bastidores do PT, o plano é chamado de versão 2.0 da Carta ao Povo Brasileiro, texto usado na campanha de Luiz Inácio Lula da Silva ao Planalto, em 2002, destinado a acalmar o mercado. A ideia não foi descartada. A carta poderá mesmo ser editada antes da eleição, a depender da taxa de rejeição da candidata no empresariado.

No momento, o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) tem conversado com empresários ligados à indústria para levar o recado de que o setor será muito bem tratado num eventual segundo mandato de Dilma.

Durante a sabatina de quarta-feira na Confederação Nacional da Indústria (CNI), Mercadante conversou longamente com Robson Andrade, presidente da entidade. Quando Dilma e sua equipe se preparavam para sair, empresários sopraram no ouvido do ministro: "Parece que o Aécio Neves não se saiu bem".

A presidente falou o que o empresariado queria ouvir sobre os anos que virão: "O pré-sal vai se constituir no mais importante fator individual de demandas, tecnologia, e aprimoramento de nossa capacidade de inovação industrial". Como resposta aos candidatos Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), que têm pregado a reforma tributária, Dilma passou a dizer que dará prioridade ao tema e que fará mudanças no PIS/Cofins.

"Pode ter certeza de que a presidente Dilma está preparada para qualquer debate ou sabatina, qualquer casca de banana que tentem pôs em seu caminho", diz o vice-presidente do PT, deputado José Guimarães (CE). "Ela vai derrubar todos os argumentos da oposição demagógica, pois tem mostrado - e vai mostrar - que é a mais bem preparada, que sabe tudo o que acontece no Brasil, que não tem o menor problema em dizer que certas coisas poderiam ter sido melhor realizadas, que é a única capaz de fazer mudanças", defende.

"O que pode derrubar a Dilma é a economia"

• Entrevista – Paulo Kramer. Cientista político, consultor e professor licenciado da Universidade de Brasília

O cientista político, consultor e professor licenciado da Universidade de Brasília (UnB) Paulo Kramer afirma que a presidenta Dilma Rousseff, embora ainda favorita, tem obstáculos à frente. O principal relaciona-se ao bolso do eleitor. "Dilma é competitiva, mas corre risco. E o fator que pode derrubá-la é a economia" diz Kramer, lembrando que nenhum economista prevê a chance de uma virada dramática nos indicadores econômicos até o final do ano. Ele destaca que, pela primeira vez, o eleitor de classe média será majoritário. "É um eleitor mais exigente e, neste momento, está percebendo que a escada da ascensão social do governo Lula para o governo Dilma se estreitou". Liberal convicto e dono de um senso de humor culto e afiado, Kramer reconhece que não resiste "a um bom combate". Foi com este espírito que deu entrevista ao Brasil Econômico.

Edla Lula e Sonia Filgueiras – Brasil Econômico

Como o sr. avalia as três principais candidaturas à Presidência?
Venho estudando os programas de cada uma. O programa do Aécio Neves (PSDB) é o que tem maior superfície de contato coma classe empresarial. O programa de Eduardo Campos (PSB) não é diferente. O que diferencia Eduardo é que ele é mais vibrante, tem uma presença cênica muito forte. A Dilma, seu mentor (Lula) e o PT, estão confrontados com a seguinte realidade: em 2006 o eleitorado não queria mudar. Em 2010, não queria mudar e ficou com a candidata indicada pelo Lula. Em 2014, as pesquisas estão mostrando que em média 70% dos entrevistados dizem que querem mudança. OPT, espertamente, possui o programa de governo que mais usa a palavra "mudança". A expectativa é mostrar ao eleitorado que essa ânsia por mudanças demonstrada pela população pode ser mais bem satisfeita, mais bem preenchida, pela Dilma. O raciocínio é: "Nós, nos últimos12 anos, mudamos tanto o Brasil, que estamos credenciados para mudar mais". Por isso o slogan é "Muda mais".

Que obstáculos a candidata Dilma Rousseff enfrenta?
A despeito de tudo que o governo vem fazendo, a economia não cresce. Por vários fatores, mas o mais relevante é a falta de confiança, a falta de credibilidade. No segundo mandato do governo Lula, ocorreram três eventos significativos e impactantes: primeiro foi a crise mundial, a grande recessão de 2008. Em segundo, a saída do Palocci (Antônio, primeiro ministro da Fazenda de Lula). Ele era o único petista que o mundo dos negócios e o mercado aceitavam. Ele era o petista que havia se convertido totalmente às cláusulas pétreas da economia de mercado. Para completar, uma maldição disfarçada em forma de bênção: o pré-sal. As pessoas falam as coisas projetando seus desejos mais íntimos, o de Lula era nunca trabalhar. Foi ele quem disse "O Brasil tirou o bilhete premiado". O raciocínio era "como vamos ter dinheiro para fazer tudo, podemos abandonar a ortodoxia do fernando-malanismo que fomos obrigados a herdar e aprofundar". Este é o cenário da inflexão da política econômica do governo Lula do primeiro para o segundo mandato.

Havia uma expectativa de abundância fiscal?
Era uma expectativa de abundância fiscal que permitiria ao PT ser PT. O Lula e o PT, no primeiro mandato, tinham que seguir aquela cartilha estrita da ortodoxia. Por isso, precisavam de uma bandeira compensatória para o público interno do PT. Essa bandeira era a política externa. A mensagem era de que a fidelidade petista aos ideais de sempre estava estampada na política externa. Como passar do tempo isso tomou uma dimensão maior e escangalhou com a tradição da política externa brasileira. Refiro-me, por exemplo, à autonomia que o Itamaraty sempre teve para conduzir uma política que não era de governo, mas de Estado, como deveria ser. Isso nos leva hoje a verdadeiros micos, vexames, saias justas diplomáticas. O Brasil apoiando tiranos, apoiando gangsteres do Terceiro Mundo, apoiando Putin (presidente da Rússia), cujos aliados derrubam aviões civis na Ucrânia.

Há outros obstáculos?
Há um fator ligado à Dilma. Ela é uma marxista de livro. Tudo ou quase tudo que ela sabe de economia, aprendeu naquelas reuniões semiclandestinas de grupo de leitura do "Capital" (de Karl Marx), em apartamentos sempre envoltos numa nuvem de fumaça de cigarros, com aquelas cortininhas de contas e estantes de livros montadas em tábuas e tijolos, pessoas sentadas numa esteira e bebendo as palavras do velho barbudo. Todos os conceitos e, sobretudo, os preconceitos de Dilma em relação à economia vieram de lá. Ela tem preconceito contra o lucro, que a realidade obrigou-a a atenuar.

Foi o preconceito contra o lucro que atrapalhou as discussões sobre concessões das rodovias?
No que diz respeito às concessões, a inspiração inicial de Dilma e de seu grupo era de cortar o máximo possível o lucro do empresário. O empresário só é atraído pela perspectiva de fazer o máximo de lucro. É um dilema insanável.

E em relação às Parceiras Público-Privadas (PPP)?
A legislação federal das PPPs existe desde 2004. Porque existem PPPs dando certo nos governos tucanos de Aécio em Minas e de Alckmin em São Paulo? Por uma questão de confiança. Empresário não quer se meter em PPP em que petista esteja metido. Ele tem medo da incompetência e do roubo.

Mas a perda de confiança só afeta o PT? E os outros partidos?
No caso do PT isso é mais grave, porque o PT tem uma ideologia patrimonialista. O socialismo e o comunismo são os últimos avatares do patrimonialismo. Com poucas exceções (entre seus integrantes), o PT foi um partido trabalhista que não se "social-democratizou", no sentido de se converter à economia de mercado e à democracia representativa. Este é o caminho que o trabalhismo inglês percorreu, que as sociais-democracias alemã, holandesa e escandinava percorreram também. Na Escandinávia existe um Estado com bem-estar social parrudo, mas quem toca o dinamismo da economia é o setor privado. A esquerda da América Latina, de maneira geral, não compreende isso. Acha que se converter à economia de mercado e à democracia representativa é uma capitulação.

Além do Palocci, que o senhor disse que se converteu à economia de mercado, há outras exceções no PT?
O Genoino. Durante um tempo, ele (o ex-deputado José Genoino) comandou uma tendência dentro do PT chamada Democracia Radical. Um dos documentos dessa tendência dizia o seguinte: a democracia não é um instrumento tático, é um valor estratégico de longo prazo. Eles queriam dizer que, ao contrário do que muitos marxistas fizeram ao redor do mundo, não iriam usar a conquista da democracia para golpeá-la. A maioria dos petistas não sabe o que é isso. No fundo, os petistas desprezam a democracia representativa, o parlamento. Toda a lambança do mensalão, a dificuldade de articulação, tem relação com esse desprezo. No tempo do Lula, o impacto disso era um pouco menor por causa do carisma do presidente. No caso de Dilma, apareceu com toda a força negativa. Ela tem uma imensa dificuldade de negociar com o parlamento. No lugar da representação, o que eles querem é a cooptação. No regime cooptativo, quem está dentro determina quem continua fora e quem entra — é só olhar a Venezuela,Cuba. O pano de fundo ultrapassa a economia. É muito mais do que os erros de Dilma.

O tema da economia pode mudar o voto dos eleitores da presidenta Dilma?
Balança, se atingir o bolso deles. O economista Armando Castelar disse recentemente que aboca de jacaré que então estava aberta — entre as percepções dos economistas que olham à frente, e as do trabalhador e consumidor que vivem no curto prazo — vinha paulatinamente se fechando. Essa boca de jacaré já fechou. Uma dos poucas variáveis econômicas positivas a que o governo se agarra é o relativamente baixo nível de desemprego. As pesquisas de opinião sistematicamente têm mostrado que, na visão do eleitor, o governo não tem feito um bom trabalho no quesito política de emprego. Mesmo quem está empregado está percebendo a paradeira da economia e está com medo do desemprego. Além disso, tem a inflação, que reduz o poder de compra, inclusive e principalmente dos beneficiários de programas como o Bolsa Família, que teoricamente seriam eleitores do PT.

O PT corre o risco de perder esse grupo, potencialmente favorável à Dilma?
Dificilmente perderão esse grupo. O que existe hoje é uma situação mais complexa: pela primeira vez, mesmo levando em conta esses critérios brasileiros incrivelmente elásticos da definição do que é classe média, haverá uma eleição em que a classe média é majoritária.

Que diferença isso faz?
É um eleitor mais exigente e, neste momento, ele está percebendo que a escada da ascensão social do governo Lula para o governo Dilma se estreitou. Principalmente a chamada nova classe média, que cresceu e prosperou nos anos de bonança da economia internacional que tanto beneficiou o governo Lula. Durante o governo Dilma, a economia não prosperou. É lógico que as oportunidades não se multiplicarão.

Quais as suas previsões para estas eleições? Dilma corre risco?
Dilma corre o risco de perder essa eleição, porque será uma eleição mais competitiva. Primeiro, por causa do desconforto econômico do eleitor.

E a afinidade como setor empresarial, pesa?
Se você encontra um empresário e pergunta em quem vai votar, ele vai dizer que votará no Aécio. Se você pergunta quem vai ganhar, ele vai citar a Dilma. Ela ainda é a candidata mais competitiva, porque é governo, porque os atos presidenciais são fatos obrigatoriamente noticiáveis em qualquer regime presidencialista. A oposição nos Estados Unidos também reclama que o presidente faz campanha permanente. Isso é um problema para a Dilma: segundo alguns institutos, ela sofre uma rejeição de mais de 35%. Por outro lado, ela é conhecida por 100% dos eleitores, ao passo que Aécio é conhecido por menos de 75% e tem uma rejeição menor. Há alguns números mágicos no marketing político. Analistas dizem que numa eleição fadada a ter dois turnos, o candidato que chega lá com 40% de rejeição já perdeu, porque todos os demais eleitores de candidatos do primeiro turno se unem e derrotam aquele que é mais rejeitado. O meu colega Alberto Almeida, do Instituto Análise, de São Paulo, fez um estudo detalhado de 104 eleições estaduais ocorridas de 1994, quando a reeleição passou a ser permitida, até 2010. Ele mostra que 100% dos candidatos à reeleição que tinham mais de 46% da aprovação do eleitorado tiveram sucesso. Nenhum dos que tinham menos de 34% de aprovação se reelegeram.

O senhor acha que haverá segundo turno?
O segundo turno é um capítulo interessante na história do PT. Todas as vezes que o PT conquistou a Presidência da República, teve de passar antes por um segundo turno. A minha teoria é que quando o PT concorre, precisa levar para a rua a sua militância mais aguerrida. É muita bandeira vermelha, muitos militantes do tipo "faca na boca".Isso assusta a classe média, assusta o eleitor mais conservador. O partido pode até ganhar, mas parece que o eleitorado antes quer colocá-lo de castigo. O eleitor não votou no PT em 1998, votou em 2002 e voltou a votar em 2006 e em 2010. Em 2002, o ciclo de ideias era de mudança. Em 2006 e 2010, o ciclo de ideias era o oposto, o eleitor continuava satisfeito, não queria mudança. Este ano, os institutos de pesquisa mostram que a tendência do eleitorado é pró-mudança, o que não quer dizer que Dilma será derrotada necessariamente por isso. Espertamente, seus marqueteiros estão tentando fazer com que ela represente a mudança.

Mas ela pode ser derrotada?
O PT, nesta eleição, tem maior probabilidade de ser derrotado do que teve nas eleições anteriores.

É uma probabilidade grande ou pequena?
Não gosto de estabelecer percentuais, mas, com os olhos de hoje, diria que as probabilidades de vitória de Dilma são de 50% a 55%, o Aécio, de 35% a 40% e o Eduardo, o que restar. Dilma é competitiva, mas corre risco. E o fator que pode derrubá-la é a economia. Fernando Henrique ganha em 1994 porque o real consegue domar a hiperinflação. Volta a ganhar em 1998 não porque as pessoas estavam particularmente satisfeitas, mas porque temiam ficar em pior situação frente à crise internacional da época envolvendo a Rússia. FHC, com a autoridade de quem foi o introdutor do Plano Real, pode se vender como o grande timoneiro para aquela hora em que o mar estava mais tempestuoso. Lula, sem a experiência, não inspirava tanta confiança no eleitorado. Lula e o PT ganharam em 2002 e voltaram a ganhar em 2006 e 2010 por causada economia — quando houve aquele crescimento expressivo de 7,5%. E o governo meteu o pé na jaca em investimento eleitoral. Foi algo atípico, que não se repetiu depois.

O senhor poderia citar alguns exemplos?
Basicamente houve muitas obras em estados e municípios com dinheiro federal. Essas obras dão emprego. Havia espaço fiscal, porque a economia mundial crescia. O Brasil foi na onda das commodities, foi a era do Eike Batista e de suas promessas mirabolantes.

Até outubro ainda dá tempo de a economia fazer mais estrago?
Dá. Nenhum economista prevê a chance de uma virada dramática nesses indicadores até o fim do ano. A cada semana, o boletim Focus do Banco Central (que traz a média das projeções do mercado financeiro) revê para baixo as expectativas de crescimento da economia este ano.

A velha estratégia dos escândalos — Petrobras no caso de Dilma; aeroportos, no caso de Aécio — pode afetar a campanha?
Talvez a Petrobras possa, residualmente, pelo fato de ser um símbolo nacional, um ícone. O PT fez muita lambança na Petrobras. Conseguiu reduzir o valor de mercado da empresa pela metade. Diziam que Rockefeller (John, empresário americano do setor petrolífero) falava que os dois melhores negócios do mundo são uma empresa de petróleo bem administrada e uma empresa de petróleo mal administrada, porque ainda assim dá lucro. O PT conseguiu derrubar até essa lei econômica. Mas, de uma maneira geral, ética não ganha nem perde eleição no Brasil.

Alguns cientistas políticos dizem que Dilma dá sorte porque seus adversários seriam fracos. O sr. concorda?
Não. Tanto Aécio quanto Eduardo têm um histórico de boas realizações em seus estados. Têm uma narrativa favorável para fazer perante o eleitorado.Além disso, o fato é que, depois das manifestações de meados do ano passado, Dilma não conseguiu recuperar os patamares de popularidade anteriores.Ela teve leves recuperações no início deste ano, mas não conseguiu recuperar os números fantásticos do período anterior às manifestações.

Poderíamos então dizer que eles não são fracos, mas apenas menos conhecidos?
A rejeição de Dilma está aumentando quando ela já é100% conhecida. A aceitação dos outros candidatos vem paulatinamente aumentando e ainda há eleitores que não os conhecem. Eles podem, pelo menos, ter esperança.

O horário gratuito na TV muda alguma coisa neste cenário?
Sim. Ele ajuda os indecisos a se decidirem. E ainda há muitos indecisos. É possível inclusive computar uma parcela daqueles entrevistados que dizem que vão votar nulo ou em branco como indecisos. Na hora, votam em alguém porque o horário gratuito ajudou a esclarecer suas dúvidas. O sociólogo Paul Lazarsfeld, de origem austríaca, estudioso do fenômeno da comunicação de massa da primeira metade do século passado, criou o conceito de fluxo de comunicação em dois degraus. Na época, a mídia predominante era o rádio. Pela teoria, o rádio influenciaria primeiro os formadores de opinião, e os formadores de opinião influenciariam o público maior. Adaptando para os dias atuais, diria que as pessoas se informam inicialmente sobre as candidaturas no horário eleitoral gratuito. Ainda assim, como a maioria não se interessa por política e não acompanha política, essas pessoas vão procurar maiores esclarecimentos nos seus círculos de amizade, de trabalho, vizinhança ou na comunidade, entre os indivíduos que têm a reputação de entenderem de política. Esclarecendo essas dúvidas é que é formada a opinião do eleitor hoje em dia.

As alianças regionais interferem na decisão?
Elas são um fator importante. Este ano, mais uma vez, comprova-se a velha tese de que no Brasil apolítica é feita da periferia para o centro. A realidade local, regional sempre vai sobrepujar as intenções nacionais do partido. Temer (Michel, vice-presidente da República e presidente do PMDB) é aliado a Dilma, mas o PMDB fazendo todo tipo de aliança lá embaixo. O cientista político Ricardo Braga fez um artigo mostrando que este ano os anti-Dilma estão governando um maior número de eleitores do que a aliança pró-Dilma. No plano local, muita coisa interessante ocorre. Pernambuco é um exemplo. Em termos de popularidade, Dilma quase empata com Eduardo Campos. Intuitivamente se acharia que Eduardo levaria de lavada aquilo ali.

Muitos disseram que as manifestações demonstraram uma aversão à política, ao Parlamento. Existe um desgaste das classes políticas?
Existe. Apesar de a economia ser preponderante na decisão do eleitor, há também uma parcela do comportamento político das pessoas para o qual você vai encontrar explicação na dialética do senhor e do escravo, de Hegel (Georg W. Friedrich, filósofo alemão), uma metáfora da luta de cada um para ter sua dignidade reconhecida pelos demais. A teoria diz que entre os primeiros homens que surgiram na terra, aqueles que se deixaram subjugar pelos outros o fizeram pelo medo de morrer — ou seja, uma parte da humanidade se submeteu à outra por medo de morrer. Reduzido a viver para trabalhar, esse escravo, aos poucos, vai se aprimorando no que faz, até que a excelência adquirida na realização do trabalho lhe confere um novo sentido de honra, munido do qual passará a confrontar o seu senhor. Por isso, Hegel dizia que na dialética do senhor e do escravo, quem sai ganhando é o escravo. Óbvio que Marx tirou daí a conclusão de que o proletariado triunfaria um dia. A energia que levou às manifestações— as primeiras, não as dos Black Blocs — não foi apenas o aumento de centavos nas tarifas de ônibus, mas também o desejo de repudiar o descaso e a humilhação que recebem das autoridades que elegem. Claro que os protestos também tiveram uma nítida motivação econômica: afinal, nunca dantes na história do Brasil tantos trabalhadores formalmente empregados puderam ler nos seus contracheques quanto o governo e os políticos lhes subtraem e quão pouco lhes devolvem sob a forma de serviços públicos insuficientes e de péssima qualidade. A isso devemos juntar aquela imagem da escada que, de repente, ficou mais estreita, provocando a ira de quem havia apenas começado a galgá-la.

Trazendo mais para o presente, como o sr. analisa as colocações da Sininho (Elisa Quadros,presa nas manifestações do Rio sob a acusação de atos violentos)? É um novo anarquismo?
Este episódio da Sininho serve para mostrar o quão alienadas estão as nossas elites intelectuais em relação ao sentimento majoritário da população. Um exemplo bem atual é o seguinte: no Departamento de Sociologia da PUC do Rio de Janeiro, os únicos professores que se recusaram a assinar um manifesto pró-libertação da Sininho e seus asseclas foram Roberto DaMatta e Luiz Werneck Vianna. Além de serem grandes pensadores, grandes cientistas sociais, eles são cidadãos muito conscientes de seus deveres e sabem que Sininho e seus asseclas devem, sim, ser punidos pelos atos antissociais que cometeram ou que levaram os outros a cometer. A maior parte dos intelectuais das academias — infelizmente sou obrigado a ser colega dessa gente — tenta romantizar o crime, glamourizar a transgressão. E se quisermos mais uma vez retomar uma discussão clássica, poderíamos invocar a figura do Jean Jacques Rousseau, que glamourizou o bom selvagem. Infelizmente a maioria dos intelectuais hoje está nesta onda mental, por isso apoia Sininho.

Como vai ficar a nova configuração partidária nos estados e no Congresso?
Haverá uma renovação grande no Congresso. Antonio Augusto Queiroz, do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar), fez uma previsão apontando que na Câmara há 100 deputados que por diferentes razões não buscarão a reeleição. Alguns desistiram, outros sairão candidatos para outros cargos, outros se candidataram ao cargo de deputado estadual. Cerca de 20% da renovação na Câmara será obrigatória. Não sou capaz de prever com quanto de cadeiras cada partido vai ficar, mas eu posso, com uma razoável segurança, dizer que mais uma vez vai se repetir a tragédia que está na origem do nosso presidencialismo de coalizão. O nosso sistema eleitoral produz tanta fragmentação que nem mesmo o FHC no seu melhor momento,em 1994, nem Lula no seu mais glorioso período em 2002, conseguiram mais de 20% das cadeiras para o seu partido na Câmara. Isso obriga a fazer a coalizão. Enquanto no parlamentarismo clássico a maioria faz o governo, aqui no Brasil, após a eleição, o governo é obrigado a construir a sua maioria. Para isso usa os recursos habituais: distribuição de cargos, liberação de emendas para construção de obras nos municípios.Houve até recentemente quem quis usar dinheiro vivo e parece que não deu muito certo, algumas pessoas foram presas...

Há espaço para a reforma política?
Na minha avaliação mais otimista, a reforma política vai demorar a sair. Não há consenso e, no caso de consulta popular, as pessoas não saberão construir esta reforma. Além disso, aqueles que são eleitos e reeleitos dentro desse sistema viciado não têm estímulo nem incentivo para mudar, porque eles não sabem se serão reeleitos em um novo sistema.

Este ano mais uma vez teremos os candidatos não-políticos, como Tiririca. Como o sr. Vê isso?
Essas pessoas, no fundo, refletem o modo como a nossa sociedade vê a política, ou seja, uma palhaçada. Se falta seriedade, porque não colocar ali os palhaços profissionais?

Mas alguns deles tiveram uma boa avaliação como parlamentar, como o próprio Tiririca, não é?
Tiririca não deu vexame. A grande revelação do não político que se tornou político é o Romário. Influenciou muito a conjuntura esportiva, com a Copa do Mundo e a polêmica com a Fifa.

Eleitor espera governo que una crescimento a inclusão, diz professor

• Para Avritzer, desafio de candidatos ao Planalto é mostrar que podem melhorar economia sem colocar conquistas sociais em risco

Gabriel Manzano - O Estado de S. Paulo

O eleitorado brasileiro está passando aos candidatos à Presidência dois recados claros: ele quer crescimento, mas sem deixar de ampliar a inclusão social. "O candidato que convencer o eleitor de que consegue estabilizar a atual crise (econômica) numa via de maior inclusão e maior aumento do mercado de trabalho será provavelmente o que receberá maior apoio", avalia o cientista político Leonardo Avritzer, da Universidade Federal de Minas Gerais e presidente da Associação Brasileira de Cientistas Políticos (ABCP).

Sua avaliação constitui, na prática, um desafio para os três principais candidatos ao Planalto. Em resumo, a presidente Dilma Rousseff (PT) valorizou inclusão mas o País não cresceu. Aécio Neves (PSDB) promete mudanças na economia mas sua agenda para a inclusão ainda não é clara. Eduardo Campos (PSB) fala em conciliar as duas metades mas ainda não "vendeu" a mensagem.

Esse cenário eleitoral, o impacto da economia nas urnas e a agenda social estão no centro das discussões do 9.º Congresso Nacional de Cientistas Políticas, promovido de hoje até quinta-feira, em Brasília, pela associação presidida por Avritzer. O evento vai reunir 1.100 pessoas em mais de 800 palestras e mesas-redondas. Em conversa com o Estado, ele fez um cruzamento dos temas da campanha com os do encontro, que receberá estudiosos de Argentina, Chile e EUA, entre outros. A seguir, os principais trechos da entrevista.

A temperatura da campanha
"A temperatura está quente e assim ai se manter até o fim da disputa. Por um lado, o PT tem 12 anos no poder, e isso conta. Mas não estou convencido ainda de que a oposição tenha um programa muito claro para mudar. Aécio Neves (PSDB) tem um enorme desafio, que é conquistar o eleitorado paulista."

O debate econômico
"Na economia, vejo duas situações. Uma delas é a do emprego e da capacidade de consumo da população, que está relativamente estável. A outra é a performance da economia em si, que tem sido questionada pelo mercado financeiro e pelo grande empresariado. Nessa intercessão se dará boa parte da disputa. Minha impressão é que o eleitor quer crescimento de modo estável, mas dentro de uma via fortemente inclusiva. Quem convencer o eleitor de que consegue estabilizar a crise numa via de maior inclusão e aumento do mercado de trabalho, provavelmente receberá o maior apoio."

Alianças políticas
"A qualidade da representação é um problema crucial, mas o País não vai sair do presidencialismo de coalizão. Quem vencer vai ter de se compor - ou terá de fazer uma reforma política. Se a presidente Dilma se reeleger e contar com uma bancada maior do PT no Congresso, o custo dessa coalizão tende a ser menor. No caso de vitória de Aécio, o PSDB começa menor e terá de negociar mais."

Redes sociais
"Até 2010 as redes sociais influenciaram muito pouco. Mas a expansão dessas mídias no Brasil tem sido significativa. Acho que todos os candidatos são hoje vulneráveis ao que circula na rede e não poderão ignorá-la."

Os jovens e a campanha
"Nossas formas mais institucionalizadas não incorporam muito bem a população jovem. Temos pesquisas mostrando que a média de idade dos presentes nos orçamentos participativos é superior aos 40 anos. O mesmo se dá nas conferências nacionais, que envolvem mais de 6 milhões de participantes. Eram jovens, em sua maioria, os que em 2013 protestavam nas ruas. Não vejo nas campanhas os candidatos dizendo que eles terão seu lugar."

Impunidade
"A impunidade é um dos nossos maiores desafios. É a ideia de que, no Brasil, muita gente não paga por seus crimes. Queremos ver qual o peso que essa questão vai ter na campanha."

Acerto com o passado
"Nossa democracia obteve grandes avanços mas ainda não descobriu uma forma democrática, dentro das regras do jogo, de acertar contas com o passado. É outro tema essencial."

Fernando Gabeira: Domingo no absoluto

O Globo – Segundo Caderno, Domingo, 03 de agosto de 2014.

Vou falar dos black blocs. Não para atacá-los ou defendê-los, apesar de minha posição contra a violência.
Como hoje é domingo, pensei em outro caminho, chegar um pouco mais longe.

Os revolucionários do século passado eram chamados de nostálgicos do absoluto pelo escritor George Steiner.

Segundo ele, a sede do absoluto que marcava as religiões deslocou-se para a política. O céu foi substituído pelos amanhãs que cantam, pelo fim da exploração do homem pelo homem, por todas as utopias que os intelectuais pregavam.

Esse deslocamento da religião para a política foi observado pelos próprios marxistas, como Antonio Gramsci. O filósofo italiano questionava a frase constante entre os comunistas: perdemos uma batalha mas venceremos a guerra.

Gramsci chegou a arranhar esse tema ao ver um contrabando religioso na análise dos comunistas: como acreditar que chegaremos à vitória através de uma sucessão de derrotas? Esse tema não seria a transposição da ideia de alcançar os céus através do vale de lágrimas? Mas Gramsci não negava os céus, apenas questionava o roteiro.

Uma visão mais ampla do momento que alimentou utopias encontra-se em Isaiah Berlin, no livro “O sentido da realidade”. Ele aponta alguns marcos decisivos na história do pensamento. Um deles foi o surgimento do romantismo alemão, no fim do século XVIII. A partir dali, a essência do homem transferia-se da razão para outra fonte: a vontade. Foi um movimento que ofuscou o modelo do erudito, do homem que alcança a felicidade por meio da compreensão. Abriu-se o espaço para o herói trágico, que busca realizar a si próprio a qualquer custo, contra qualquer adversidade, não importam as consequências.

Pistas que os escritores do século passado nos deixaram já não iluminam todo o caminho. Houve grandes deslocamentos no princípio do século XXI. O terrorismo, por exemplo, mudou de caráter. Os terroristas do início do século XX adiaram o atentado à carruagem do arquiduque Franz Ferdinand porque havia crianças no veículo. O atentado contras as Torres Gêmeas, em Nova York, entre outros, mostrou que não se hesita mais diante da morte de crianças, sob o argumento de que o inimigo também bombardeia crianças.

A linha divisória entre movimentos de contestação é mais difícil de situar do que no terrorismo, que assumiu contornos de fanatismo religioso.

O traço mais nítido, hoje, é ausência de uma estratégia, de um lugar utópico para onde conduzir o mundo. Não há análises sociais, não há táticas, no sentido da escolha de setores a seduzir, neutralizar ou combater. Não há documentos nem um espaço de discussão conhecido.

Dizem alguns críticos de cinema que isto é a marca do pós-moderno. Alguns filmes de agora já não se preocupam com enredos e tramas, mas sim como uma sequência de ações. São apenas um amontoado de ações e ponto final.

Os black blocs soam para mim como um movimento pós-moderno. São apenas ações, não propõem um futuro, nem se dão ao luxo de explicar como e com quem chegarão a ele.

E as bandeiras vermelhas que tremulam ao seu lado, os deputados da esquerda da esquerda tradicional que pedem sua libertação? Não significam que, no fundo, são movidos pelas velhas utopias?

É possível estar perdido na mesma floresta por razões diferentes. A esquerda clássica apoia aquilo que espera, de alguma forma, controlar.

No estalinismo, a paixão pelo controle a levou à destruição do outro, como na Guerra Civil Espanhola, com a morte de tantos anarquistas.

Cem anos depois da I Guerra Mundial, vivemos em crise. No debate “Mutações: Fontes passionais da violência”, o amigo Adauto Novaes cita Paul Valéry, para quem o espírito seria aniquilado pela tecnologia. Era uma reflexão sobre a I Guerra.

Modestamente, acho que não foi apenas o espírito que sucumbiu à tecnologia, mas a cultura à diversão, a palavra à imagem, o enredo à ação irrefletida, as evidências às versões.

Por aqui, a paisagem depois da batalha, entre outras consequências, revela uma cena política desoladora, povoada por picaretas de gravata e mascarados incendiários.

Ainda bem que hoje é domingo e os domingos suavizam o peso do tempo sobre nossos ombros.

O poeta fabrica um elefante com pedaços de móveis, algodão, paina e doçura, para vê-lo arrebentado no final do dia. Podemos repetir como Drummond: amanhã, recomeçamos.

PS — Gosto de Caetano Veloso e mais do que isso: sou muito grato a ele. E não só por sua ajuda em campanhas difíceis, mas pelo fato de existir e compor maravilhosas canções que, entre outras coisas, me ajudaram a atravessar tantos anos de exílio. É uma honra substitui-lo e, ao mesmo tempo, uma perda: não posso mais ler sua coluna semanal.

José Roberto de Toledo: O campo da batalha

O Estado de S. Paulo

Haverá um lugar mais decisivo do que os outros na eleição presidencial? A pergunta parece idiota, já que cada Estado e cada região tem um peso eleitoral conhecido. Em 2010, o Sudeste deu 44% dos votos válidos para presidente, e o Nordeste, 26%. Mas a geografia do voto muda parcialmente de eleição para eleição. E avançar no terreno do adversário é sempre o menor atalho para vencer ou garantir o segundo turno.

Desde 2006 que o PT conquistou e mantém seu principal reduto eleitoral no Nordeste - graças às políticas assistenciais e ao crescimento acima da média da renda e da economia da região. Quando se elegeu em 2010, Dilma Rousseff obteve 55% dos votos totais dos nordestinos. Não é acaso, portanto, que ela apareça com os mesmos 55% no Nordeste na mais recente pesquisa Ibope. Se a presidente está dentro das expectativas, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) estão abaixo do que seus correligionários conseguiram no Nordeste quatro anos atrás. Mesmo sendo pernambucano, Eduardo tem 11% onde Marina Silva chegou a 14%. É uma diferença pequena, que pode desaparecer ao longo do horário eleitoral. O desafio é bem maior para Aécio.

O candidato do PSDB está com apenas 9% das intenções de voto no eleitorado nordestino. Na eleição passada, o tucano José Serra bateu em 19% dos votos totais na região. Para alcançar essa taxa, Aécio precisaria converter a maioria dos nordestinos que hoje estão indecisos (8%) e aqueles que dizem que vão votar branco ou anular (11%). É improvável, porque esses 11% já são iguais à taxa de votos nulos/brancos de 2010.

Aécio vai disputar com Eduardo os 8% de indecisos do Nordeste, mas mesmo que consiga ficar com metade deles, ainda estará longe da performance de Serra na região. Para equipará-la, resta avançar sobre os eleitores que declaram voto nos nanicos (7%) ou em Dilma. É mais difícil do que convencer indecisos. 

Por isso, a maior esperança de Aécio é o Sudeste. Além de ser a mais populosa, é a única região onde o tucano tem crescimento contínuo. Saiu de 18% em março para 28% em julho, sem recuar em nenhuma pesquisa Ibope. O mineiro já está bem perto dos 32% dos votos totais alcançados por Serra na região em 2010. Ao mesmo tempo, Dilma está devendo no Sudeste.

A presidente obteve 37% dos votos totais da região em 2010. Nesta campanha, seu teto ali tem sido mais baixo: obteve 32% no último Ibope, e seu melhor resultado desde março foi 34%. O problema de Dilma no Sudeste é a má avaliação do seu governo. Sua desaprovação chegou a 59% em julho; sua rejeição, a 42%. Tudo isso torna menos provável que ela seduza a maioria dos 27% de eleitores sem candidato que ainda existe no Sudeste.

Esse é um fenômeno atípico. Em 2010, apenas 8% dos eleitores do Sudeste anularam ou votaram em branco para presidente. Este ano, mais do que o dobro (19%) declara intenção de fazê-lo. Se não tivessem havido os protestos em massa, a tendência seria essa taxa cair ao longo da campanha e se aproximar das médias históricas. Caberá aos candidatos da oposição convencer esses eleitores de que são melhor opção do que o nada.

Caso contrário, Dilma ganha mesmo sem crescer na região. Como para efeito eleitoral só contam os votos dados a candidatos, os 32% da petista equivalem, hoje, a 44% dos votos válidos. É mais do que os 41% que ela conseguiu em 2010. Isso aumentaria suas chances de eleger-se no primeiro turno.

Por isso, há um campo onde a batalha presidencial será ainda mais renhida do que nos demais: a disputa pelos eleitores indecisos e insatisfeitos do Sudeste. Mas ela varia de Estado para Estado. A batalha será mais intensa onde é maior o eleitorado sem candidato: 35% no Rio de Janeiro e 31% em São Paulo, contra "apenas" 20% em Minas Gerais.

Em números absolutos, os 31% de paulistas representam cerca de 4,5 milhões de eleitores a mais do que os 35% de fluminenses. Nunca São Paulo pesou tanto numa eleição para presidente.

Ricardo Noblat: Retratos do autoritarismo

- O Globo

"É uma leizinha para pegar esse ou aquele."
Arruda, candidato ao governo de Brasília, debochando da lei da Ficha Limpa.

O que tem a ver o caso da analista do banco Santander demitida na semana passada por exercer direito o seu ofício com o caso do correspondente do "The New York Times" ameaçado de expulsão do Brasil em maio de 2004? Os dois aconteceram no começo e no que poderá ser o fim do período de 12 anos de governos do PT . Foram protagonizados por Lula. E são casos exemplares da prepotência dele e de sua turma.

DE VOLTA AO FUTURO... Na época, pensei: o cara pirou. Só pode ser . Ou está de porre. Compreensível que tenha se sentido ofendido pela reportagem do "The New York Times" sobre seu gosto por bebidas alcoólicas. Mas daí a determinar a expulsão do país de Larry Rother , correspondente do jornal mais importante do mundo? Sinto muito, era um flagrante exagero. Uma escandalosa arbitrariedade.

FOI ISSO O que Lula ouviu dos poucos assessores com coragem para confrontá-lo. Um deles, durante re união no Palácio do Planalto, sacara de um exemplar da Constituição e apontara o artigo que garantia ao jornalista o direito de permanecer no Brasil. Então Lula cometeu a frase que postei em meu blog às 15h16m do dia 12 de maio de 2004, poucas horas depois de ela ter sido pronunciada.

ELE DISSE: "Fod.... a Constituição ". Foi mais ou menos isso que você leu. Um ministro que ouvira a frase reproduziu-a para um assessor . E o assessor , que trabalhara comigo durante vários anos, me telefonou contando. Esperei durante o resto do dia o desmentido que não veio. Ainda espero. Prevaleceu a opinião sensata de Márcio Thomaz Bastos, ministro da Justiça, que desaconselhou a expulsão por ser ilegal.

IMPEDIDO DE consumar sua vontade , Lula tentou tirar proveito político do episódio se comportando como vítima. A Presidência da República fora atacada por um irresponsável jornalista estrangeiro. Mas, generoso e obediente à lei, o presidente desculpara o malfeitor , depois que ele divulgou uma nota dizendo que não tivera a intenção de ofendê-lo. Quanto ao jornal... Recusou-se a desmentir o que publicara.

A CORAGEM QUE sobrou à direção do jornal faltou à direção do Santander . Em discurso para sindicalistas em São Paulo, Lula cobrou do banco a demissão imediata da analista, autora do boletim enviado para clientes de alta renda relacionando a queda de Dilma nas pesquisas de intenção de voto com a eventual melhoria do câmbio e valorização de ações de grandes companhias. E a cabeça da analista foi oferecida a Lula.

UM ATO DE subserviência. Que nem de longe parece ter envergonhado Emílio Botín, presidente mundial do Santander , amigo de Lula e admirador declarado de Dilma. "O que aconteceu é proibido, pois não se pode fazer manifestações que interfiram na decisão de voto ", cobrou Rui Falcão, presidente do PT . Botín aquiesceu: "O boletim não representa a posição do banco ". E se o boletim tivesse afirmado o contrário?

SE TIVESSE dito que a Bolsa de Valores subiria com o crescimento de Dilma nas pesquisas? Lula pediria a demissão do seu autor? Falcão recriminaria o banco por favorecer o voto em Dilma? Lula e o PT aproveitaram a ocasião para fazer Dilma de coitadinha! De maltratada pelos poderosos. Perseguida como o fora durante a Copa do Mundo por uma elite preconceituosa que não respeita nem mesmo uma mulher .

ESSE TIPO DE jogada falsamente esperta, que aposta na ignorância coletiva, se repetirá à exaustão até que o país conheça em outubro seu futuro presidente . Fiquem atentos para desmoralizá-la de saída

Valdo Cruz: Ato de contrição

- Folha de S. Paulo

A promessa foi feita em conversas, diríamos, prospectivas para convencer alguns donos do PIB a bancar a conta da eleição. Nada diferente do tradicional. Só que, até agora, nenhum sinal, nem de fumaça, foi visto saindo do Planalto.

Em busca da confiança perdida, interlocutores muito próximos da presidente Dilma prometeram por aí que ela faria uma autocrítica. Admitiria erros e sinalizaria mudanças num eventual segundo mandato.

Diante da falta de gestos presidenciais, duas leituras são possíveis. Os interlocutores da petista podem ter vendido terreno na lua ou ela ainda reflete se e quando faria tal ato de contrição público.

O fato é que a turma que prometeu segue defendendo que tal sinalização seja feita ainda na campanha. E jura ter tratado do tema com a própria. Admite, contudo, não ter havido definição final sobre o assunto.

A resistência presidencial em reconhecer erros tem, porém, defensores dentro do governo. Esse grupo tacha de "loucura" e "obra de inimigos" falar de autocrítica em época de campanha eleitoral --a dúvida é se somente em tempos de eleição.

Enquanto isso, a presidente prefere culpar a crise internacional e o pessimismo reinante pelo fraco crescimento econômico. É o mesmo que tirar o corpo fora da dividida e dizer que a cara amarrada dos empresários travou o país.

Até parece que, para Dilma, dá para pôr fim no pessimismo por decreto. É como se o empresário acordasse de mau humor, lesse os jornais de manhã e chegasse ao escritório decidido a parar investimentos --nada a ver com intervenções e equívocos do governo. Socorro.

Só que, a contragosto, o mundo real pode forçar uma autocrítica da petista. Aqui, a economia esfria cada vez mais perto do período eleitoral. Já lá fora ela começa a aquecer.

Tudo isso, porém, não vai interferir na generosidade de doadores de campanha. Ninguém quer desagradar uma possível futura presidente.

Renato Janine Ribeiro: A reeleição, bens e males

• Reeleição atrasa surgimento de novos líderes

- Valor Econômico

Duas grandes emendas constitucionais da década de 1990 mudaram nossa política: a coincidência da eleição do presidente com a do Congresso, e a reeleição para os cargos executivos. Falei da coincidência de mandatos na última coluna; hoje trato da reeleição que, por sinal, os candidatos de oposição querem abolir. Opus-me a ela quando foi proposta, em 1997. A primeira razão é que ela ia contra uma forte tradição latino-americana, que a proibia a fim de limitar o personalismo e o caudilhismo. A segunda era que uma mudança tão grande em nossa cultura política, a meu ver, deveria exigir que o povo fosse ouvido, por exemplo, em plebiscito. E em terceiro lugar, considerei incorreto beneficiar quem já estava no cargo de presidente ou governador. Mas hoje ela já foi testada em quatro eleições consecutivas e está indo para a quinta. Dá para discutir se é boa ou má.

Começo pelo que me parece ser seu principal defeito (adiante, direi de suas qualidades). Não, não é que quem está no poder o manipule para se perpetuar. Tivemos exemplos, em São Paulo-Estado, de Quércia fazendo de tudo para eleger como sucessor um desconhecido, e em São Paulo-Cidade, de Maluf fazendo o mesmo com outra pessoa que poucos sabiam quem era. Então, não me parece haver maiores diferenças entre usar a máquina para se reeleger - ou para eleger uma criatura desconhecida. O problema é usar a máquina, não é para quem ela é usada.

O maior defeito da reeleição é: ela cria um abismo dentro do partido. Quem se reelege deixa de ser um primeiro entre iguais. Torna-se um primeiro, muito acima dos outros. Imaginemos que a reeleição não tivesse sido aprovada, em 1997. No ano seguinte, o PSDB teria eleito o sucessor de Fernando Henrique Cardoso, o qual teria sido ou José Serra ou Tasso Jereissati. FHC seria hoje o primeiro dos presidentes tucanos, isto é, um entre dois, talvez três, não a figura mítica do único presidente que seu partido deu, até hoje, ao Brasil. E em 2006, na sucessão de Lula, o PT disporia de poucos candidatos, depois da razia do mensalão - mas digamos que Tarso Genro ou outro nome se elegesse. Em quatro anos, Lula não teria construído a mística em torno de si que o fez deixar o cargo não só como o presidente mais bem avaliado da história do Brasil democrático, mas como um líder insuperável, pelo menos no seu partido. Também no PT, a distância entre um líder e outro seria menor do que hoje é.

Nos Estados, a coisa varia. Em São Paulo, há anos que se alternam no governo Serra e Alckmin; mas é quase certo que, sem reeleição, o PSDB tivesse guindado mais um outro nome tucano ao Palácio dos Bandeirantes. Em Minas Gerais, Aécio Neves não teria cumprido dois mandatos sucessivos, nem Eduardo Campos em Pernambuco, nem Sergio Cabral no Rio. Em suma, teríamos maior diversidade de líderes. Ora, esses dirigentes políticos que se destacam muito acabam controlando a máquina partidária - nacional, estadual ou local - e dificultando mudanças de linha dentro do próprio partido; e além disso passam a ter um apelo popular bem maior que seus colegas. (Dos nomes mencionados, parece-me que FHC foi o único a não controlar a máquina partidária depois de deixar o cargo, talvez apenas por não o desejar).

Renova-se menos a liderança. Ocorre uma escassez de líderes. Isso é preocupante. Voltando a São Paulo, hoje é difícil imaginar quem sucederá a Alckmin, no Estado - falo de 2018, supondo sua reeleição este ano. Alguém precisaria crescer e se destacar, mas quem? Como? Terá que se tornar conhecido em dois ou três anos. A rigor, são muitas as opções, o que quer dizer: nenhuma até agora despontou. Talvez o futuro líder seja mais manufaturado do que resultado de méritos autênticos, de uma efetiva preferência das bases partidárias ou de uma mensagem que tenha para a sociedade. Da mesma forma, para 2018 - o ano que hoje me parece ser o da próxima eleição realmente importante para a Presidência - não se antevê nenhum nome além dos quatro hoje em cena (incluo Marina Silva, além de Dilma Rousseff, Aécio e Eduardo).

Mas a reeleição tem seus aspectos positivos. Antes de mais nada, tira-nos da hipocrisia que é acreditar que a máquina não esteja sendo usada quando se cria um candidato a partir do nada. Claro que é utilizada, sim. E a razão principal: a reeleição dá continuidade a uma ação de governo, se estiver sendo bem sucedida, mas a interrompe, se tiver perdido o apoio popular, que é o grande metro numa democracia. Num primeiro mandato se consome muito tempo acertando-se os ponteiros, preenchendo-se cargos, definindo-se políticas. Se o governante continua mais quatro anos, o segundo mandato é - ou deve ser - mais tranquilo. Em outras palavras, o segundo mandato pode até cansar todo mundo, governante eleito, cargos de confiança e povo, mas corre mais solto.

O segundo mandato também é hora de saber se a proposta se completou e/ou se esgotou, ou continua valendo. No Brasil, o segundo mandato de FHC foi mais turbulento e provavelmente menos bom do que o primeiro, enquanto com Lula foi o contrário. Certamente isso contribuiu para FHC não fazer seu sucessor, ao passo que Lula o fez. Mas isso não quer dizer que os últimos quatro anos do presidente tucano tenham sido maus. Significa provavelmente que ele completou o que tinha a fazer. Teria sido tão bom sem ele? Penso que não. Do ponto de vista do interessado - nós, o povo - ter dois presidentes sucessivos dessa qualidade foi um luxo. Sem a reeleição, esses 16 anos teriam sido menos bons.

O que, afinal de contas, vale mais, as vantagens ou os problemas da reeleição?

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.