sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Opinião do dia – Merval Pereira

Quando a presidente Dilma disse que para vencer uma eleição "faz-se o diabo", estava antecipando a falta de limites éticos que sua campanha vem demonstrando.

Merval Pereira, jornalista, na sua coluna. Abaixo de cintura. O Globo, 17 de outubro de 2014

Aécio e Dilma trocam acusações pessoais e envolvem familiares em 2º debate na TV

• Tucano reage a denúncia sobre nepotismo dizendo que irmão da presidente foi funcionário fantasma em prefeitura de aliado; petista menciona que rival se recusou a fazer teste do bafômetro em blitz

Carla Araújo, Elizabeth Lopes, Pedro Venceslau, Ricardo Galhardo e Iuri Pitta - O Estado de S. Paulo

No segundo debate do 2.º turno, realizado no começo da noite desta quinta-feira, 16, por SBT, UOL e Jovem Pan, Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) novamente gastaram mais tempo com ataques do que com propostas. A diferença é que acusações de que o outro estava “mentindo”, casos envolvendo familiares e temas pessoais vieram com mais intensidade que dois dias antes, na Band.

Dilma defendeu-se logo na primeira pergunta de Aécio sobre irregularidades na Petrobrás para financiar o PT citando escândalos envolvendo tucanos. Na última pergunta do primeiro bloco, a petista voltou a questionar o adversário sobre a contratação de parentes quando era governador de Minas e sobre o gasto com publicidade destinado a três emissoras de rádio e um jornal pertencentes à família dele.

Aécio alegou que sua irmã, Andrea Neves, atuou no órgão de voluntariado do governo e não era remunerada. Em seguida, veio o troco: o tucano acusou o irmão de Dilma, Igor Rousseff, de ter sido funcionário fantasma na prefeitura de Belo Horizonte de 2003 a 2006, na gestão Fernando Pimentel (PT), amigo pessoal de Dilma e, na época, aliado político de Aécio.

“Eu não queria chegar a este ponto. Igor Rousseff, seu irmão, foi nomeado pelo prefeito Fernando Pimentel e nunca apareceu para trabalhar. A minha irmã trabalha muito e não recebe nada. O seu irmão recebe e não trabalha. A senhora diz que não nomeia parentes, mas a senhora pede para seus aliados nomearem”, afirmou o tucano.

“A sua irmã e meu irmão não podem estar no mesmo governo que nós estamos. Ou seja, dentro do governo federal e no governo de Minas não pode haver parentes. Isso é nepotismo”, respondeu Dilma. Pimentel, que foi eleito governador de Minas, divulgou após o debate vídeo dizendo que Aécio deu uma “informação de forma leviana e distorcida” e que o advogado Igor Rousseff trabalhou com “regularidade e eficiência” em seu gabinete.

Corrupção. Veio o primeiro intervalo, e os assessores levaram mais munição aos candidatos. Dilma abriu o bloco citando notícia divulgada momentos antes de que o ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa disse ter dado dinheiro para pagamento de propina ao ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra. O objetivo era esvaziar uma CPI criada em 2009 pelo Senado para apurar irregularidades na estatal. Guerra, que integrava essa comissão, morreu em março.

Aécio disse defender a apuração de irregularidades contra qualquer pessoa, ao contrário do PT.

“Pela primeira vez você dá importância às denúncias da Petrobrás. Porém, parte do dinheiro ia para o tesoureiro do seu partido e ele não foi afastado”, afirmou. “Se a senhora não tem receio em ir a fundo, por que seu partido e aliados impediram o (João) Vaccari de ir dar explicações na CPI? Ele é o tesoureiro do seu partido e responsável pela verba de sua campanha. Todos os investigados devem ser punidos.”

Na réplica, Dilma acusou o adversário de ter “dois pesos e duas medidas”. “O senhor gosta muito de culpar a todos. Quando chega no ex-presidente do seu partido o senhor diz que tem de investigar o PT. Temos que investigar todos.”

Violência. Na sequência, Aécio e Dilma chegaram a travar debate sobre violência e propostas para a segurança pública. Também abordaram questões de mobilidade urbana e programas sociais, mas os projetos e as realizações se perdiam em meio às acusações de que um falava “inverdades” e o outro, “mentiras”.

Pelo sorteio, Dilma foi escolhida para abrir o último bloco e usou dados de mortes no trânsito para questionar se Aécio acha que “todo cidadão deve se dispor a fazer exame” no bafômetro.

“Tenha coragem de fazer a pergunta direta”, rebateu Aécio. “Eu tive um episódio sim, em que me recusei a fazer o teste do bafômetro. Minha carteira estava vencida. Eu me arrependi, diferente da senhora, que não se arrepende de nada.”

A petista acusou o tucano de “diminuir” a Lei Seca. “Todos os dias, pessoas morrem por conta de um motorista que dirigia embriagado. Não é porque o senhor passou por uma experiência própria que pergunto isso, mas porque acredito que ninguém pode dirigir sob efeito do álcool ou drogado. Por isso a Lei Seca é de importância para o debate político.”

Aécio reage a ataques e Dilma passa mal no fim

• Aécio acusa irmão de Dilma de ser fantasma em prefeitura; presidente cita recusa a bafômetro

Julianna Granjeia, Renato Onofre e Tiago Dantas

Vale tudo

SÃO PAULO - Em um debate mais acirrado do que os anteriores, o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, partiu para a ofensiva contra a presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição. Em estratégia calculada para tentar tirar votos da petista em Minas Gerais, o tucano, em reação às acusações de nepotismo feitas por Dilma, afirmou que o irmão da presidente foi funcionário fantasma na prefeitura de Belo Horizonte na gestão do petista Fernando Pimentel. Dilma também subiu o tom ao falar sobre a Lei Seca, num discurso ensaiado para questionar Aécio sobre a obrigatoriedade do teste do bafômetro, recusado por ele ao ser parado em uma blitz no Rio de Janeiro, em 2011.

Outra questão que acirrou os ânimos foi a inclusão, no debate, do nome do ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra, morto em março deste ano. Minutos antes do confronto promovido por SBT, portal UOL e Rádio Jovem Pan, uma denúncia envolvendo Guerra tomou conta do noticiário. O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa afirmou em depoimentos da delação premiada que Guerra recebeu propina para esvaziar uma Comissão Parlamentar de Inquérito que investigava a estatal, em 2009.

Nesse instante, Dilma disse que as denúncias de corrupção em gestões tucanas não são investigadas e Aécio voltou à artilharia afirmando que Dilma prevaricou pois não fez nada em relação às fraudes na estatal mesmo diante de denúncias e provas.

Logo depois de Dilma retomar a estratégia do primeiro debate, acusando Aécio de nepotismo pela nomeação da irmã quando era governador de Minas, o tucano foi para o contra-ataque.

- Candidata, a senhora conhece o senhor Igor Rousseff? Seu irmão, candidata. Não queria chegar nesse ponto. O seu irmão foi nomeado pelo prefeito Fernando Pimentel no dia 20 de setembro de 2003 e nunca apareceu para trabalhar. Essa é a grande verdade. Lamento ter que trazer esse tema aqui. A diferença entre nós é que minha irmã trabalha muito e não recebe nada. Seu irmão recebe e não trabalha nada. Infelizmente, agora, nós sabemos porque a senhora diz que não nomeou parentes no seu governo. A senhora pediu que seus aliados o fizessem.

Dilma retrucou.
- A sua irmã e meu irmão, eles têm que ser regidos pela mesma lei. Eles não podem estar no governo que nós estamos. O nepotismo eu não criei - retrucou Dilma

Pimentel usou as redes sociais para defender o irmão de Dilma. "Igor Rousseff foi assessor especial na minha gestão em BH. Ele é advogado e trabalhou com regularidade e eficiência na prefeitura e na procuradoria do município", disse Pimentel pelo Twitter.

Ao levantar o tema sobre a Lei Seca, Dilma perguntou se Aécio considerava que "todo cidadão que for solicitado deveria fazer exame de álcool e drogas". Em 17 de abril de 2011, o tucano foi parado em uma blitz da Lei Seca no Leblon, Zona Sul do Rio. Ele se recusou a fazer o teste do bafômetro e teve apreendida a carteira de habilitação, que estava vencida.

- Tenha coragem de fazer a pergunta direta - respondeu Aécio. - É claro que essa iniciativa (Lei Seca) é extraordinária. Mas essa iniciativa não é sua. Tive um episódio e reconheci. Minha carteira estava vencida e inadvertidamente não parei. Me arrependi e pedi desculpas por esse episódio. Insinuar uma coisa dessas não é digno de uma presidente da República.

O candidato do PSDB disse então que o PT estava fazendo "a mais baixa das campanhas" e sugeriu que Dilma falasse sobre Saúde, Segurança e sobre a nomeação do tesoureiro do PT na Hidrelétrica de Itaipu. Na réplica, a presidente voltou a pedir um posicionamento de Aécio sobre a Lei Seca:

- Acho muito importante a Lei Seca para o Brasil, e o senhor está tentando diminuí-la. Todo dia tem gente morrendo quando o motorista dirige embriagado. Ninguém pode ficar sem sofrer as consequências de dirigir drogado ou bêbado. Eu não dirijo sob efeito de álcool e drogas, candidato.

O tucano repetiu a estratégia que adotou desde o início da campanha eleitoral de tentar responsabilizar Dilma pelos escândalos de corrupção na Petrobras. Na primeira pergunta do confronto, Aécio trouxe o assunto para o centro da discussão. Dilma não respondeu. No segundo bloco, após orientação de assessores, a petista usou como arma a questão de Sérgio Guerra. Aécio disse que há uma diferença entre os dois candidatos porque ele defende que todos devem ser investigados.

- Não importa de qual partido, tem que se investigar a todos, doa a quem doer. Tem algo positivo aí: a senhora, pela primeira vez, deu credibilidade à denúncia do Paulo Roberto. É esse que diz que 2% da propina ia para o seu partido, para o tesoureiro do seu partido. E o que a senhora fez nesse período? Nada. Agora, se a senhora diz que quer ir a fundo, por que o seu partido impediu que o senhor (João) Vaccari fosse depor, que fosse explicar? E digo mais, ele ainda é tesoureiro do seu partido. Pelo menos R$ 4 milhões foram transferidos pelo senhor Vaccari para a sua conta de campanha. Acho que os brasileiros têm que saber, antes das eleições, de onde veio esse dinheiro - disse Aécio.

O Aeroporto de Cláudio, construído quando Aécio era governador de Minas em um terreno que pertencia a um tio do tucano, também voltou à tona no debate de ontem quando Dilma disse que a atitude era "errada" e "feia":

- É errado, sim, pegar um aeroporto feito com dinheiro público e colocar na fazenda de um tio. É errado, candidato. Não se faz isso. É feio - disse Dilma.

Aécio respondeu que o terreno foi desapropriado dentro da lei e que não houve irregularidades na obra.

- É muito triste ver presidente mentindo. Foi construído em área desapropriada para beneficiar região que está crescendo - afirmou Aécio.

O candidato tucano ainda ironizou o fato de Dilma fazer uma série de perguntas relacionadas ao período em que ele foi governador de Minas Gerais:

- Quem ligar a TV agora vai achar que a senhora quer disputar o governo de Minas. A não ser que a senhora esteja desempregada a partir de 1º de janeiro. Todas as minhas obras tiveram aprovação, ao contrário das suas, com sobrepreço todo o tempo.

Ainda quando o assunto girava em torno do escândalo da Petrobras, Dilma acusou o tucano de baixar o nível do debate.

- Antes de elevar o nível do debate, já que você o abaixou, e aponta que o PSDB só aponta para um partido ao invés de investigar a todos. Não é possível que você se esconda atrás do fato de que se investigue o que não envolve seu partido.

Nos bastidores, o clima também foi de rivalidade. O presidente do PT, Rui Falcão, mostrou o panfleto que o partido vai usar contra Aécio a partir de hoje. Nele, os petistas atacam a falta de água em São Paulo.

Aécio, antes de deixar a emissora, recebeu um telefonema de Marina Silva, parabenizando-o por sua performance no debate. Antes do confronto, marcado pelos ataques, Dilma e Aécio se mostraram preocupados com mínimos detalhes que poderiam afetar suas performances. A presidente reclamou da cadeira que estava reservada para ela e perguntou ao mediador do debate, Carlos Nascimento, como os dois apareceriam na TV. Já o senador quis saber onde estavam o cronômetro e a água.

Ricardo Noblat - Dilma foi nocauteada

- O Globo

Aécio deixou de ser tucano. Na versão política, tucano é uma ave que, apesar do bico grande, bica com delicadeza. É capaz de perder a vida para não perder a elegância. Quem imaginou que Aécio, ontem, no debate do SBT, ofereceria a outra face para apanhar, enganou-se.

Marqueteiros dizem que o eleitor detesta ataques. Lorota. Detesta baixarias. Se alguém se rendeu à baixaria foi Dilma quando perguntou a Aécio o que ele achava da lei que pune motoristas que dirijam bêbados ou drogados.

Uma vez, no Rio, Aécio foi surpreendido por uma blitz da Lei Seca. E se recusou a fazer o teste do bafômetro.

Se Dilma sabe que ele estava bêbado ou drogado deveria ter dito. É uma grave acusação que não pode apenas ser insinuada. Leviandade. No debate da Band, na última terça-feira, Dilma impôs a Aécio sua agenda de discussão. Aécio não soube assimilar os golpes. Foi derrotado.

No debate do SBT, Aécio impôs sua agenda. E rebateu os ataques de Dilma com calma, lógica e argumentos bem pensados. Dilma voltou a perguntar pelos parentes que Aécio empregou no governo de Minas. Aécio respondeu sobre apenas um deles - sua irmã, Andrea, que trabalhou no governo sem nada ganhar.

Em seguida, perguntou a Dilma pelo irmão dela, "que ganha sem trabalhar" na prefeitura de Belo Horizonte. Dilma acusou o golpe.

Aécio carimbou na testa de Dilma que ela não conhece direito Minas. Dilma passou recibo da acusação.

O debate acabou com Dilma nocauteada. Não é força de expressão. Desorientada, como se não soubesse direito onde estava e o que lhe aconteceu, Dilma perdeu a voz ao responder à pergunta de uma repórter do SBT. Esqueceu que estava ao vivo. E, aparentemente grogue, pediu para recomeçar.

Não conseguiu. Alegou que estava passando mal. Foi socorrida com um copo de água. Quis voltar à responder. Como seu tempo acabara, se irritou com a repórter. Desfecho perfeito para uma luta que ela perdeu.

Sem limites para a desconstrução

• Candidatos se preocuparam muito mais em desconstruir adversário do que em discutir programas de seus eventuais governos

Marcelo de Moraes - O Estado de S. Paulo

A eleição mais acirrada do País desde sua redemocratização acabou produzindo um inesperado efeito colateral. Os debates entre a presidente Dilma Rousseff e o senador Aécio Neves exibiram os dois candidatos se preocuparam muito mais em desconstruir o adversário do que em discutir programas de seus eventuais governos. Nesta quinta-feira, 16, no debate realizado pelo SBT, o nível da troca de ataques parece ter chegado ao seu grau mais elevado, com traulitadas violentas de ambas as partes, envolvendo família, álcool e corrupção, entre outros temas.

Ao adotarem a saraivada de críticas como estratégia, os candidatos sinalizam uma prioridade que inverte a lógica tradicional da política. Em vez de buscarem o interesse dos eleitores com suas propostas, a tática privilegia apontar o dedo para os defeitos dos oponentes.

O risco dessa estratégia é claro: aumentar a rejeição dos candidatos e indicar o caminho do voto nulo ou da abstenção para o eleitor. Afinal, ao ouvir tantos ataques mútuos, o cidadão sempre pode considerar que ambos têm razão nas críticas e se desapontar mais ainda com a política.

Até agora, as pesquisas de intenção de voto apontam para o empate técnico entre os dois candidatos, com Aécio levando pequena vantagem numérica. A segunda rodada de pesquisas do 2.º turno, divulgada na quarta-feira por Ibope e Datafolha, registrou a manutenção desse quadro, mas já indicou um ligeiro aumento de votos brancos e nulos e no número de indecisos.

Se os dois debates restantes forem novamente marcados pela tática da desconstrução de candidaturas sem limites, a taxa de rejeição poderá se tornar um fator muito mais importante para a eleição do que as propostas para saúde, educação, segurança ou outras áreas prioritárias para o País.

PT manterá estratégia de ataque

• Dilma avalia que ofensiva deu certo; Aécio promete reagir

Fernanda Krakovics – O Globo

BRASÍLIA - Com a proximidade das eleições e o empate técnico entre os dois candidatos, as campanhas de Dilma Rousseff (PT) e Aécio neves (PSDB) vão manter a artilharia pesada exibida nos dois últimos debates. Dilma elevou o tom dos ataques ao candidato do PSDB, partindo para a esfera privada, e Aécio rebateu com veemência, acusando a petista de praticar nepotismo cruzado.

A linha usada por Dilma ao se referir ao episódio em que Aécio se negou a fazer o teste do bafômetro em blitz no Rio em abril de 2011 deve ser mantida, porque a avaliação é que a ofensiva surtiu efeito ao conter o crescimento do tucano. Aécio por sua vez, promete não deixar acusação sem contra-ataque, e reagiu à acusação de nepotismo afirmando que o irmão da presidente foi funcionário fantasma da prefeitura petista de Belo Horizonte.

Ataques anulariam apoios
Integrantes da campanha de Dilma consideram que os ataques a Aécio conseguiram anular o efeito do apoio de Marina Silva (PSB) e de Renata Campos, viúva do ex-candidato do PSB Eduardo Campos, e ainda o desgaste gerado pelo escândalo de corrupção na Petrobras. Isso porque a distância de dois pontos percentuais entre Aécio e Dilma se manteve inalterada na última semana. O comitê central de Dilma acreditava ontem que a onda Aécio já havia atingido seu pico. Outros dados que estimulam a campanha à reeleição a se manter nesse caminho é o aumento da rejeição a Aécio, que, segundo o Datafolha, passou de 34% para 38% em uma semana.

A linha de ataque ao tucano é aprovada pelos petistas em geral. A campanha, no entanto, age em dois níveis diferentes. Na propaganda de TV, o foco é a tentativa de desconstrução da imagem de bom gestor de Aécio, enquanto os ataques pessoais têm ficado nas redes sociais, entrevistas e debates.

O uso do episódio da blitz da Lei Seca começou a ser explorado na noite de anteontem, pelo ex-presidente Lula. Em comício no Pará, ele provocou o tucano em discurso. Ontem à tarde, o tema apareceu com destaque no site oficial da campanha de Dilma. Sob o título "Faça o que eu digo, não faça o que eu faço", a página da campanha exibiu, primeiro, uma matéria de junho de 2009 na qual Aécio, então governador de Minas, participa de uma campanha educativa sobre o perigo de dirigir depois de consumir bebida alcoólica. Na sequência, a notícia de Aécio parado na blitz. À noite, então, Dilma provocou o tucano no debate do SBT.

Sem limites, com respostas
O comando da campanha do candidato do PSDB tem certeza de que a campanha de Dilma não terá limites para tentar atingir o tucano no campo pessoal e tentar virar a desvantagem numérica nas pesquisas. Mas já prepara munição para reagir se os ataques pessoais continuarem.

- Esse pessoal não tem nenhum limite em matéria de delinquência política e destruição de reputação alheia. Lula e Dilma se desqualificam para exercer o poder, para pacificar o Brasil e retornar a política ao nível da civilidade. Diante de tamanha sordidez uma pessoa correta fica sem palavras. Mas o Aécio saberá responder no tom certo - respondeu o vice do tucano, Aloysio Nunes Ferreira.

Um dos trunfos da campanha de Aécio, a ser usado se Dilma e sua campanha continuarem com os ataques pessoais, é a divulgação de casos análogos envolvendo a presidente da República. Ontem, Aécio citou a nomeação do irmão dela, Igor Rousseff, para um cargo na prefeitura de Belo Horizonte durante a gestão de Fernando Pimentel (PT), para rebater a acusação de que empregava parentes no governo do estado. A ideia é manter a linha sempre que for atacado.

Restrição no Ipea faz diretor se demitir

• Herton Araújo colocou cargo à disposição do órgão por discordar do veto à publicação de estudos durante a eleição

João Villaverde e Rafael Moraes Moura - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Uma decisão inédita tomada pela direção do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), de proibir a publicação de estudos realizados pelos pesquisadores envolvendo dados públicos divulgados entre julho e o fim das eleições presidenciais, gerou uma crise interna. O diretor de estudos e políticas sociais, Herton Araújo, colocou seu cargo à disposição por discordar da decisão da cúpula do instituto.

Disposto a publicar um estudo técnico com dados sobre miséria social no Brasil a partir da mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada há três semanas, Araújo trouxe o assunto à reunião da diretoria colegiada do Ipea, realizada no dia 9 deste mês. A decisão do Ipea, porém, foi mantida: estudos somente serão divulgados a partir do dia 27 de outubro, após o 2.º turno.

“A decisão baseou-se no entendimento de que uma instituição de pesquisa de Estado não deveria, neste período, suscitar acusações de favorecimento a um ou outro candidato”, afirmou o Ipea, em nota.

Segundo o órgão, vinculado à Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), comandada por Marcelo Neri, “por discordar desta interpretação da lei eleitoral, o Sr. Araújo colocou o cargo à disposição”. Procurado nesta quinta-feira, 16, Herton Araújo não respondeu às ligações.

A crise interna no Ipea vem após diversos ruídos de comunicação envolvendo a área social do governo Dilma Rousseff. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou uma versão com erros da Pnad e somente corrigiu os dados 24 horas depois. O constrangimento decorrente do erro quase rendeu a demissão da presidente do IBGE, Wasmália Bivar, como informou o Estado à época. O próprio Ipea foi envolvido em episódio semelhante, no primeiro semestre, quando divulgou uma pesquisa com erros.

No mês passado, o Ministério da Educação foi acusado de retardar a divulgação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) por causa do período eleitoral.

Governo ajuda viagem de Lula ao Acre para ato de campanha

• Voos estavam proibidos de operar entre 8h e meia-noite por causa de obras no aeroporto de Rio Branco

• Medida de órgão do governo federal facilitou a viagem de petista para evento de campanha eleitoral

Eduardo Scolese e Fábio Pontes – Folha de S. Paulo

RIO BRANCO (AC) - Uma autorização dada em cima da hora pelo governo federal facilitou uma viagem do ex-presidente Lula a Rio Branco (AC) para um evento de campanha eleitoral.

Nesta quinta-feira (16), Lula visitou a cidade e participou de um ato de apoio às candidaturas de Dilma Rousseff ao Planalto e do atual governador, Tião Viana (PT), que tenta a reeleição na disputa de segundo turno.

Lula chegou à capital acriana pela manhã e deixou a cidade no meio da tarde.

O pouso e a decolagem da aeronave particular com o petista somente foram possíveis por causa de um aviso publicado horas antes num sistema interno da Infraero, órgão que administra dezenas de aeroportos do país.

Desde a semana passada, todos os voos estavam proibidos de operar entre 8h e meia-noite, por causa de obras de manutenção e reparos na pista do aeroporto.

Mas, na véspera da visita de Lula, a Infraero abriu uma "janela" de três dias que passou a permitir essas operações durante manhã e tarde.

Questionada pela Folha, a Infraero disse que a "janela" já estava programada no plano de execução das obras. A reportagem então solicitou cópia desse cronograma, mas nada foi encaminhado.
Indagada também se há outra "janela" programada até 20 de dezembro, quando a obra deve ser concluída, a Infraero disse que sim, mas que a data não está definida, já que isso dependerá da evolução dos trabalhos na pista.

Segundo a Infraero, a "janela" entre quinta e sábado não foi aberta por causa da visita do ex-presidente, e sim para atender à demanda do tráfego aéreo regional.

Nesse intervalo de três dias, segundo o órgão, as obras estarão concentradas em uma área de taxiamento de aeronaves, e não na pista.

Nesta quinta, a Folha esteve no aeroporto pela manhã. Entre 9h40 (11h40 em Brasília) e 11h15, apenas a aeronave que levou Lula à capital do Acre pousou no local.

Por causa das obras, ao menos cinco voos das companhias TAM, Gol e Azul, que antes operavam entre 12h e 15h, foram remanejados para a madrugada local.

Isolamento
Por ser um Estado amazônico, o Acre tem na via aérea a sua principal forma de reduzir a distância e o isolamento de algumas cidades no meio da floresta. E é somente durante o dia que esta interligação é mais viável.

A maioria das pistas do interior do Acre não apresenta condições para voos noturnos. Em setembro, a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) proibiu a operação nas pistas dos municípios acrianos mais isolados, como Santa Rosa do Purus, Marechal Thaumaturgo e Jordão

Dias é o 5º ministro a tirar férias para fazer campanha

Nivaldo Souza e Ricardo Della Coletta – O Estado de S. Paulo

O ministro do Trabalho, Manoel Dias, será nesta sexta-feira, 17, o quinto ministro somente nesta semana a entrar em férias para se dedicar à reta final do segundo turno das eleições presidenciais. Ele ficará fora por quatro dias para reforçar a campanha em Santa Catarina, onde participa hoje de comício com a presidente e candidata à reeleição, Dilma Rousseff (PT), em Florianópolis. "Eu vou cumprir o meu dever de colaborar com uma candidatura que eu apoio como cidadão", justificou.

Com a ausência, ele será o quinto ministro a deixar o governo somente nesta semana, em um momento em que a petista está em empate técnico nas pesquisas de intenção de voto contra Aécio Neves (PSDB). Já são nove no total desde o início da campanha, o que representa quase um quarto dos 39 ministérios.

Na última segunda-feira, 13, a ministra Ideli Savatti (Direitos Humanos) também entrou em férias. No dia seguinte, foi a vez de Garibaldi Alves Filho (Previdência) pedir baixa temporária e, hoje, Neri Geller (Agricultura) e Moreira Franco (Aviação Civil). Antes deles já haviam se afastado Aloizio Mercadante (Casa Civil), Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário), Gilberto Carvalho (Secretaria Geral da Presidência) e Eduardo Lopes (Pesca). O PT ainda pressiona para que a ministra Marta Suplicy, da Cultura, entre na linha de frente da disputa em São Paulo. Ex-prefeita de São Paulo, Marta resiste a entrar na campanha.

Em seus quatro dias de férias, Dias participará de eventos no interior catarinense organizados pelo governador reeleito Raimundo Colombo (PSD), que, segundo o ministro, "está fazendo campanha muito forte" para Dilma. O candidato de oposição Aécio Neves (PSDB) venceu o primeiro turno no Estado com 52,89% dos votos válidos, contra 30,76% da petista e 12,83% de Marina Silva (PSB). "O resultado do segundo turno não será igual ao do primeiro", confia.

Agronegócio
O titular da Agricultura, que ontem participou de ato de campanha em Cuiabá e Rondonópolis - as duas principais cidades do Mato Grosso -, afirma que a saída dele e seus colegas de governo não é ação coordenada. "Não foi uma orientação da presidenta. É uma convicção minha (participar da campanha) de que este governo fez muito pelo agronegócio", disse. "Me afastei por cinco dias porque não quero que ninguém fale que fiz campanha durante o expediente e usei avião oficial", conta.

No Mato Grosso, onde Geller é produtor de soja, o candidato Aécio Neves (PSDB) venceu o primeiro turno eleitoral com 44,7% dos votos válidos. Dilma ficou em segundo lugar, com 39,53%, seguida por Marina Silva (PSB), que somou 14,8%. O Estado elegeu como governador, no primeiro turno, o senador Pedro Taques (PDT), aliado político de Aécio. Geller, agora em férias, pretende ampliar o apoio do agronegócio à candidatura de Dilma no Centro-Oeste.

O PT esperava uma vitória da presidente na região, mas Dilma perdeu para Aécio em todos os Estados. Foi o caso também de Mato Grosso do Sul, onde o tucano obteve 41,31% dos votos válidos, seguido pela petista (37,51%) e Marina (19,08%). O candidato do PT ao governo local, Delcídio Amaral e, após vencer o primeiro turno, está atrás do tucano Azambuza na segunda rodada eleitoral. Amaral recebeu apoio de Ideli hoje.

Candidato do PMDB no Sul se esquiva de vice de Dilma

• Sartori não vai a recepção de Temer, que faz apelo a líderes gaúchos para apoiar reeleição

Elder Ogliari e Lucas Azevedo - O Estado de S. Paulo

PORTO ALEGRE - O candidato do PMDB ao governo do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori, que lidera as pesquisas de intenção de voto no 2.º turno, não recebeu o presidente da sua sigla e candidato à reeleição como vice de Dilma Rousseff (PT), Michel Temer, que cumpriu agenda no Estado nesta quinta-feira, 16.

Pela manhã, Temer visitou o comitê da campanha de Dilma na zona norte de Porto Alegre, onde foi recebido por dezenas de correligionários. Sartori e sua comitiva não estavam presentes. No mesmo horário, eles priorizaram eventos de campanha em outro local.

Assim como em outros Estados, as alianças políticas do Rio Grande do Sul criaram situações contraditórias. Temer declara apoio a Sartori, que, aliado a Marina Silva (PSB) no 1.º turno - e que conta com a participação da derrotada Ana Amélia Lemos (PP) - , já fez manifestação pública de apoio a Aécio. “Isso deve-se à realidade local. A disputa aqui é com o PT. O Sartori até falou comigo. Explicou que tem uma grande dificuldade aqui e, por isso, me disse: ‘não posso apoiar, mas seguramente apoiarei o governo’”, declarou o candidato a vice-presidente.

Recado. Temer fez questão de não polemizar a ausência de Sartori. “As dissidências são apenas nas localidades. Eu dou exemplo para o PMDB, eu apoio os candidatos do PMDB.” Mas deixou um recado: “Sou presidente nacional do partido e meu dever é acompanhar as decisões das convenções. A convenção nacional decidiu democraticamente renovar a chapa comigo na vice-Presidência(da República) e aqui, em face das dificuldades locais, a convenção decidiu apoiar Sartori, então meu apoio aqui é para Sartori”. “Eu tenho coerência peemedebista e peço àqueles que apoiam Sartori que votem, por coerência com a decisão nacional, em Dilma e, naturalmente, em mim.”

Questionado duas vezes pelos repórteres sobre a hipótese de o PMDB ir para a oposição em caso de vitória do tucano Aécio Neves, Temer evitou indicar o rumo que o partido tomaria. “Isso vamos decidir depois, não é assunto para agora”, desconversou. “A afirmação que fazemos é que vamos ganhar a eleição”, disse.

PSDB. Sartori anunciou apoio ao candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, no último dia 9. “Se não tivesse outro motivo, teríamos motivos familiares”, justificou, associando o apoio que seria dado a Eduardo Campos, neto de Miguel Arraes, no 1.º turno à escolha atual. “Aécio é neto de Tancredo Neves”, lembrou.

Sartori também disse que a decisão estava tomada havia três dias, mas que o anúncio dependia de consultas a novos aliados como o PP e o Solidariedade. Afirmou ainda que levou em conta a necessidade de haver uma rotatividade no comando do País.

Aécio grava hoje com Marina em São Paulo

• Candidato do PSDB também recebe apoio de Levy Fidelix; tucano compara marqueteiro do PT a Goebbels

Lino Rodrigues – O Globo

SÃO PAULO - O candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, vai se encontrar hoje com Marina Silva (PSB) em São Paulo. Será o primeira aparição pública dos dois, depois que a ex-senadora anunciou apoio ao tucano no segundo turno. O ato acontecerá no Espaço do Bosque, no bairro da Lapa, zona oeste da capital paulista, local em que Marina fez alguns dos principais eventos de sua campanha. A equipe de Aécio filmará o encontro para exibir imagens no horário eleitoral gratuito. Além dos dois presidenciáveis, também devem participar simpatizantes e aliados dos dois lados. De acordo com Walter Feldman, que coordenou a campanha de Marina, a ex-senadora admite realizar outros eventos com o candidato do PSDB. Inicialmente, Marina estava decidida a participar de apenas um ato com Aécio no segundo turno.

Marina anunciou apoio ao tucano no segundo turno no último domingo depois de Aécio divulgar uma carta de compromissos com pontos do programa de governo da candidata do PSB.

Bloco de 10 partidos formaliza apoio
O candidato derrotado à Presidência Levy Fidelix (PRTB) também anunciou seu apoio a Aécio Neves (PSDB) no segundo turno. Levy ficou em sétimo lugar na corrida presidencial, com 0,43% dos votos (446.878 votos). Durante a campanha, Fidelix fez declarações consideradas homofóbicas em debates na televisão e é alvo de uma ação civil pública da Defensoria Pública de São Paulo.

Na quarta-feira, o candidato do PRTB já participou de um evento organizado pelo PSDB para prefeitos tucanos e partidos que formalizaram apoio a Aécio. Segundo nota do PRTB, um bloco composto por dez partidos formalizará o apoio a Aécio no próximo domingo, durante um evento no Centro de Tradições Nordestinas, na capital paulista. Além do PRTB, participarão PHS, PSL, PTdoB, PRP, PTN, PEN, PMN, PTC e PSDC, do candidato Eymael, que também concorreu à Presidência na primeira etapa do pleito.

Ontem, em São Paulo, Aécio comparou a tática adotada pela campanha da presidente Dilma Rousseff (PT) às usadas pelo regime nazista para atacar adversários. O tucano chegou a comparar o marqueteiro João Santana ao ministro da propaganda do regime comandado por Adolf Hitler, Joseph Goebbels.

- A presidente pode fazer todo esforço que quiser. Ela pode seguir seu marqueteiro, que na verdade me parece discípulo de Goebbels, o ministro da informação de Hitler, que dizia que uma mentira repetida mil vezes se transforma numa verdade. Mas eu não vou deixar que isso aconteça. Meu governo em Minas foi honrado do começo ao fim - disse Aécio, no estúdio da campanha.

Ele insistiu que é preciso "combater a mentira":
- Eu nunca achei que seria uma eleição fácil. Talvez meus adversários achassem. Precisamos disputar combatendo a mentira. Essa é a eleição mais vergonhosa da história da democracia brasileira. Nossa adversária perdeu totalmente a condição de debater os temas que interessam aos brasileiros. Porque a campanha dela é uma fraude permanente. (Ela usa) Inverdades em relação a dados numa tentativa criminosa de desconstrução dos adversários. Tentou fazer com Eduardo (Campos), fez com Marina (Silva). Mas comigo não. A reação será na mesma altura.

Defesa de gestão em Minas
O tucano rebateu ainda as acusações da presidente Dilma que, desde o início do segundo turno das eleições, vem atacando sua gestão em Minas Gerais, como a não aplicação de recursos:

- Distorcer os números de Minas Gerais é um desrespeito aos mineiros - afirmou o senador, que voltou a se defender das acusações de não ter aplicado todos os recursos determinados por lei na área da Saúde.

O senador manteve o otimismo ao comentar as pesquisas de intenção de voto, mas, quando perguntado, não respondeu sobre o aumento da sua rejeição. Disse que está feliz com os resultados da última pesquisa, que mostram empate técnico com a candidata do PT, ressaltando que embora os últimos levantamentos não tenham acertado muito, mostram que sua candidatura vem crescendo mais que a da adversária.

Para Hartung, partido se revitaliza com PSDB

• Governador eleito do Espírito Santo pelo PMDB faz referência à migração de apoio majoritário da legenda da presidente Dilma Rousseff (PT) para o candidato Aécio Neves (PSDB)

Erich Decat e Nivaldo Souza – O Estado de S. Paulo

O governador eleito do Espírito Santo pelo PMDB, Paulo Hartung, considera que o partido passa por um momento de “revitalização” após os resultados do 1.º turno das eleições gerais, em uma referência à migração de apoio majoritário da legenda da presidente Dilma Rousseff (PT) para o candidato Aécio Neves (PSDB).

“Evidentemente que o PMDB está chacoalhado. Com a minha vitória aqui no Espírito Santo; pelo bom debate que estamos estabelecendo no Rio Grande do Sul, com uma candidatura de José Ivo Sartori que surpreendeu os institutos de pesquisas. Está chacoalhado com a posição do Jarbas Vasconcelos, que inicialmente caminhou com a Marina e agora com o Aécio. Com a posição do Pedro Simon”, enumerou em entrevista ao Estado.

“Acho que tem um bom movimento dentro do PMDB. Uma certa revitalização dentro do PMDB está em curso”, acrescentou. Atualmente, a legenda é presidida pelo vice-presidente da República, Michel Temer, que compõe a chapa à reeleição da presidente Dilma Rousseff.

No Espírito Santo, Aécio teve uma vitória apertada no 1.º turno. O tucano ficou com 35,1% dos votos ante 33,1% de Dilma e 28,7% de Marina Silva (PSB).

Para o governador eleito, os votos de Marina devem migrar para o tucano no Estado. “Naturalmente, o eleitor capixaba da Marina convergiu na direção do Aécio e vai produzir um resultado muito satisfatório.”

Eleito para o terceiro mandato como governador, Hartung criticou o modelo de reeleição em vigor. “Acho que a reeleição foi testada do ponto de vista institucional e não deu certo. É evidente que o resultado não é positivo porque o País não tem instituições que possam fiscalizar o uso da máquina administrativa e acaba numa desigualdade muito acentuada na disputa eleitoral” afirmou.

Segurança. Crítico à atuação dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, o governador considera que o governo federal deve participar de forma mais ativa da questão da segurança pública. “Precisamos do governo federal participando do esforço pela segurança pública. Você tem um comportamento de Brasília em relação ao tema da segurança pública que é recorrente, o de empurrar para o lado, voltar à Constituição e declarar que essa atribuição é dos Estados federados, quando nós sabemos do papel do governo central, que se omite nessa tarefa”, criticou.

Ele ressaltou que a diferença do candidato Aécio Neves para Fernando Henrique Cardoso e Lula está no fato de ele ter sido governador. “Claro que tenho expectativa de que o Aécio faça diferente de Fernando Henrique e de Lula. Ele foi governador de Estado. Conhece o que é hoje a conexão das drogas, do tráfico de armas com a questão da explosão da violência no Brasil inteiro. Tenho fé que o governo do Aécio não vai ser omisso.”

Paulo Roberto Costa teria sido convidado para ser ministro, relata jornal

• Interceptações feitas pela Polícia Federal de conversas entre doleiro e deputado sugerem que ex-diretor da Petrobrás recebeu convite para ocupar pasta das Cidades

- O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - O ex-diretor de abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa, preso desde março, teria sido convidado a ocupar o Ministério das Cidades, de acordo com mensagens interceptadas pela Polícia Federal. A informação foi publicada pelo jornal Gazeta do Povo, de Curitiba (PR), nessa quinta-feira, 16.

Costa foi preso em março deste ano durante a Operação Lava Jato, que investiga um esquema de lavagem de dinheiro. O suposto convite ao ex-diretor teria ocorrido dias antes de sua prisão. A informação aparece em mensagens trocadas entre o doleiro Alberto Youssef, também preso pela Lava Jato, e o deputado federal Luiz Argôlo (SD-BA). O conteúdo foi interceptado pela PF e estava sob sigilo. As mensagens não detalham quem teria feito o convite ao ex-diretor da estatal, nem se a presidente Dilma Rousseff sabia do caso ou se se tratava de uma negociação do partido.

"Vc sabia q chamaram PR pra assumir o Ministério?? E ele n quis. Aguinaldo [Ribeiro, o ministro] saiu hoje” (sic)", escreveu Argôlo. O deputado faz referência ao ex-ministro Aguinaldo Ribeiro (PP), que deixou a pasta das Cidades em março para se dedicar às eleições na Paraíba. A sigla "PR", segundo a polícia, é a identificação de Paulo Roberto Costa.

"Sabia. Ele já tinha me contado", responde Alberto Youssef. "Foi a melhor coisa q ele fez [não ter aceito]", complementou.

Paulo Roberto Costa ocupou o cargo de direção da Petrobrás entre 2004 e 2012, e foi indicado por lideranças do PP e do PMDB. Luiz Argôlo já foi filiado ao PP e responde a processo por quebra de decoro no Conselho de Ética da Câmara em razão da ligação com Youssef.

A troca do comando das Cidades ocorreu em meio a outras trocas na Esplanada, no momento em que ministros deixaram os cargos para se dedicar a campanhas eleitorais. Para o lugar de Aguinaldo Ribeiro, o PP indicou Gilberto Occhi, vice-presidente da Caixa Econômica.

O advogado de Paulo Roberto Costa, João Mestieri, disse ao jornal não achar "improvável" que o convite tenha ocorrido, mas não afirmou se o contato ocorreu. O Ministério das Cidades informou desconhecer o assunto. Os representantes da defesa de Youssef e Argôlo não responderam à reportagem.

Merval Pereira - Abaixo da cintura

- O Globo

Quando a presidente Dilma disse que para vencer uma eleição "faz-se o diabo", estava antecipando a falta de limites éticos que sua campanha vem demonstrando. Ontem, chegamos ao ponto máximo até agora, com a presidente da República insinuando que seu oponente é bêbado ou drogado, num golpe baixo que até mesmo no MMA é proibido.

O candidato Aécio Neves teve a única reação possível, disse que se arrependia de ter se recusado a soprar o bafômetro, e elogiou a Lei Seca. Uma tentativa de contenção dos danos por um deslize que um homem público sabe que pode ter consequências. Essa era uma carta previsível, diante do festival de baixarias que vem dominando esta campanha, e já fora jogada na véspera quando o ex-presidente Lula, num palanque onde estava cercado dos Barbalho — ele tem uma dívida qualquer com o chefe do clã, Jader , cuja mão beijou em outras campanhas —, disse que uma pessoa que se recusa a soprar o bafômetro não pode ser presidente da República.

Logo Lula, que já foi acusado por uma reportagem do "New York Times" de ser um presidente bêbado, ocasião em que foi defendido por diversos políticos, e recebeu a solidariedade generalizada. Escrevi na ocasião que não havia nenhuma indicação de que o hábito de beber impedisse o presidente de governar, o que tornava leviana a reportagem cheia de insinuações. Mesmo sem entrar no mérito de quem tem mais razão ou culpa no cartório, é espantoso que um político que já foi vítima das piores atrocidades, como a que o hoje seu aliado Fernando Collor de Mello fez na campanha de 1989, possa se utilizar de métodos semelhantes na ânsia de derrotar seu adversário. Collor colocou no ar a mãe de Lurian, filha de Lula, para acusá-lo de tê-la obrigado a fazer aborto, uma baixaria que entrou para a História política negativa brasileira.

O estrago foi grande na ocasião e desestabilizou Lula para o resto da campanha. O candidato Aécio Neves aparentemente reagiu ao ataque baixo com tranquilidade, lembrando que Dilma usava os mesmos métodos que Collor utilizara contra a família de Lula. O contra-ataque sobre o nepotismo, apontando que Igor Rousseff, ir mão da presidente, era funcionário fantasma na gestão de Fernando Pimentel na prefeitura de Belo Horizonte, num caso típico de nepotismo cruzado, foi feito pedindo desculpas por baixar o nível, querendo ressaltar que Dilma procurara atingir sua família.

Uma manobra diversionista para marcar no eleitor a ideia de que ele queria discutir programas de governo, mas Dilma levava a discussão para o embate pessoal. Aécio ressaltou isso várias vezes no debate. Explicando que sua irmã Andrea trabalhou no governo de Minas como voluntária não assalariada — no papel que poderia ser exercido pela primeira-dama, que não havia, pois era solteiro na ocasião —, neutralizou um dos principais ataques de Dilma. É claro a esta altura que a campanha, que tem tido um nível muito baixo, com acusações mútuas, não mudará de tom até as urnas em 26 de outubro.

Os dois candidatos se encontram em empate técnico, e o PT demonstra, por gestos e atitudes, que não pretende abrir mão de seu projeto maior de poder assim facilmente. A seu desfavor, uma crise econômica que só faz se agravar, uma crise política que apenas começou, e que terá desdobramentos institucionais seríssimos nos primeiros anos do futuro governo, e um governo precário, com resultados econômicos pífios. Dilma agarra-se à única tábua de salvação, que é o nível baixo de desemprego, que desaparecerá brevemente com a continuidade da crise econômica.

Se conseguir se reeleger em outubro, estará deixando para si uma herança maldita que fará com que os seus eleitores se decepcionem rapidamente com o voto que deram. Qualquer dos dois que se eleja, porém, terá que enfrentar uma crise econômica e política com um país literalmente dividido, especialmente depois de uma campanha devastadora como esta. Tarefa para quem tem capacidade de negociação e espírito público.

Dora Kramer - Cenário enigmático

- O Estado de S. Paulo

Os especialistas em análises de pesquisas dizem o óbvio sobre o empate entre a presidente Dilma Rousseff e o senador Aécio Neves registrado pelos institutos Ibope e Datafolha: significa que a disputa é acirrada e o resultado, imprevisível.

Até aí não precisa ser do ramo para chegar a essa conclusão. O que foge ao alcance da vista, contudo, é a razão pela qual há tanta exatidão nos números apresentados. Pode ser que aqui a memória me falhe, mas não tenho notícia de eleição em que a segunda pesquisa do segundo turno repita com tal precisão o resultado da primeira consulta, havendo ainda coincidência estrita entre os índices dos dois principais institutos.

Isso levando em conta a diferença de metodologias, dos dias das entrevistas de campo - Ibope entre 12 e 14 de outubro e Datafolha, 14 e 15 de outubro -, as variações regionais e entre faixas de renda ocorridas nos eleitorados dos candidatos. Dilma melhorou entre os eleitores que ganham mais de dez salários mínimos, caiu muito no Sul do País, perdeu alguns pontos no Norte e manteve larga vantagem no Nordeste. Aécio perdeu pontos em todas as faixas de renda. Subiu no Sul, Centro-Oeste e Norte, mas caiu um pouco no Sudeste.

Ainda assim, os dois cravaram exatos 49% e 51% dos votos válidos nos dois institutos. Os mesmos índices captados uma semana antes. Quem terá parado? O eleitor não foi, como se vê pela movimentação registrada nas entrelinhas das pesquisas. Fato é que o cenário da soma total se revelou cristalizado numa espécie de conta de soma zero, ainda sem uma explicação factível.

Os sete dias transcorridos entre uma consulta e outra não foram sete dias quaisquer. Nesse período recomeçou a propaganda eleitoral, os partidos que ficaram de fora definiram seus apoios, Marina Silva anunciou voto em Aécio, os depoimentos sobre a máfia da Petrobrás começaram a ser divulgados. A família de Eduardo Campos aderiu à campanha do PSDB e os finalistas se enfrentaram em um debate cujo efeito pôde ser captado pelo Datafolha.

Pela lógica, o cenário deveria ter apresentado alguma alteração. Partindo do princípio de que os acontecimentos da largada da campanha do segundo turno foram favoráveis à oposição, imaginava-se - até mesmo entre os governistas - que o tucano apareceria agora com vantagem expressiva.

Caso retratem de fato a realidade, esses dois pontos de Aécio à frente da presidente não podem ser vistos como dianteira nem empate "técnico"; os índices representam, isto sim, um empate real que dispensa adjetivação. Ou, por outra, talvez os números até estejam indicando uma nova mudança em favor do governo.

É uma hipótese, pois se com tantos fatores desfavoráveis a presidente ainda conseguiu manter-se em condição de empate, reduzir um pouco a rejeição e melhorar a avaliação de governo, é de se considerar essa possibilidade.

Aliás, a imobilidade presente chama atenção justamente porque a volatilidade foi a marca dessa campanha desde o mês de agosto. Daí a estranheza com esse quadro de congelamento da cena dez dias antes da decisão final. Hoje é absolutamente impossível dizer quais serão os fatores decisivos para a vitória de um ou de outro. Denúncias? Desconstruções? Comparações? Armações? Manipulações?

Todos esses caminhos já foram testados e até agora nenhum deles teve o efeito de uma bala de prata capaz de derrubar o adversário. A não ser que Dilma ou Aécio disponham de alguma arma secreta ou o inesperado resolva fazer uma nova surpresa, a única certeza é que o placar continuará em aberto até o desligamento das urnas eletrônicas.

E para quem acredita em resultados de véspera, fica aqui um dado importante registrado pelo Datafolha: 15% dos eleitores só decidiram seu voto no último dia, 9% deles na boca da urna.

Eliane Cantanhêde - Mineirice zero

- Folha de S. Paulo

O debate desta quinta (16) foi um debate histórico, desses que a gente vai se lembrar e comentar daqui a dois, cinco, dez anos. Não teve refresco, não teve um escorregão grave, não teve um momento de descontração, uma graça, uma piada. Foi tenso e agressivo do início ao fim.

Collor era arrogante e batia abaixo da cintura. Lula evoluiu muito, ficou brilhante e sarcástico. FHC era "o príncipe", elegante e culto. Esse ciclo foi interrompido por Lula versus Alckmin, que era insosso, e por Dilma versus Serra, dois técnicos esgrimindo números.

Abre-se agora um novo ciclo de debates, com uma candidata boa de briga e um adversário com todas as manhas de quem nasceu em berço político e presidiu a Câmara. Os dois nasceram em Minas, mas não estão sendo nada "mineiros". Sutileza zero, adrenalina a mil.

Em debates, a forma vale tanto ou mais que o conteúdo. O que fica é a sacada irônica, a "pegadinha", ou, como preferiram Aécio e Dilma, a resposta na ponta da língua, a acusação direta ou uma insinuação maldosa. Aécio ultrapassa o limite ao falar em "mar de lama", que remete à queda de Getúlio. E Dilma baixa o nível perigosamente ao condenar os que dirigem "drogados ou bêbados". É fora das regras.

Nada melhor do que pegar o adversário desprevenido. Aécio anulou os ataques de Dilma a um suposto nepotismo em Minas ao acusar o irmão dela de "ganhar sem trabalhar" numa prefeitura petista.

E Dilma sacou um "furo de reportagem" da Folha, no início do debate: segundo o ex-diretor Paulo Roberto Costa, o ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra, agora morto, recebeu propina para esvaziar uma das CPIs da Petrobras.

Aécio e Dilma, empatados tecnicamente, falaram mais para seus eleitores, para fidelizar votos. A dúvida é se, além disso, conseguiram conquistar novos apoios. Indecisos e votos nulos e brancos são duros na queda.

Maria Cristina Fernandes - O rebate e o eleitor

• As revelações da Lava-Jato moldarão o governo a ser eleito

- Valor Econômico

Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef são réus confessos que se comprometeram a contar o que sabem à justiça para diminuir suas penas. Se mentirem ou imputarem culpa a inocentes, terão penas agravadas.

As revelações dos alcaguetes moldarão em grande parte o governo a ser eleito. Se for o de Aécio Neves, servirá de parceria para o ajuste. Para 'tirar o país do buraco' o presidente terá que tomar medidas duras mas, em contrapartida, terá cabeças a exibir em espetáculo de praça pública. Choverão aliados em busca de proteção.

Se for o de Dilma Rousseff o escândalo poderá ter consequências importantes para o previsível embate entre a reeleita e o antecessor. Em pé de guerra com a presidente, o mercado confia numa maior ascendência de Luiz Inácio Lula da Silva para conter os ímpetos da sucessora em eventual segundo mandato. O ex-presidente só estará apto a este papel se os alcaguetes não o puserem nas cordas.

Se reeleita por um país dividido, Dilma pode usar o caso para reeditar a estreia de seu primeiro mandato em que alcançou popularidade recorde faxinando o governo. Como parece cada vez mais segura de que se ganhar é menos devedora do partido e do padrinho, pode sobrar poeira e faltar tapete.

Nas seis horas do interrogatório Lula só aparece uma única vez, pela voz Alberto Youssef. O relato de quem parecia estar do outro lado do cabo de guerra descreve um ex-presidente indignado com a pauta trancada na Câmara como pressão pela nomeação de Paulo Roberto Costa.

Houve quem enxergasse um recado a Lula no figurino mimetizado com o qual o ex-diretor apareceu em público. Costa não o menciona diretamente mas lhe faz uma referência que minimiza danos ao contar que do dia em que entrou na Petrobras em 1977, até tornar-se diretor 27 anos depois, sempre soube que as diretorias, em todos os governos, eram ocupadas por indicação política. Na segunda gestão Lula, diz, as diretorias passaram a ter orçamentos mais polpuldos, antes restritos à de exploração, aquela que Severino Cavalcanti chamava de fura-poço.

A Petrobras liderou os investimentos que alavancaram o PIB e a eleição de Dilma em 2010. A presidente é filha da fartura que fez a felicidade das grandes empreiteiras. Em seu mandato abespinhou-se com muitas delas enquanto o ex-presidente continuou a viajar para promover os negócios dessas companhias, muitas vezes nos jatos destas, na América Latina e na África.

Num encontro recente, o ex-presidente de uma das empresas agora acossadas pela Lava-Jato, citou o estreitamento das relações nesses continentes como um dos motivos que mais o aproximava das gestões petistas.

Entre os três candidatos do PT aos governos estaduais aos quais Lula mais se dedicou nessas eleições dois tiveram seus nomes tangenciados pela Lava Jato e um terceiro foi diretor da Petrobras.

O interrogatório conduzido pelo juiz Sérgio Moro é o único capítulo público deste processo. As páginas com maiores implicações políticas do que falaram têm sua íntegra resguardada pelo ministro Teori Zavascki, juiz que só se manifesta pelos autos. Só virá à luz em 2015, junto com os cortes do orçamento.

As seis horas do interrogatório colocadas na internet, no entanto, não servem apenas como aperitivo do próximo governo. São relatos de grande utilidade para o eleitor sobre os arranjos entre corporações que os petistas um dia chamaram de campeões nacionais. Nas contas de um grande conhecedor do processo com franco acesso aos envolvidos, a tese do domínio do fato, consagrada no mensalão, ameaça colocar atrás das grades pelo menos 20 dirigentes empresariais.

Nos relatos dos dois réus as companhias brasileiras ainda aparecem como um parque de diversões para prêmio Nobel de Economia, Jean Tirole.

A real academia sueca assim resumiu seu trabalho: "Muitos setores industriais são dominados por um pequeno número de grandes empresas ou por um monopólio. Sem regulação, esses mercados produzem resultados sociais indesejáveis".

No relato que deliciaria Tirole, um punhado de empresas se reúne para dividir as maiores obras do país e fixar o preço. Uma das siglas que mais se ouve nos depoimentos é BDI, que resume os benefícios e despesas indiretas de uma obra. Nela estão incluídos desde o lucro da empresa até despesas com advogados, consultores e contas de energia. É no meio dessas três letras que se esconde a propinagem.

Como operador do esquema, Youssef fazia os pagamentos, que diz terem sido sempre em espécie. "Mandava para Brasília o que era de Brasília e para o Rio o que era de Paulo Roberto", contou. O restante distribuía em seu escritório em São Paulo, frequentado pelo vice-presidente estatutário de uma das maiores construtoras do país.

O executivo recebia uma comissão pelas compras da empresa. Ao ouvir a história o procurador pediu que Youssef a detalhasse. A construtora tinha feito uma compra de R$ 150 milhões a uma fornecedora de tubos e conexões e o executivo da empresa compradora foi comissionado por esta compra.

As comissões são praxe na remuneração dos departamentos de venda das empresas. Para o comprador, conseguir o melhor preço é o que lhe garante o emprego. "Ele lesava a empresa?", insiste o procurador. O doleiro responde como quem não parece acreditar que seu interrogador desconheça: é assim que as coisas funcionam. Na praça, é conhecido por rebate.

Parece claro que se uma empresa formou um cartel para fixar o preço de uma obra pública e nele embute o custo de propina, o erário, além da empresa, também é lesado. Mas se a transação for estritamente privada não há dano no comissionamento de compradores?

Há médicos, arquitetos, gestores e jornalistas cujas relações com laboratórios farmacêuticos, lojas de decoração, fundos de investimento e assessorias de imprensa levam em consideração outros interesses que não os dos pacientes, clientes, investidores e leitores. De pouco adianta mudar o governante se as regras da vida privada continuarem a ser praticadas como se não fossem lesivas à coletividade.

Uma criança que recebe R$ 50 para comprar uma bola, descobre uma liquidação, paga R$ 40 e embolsa o troco, é saudada em algumas famílias como um adulto que vai longe. Seus pais poderão ir às urnas no dia 26 movidos por muitos interesses legítimos, só não vale dizer que votam por mudanças.

Octávio Costa - Emoção até a última hora

- Brasil Econômico

Após a nova rodada de pesquisas do Ibope e do Datafolha, ninguém mais se atreve a fazer previsões sobre o resultado da eleição no próximo dia 26 de outubro. Uma semana depois, nada mudou. A presidente Dilma Rousseff e o senador Aécio Neves permanecem tecnicamente empatados, separados por diferença mínima. O tucano tem 51% contra 49% da petista, o que não é suficiente para superar a margem de erro de 2% para cima e para baixo. Resta apenas uma semana de campanha oficial na tevê e no rádio e dificilmente surgirão fatos de impacto no meio do caminho. Para não correr o risco de queimar a língua, os analistas subiram em cima do muro. Dizem apenas que a eleição será decidida numa chegada de arrepiar os cabelos. E tanto pode dar Dilma quanto Aécio. O que não é propriamente uma aposta de risco.

Na tentativa de contribuir para um prognóstico mais firme, liguei para o presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, que sempre me dá algumas pistas quando o horizonte eleitoral está nebuloso. Desta vez, porém, ele explicou que não poderia me ajudar, pois a disputa entre Aécio e Dilma ganhou caráter plebiscitário e se tornou imprevisível. "Esta é a eleição mais difícil da história do Ibope", afirmou. Para se ter ideia, o renomado instituto de pesquisa foi fundado em 1942, com base nas técnicas no norte-americano George Gallup, fundador do American Institute of Public Opinion. Em 1977, o Ibope passou a ser presidido por Paulo de Tarso Montenegro, pai de Carlos Augusto, e deu início, então, às suas famosas pesquisas de boca de urna. Isso mostra a real dimensão da frase do filho de Paulo.

A atual eleição é a mais acirrada dos últimos 40 anos. Há quem lembre que o confronto de Lula com Fernando Collor em 1989 também foi parelho. É verdade, mas Lula foi subindo aos poucos e só se aproximou para valer na última pesquisa, na véspera do segundo turno, que deu ao petista 49% das intenções de voto contra 51% do ex-governador de Alagoas. Abertas as urnas, Collor ganhou por diferença mais larga: 53% a 47%. No caso atual, os dois blocos de eleitores cristalizou-se mais cedo, com defensores de Dilma de um lado e simpatizantes de Aécio de outro. A vanguarda dos dois grupos trava batalha encarniçada na internet, com violência poucas vezes vista na história política recente. Observa-se também nítida clivagem regional, como Norte/Nordeste a favor de Dilma e o Sul/Sudeste pendendo para Aécio.

Na pirâmide social, os mais ricos preferem o tucano e os mais pobres confiam na petista. Mas quem vai decidir são os eleitores da classe média – da velha e da nova. A direção do Datafolha, ao analisar o mapeamento da própria pesquisa, informou que, no primeiro turno, 34% dos eleitores só decidiram em quem votar para presidente nos últimos 15 dias de campanha. Com um detalhe importante: 15% deixaram a decisão para a reta final, pois 8% escolheram o candidato na última semana e 6%, na véspera do pleito. Como eleitores de menor renda foram os que mais adiaram a escolha, acredita-se que, entre os indecisos, há um potencial maior de votos para Dilma. É uma hipótese razoável. Mas não passa disso. Uma coisa é certa: o eleitorado está dividido. Dilma e Aécio têm as mesmas chances e a emoção vai até o final. Como o TSE exige que se aguarde o fim da votação no Acre às 20 horas, o Ibope não fará a tradicional pesquisa de boca de urna. O Brasil vai parar para acompanhar a contagem oficial do TSE.

Nelson Motta - Ovos, galinhas e ladrões

• Quem chegou antes: empresários achacados por agentes públicos sob ameaças de grandes prejuízos ou os que subornaram para assaltar o Estado?

- O Globo

Com a explosão do escândalo da Petrobras e os depoimentos dos delatores premiados, tudo indica que, como nunca na História deste país, não veremos só políticos e banqueiros, mas os mais poderosos empreiteiros do Brasil, no banco dos réus, e talvez na cadeia. E o desmoronamento de uma organização criminosa formada por um cartel de empreiteiras numa ponta e partidos políticos na outra, com montanhas de dinheiro público no meio. Uma tsunami que provocará uma inevitável reforma política e eleitoral.

A extorsão e o suborno são o ovo e a galinha da corrupção brasileira. Quem chegou primeiro: os empresários achacados por agentes públicos sob ameaças de grandes prejuízos ou os que subornaram políticos e funcionários para assaltar o Estado? Além de eventuais prisões ou multas, se essas dez empreiteiras do cartel forem excluídas de concorrências públicas, que é o minimo que se pode esperar, o país vai parar. A coisa está feia para eles, mas principalmente para nós, que vamos pagar a conta que já estávamos pagando sem saber. O governo não sabia de nada.

Parece tema de um seriado. As diretorias da Petrobras eram ocupadas por partidos políticos como as quadrilhas de mafiosos ocupam territórios, para arrecadar dinheiro e se manterem no poder. Um cartel de empreiteiras dividia obras, fraudava concorrências, inflava orçamentos e pagava comissões aos partidos e a seus operadores. O doleiro Youssef era o banco central da engrenagem, fazendo o meio de campo entre a quadrilha e o cartel, distribuindo e lavando o dinheiro das comissões sujas. É tudo claro como lama. Mas quem eram os chefões?

E pior: se fizeram isso na Petrobras, na maior empresa, a mais fiscalizada, o que não terão feito, estão fazendo, nos Correios, na Eletrobras e em estatais menores?

Como na explosão de uma bomba atômica, não se sabe ainda quantos morrerão no primeiro choque, quantos serão vítimas das radiações e quantos sofrerão terríveis mutações. A Lava-Jato será como um jato de lava vulcânica radioativa para lavar a alma de oposicionistas e governistas de bem, que querem um país mais limpo e produtivo.

Eduardo Giannetti - Alternância de poder

- Folha de S. Paulo

Em 22 junho de 2002, Lula, candidato de oposição pelo PT, leu um discurso em que firmava os seus compromissos na área econômica. Era um documento curto, de apenas quatro páginas, que na prática substituía o programa original de 40 páginas lançado pelo PT no início da campanha.

A "Carta ao povo brasileiro" partia da constatação de que "o Brasil quer mudar" e propunha a formação de "uma vasta coalizão, em muitos aspectos suprapartidária, que busque abrir novos horizontes para o país". Embora reafirmando a "percepção aguda do fracasso do atual modelo", Lula se comprometia a manter o cerne da política econômica do segundo mandato de FHC:

"Vamos preservar o superávit primário o quanto for necessário para impedir que a dívida interna aumente e destrua a confiança na capacidade do governo de honrar os seus compromissos. A estabilidade, o controle das contas públicas e da inflação são hoje um patrimônio de todos os brasileiros, não são um bem exclusivo do atual governo (...). Vamos ordenar as contas públicas e mantê-las sob controle."

É difícil avaliar o real impacto da "Carta" na eleição de Lula, mas ela sem dúvida o credenciou como um ator político capaz de transcender do papel de líder partidário para alçar à condição de estadista.

Em seu primeiro mandato, Lula fez o que prometeu: não só honrou como reforçou os compromissos assumidos, praticando com competência o tripé macroeconômico e uma bem desenhada agenda micro, o que lhe permitiu abrir espaço para realizar as políticas sociais do seu governo. A alternância de poder, nos moldes como se deu, produziu um dos mais belos momentos da nossa democracia.

Em 2014, o cenário se repete. Diante do desejo de mudança expresso por 60% do eleitorado que votou na oposição ao atual governo no primeiro turno, Aécio Neves divulgou um importante manifesto --"Juntos pela democracia, pela inclusão social e pelo desenvolvimento sustentável" -- no qual busca se credenciar como líder de uma coalização suprapartidária capaz de viabilizar a alternância de poder.

Embora seja cedo para dizer se o gesto terá o alcance e a efetividade da "Carta" de Lula, penso que ele representa uma aposta na boa política. Quando a campanha corre o risco de descambar para a animosidade de facções hostis, o manifesto de Aécio propõe substituir a cultura do antagonismo pela cultura do diálogo e do compromisso firme com propostas definidas.

Faria bem a candidata Dilma se também aceitasse dirimir as dúvidas e firmasse com clareza os seus compromissos de governo. Infelizmente, porém, não será o caso. "Não pretendo fazer carta de intenção nenhuma", declarou, "tenho palavra, sou presidente da República".

Paulo Mendes Campos - Tempo-eternidade

O instante é tudo para mim que ausente
do segredo que os dias encadeia
me abismo na canção que pastoreia
as infinitas nuvens do presente.

Pobre de tempo fico transparente
à luza desta canção que me rodeia
como se a carne se fizesse alheia
à nossa opacidade descontente.

Nos meus olhos o tempo é uma cegueira
e a minha eternidade uma bandeira
aberta em céu azul de solidões.

Sem margens sem destino sem história
o tempo que se esvai é minha glória
e o susto de minh´alma sem razões.