sábado, 13 de dezembro de 2014

Opinião do dia – Rubens Bueno

Estamos falando de uma quadrilha que não tem limites. O fato de Graça Foster já saber das denúncias não nos surpreende. Isso já havia ficado claro nos depoimentos de Paulo Roberto Costa. No entanto, o depoimento de Venina pode agregar novos detalhes aos processos que já estão em andamento na Justiça, fortalecendo as provas contra agentes públicos e políticos que sequestraram a Petrobras.

Rubens Bueno, deputado federal (PR) e líder da bancada do PPS na Câmara, O Globo, 13 de dezembro de 2014.

Ex-gerente da Petrobras diz que avisou Graça sobre desvio

Denúncia de ex-gerente fragiliza comando da estatal

• Segundo "Valor", funcionária alertou atual diretoria com e-mails sobre desvios

• Auxiliares de Dilma defendem renúncia coletiva na empresa, mas presidente ainda resiste a aceitar a idéia

Leonardo Souza, Natuza Nery e Valdo Cruz – Folha de S. Paulo

RIO, BRASÍLIA - E-mails enviados por uma ex-gerente da Petrobras e revelados pelo jornal "Valor Econômico" indicam que a atual diretoria da estatal foi alertada sobre irregularidades em contratos da empresa muito antes do início da Operação Lava Jato, que revelou esquema de fraudes na companhia.

A revelação reforçou o coro de auxiliares presidenciais que já há algumas semanas defendem uma renúncia coletiva na estatal. Para estes, a saída da presidente Graça Foster é uma questão de tempo. Mas a presidente Dilma Rousseff ainda resistia à ideia nesta sexta-feira (12).

Para Dilma, explicam auxiliares, a queda de Graça reforçaria uma ideia errada de que a chefe da estatal está implicada no escândalo, além de deixar a própria presidente vulnerável. Graça e Dilma são muito amigas.

A presidente e os demais integrantes da atual diretoria da Petrobras vinham sendo blindados pelo Planalto sob o argumento de que não tiveram participação nos desvios de recursos e que desconheciam a ação do grupo do qual fazia parte Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento e principal delator do esquema de fraudes na estatal.

Mas segundo o "Valor", foram enviadas para Graça mensagens eletrônicas e documentos comunicando irregularidades ocorridas tanto antes de ela assumir a presidência, em 2012, quanto depois. O mesmo ocorreu com o atual diretor de Abastecimento, José Carlos Cosenza.

De acordo com o jornal, Graça foi informada sobre contratações irregulares na área de Abastecimento durante a gestão de Paulo Roberto Costa e de aditivos nas obras da refinaria Abreu e Lima, envolvendo o cartel de empreiteiras investigadas na Lava Jato.

As denúncias foram feitas por Venina Velosa da Fonseca, ex-gerente-executiva da área de Abastecimento, que foi subordinada de Costa.

Uma das mensagens para Graça foi enviada por Venina no dia 7 de outubro de 2011. Venina diz não ver mais alternativas para mudar a situação dos desvios na empresa e sugere apresentar a documentação que possui a Graça, então diretora de Gás e Energia.

Os desvios a que Venina se referiam foram revelados pela Folha em 2009.

Ela denunciou naquele ano que o então gerente de Comunicação da área de Abastecimento, Geovane de Morais, havia autorizado o pagamento de R$ 4 milhões, sem licitação, a duas produtoras de vídeo que trabalharam nas campanhas do governador da Bahia, Jaques Wagner (PT).

Irregularidades
Uma auditoria interna realizada pela Petrobras concluiu que foram pagos R$ 58 milhões em contratos autorizados por Morais mas cujos serviços não foram prestados. O governador disse que refuta veementemente qualquer suposta ligação dele ao caso.

As constatações de problemas comunicadas pela ex-gerente incluíram ainda contratações atuais de fornecedores de óleo combustível da Petrobras no exterior que subiram em até 15% os custos, de acordo com o "Valor".

Pressões sobre Graça Foster aumentam após divulgação de alertas de ex-gerente

Ricardo Della Coletta e Daiene Cardoso – O Estado de S. Paulo

A pressão pela troca da atual direção da Petrobrás aumentou ontem, após a revelação de que a presidente da estatal, Graça Foster, foi informada sobre irregularidades antes de virem à tona as investigações da Operação Lava Jato, da Polícia Federal. Além de não terem sido tomadas providências em parte das denúncias da geóloga Venina Velosa da Fonseca, ex-gerente executiva da Diretoria de Abastecimento, a funcionária relatou ter sofrido represálias da antiga e da atual direção. Ela deve prestar depoimento ao Ministério Público Federal na próxima semana.

Ontem, após a divulgação desses fatos pelo jornal Valor Econômico, a oposição voltou a cobrar a saída de Graça e vai pedir o indiciamento dela no relatório paralelo da CPI mista da Petrobrás. "Ela vai se transformando numa presidente fraca, que não tomou medidas para conter os desmandos na Petrobrás", disse o líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA). Na terça-feira, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, já havia se posicionado pela troca de comando na estatal.

Dentro do próprio PT, apesar de declarações públicas de apoio a Graça, cresce o movimento pela troca do comando da estatal, principalmente entre os integrantes do partido ligados ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para esta ala dos petistas, a crise em torno da empresa exige a nomeação de alguém do mercado para a presidência da estatal, de fora dos quadros da Petrobrás, e que tenha autonomia para cortar investimentos e rever o planejamento da petroleira.

Acusações. Venina atuava na Diretoria de Abastecimento - subordinada a Paulo Roberto Costa, delator do esquema de desvios na estatal - quando fez a primeira denúncia sobre despesas irregulares, em 2008. Nos anos seguintes, ela apontaria elevação de custos da refinaria de Abreu e Lima, um dos focos da Lava Jato, e na comercialização de óleo combustível no exterior. Nesse último caso, já sob a gestão de Graça e com José Carlos Cosenza no lugar de Costa, não foram tomadas providências a respeito, segundo a reportagem.

Na primeira denúncia, a ex-gerente verificou que contratos de pequenos serviços na comunicação da Diretoria de Abastecimento, cujo orçamento para o ano de 2008 era de R$ 39 milhões, somavam R$ 133 milhões de janeiro a meados de novembro. Ao procurar Costa, o então diretor apontou o dedo para um retrato do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e perguntou se ela queria "derrubar todo mundo".

Costa também afirmou que a responsabilidade sobre os gastos era de outro gerente, Geovanne de Morais. Venina levou o caso ao presidente da Petrobrás na época, José Sergio Gabrielli. Uma comissão interna detectou R$ 58 milhões pagos por serviços não realizados e determinou a demissão de Morais.

Abreu e Lima. No ano seguinte, em abril, Venina enviou e-mail para Graça, na época diretora de Gás e Energia, pedindo ajuda para escrever sobre os problemas na estatal. Ela verificou elevação de gastos em Abreu e Lima de US$ 4 bilhões para US$ 18 bilhões, em contratos firmados com empreiteiras hoje investigadas pela Lava Jato.

Em ofício de 4 de maio de 2009, Venina criticou a forma de contratação sem licitação em pelo menos quatro ocasiões. Para ela, o "início das licitações em Abreu e Lima" seriam as "medidas corretas" a serem adotadas. Desde 1998, decreto do então presidente Fernando Henrique Cardoso libera a Petrobrás de seguir a Lei de Licitações.

Segundo documento de 2009 da estatal, a ex-gerente fez 107 Solicitações de Modificação de Projetos, com economia estimada de R$ 948 milhões. Nenhuma foi aceita. Parte das sugestões era direcionada à Diretoria de Serviços, comandada na época por Renato Duque - investigado e preso pela Lava Jato, ele foi solto por liminar do ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki.

Em outubro de 2009, Venina deixou o cargo subordinado a Costa. Em fevereiro de 2010, foi enviada para uma unidade da Petrobrás em Cingapura - no mês passado, a ex-gerente diria a Graça que, ao ser expatriada, "o diretor, hoje preso, levantou um brinde, apesar de dizer ser pena não poder me exilar por toda a vida".

A Petrobrás abriu em 2011 investigação interna sobre Abreu e Lima, mas não se sabe se foi a partir da denúncia da geóloga.

'Vergonha'. No fim de 2011, Venina disse a Graça, por e-mail, que "o imenso orgulho que tinha pela empresa" deu lugar à "vergonha". A geóloga sugeriu apresentar a documentação à então diretora de Gás e Energia. "Parte dela eu sei que você já conhece. Gostaria de te ouvir antes de dar o próximo passo." A reportagem não diz se Graça respondeu à geóloga.

Venina voltou ao Brasil em 2012 por cinco meses, antes de retornar a Cingapura como chefe do escritório. Em março e abril de 2014, já com Graça na presidência da Petrobrás e Cosenza no lugar de Costa, a geóloga enviou e-mails ao diretor sobre perdas de até 15% na comercialização de combustível para navios.

Sem resposta do diretor, em maio Venina veio ao Brasil e fez uma apresentação na sede da estatal sobre o caso e, no mês seguinte, propôs a criação de uma área de controle de perdas nos escritórios fora do Brasil. Novamente ficou sem resposta.

A última mensagem de Venina foi enviada em 17 de novembro, dois dias antes de ser afastada da chefia de Cingapura. No dia 20, ela disse a Graça: "Fui ameaçada e assediada. Até arma na minha cabeça e ameaça às minhas filhas eu tive."

Nova testemunha envolve atual direção da Petrobras

Nova denúncia joga Graça no centro da crise

• Graça Foster sabia das irregularidades na Petrobras antes da Operação Lava-Jato, diz jornal

• Alerta foi feito pela ex-funcionária da empresa Venina Velosa da Fonseca, que enviou e-mails à atual presidente da estatal

- O Globo

RIO - Documentos obtidos pelo jornal “Valor Econômico” e publicados nesta sexta-feira comprovam que a atual diretoria da Petrobras sabia das irregularidades em contratos da estatal muito antes da Operação Lava-Jato, desencadeada pela Polícia Federal em 17 de março deste ano. O alerta foi feito pela gerente afastada da empresa, Venina Velosa da Fonseca, que enviou e-mails à atual presidente Graça Foster e a outros superiores, incluindo o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa. Para Graça, Venina comunicou até as ameaças que sofrera após apresentar as denúncias.

De acordo com a reportagem, os desvios envolvem o pagamento de R$ 58 milhões para serviços que não foram realizados na área de comunicação, em 2008; superfaturamento de US$ 4 bilhões para mais de US$ 18 bilhões nos custos da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco; e contratações atuais de fornecedores de óleo combustível das unidades da Petrobras no exterior que subiram em até 15% os custos.

Além de Graça Foster, os desvios de dinheiro detectados pela ex-gerente foram comunidados a José Carlos Cosenza, substituto do delator Paulo Roberto Costa na Diretoria de Abastecimento. Cosenza é atualmente o responsável pela Comissão Interna de Apuração de desvios na estatal. Para Graça foram enviados e-mails e documentos informando as irregularidades ocorridas tanto antes de ela assumir a presidência, em 2012, quanto depois. Em 2014, afirma o jornal, foram remetidas a Graça denúncias envolvendo os escritórios da estatal no exterior. Nenhuma providência foi tomada com relação a esse último caso, ocorrido sob a sua presidência.

Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista da Petrobras, em 29 de outubro, Cosenza afirmou nunca ter ouvido falar em desvios de recursos na estatal desde quando começou a trabalhar na Petrobras há 34 anos. No entanto, ele recebeu de Venina, nos últimos cinco anos, diversos e-mails e documentos com alertas a respeito dos mesmos problemas.

Venina Velosa da Fonseca estava na estatal desde 1990, onde ocupou diversos cargos. Ela começou a apresentar denúncias quando ainda era subordinada a Paulo Roberto como gerente executiva da Diretoria de Abastecimento, entre novembro de 2005 e outubro de 2009. À época, Venina foi transferida para o escritório da Petrobras em Cingapura, na Ásia. Ela foi afastada em 19 de novembro e vai depor ao Ministério Público, em Curitiba, onde tramita o processo da Operação Lava-Jato.

Segundo o "Valor Econômico", as suspeitas de Venina começaram em 2008, quando ela verificou que os contratos de pequenos serviços atingiram R$ 133 milhões entre janeiro e 17 de novembro daquele ano. O valor ultrapassou os R$ 39 milhões previstos para 2008. A ex-gerente procurou Paulo Roberto Costa. Segundo ela, o então diretor de Abastecimento apontou o dedo para o retrato do presidente Lula e perguntou se ela queria "derrubar todo mundo". Costa disse também que Venina deveria procurar o diretor de comunicação, Geovanne de Morais, que cuidava desses contratos.

Venina também encaminhou a denúncia ao então presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli. Ele instalou comissão sob a presidência de Rosemberg Pinto para apurar o caso. Assim como Geovanne, Gabrielli e Rosemberg são do PT da Bahia. Esse último foi eleito deputado estadual pelo partido. O relatório da comissão apurou que foram pagos R$ 58 milhões em contratos de comunicação para serviços não realizados. Além disso, foram identificadas notas fiscais com o mesmo número para diversos serviços, totalizando R$ 44 milhões.

Irregularidades também em Cingapura
O caso, afirma o "Valor Econômico", foi remetido para a auditoria interna. Geovanne foi demitido, mas entrou em licença médica, o que evitou que fosse desligado imediatamente da Petrobras, onde permaneceu por mais cinco anos.

Em 3 de abril de 2009, Venina enviou um e-mail para Graça Foster pedindo ajuda para concluir um texto sobre problemas identificados na estatal. Na época, Graça era Diretora de Gás e Energia. Em 7 de outubro de 2011, Venina escreveu novamente para Graça Foster:

"Do imenso orgulho que eu tinha pela minha empresa passei a sentir vergonha". "Diretores passam a se intitular e a agir como deuses e a tratar pessoas como animais. O que aconteceu dentro da Abast (Diretoria de Abastecimento) na área de comunicação e obras foi um verdadeiro absurdo. Técnicos brigavam por formas novas de contratação, processos novos de monitoramento das obras, melhorias nos contratos e o que acontecia era o esquartejamento do projeto e licitações sem aparente eficiência".

Na mensagem, Venina diz que, após não ver mais alternativas para mudar a situação, iria buscar outros meios e sugere apresentar a documentação que possui a Graça.

"Parte dela eu sei que você já conhece. Gostaria de te ouvir antes de dar o próximo passo", completa, dirigindo-se à então diretora de Energia e Gás.

De acordo com o "Valor Econômico", em 2012, a gerente afastada voltou ao Rio, onde ficou por cinco meses sem nenhuma atribuição. A alternativa foi retornar a Cingapura, como chefe do escritório. Em 25 de março de 2014, Venina encaminhou um e-mail a Cosenza sobre perdas financeiras em operações internacionais da estatal que ela identificou a partir do trabalho em Cingapura. A Petrobras comercializa combustível para navios, denominados bunkers.

Em nota divulgada nesta sexta-feira, a Petrobras afirmou que realizou instaurou comissões internas em 2008 e 2009 para investigar "indícios de irregularidades" em contratos da área de comunicação do abastecimento. Segundo a petroleira, o processo resultou na demissão do ex-gerente da área, que acabou não sendo efetivado por causa de uma lincença médica.

Oposição pede afastamento de Graça Foster da Petrobrás

• Após reportagem afirmar que a direção da estatal foi informada sobre desvios antes da Lava Jato, lideranças defendem que presidente da petroleira não tem condições de seguir no cargo

Ricardo Della Coletta e Daiene Cardoso – O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A revelação de que uma ex-gerente executiva da Diretoria de Abastecimento da Petrobrás alertou a presidente da estatal, Maria das Graças Foster, sobre irregularidades na estatal fez com que líderes da oposição pedissem a substituição imediata do comando da empresa.

Para o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), "é inadmissível que não se promova uma mudança radical na Petrobrás". "Se não há participação direta (no esquema), há o crime de omissão, de conivência e de cumplicidade", afirmou nesta sexta-feira, 12. "Não há como tolerar essa passividade do governo com relação aos gestores da Petrobrás."

Reportagem do jornal Valor Econômico publicada nesta sexta afirma que a atual diretoria da Petrobrás foi informada de irregularidades em contratos da petroleira antes do início da Operação Lava Jato, que apura um esquema de desvio de recursos envolvendo contratos da estatal. Segundo a publicação, a geóloga Venina Velosa da Fonseca, que entre 2005 e 2009 foi subordinada ao ex-diretor Paulo Roberto Costa, preso pela Polícia Federal e em acordo de delação premiada com a Justiça, apresentou denúncias de malfeitos à diretoria da petroleira, inclusive com e-mails encaminhados a Graça Foster. Em nota, a estatal afirmou ter apurado as informações fornecidas pela funcionária e encaminhado o resultado das investigações internas aos órgãos de controle.

Para o líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA), Graça perdeu as condições de permanecer no posto. "Ela vai se transformando numa presidente fraca, que não tomou medidas para conter os desmandos na Petrobrás", disse.

Nesta semana, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou que não há indícios contra a atual direção da estatal e saiu em defesa de Graça Foster. A manifestação foi uma resposta a declarações do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que, ao falar sobre as denúncias de corrupção na petroleira, sugeriu substituições na direção.

O líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE) voltou a defender a renovação da diretoria. "A oposição tem insistido que a presidente da República renove a diretoria da Petrobrás, para que a empresa possa ter um comando sem histórico de relação com as denúncias", concluiu.

Para o líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR), não há mais "desculpa" para a presidente Dilma Rousseff manter sua "protegida" na Petrobrás. "É um enredo estarrecedor. Não há mais qualquer desculpa para a permanência de Graça Foster na Presidência da Petrobrás. Se tiver o mínimo de juízo, a presidente Dilma tem a obrigação de demitir sua protegida e toda a diretoria da empresa. Se não o fizer, vai sinalizar que também faz parte da quadrilha que saqueou a Petrobrás", afirmou Bueno em nota.

O líder sugeriu que Venina Velosa da Fonseca, seja ouvida no inquérito da Operação Lava Jato e passe a ter proteção policial.

Presidente do PT defende Graça Foster

Rui Falcão defende Graça Foster e diz que é “pouco crível” que ela soubesse de irregularidades

• Presidente do partido rebateu acusação de gerente da Petrobras, que afirmou ter avisado Graça sobre problemas na estatal

Julianna Granjeia – O Globo

SÃO PAULO - O presidente nacional do PT, Rui Falcão, saiu em defesa da presidente da Petrobras, Graça Foster, nesta sexta-feira e disse que é “pouco crível” que ela tenha sido alertada sobre irregularidades cometidas na estatal e não tenha tomado nenhuma providência. Reportagem publicada pelo jornal “Valor Econômico” afirma que uma gerente da empresa havia alertado Graça por email sobre problemas encontrados em contratos, como pagamento de serviços não realizados.

— Eu não vi esse comunicado que foi feito a ela. O que eu posso dizer é que ela (Graça Foster) e a direção da Petrobras têm tomado todas as medidas pra investigar o que ocorreu lá e as denúncias que apareceram, inclusive estão com duas auditorias externas investigando. Então, é pouco crível que, ela sendo alertada, não tenha tomado providências — disse Falcão, durante encontro de petistas em São Paulo.

Rui Falcão também ressaltou que não há nenhuma acusação envolvendo a presidente da Petrobras e que ela trocou parte da diretoria quando assumiu:

— É importante também a gente notar que toda essa ação de investigações da Petrobras não deve ser interrompida. A Petrobras hoje vive dificuldades como patrimônio brasileiro que a gente precisa entender.

O presidente do PT defendeu que, caso seja comprovadas as denúncias de corrupção e cartel na Petrobras, deve haver “reposição do dinheiro público e punição dos envolvidos”. Rui lembrou que as investigações do cartel do Metrô de São Paulo deve seguir o mesmo rigor.

— Todas as empresas acusadas de corrupção são grandes realizadoras de obras, são fornecedoras da Petrobras. É preciso que se encontre uma solução que não implique perdão nem impunidade, mas que o país nem a Petrobras parem, para que não haja desemprego.

Ministérios de Dilma
Rui Falcão é o interlocutor entre o PT e a presidente Dilma Rousseff para a composição do ministério. Ele afirmou que a presidente deve anunciar todos os anos até antes do Natal.

— Tem postos que o PT pode reivindicar, que pode estar em conflito com interesses de outros partidos. A presidente e os seus ministros vão ter que mediar isso. Vamos apresentar pleitos, conteúdos e nomes. Estamos pedindo para manter Berzoini, Mercadante e outros ministros.

Rui afirmou que já ouviu "forças políticas" e aguarda o chamado de Dilma para apresentar os nomes. Depois de formado o ministério, o PT vai negociar cargos federais nos estados.

Dilma mantém disposição de não mexer na diretoria

Tânia Monteiro - O Estado de S. Paulo

A presidente Dilma Rousseff não mostra disposição de mudar a atual diretoria da Petrobrás, segundo auxiliares próximos. Dilma, que passou o dia de ontem no Rio, incumbiu o seu braço direito, ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, para cuidar pessoalmente do acirramento da crise após as declarações da ex-gerente Venina Velosa da Fonseca. Ao final do dia, quando embarcou para Porto Alegre, onde passará o fim de semana, a presidente estava, segundo assessores, propensa a não alterar o comando da Petrobrás.

Toda a estratégia de comunicação sobre o caso Venina está concentrada na mão da própria presidente da Petrobrás, Graça Foster. Segundo informações que circulavam ontem no Palácio do Planalto, a cautela em dar uma resposta às denúncias se deve a especulações do mercado de que a ex-gerente executiva da Diretoria de Refino e Abastecimento da Petrobrás tem mais munição para disparar a qualquer momento.

No Planalto, há dois tipos de avaliação. A primeira vê as declarações de Venina como uma forma de atingir Dilma, que é amiga de Graça. A segunda dá conta de que o cerco contra a atual presidente da Petrobrás se fecha a cada dia e sua permanência no comando deixa a estatal fragilizada. Esse entendimento é compartilhado por setores do PT, que também consideram que é a hora de realizar uma mudança na diretoria da empresa.

Apesar dessa avaliação, a decisão de Dilma, por enquanto, é manter tudo como está. Um dos auxiliares da presidente disse que Venina já foi braço direito do ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa, preso na Operação Lava Jato. Dentro deste raciocínio, as suas acusações, na verdade, seriam um "mecanismo de defesa", já que, eventualmente, as investigações poderiam vir a se aproximar de sua atuação na estatal.

Outra preocupação atual do Planalto é com as declarações recentes do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que comprou a briga contra a atual direção da Petrobrás ao pedir a troca de comando na empresa, na terça-feira. O governo está entendendo que se trata de uma tentativa de Janot de "salvar a sua pele" e evitar ficar marcado como quem contemporizou em relação aos problemas da estatal.

Justiça aceita denúncia e mantém empreiteiros presos

• Costa, Youssef e diretores da Engevix já são réus em processo; STF nega habeas corpus para lobista e dez executivos

Cleide Carvalho / Renato Onofre – O Globo

CURITIBA e BRASÍLIA- A Justiça Federal aceitou ontem a denúncia e transformou em réus nove acusados de envolvimento no escândalo de corrupção na Petrobras. Passaram a réus no processo três executivos da construtora Engevix — Gerson de Mello Almada, vice-presidente, e os diretores Carlos Eduardo Strauch Albero e Newton Prado Júnior —, o exdiretor da Engevix Luiz Roberto Pereira, além do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, do doleiro Alberto Youssef e de três pessoas do núcleo de Youssef no esquema: Waldomiro de Oliveira, Carlos Alberto Pereira da Costa e Enivaldo Quadrado.

Todos são acusados pelo MP por 33 atos de corrupção e 31 de lavagem de dinheiro em obras da Refinaria Gabriel Passos (Regap), em Minas Gerais.

Em Brasília, o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), negou ontem habeas corpus para dez executivos de empreiteiras acusados de participar do escândalo. Também permanecerá atrás das grades o lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, operador do esquema para o PMDB.

A decisão de Zavascki mantém presos José Aldemário Pinheiro Filho, presidente da OAS; José Ricardo Nogueira Breghirolli, funcionário da OAS; Agenor Franklin Magalhães Medeiros, diretor-presidente da Área Internacional da OAS; Mateus Coutinho de Sá Oliveira, funcionário da OAS; Dalton dos Santos Avancini, presidente da Camargo Corrêa; Eduardo Hermelino Leite, vice-presidente da Camargo Corrêa; João Ricardo Auler, presidente do Conselho de Administração da Camargo Corrêa; Erton Medeiros Fonseca, diretor da Galvão Engenharia; Ricardo Ribeiro Pessoa, presidente da UTC Engenharia; e Gerson de Mello Almada, vicepresidente da Engevix.

Em seu despacho, o juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal do Paraná, manteve a prisão de Gerson Almada, que cumpre prisão preventiva na carceragem da PF em Curitiba e já teve R$ 22,615 milhões bloqueados. Moro disse que a prisão cautelar do executivo é necessária para "prevenir a continuidade do ciclo delituoso" e alerta não só ao executivo, mas também à empresa, das consequências da prática de crimes relacionados a negócios com a administração pública.

"Não fosse a ação rigorosa, mas necessária da Justiça, é provável que a corrupção e lavagem estivessem perdurando até o presente", diz o juiz, em seu despacho.

O esquema de corrupção que será julgado na ação aberta ontem por Moro teria desviado R$ 158,9 milhões em obras na estatal. Desses, R$ 52,9 milhões só de investimentos ligados a Diretoria de Abastecimento, comandada por Costa. Segundo a denúncia, Almada ainda teria emitido documentos falsos para justificar o pagamento de R$ 13,4 milhões a empresas de fechadas comandadas pelo doleiro Youssef.

Operação Lava Jato complica situação financeira do PT

• Com torneira de doações fechadas após prisão de empreiteiros, dirigentes do partido estudam forma de pagar dívida de campanha

Ricardo Galhardo e José Roberto Castro - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - O PT está sofrendo o impacto financeiro decorrente da Operação Lava Jato. Com a torneira das doações fechada desde a prisão de altos executivos de empreiteiras que financiavam o partido, dirigentes estaduais e nacionais fazem um jogo de empurra em relação à dívida de mais de R$ 25 milhões da campanha de Alexandre Padilha ao governo de São Paulo.

O presidente estadual do PT de São Paulo, Emidio Souza, admitiu nesta sexta-feira, 11, que as investigações movidas pela Polícia Federal e Ministério Público federal atrapalham o encaminhamento de uma solução para o pagamento da dívida.

"Na solução da dívida acredito que (atrapalha) sim", disse o dirigente na manhã desta sexta-feira, 11, durante reunião da chapa majoritária do partido, Partido que Muda o Brasil (PMB).

Emidio tenta dividir com a direção nacional do PT a dívida alegando que o esforço da campanha em São Paulo também tinha como objetivo alavancar o desempenho da presidente Dilma Rousseff no maior colégio eleitoral do Brasil. "A dívida de São Paulo nunca se pagou sozinha. Somos um partido só. Aqui também foi feito um esforço nacional", disse ele.

O pedido, no entanto, esbarra no tesoureiro nacional do partido, João Vaccari Neto, responsável pela arrecadação do PT, que é alvo das investigações da Lava Jato e alega não ter responsabilidade sobre a dívida. Segundo Vaccari, a direção estadual do PT de São Paulo foi avisada ainda no primeiro semestre que a situação financeira do partido era difícil.

Ele tem dito que se houver algum socorro nacional ao PT-SP ele virá do comitê financeiro da campanha de Dilma à reeleição, comandado por Edinho Silva.

Emidio discorda da argumentação de Vaccari e insiste no pedido de ajuda à direção nacional. "Quem trata oficialmente (da dívida) é o tesoureiro do partido. O Edinho cuidou da campanha da Dilma", disse Emidio que admitiu ser grande a chance de o prazo para pagamento das despesas se alongar. "Este é um aspecto que nos preocupa mas a solução não virá em um curto espaço de tempo", completou.

Vaccari diz que escândalo atrapalha posse de Dilma

• Tesoureiro do PT afirmou que crise política prejudica arrecadação para a cerimônia

Catia Seabra – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, recomendou nesta sexta-feira (12) "criatividade" ao partido para bancar a festa de posse da presidente Dilma Rousseff.

Reunido com petistas, ele admitiu que a explosão da Operação Lava Jato, aliada à crise internacional, afugenta potenciais colaboradores.

E, queixando-se da falta de recursos, sugeriu que os diretórios municipais do PT se cotizem para garantir público na festa de posse da presidente, no dia 1º de janeiro.

"Os doadores estão com medo", disse Francisco Rocha, o "Rochinha".

De acordo com participantes, Vaccari fez questão de frisar que seu nome não está entre os denunciados pelo Ministério Público Federal por participação no esquema na Petrobras. Mais uma vez, negou irregularidades.

Ele reconheceu, porém, impacto na arrecadação do partido. Informou que a redução, em cerca de 20%, provocará significativa perda de receita no ano que vem.

A crise provocada pelo escândalo na Petrobras foi o tema principal do encontro, que reuniu as correntes que compõem a chapa que controla o partido.

Na reunião, Vaccari defendeu o financiamento público de campanha eleitoral como forma de combate à corrupção. Para ele, o partido arrecadaria mais caso fosse aprovada uma fórmula que mescla financiamento público e teto de contribuição de pessoa física (em R$ 100 mil).

"O problema é que todos os doadores estão presos. E não é só [problema] do PT", lamentou um dirigente petista. O anúncio de vacas magras ocorre num momento em que coordenadores das campanhas estaduais pedem socorro ao comando nacional.

O coordenador do comitê de Alexandre Padilha, derrotado na disputa ao governo de São Paulo, Emídio Souza, calcula em R$ 30 milhões a dívida da campanha. Segundo ele, o prejuízo é do partido. Vaccari discorda.

Ao deixar a discussão, o presidente do PT, Rui Falcão, brincou ao comentar sua pauta. Numa menção a termos como "revitalização", afirmou: "Nunca falei tanto ré"".

Petrobrás diz em nota que funcionária teve oportunidade de revelar fatos antes e não o fez

• A geóloga Venina Veloso revelou a jornal que avisou em 2009 à presidente da estatal, Graça Fostar, sobre irregularidades

Fernanda Nunes – O Estado de S. Paulo

A Petrobrás divulgou comunicado oficial na noite desta sexta-feira, 12, no qual informa que a funcionária Venina Velosa da Fonseca "teve a oportunidade, mas não revelou os fatos que está trazendo agora ao conhecimento da imprensa". A nota responde à denúncia divulgada nesta sexta pelo jornal Valor Econômico de que Venina teria avisado a presidente da estatal, Graça Foster, de irregularidades na diretoria de Abastecimento da empresa, na época comandada por Paulo Roberto Costa, delator na Operação Lava Jato, da Polícia Federal.

Segundo a estatal, Venina chegou a ser ouvida por comissão interna que apurou possíveis casos de corrupção nas obras para a construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. "A empregada guardou estranhamente por cerca de cinco anos o material e hoje possivelmente o traz a público pelo fato de ter sido responsabilizada pela comissão", afirmou.

Venina foi afastada do cargo de presidente do escritório da Petrobras em Cingapura após comissão interna da Petrobras ter concluído que ela, entre outros empregados, não cumpriram os procedimentos corretos de contratações.

Confira a íntegra do texto:
"Com referência às matérias publicadas na imprensa a respeito de denúncias feitas pela empregada Venina Velosa, a Petrobras reitera que tomou todas as providências para elucidar os fatos citados nas reportagens. Não procede a afirmação de que não houve apuração por parte da Companhia em nenhum dos três casos citados por ela: RNEST, Compra e Venda de BUNKER e Irregularidades da Gerência de Comunicação do Abastecimento.

A Petrobras instaurou comissões internas de apuração, entre as quais uma referente aos procedimentos de contratação nas obras da RNEST, em 2014. A empregada foi ouvida nesta comissão, momento em que teve a oportunidade mas não revelou os fatos que está trazendo agora ao conhecimento da imprensa. A empregada guardou estranhamente por cerca de 5 anos o material e hoje possivelmente o traz a público pelo fato de ter sido responsabilizada pela comissão.

A empregada foi citada no relatório desta Comissão com referência a responsabilidades por não conformidades consideradas relevantes. O resultado foi enviado às Autoridades Competentes (MPF, PF, CVM, CGU e CPMI) para as medidas pertinentes. A empregada foi destituída da função de diretora presidente da empresa Petrobras Singapore Private Limited em 19/11/2014, após o que ameaçou seus superiores de divulgar supostas irregularidades caso não fosse mantida na função gerencial.

A Petrobras instaurou comissões internas em 2008 e 2009 para averiguar indícios de irregularidades em contratos e pagamentos efetuados pela gerência de Comunicação do Abastecimento. O ex-gerente da área foi demitido por justa causa em 3 de abril de 2009, por desrespeito aos procedimentos de contratação da Companhia. A demissão não foi efetivada naquela ocasião porque seu contrato de trabalho estava suspenso, em virtude de afastamento por licença médica. A demissão foi efetivada em 2013. O resultado das análises foi encaminhado para a CGU e MP/RJ e há uma ação judicial em andamento visando ao ressarcimento dos prejuízos causados à companhia pelo ex-empregado.

Após resultado do Grupo de Trabalho constituído em 2012, a Petrobras aprimorou os procedimentos de compra e venda de bunker, com a implementação de controles e registros adicionais. Com base no relatório final, a Companhia adotou as providências administrativas e negociais cabíveis. A Petrobras possui uma área corporativa responsável pelo controle de movimentações e auditoria de perdas de óleo combustível, que não constatou nenhuma não conformidade no período de 2012 a 2014".

Para Marina, governar sem programa é dissimulação

• Ex-senadora criticou Dilma indiretamente

Marina Dias – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Em seu primeiro discurso público após o resultado das eleições, Marina Silva (PSB) fez nesta sexta-feira (12) uma fala bastante enigmática em que chamou o processo eleitoral de "doloroso" e "avassalador" e disse que um governo sem programa está suscetível a "dissimulações".

Segundo a ex-senadora, "colocar as coisas no papel" possibilita que se "pague o preço das posições tomadas".

"É muito triste ver os documentos que são feitos irem sempre para as prateleiras", afirmou a pessebista no lançamento da "Plataforma Brasil democrático e sustentável", em São Paulo. "É bom ver que muitas das coisas também estiveram em um programa de governo."

Durante a campanha, a terceira colocada na disputa pelo Palácio do Planalto fez críticas constantes a seus adversários, a presidente Dilma Rousseff (PT) e o senador Aécio Neves (PSDB), por não apresentarem um programa de governo. O texto de sua candidatura, porém, foi muito contestado por recuos como a retirada de trechos que defendiam a ampliação de direitos da comunidade gay.

Marina não deixou de justificar indiretamente seu apoio a Aécio no segundo turno e declarou que é preciso "arriscar" e "continuar assumindo posição". Aproveitando-se de seu vocabulário metafórico, disse que "quando você está apegado e gosta muito da forma de si, é porque você já se transformou em conservador".






Demissões podem custar R$ 600 mi

• Acordo da Petrobrás com centrais, patrocinado pelo governo, poderia fazer a estatal assumir o custo trabalhista de fornecedores

João Villaverde e Lu Aiko Otta - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A Petrobrás pode ser forçada a pagar uma despesa nova de quase R$ 600 milhões à Justiça do Trabalho se o acordo entre o governo Dilma Rousseff, as centrais sindicais e o Ministério Público Federal sair do papel. Reunião decisiva sobre o assunto será realizada pelo ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, na segunda-feira no Palácio do Planalto.

Como antecipou o Estado, o governo costura uma operação que faria a Petrobrás arcar com os custos trabalhistas de suas fornecedoras, que têm demitido funcionários em refinarias e estaleiros em obras de construção para a estatal.

As fornecedoras têm alegado aos sindicatos e ao governo que estão sem receber repasses contratuais da Petrobrás e, por isso, não têm feito os pagamentos aos demitidos.

A proposta em estudo é que a Petrobrás pague os direitos trabalhistas devidos pelas empresas fornecedoras aos trabalhadores como uma espécie de adiantamento e depois os desconte dos valores que tenha a pagar às empresas.

Ganho de imagem. Em dificuldades financeiras, por causa do preço da gasolina represado há três anos, e políticas, devido aos desdobramentos da operação Lava Jato, a Petrobrás poderia ter um "ganho de imagem" com essa engenharia financeira em estudo no Palácio do Planalto, avaliam fontes do governo.

As centrais sindicais começaram a estimar quantos trabalhadores estão na condição de demitidos sem receber nenhum dinheiro das empresas.

No caso dos 5 mil desligados pelas construtoras nas obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, a Força Sindical estima que os gastos serão de R$ 140 milhões.

Com as demissões em diversas regiões, como o Estaleiro Maragogipe (BA), o Comperj (RJ), estaleiros no Rio Grande do Sul, além de Abreu e Lima, o total de desligados por fornecedoras sem qualquer pagamento pode superar 25 mil trabalhadores.

Numa conta simples, o valor total pode chegar a quase R$ 600 milhões. "Tem fornecedora da Petrobrás que está há quase um ano sem receber e agora começou a demitir", afirmou Miguel Torres, presidente da Força Sindical.

Meio milhão. Ao todo, as centrais sindicais avaliam que o universo de trabalhadores contratados indiretamente pela Petrobrás varia de 480 mil a 510 mil pessoas.

O governo Dilma, no entanto, não quer tomar essa decisão sozinho. Da reunião convocada por Mercadante participarão também o advogado-geral da União (AGU), Luis Inácio Adams, técnicos do Ministério da Justiça, do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e da Controladoria-Geral da União (CGU), além de representantes do Ministério Público Federal (MPF) e das seis maiores centrais sindicais do País.

O grupo pode aumentar: os sindicalistas sugeriram incluir no encontro o presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), ministro Antonio Barros Levenhagen.

Merval Pereira - Começar de novo

- O Globo

A coisa na Petrobras está tão feia que até mesmo quando um diretor é erroneamente acusado de ter sido beneficiário do esquema de corrupção, como aconteceu com José Carlos Cosenza, ele acaba sendo envolvido em outros casos relacionados, e o pedido de desculpas da Polícia Federal acaba sendo neutralizado pelas novas descobertas.

A denúncia de que a gerente Venina Velosa da Fonseca enviou e-mails à atual presidente Graça Foster e a outros superiores, incluindo Cosenza e o seu antecessor, o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, para apontar desvios em vários setores da empresa, mostra que muito antes da Operação Lava Jato a atual diretoria já tinha conhecimento dos esquemas de corrupção.

As medidas tomadas, como a demissão do responsável pela área de comunicação, ligado ao PT baiano do ex-governador Jacques Wagner e ao ex-presidente da Petrobras José Gabrielli, devido ao pagamento de R$ 58 milhões para serviços que não foram realizados em 2008, não tiveram efeito prático, pois o funcionário saiu de licença e permaneceu mais de cinco anos na empresa.

Já naquela época a gerente denunciava superfaturamento nos custos da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e nada foi feito. Em outra ponta, a Controladoria Geral da União (CGU) anunciou que investiga o aumento do patrimônio do ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque e dos ex-diretores da Área Internacional Nestor Cerveró e Jorge Zelada, em processos administrativos que apuram suposta participação dos três no esquema de pagamento de propina pela empresa holandesa SBM Offshore.

Esse caso é exemplar de como as coisas não funcionam na Petrobras. A revista Veja denunciou, e a estatal tratou de desmentir, alegando que uma comissão interna nada encontrara. Agora, que a empresa holandesa confessou ter dado o suborno, a presidente Graça Foster admitiu que soubera da confirmação dias antes. Só que, como em outras ocasiões, a questão fora abafada e a diretoria da Petrobras somente comentou o assunto por que foi confirmado na imprensa no exterior.

Essa é uma das queixas dos investidores internacionais que estão processando a Petrobras nos Estados Unidos: a empresa não respeita seus acionistas minoritários, sonegando-lhes informações sobre casos de corrupção que acabaram derrubando a cotação de suas ações no Brasil e nas bolsas internacionais. E, para culminar, quem chefia a Comissão Interna de Apuração de desvios na estatal é o mesmo José Carlos Cosenza.

Os fatos mostram que não haverá solução sem que, como sugeriu o Procurador-Geral da República e a oposição agora exige, toda a diretoria seja mudada e a estatal comece da estaca zero sua reorganização.

Comissões
.O professor Nelson Franco Jobim, especialista em política internacional, me envia um comentário com o qual concordo integralmente. Diz ele: “A verdadeira Comissão da Verdade e da Reconciliação Nacional foi a da África do Sul, onde os dois lados foram ouvidos, inclusive o presidente Nelson Mandela, interrogado pelo arcebispo Desmond Tutu.

Para ter direito a anistia, quem cometeu crimes teve de confessá-los e de pedir perdão às vítimas e seus descendentes e à sociedade sul-africana. Houve declarações como "eu acreditava que meu povo, minha cultura e modo de vida estavam ameaçados, por isso ataquei uma escola para crianças negras" ou "eu estava certo de que a libertação do meu povo exigia a morte dos brancos", seguidas de pedidos de desculpas.

No Brasil, com raras exceções, ninguém se arrependeu de nada, cada lado ainda hoje convencido de que agiu corretamente.

Igor Gielow - Fim da linha

- Folha de S. Paulo

Esgotaram-se as condições políticas para a manutenção de Graça Foster à frente da Petrobras, e quaisquer protelações adicionais por parte do Planalto só trarão o escândalo para a mesa de Dilma Rousseff --circulando por seu gabinete ele já se encontra.

O fato de a Petrobras não negar o conteúdo das denúncias da ex-gerente Venina da Fonseca sobre falcatruas na famigerada Diretoria de Abastecimento, ainda que seja omissa sobre os alertas que ela diz ter feito a Graça, é revelador.

A estatal, em soberba típica dos tempos em que se achava o farol do futuro, disse que apurou e "encaminhou às autoridades competentes" seus achados. Mesmo? Enquanto isso, por exemplo, a refinaria de Abreu e Lima viu seu custo explodir.

A questão é que até o procurador-geral da República, nem de longe um quadro antipetista, já pediu a cabeça de Graça e dos diretores da estatal. Com Venina e seus e-mails, naturalmente a depender de apuração judicial, parece ser o fim da linha para a presidente da Petrobras.

É um pesadelo dentro de um sonho ruim para o governo. Graça é a última linha de defesa de Dilma. Presidente, a ex-ministra colocou a executiva como um "doppelgänger", seu duplo no comando da megaestatal na qual mandava e desmandava. Graça encarnava o mito Rousseff, a gerente dura e implacável. Simbolicamente, ela era Dilma.

A maré da crise é implacável. No começo da Lava Jato, ministros enchiam a boca para dizer que Graça havia "limpado" diretorias da Petrobras sob ordens dilmistas. Era enfim uma má explicação, já que tudo indica que, se ocorreu, foi uma faxina interna e ineficaz. O Ministério Público demonstrou que a roubalheira estava em curso até o mês passado.

Nada disso é inédito. Lula escapou do mensalão com a cabeça de José Dirceu na algibeira. Irão ele e Dilma sobreviver agora ao caso Petrobras? Corta para o próximo capítulo.

Cristovam Buarque - Revolução com critério

• Na economia, todos os partidos ficaram iguais

- O Globo

As amarras da política econômica são tão fortes que Dilma vence, mas nomeia o ministro que Aécio gostaria. Quando ela disse que em campanha se faz o diabo, talvez não imaginasse que na economia tem que se fazer o que não se deseja. Mas Deus fez o mundo e deixou a economia para o demônio. Por isso, não adianta administrar a economia com o voluntarismo que caracterizou estes últimos anos. Era perfeitamente previsível o desequilíbrio que está acontecendo.

Em setembro de 2011, foi publicada no Senado Federal uma brochura intitulada "A economia está bem, mas não vai bem", que pode ser lida no link http:// bit. ly/ 1zJaALQ, indicando 15 problemas visíveis para quem não estava iludido com as aparências. O último mostra a euforia que dominava os dirigentes, que não quiseram ver o que aconteceria.

Nos tempos de hoje, a verdadeira política progressista consiste em cuidar da economia com responsabilidade e investir na mudança da realidade social por meio da educação. O governo fez o contrário: brincou com a economia e não fez a intervenção necessária na educação.
Alguns ainda acreditam que ser de esquerda ou de direita é agir sobre a economia, mas terminam provocando os problemas que agora atravessamos e teremos dificuldades em superar, além de pagarmos um elevado preço em emprego, nível de renda e de consumo, e pela estabilidade dos programas de assistência social.

A utopia não é mais um mundo sem patrões, mas um mundo onde os filhos dos trabalhadores estudem na mesma escola dos filhos dos patrões. E essa utopia tem que ser construída respeitando as regras da economia. A luta da revolução está no Orçamento bem administrado, com responsabilidade fiscal e prioridades corretas do ponto de vista dos propósitos utópicos.

A presidente Dilma faz parte dos quadros de uma esquerda que não conhecia os limites ecológicos quando o proletariado e seus sindicatos eram revolucionários e queriam mudar a estrutura social, o Estado podia fechar as fronteiras e estatizar o setor produtivo, pois a base filosófica sustentava que a revolução estava na economia. Isso mudou. Entramos em um tempo em que na economia todos os partidos ficaram iguais e responsáveis, ou erram querendo ser diferentes e ficam irresponsáveis.

A concepção do Bolsa Família é um bom e necessário programa neoliberal de assistência social, daí a simpatia por ele de economistas conservadores como o Nobel Gary Stanley Becker. A concepção da Bolsa Escola era revolucionária porque vinculava a responsabilidade com a economia, a revolução pela educação de qualidade igual para todas as classes sociais.
Se quiser fazer um governo progressista, a presidente Dilma deverá fazer um governo conservador na economia e definir metas ambiciosas para a educação de qualidade para todos, no ritmo possível para que essas metas possam ser atingidas sem afetar o equilíbrio fiscal, reorientando as prioridades, parando desperdícios e gastos supérfluos.

Cristovam Buarque é senador (PDT-DF)

Zuenir Ventura - A hora das verdades

• Uma das vantagens da democracia é que ela não espera meio século para descobrir o que aconteceu de bom e de ruim, doa a quem doer

- O Globo

Foi uma semana de catarse, isto é, de expiação de traumas e culpas, em que verdades desagradáveis vieram à tona — algumas de ontem, outras de hoje. Um dia depois que o insuspeito procurador-geral da República, Rodrigo Janot, declarou com todas as letras o que já se sabia, mas faltava admitir oficialmente — que a Petrobras fora assaltada e as denúncias de corrupção eram “um incêndio de grandes proporções” —, a Comissão Nacional da Verdade publicou seu relatório final revelando o que as Forças Armadas negaram durante quase 50 anos: que elas torturaram e mataram presos políticos no período da ditadura militar. Resultado de dois anos e sete meses de trabalho, o documento conclui citando o nome de 243 desaparecidos e 191 mortos, além de detalhar 30 formas de tortura usadas contra os prisioneiros. E mais: pela primeira vez, os cinco generais-ditadores que governaram o país de 1964 a 1985 foram formalmente acusados de graves violações dos direitos humanos: Castelo Branco, Garrastazu Médici, Costa e Silva, Ernesto Geisel e João Figueiredo.

Uma das vantagens da democracia é que ela não espera meio século para descobrir o que aconteceu de bom e de ruim, doa a quem doer. Agora, por exemplo, está doendo tanto que muitos, por um mecanismo psicológico de fuga, ou por simples cinismo, preferem negar. Já li pessoas dizendo que a “televisão é uma usina de escândalos”, como se eles fossem fabricados pela imprensa. Não adianta argumentar que os malfeitos da Petrobras foram revelados por executivos da própria estatal — a lama vazou de dentro para fora. Não foi um repórter, mas um poderoso ex-diretor que delatou os subornos e desvios que alimentaram os bilionários propinodutos da petroleira. O gerentinho que se dispôs a devolver quase R$ 100 milhões não confessou o seu roubo debaixo de tortura, como antigamente, mas de maneira espontânea.

Pior foi a conclusão da CPI mista da Petrobras. Quase ao mesmo tempo em que o Ministério Público terminava uma parte de sua devassa, denunciando 36 pessoas acusadas de desviarem cerca de R$ 1 bilhão, o relator da Comissão do Congresso concluía sua investigação sem pedir indiciamento e sem apontar envolvimento de políticos no que o procurador chamou de “aula de crime”. E, acredite, achou normal a Petrobras pagar US$ 1,25 bilhão pela Refinaria de Pasadena, que um ano antes fora vendida por US$ 42,5 milhões. Admitiu que possa ter havido pagamento de propina, mas achou que, apesar disso, não houve prejuízo na operação.

Negócio assim até eu. Vou tentar vender meu apartamento ao relator da CPI nas mesmas condições de valorização.

Celso Ming - Autismo no Banco Central

- O Estado de S. Paulo

Mesmo quando admite e avisa que a inflação vai aumentar nos próximos meses, o Banco Central (BC) não consegue passar firmeza nem sobre seu diagnóstico nem sobre a eficácia de sua atuação.

Já sabemos que há uma carga enorme de correção de preços a ser transferida para a inflação. Há os reajustes já previstos da energia elétrica e dos demais preços controlados pelo governo (preços administrados) e há a estocada do câmbio, que vai puxando para cima em reais os preços dos produtos importados e as dívidas em moeda estrangeira. Mas, já aí, a percepção formada é a de que o BC não faz uma avaliação adequada das pressões que estão se acumulando na caldeira.

Todos os dias aparecem esqueletos novos na área dos preços administrados, como essa dívida de R$ 9 bilhões que a Eletrobrás contraiu com a Petrobrás pelo suprimento de combustíveis para suas termoelétricas, que deverá ser transformada em títulos com garantia do Tesouro a serem colocados no mercado. Essa é nova descarga de custos sobre as tarifas de energia elétrica não admitida antes pelo governo e com que a autoridade monetária não contava.

O câmbio é outra variável sobre a qual o BC não diz o suficiente. A atual política de oferta de swaps no mercado futuro de dólares deverá terminar no fim deste mês. O presidente do BC adiantou que o estoque de recursos envolvidos nessas operações já é adequado para as necessidades de hedge (defesa) do mercado financeiro. Mas até o momento foi incapaz de dizer o que acontecerá após a virada do ano, numa conjuntura de acumulação de incertezas, em que o governo Dilma vai sendo esmerilhado por um escândalo atrás do outro, fator que, em princípio, aumenta a procura de moeda estrangeira.

Mesmo admitindo que a inflação ainda vai disparar, a única resposta da política monetária é a tal “parcimônia”. Confia agora o Banco Central em que a política fiscal (controle das contas públicas) fará a sua parte.

E aí há outra fonte de incongruências. Até o momento, a autoridade monetária alardeava não precisar de uma política fiscal mais consistente porque “o balanço do setor público convergia para a neutralidade”, como foi repetido ad nauseamnos documentos oficiais desde agosto de 2013. No caso, convergir para a neutralidade quer dizer que está próximo o dia em que a administração das contas públicas não provocará inflação. E, no entanto, de lá para cá, a situação das contas públicas se deteriorou.

O BC começou a trabalhar com o pressuposto de que o governo entregaria um superávit primário (sobra de arrecadação para pagamento da dívida) de 3,1% do PIB. Depois que esse superávit foi desmilinguindo, trocou o conceito para “superávit estrutural”. No momento, não há mais superávit porque se transformou em déficit (seria estrutural?) e, no entanto, em todo esse tempo, não importando os enormes solavancos da situação fiscal, para o BC continua o “balanço do setor público a se deslocar para a zona de neutralidade”. Quem acreditar que conte outra.

Essa falta de consistência entre discurso e ação expõe um comportamento autista do BC. É uma situação corrosiva para outra função essencial da autoridade monetária em um regime de metas de inflação, que é a de conduzir as expectativas dos agentes econômicos.

No limbo – Folha de S. Paulo / Editorial

• Seria irônico se, na esteira dos desmandos em série que vêm à tona na Petrobras, a tese da "herança maldita" se voltasse contra os anos Lula

Desde a vitória no segundo turno, e apesar do acerto que representou a nomeação da nova equipe econômica, o comportamento de Dilma Rousseff parece marcado por uma preocupante passividade.

Os desmandos na Petrobras se agravam sobremaneira com a revelação de denúncias internas desde 2009, conforme noticiou ontem (12) o jornal "Valor Econômico". Mas é como se a presidente abdicasse de dar conformação política clara ao deprimente espetáculo diante de seus olhos.

Não parece ter havido maior exemplo disto do que a patética reação do governo federal às declarações do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a respeito do escândalo na Petrobras.

Este não mediu suas palavras, na terça-feira (9), durante evento sobre o combate à corrupção. Que Janot tenha qualificado de desastrosa a gestão na Petrobras parece que não chegou a provocar grande desconforto no Planalto.

O mal-estar surgiu, porém, quando o procurador-geral adiantou a expectativa de que, "sem expiar ou imputar previamente culpa", se proceda à "eventual substituição" da diretoria da empresa.

Janot terá dado, talvez, um passo além do que caberia a seu papel --que não é o de um magistrado, mas o de quem vocaliza suspeitas fundadas como defensor do interesse público. Suspeitas que, desde então, só fizeram solidificar-se.

Foi o bastante para que o Planalto articulasse uma reação. A presidente Dilma Rousseff convocou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para que saísse em defesa temerária da atual presidente da Petrobras, Graça Foster.

É verdade que, como disse Cardozo, não haviam transparecido até então fatos e circunstâncias envolvendo diretamente Graça Foster. Também é verdade que existem, como reconheceu de modo algo desenxabido o ministro da Justiça, "fortes indícios de corrupção", que no momento chegam mais perto da dirigente.

Outra verdade, contudo, tende a aparecer nas entrelinhas.

Se se trata de afirmar um combate sem tréguas à corrupção, e ao mesmo tempo de defender a inocência da atual diretoria da Petrobras, é forçoso que, no plano do discurso e da ação, se dissipem os laços de continuidade entre o governo de Dilma e o de Lula.

Obviamente, nada seria mais irônico do que ver o atual governo recaindo na famosa tese da "herança maldita" --agora, contra Lula.

O dilema se repete, em ponto menor, na passagem do comando econômico: se Joaquim Levy substitui Guido Mantega, em que medida poderá Dilma Rousseff tirar de si mesma a responsabilidade por decisões que agora reverte?

Num tipo de limbo, a Presidência mantém atitude de observação atônita, sem saber transfigurar um quadro a que sempre aquiesceu.

Na senda do mensalão - O Estado de S. Paulo / Editorial

O Ministério Público Federal (MPF) - instituição do Estado a salvo dos interesses do governo e de seu poder transitório - formalizou a primeira denúncia decorrente da Operação Lava Jato, transformando em réus 36 investigados, entre eles 25 grandes empresários, envolvidos no escândalo de corrupção na Petrobrás. No Congresso Nacional, poder da República hoje subjugado pelo governo lulopetista na base do mais puro fisiologismo, terminou em pizza a CPI que investigava o mesmíssimo escândalo na maior empresa estatal brasileira. Em seu relatório, o petista Marco Maia gastou quase mil páginas para chegar à conclusão de que as investigações "devem ser aprofundadas".

Apesar das reiteradas manifestações de Dilma Rousseff de que a corrupção precisa ser combatida "sem tréguas" e "doa a quem doer", fica evidente que para tanto não se pode contar com a influência de seu governo ou de seu partido.

Para anunciar a decisão do MPF, a força-tarefa da Operação Lava Jato se reuniu na quinta-feira em Curitiba, com a presença de representantes da Polícia Federal, da Receita Federal e do procurador-geral da República, que se deslocou de Brasília para prestigiar o ato. E também para dar seu recado. Depois de declarar que os denunciados "roubaram o orgulho dos brasileiros", numa referência aos prejuízos que esse escândalo tem causado à imagem da Petrobrás no País e no exterior, advertiu que: "Começamos hoje essa nova fase dessas investigações. Outras se seguirão. Esse não será um trabalho de tempo rápido".

Ao denunciar 36 investigados, entre eles 25 altos dirigentes de 6 grandes empreiteiras - Camargo Corrêa, OAS, Mendes Júnior, Engevix, Galvão Engenharia e UTC Engenharia -, o MPF agiu com uma estratégia que dividiu a investigação de acordo com as áreas administrativas da estatal sob suspeita. Neste primeiro "pacote" esteve em foco a Diretoria de Abastecimento, que era comandada por Paulo Roberto Costa, preso há meses, autor de delação premiada e agora denunciado.

Os denunciados foram divididos em três grupos: o das empreiteiras que formavam o cartel, o dos funcionários da Petrobrás envolvidos e o dos operadores financeiros, responsáveis pela lavagem do dinheiro e a distribuição de propinas. Neste caso, integrantes do grupo do doleiro Alberto Youssef.

Explicou o procurador Deltan Dallagnol: "Esses pagamentos feitos pelas empresas corruptoras aos funcionários públicos da Petrobrás corrompidos eram intermediados por operadores financeiros". E garantiu: "As acusações não param por aqui. Asseguro que novas acusações virão, inclusive de improbidade contra as empresas cartelizadas".

A reação de todo cidadão consciente diante das revelações da Operação Lava Jato só pode ser de consternação. Embora os fatos atuais não constituam exatamente novidade, ela é espantosa pela dimensão e revoltante pelas implicações e leva à inescapável conclusão de que o ambiente dos negócios públicos no País está profundamente contaminado pela cultura da propina, que alimenta, muito mais do que a mera ambição material de servidores públicos inescrupulosos, os interesses e a ganância de detentores de poder político que estão por detrás deles. Afinal, é simplesmente impossível de imaginar que esquemas bilionários de corrupção dentro de uma empresa pública se concretizem sem o conhecimento e o beneplácito, se não da iniciativa e do estímulo, de poderosos figurões da cena política.

Esta cena, aliás, brevemente se tornará o foco dos holofotes da Lava Jato. Por enquanto, as investigações se desenvolvem sob a responsabilidade da 13.ª Vara Federal de Curitiba, cujo titular é o juiz Sergio Moro, a quem foi apresentada essa primeira denúncia do MPF. As investigações em torno dos políticos com mandato estão sob a responsabilidade do Supremo Tribunal Federal (STF), pois nesse caso os eventuais réus desfrutam de foro privilegiado.

Num ambiente de grande tensão política e incertezas quanto ao futuro do País às vésperas do início do segundo mandato de Dilma Rousseff, o ato de Curitiba teve o dom, pelo menos, de resgatar momentaneamente a confiança dos brasileiros na consolidação da grande conquista democrática que significou, há pouco mais de dois anos, o julgamento do mensalão: o fim da impunidade dos poderosos.

Forte evidência de grave conluio na Petrobras – O Globo / Editorial

• Entrevista de ex-funcionária ao ‘Valor’ reforça a ideia de que armou-se nos altos escalões da empresa uma forte rede de proteção ao roubo de dinheiro

A etapa de denúncia pelo Ministério Público de acusados por diversos crimes de colarinho branco investigados a partir da Operação Lava-Jato começou quinta-feira, continuou ontem, e em grande estilo. Foram encaminhados ao juiz Sérgio Moro, da Justiça Federal do Paraná, na quinta, pedidos de condenação de 36 pessoas, 25 das quais executivos e alguns funcionários de escalão inferior de grandes empreiteiras(OAS, Camargo Corrêa, UTC, Mendes Junior, Engevix e Galvão Engenharia), todas implicadas no escândalo de corrupção na Petrobras. O MP pede, ainda, a devolução de mais de bilhão de reais surrupiados da estatal pelo superfaturamento de contratos, dos quais R$ 286 milhões de responsabilidade do ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, em conluio com o doleiro Alberto Youssef, responsável pela lavagem do dinheiro, incluindo remessas para o exterior.
Trata-se dos primeiros encaminhamentos de denúncias pelo MP à Justiça. Nesta fase, surgirá a muito esperada lista de políticos beneficiários do enorme golpe dado na estatal sob as bênçãos do lulopetismo.

A autópsia integral do desfalque bilionário dado nos cofres públicos via Petrobras ainda está longe de ser completada. Falta projetar luz em muitos desvãos, para se saber em detalhes como um esquema tão grande foi construído na estatal sem que os sistemas de controles alertassem. Ou alertaram e nada se fez. A entrevista ao “Valor” da geóloga Venina Velosa da Fonseca pode começar a responder a certas perguntas.

Demitida em novembro junto com funcionários de alguma maneira atingidos pela Lava-Jato — só pode ter sido por maldosa ironia —, a geóloga foi gerente na diretoria de Paulo Roberto Costa e afirma, com provas, que alertou Graça Foster, desde os tempos de diretora da atual presidente, e o sucessor de Paulo Roberto, José Carlos Consenza, sobre vários problemas: contratações irregulares, aditivos abusivos, perdas em operações internacionais com combustíveis detectadas por ela ao trabalhar no escritório da estatal em Cingapura, entre outros casos.

Nada aconteceu. Consenza até negou qualquer anormalidade ao comparecer à CPI no Congresso. O presidente anterior, José Sérgio Gabrielli, chegou a instalar comissão. Constatou-se fraude e quem cuidava dos contratos, Geovanne de Morais, do PT baiano como Gabrielli, foi demito, mas pediu licença médica e ficou mais cinco anos na estatal. Da entrevista da ex-funcionária conclui-se que havia uma rede de proteção à corrupção na empresa, proteção exercida no mínimo pela omissão. A posição de Graça, cuja demissão e de toda a diretoria foi pedida em público pelo procurador-geral Rodrigo Janot, ficou ainda mais frágil. O mesmo ocorre com Consenza.

Porém ainda falta saber muito mais sobre o apagão que permitiu que um assalto de grandes dimensões fosse praticado sem que se chamasse a polícia.

Carlos Drummond de Andrade - Canção Final

Oh! se te amei, e quanto!
Mas não foi tanto assim.
Até os deuses claudicam
em nugas de aritmética.
Meço o passado com régua
de exagerar as distâncias.
Tudo tão triste, e o mais triste
é não ter tristeza alguma.
É não venerar os códigos
de acasalar e sofrer.
É viver tempo de sobra
sem que me sobre miragem.
Agora vou-me. Ou me vão?
Ou é vão ir ou não ir?
Oh! se te amei, e quanto,
quer dizer, nem tanto assim.