quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Assessor de Lula diz que Marta Suplicy agiu de forma 'sórdida'

• Paulo Vannuchi rompeu o silêncio ao comentar as críticas da senadora aos colegas e ao PT

• O ex-ministro afirmou que Marta violou ética da política ao revelar conversas reservadas que ela teve com Lula

Ricardo Mendonça - Folha de S. Paulo

Diretor do Instituto Lula, o ex-ministro Paulo Vannuchi (Direitos Humanos) rompeu o silêncio no PT sobre as críticas recentes da senadora Marta Suplicy (PT-SP) aos colegas de partido.

Em comentário para a Rádio Brasil Atual, ligada à CUT, e em entrevista à Folha, Vannuchi classificou como "sórdida", "chocante", "intolerável" e "inaceitável" --entre outros adjetivos-- a "manobra" usada por Marta ao revelar conversas particulares que ela teve com Lula.

"O elemento sórdido --sem dúvida é um elemento sórdido, condenável, inaceitável da entrevista de Marta-- [...] foi expor Lula publicamente na versão de que o Lula, no fundo, é o grande adversário da [presidente] Dilma [Rousseff]", disse Vannuchi.

Em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo" no dia 10, Marta disse que, num jantar organizado por ela com empresários, Lula "entrou nas críticas" dos presentes e "decepava (sic) ela [Dilma]".

Marta disse ainda ter ouvido Lula reclamar de dificuldade na relação com Dilma. "Estou conversando com ela, mas não adianta, ela não ouve", teria dito o petista.

"A manobra de Marta é sórdida porque deixa para Lula duas opções", disse Vannuchi. "Ou fica quieto, e, ao ficar quieto, deixa a mídia alimentar que tudo o que ela fala é verdade; ou então Lula se rebaixa, rigorosamente se rebaixa, e vem a público dizer "olha, a Marta não me entendeu bem, nunca disse isso"".

Para Vannuchi, Lula acerta ao não responder: "Lula realmente não tem que se colocar no mesmo nível de Marta, muito menos nesse momento de atitudes sórdidas".

Para ele, Marta violou "uma regra ética" da política, que é não sair falando publicamente de conversas reservadas. Segundo ele, Lula já teve várias conversas assim com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, "mas nunca nenhum dos dois saiu contando o que o outro falou".

Motivação
"Ela [Marta] tem direito de divergir e sair do partido. Mas não o de fazer isso de uma maneira desastrada", disse.

O ex-ministro avalia que Marta agiu assim porque quer deixar o PT para ser candidata a prefeita de São Paulo em 2016 e "deve ter se sentido desestabilizada" com a escolha do deputado Gabriel Chalita (PMDB-SP) para a secretaria de Educação do prefeito Fernando Haddad (PT).

Foi "uma jogada brilhante, que fechou a porta para o maior interesse de Marta agora, que era se filiar ao PMDB".

Vannuchi também classificou como "descabido" Marta chamar o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, de "inimigo de Lula". E protestou contra o fato de ter chamado o presidente do partido, Rui Falcão, de "traidor".

Em outro trecho, reprovou a forma como Marta articulou a tentativa de lançar Lula candidato em 2014 no lugar de Dilma, "coisa que ela não poderia fazer como ministra de Dilma", afirmou. "São questões de lealdade política que estiveram ausentes, questões de ética mesmo", completou.

"Ela coordenou a campanha do "volta, Lula" que, se tivesse tido a concordância de Lula, teria virado um processo rapidíssimo", afirmou.

Vannuchi ressaltou que não fala em nome de Lula. Marta foi procurada para comentar, mas não respondeu.

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