sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Caixa eleva juros para a casa própria

Casa própria mais cara

• Caixa eleva taxas de financiamentos de imóveis acima de r$ 190 mil para até 11% ao ano

Gabriela Valente, João Sorima Neto - O Globo

BRASÍLIA - Hoje é o último dia para fechar contratos de financiamento da casa própria antes do reajuste dos juros da Caixa Econômica Federal. O aumento das taxas, antecipado pelo GLOBO, foi anunciado oficialmente ontem pela instituição, que é líder em empréstimo habitacional no país. A partir de segunda-feira, quem for comprar imóveis com valor superior aos R$ 750 mil, máximo permitido no Sistema Financeiro de Habitação (SFH), terá os juros elevados de 9,2% ao ano mais TR (Taxa Referencial) para até 11% ao ano.

No âmbito do SFH, as novas taxas variam de 8,5% ao ano a 9,15% ao ano. Antes, esse intervalo era de 8% ao ano a 9,15% ao ano. As taxas mais baixas são para clientes do banco, funcionários públicos e clientes que tenham conta salário na Caixa, o chamado relacionamento com o banco. As mudanças só atingirão os novos contratos. Não valem para quem já tem financiamento com o banco. Também não haverá mudança nos financiamentos do programa Minha Casa Minha Vida e da Carta de Crédito do FGTS, que financia imóveis com valor até 190 mil. Esses empréstimos são voltados principalmente para a população de baixa renda.

O aumento dos juros da casa própria é mais um ajuste na economia em linha com as propostas da nova equipe econômica para reequilibrar as contas públicas. Em 2012, a presidente Dilma Rousseff usou os bancos públicos para forçar a redução dos juros ao consumidor. Segundo a Caixa, os juros dos financiamentos da casa própria ficaram estáveis durante todo o ano passado. A fatia da Caixa no financiamento imobiliário é de nada menos que 75,6%.

No SFH está a maioria dos financiamentos da casa própria no país. Nele são usados recursos captados na caderneta de poupança e do FGTS. Nesse caso, somente os financiamentos feitos com recursos da poupança ficaram mais caros. Esse tipo de financiamento é feito com recursos captados de várias formas. É aqui que a alta da taxa básica de juros (Selic) pode ter influência. Essa é a justificativa usada pelo banco para subir o custo financeiro para seus clientes. Em nota, a Caixa informa que a "alteração se deve ao aumento das taxas de juros básicos". A Selic passou de 11% ao ano para 11,75% ano nos últimos três meses.

Segundo avaliação de especialistas ouvidos pelo GLOBO, essa mudança tem um caráter mais geral: tenta aproximar juros de empréstimos subsidiados aos cobrados no mercado privado. Frear a concessão de créditos com benefícios do governo é uma ideia cristalizada na nova equipe econômica.

Para Miguel Ribeiro de Oliveira, da Anefac, mesmo com o aumento, as taxas praticadas pela Caixa ainda continuam atrativas. No Bradesco por exemplo, as taxas para imóveis de até R$ 750 mil são de 9,2% ao ano, e para imóveis entre R$ 750 mil e R$ 5 milhões sobe para 9,8%. Mas o Bradesco informa que essas taxas podem ser mais baixas, dependendo do relacionamento que o cliente tem com o banco. O banco informou também que, por enquanto, não há informações sobre aumento de juros dos seus financiamentos imobiliários.

O Itaú Unibanco não informou as taxas praticadas no crédito habitacional, porque "as taxas de crédito imobiliário são personalizadas de acordo com o perfil de relacionamento dos clientes". A instituição diz que as taxas estão mantidas, sem aumentos. O Banco do Brasil informou que não há previsão de reajuste de taxas para a compra da casa própria. As taxas praticadas também dependem do relacionamento do cliente com o BB.

Para imóveis de R$ 190 mil até R$ 10 milhões, as taxas cobradas variam de 9,4% a 9,6%. As taxas de financiamento imobiliário praticadas pelo HSBC dependem do relacionamento com o cliente, informou no banco. O Santander não informou se reajustará as taxas e nem divulgou os juros que pratica atualmente.

Miguel lembra que para quem está em dúvida entre comprar a casa própria ou alugar um imóvel, a primeira opção continua sendo mais atrativa. Isso porque, o aluguel custa algo como 0,8% a 1% do valor do imóvel. Tomando a maior taxa de juro ao ano cobrada pela Caixa (11%) chega-se a um juro mensal de 0,87%.

- Ou seja, o valor do aluguel e o do juro mensal da parcela da casa própria estão muito próximos. Portanto, é melhor comprar, já que se trata de um investimento em um bem.

Segundo dados do BC, o Brasil tem R$ 424,1 bilhões em contratos de crédito imobiliário ativos. É o crédito que mais cresce no país: nos últimos 12 meses, saltou 27%.

- Houve uma mudança de discurso quando a nova equipe econômica assumiu. Esse aumento da Caixa é mais um sinal dessa nova costura - ressalta o economista-chefe da INVX Global Partners, Eduardo Velho.

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