quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Demissões provocam greve na Volkswagen

• Sindicato paralisa fábrica para pressionar empresa a retomar negociações sobre excesso de mão de obra

Eduardo Laguna e Diogo Martins – Valor Econômico

A Volkswagen confirmou ontem que vai demitir 800 trabalhadores na fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, deflagrando uma greve lançada por tempo indeterminado pelo sindicato dos metalúrgicos da região para pressionar a montadora a anular essas demissões e voltar a negociar alternativas ao excesso de mão de obra na unidade.

O corte foi anunciado como a primeira das etapas de adequação do efetivo no parque industrial do ABC. Segundo a Volks, a derrocada da indústria de veículos, junto com o acirramento da concorrência, exige medidas para melhorar a competitividade da operação.

O sindicato, contudo, diz que a decisão viola o compromisso de preservação de empregos dado pela montadora no acordo trabalhista firmado em março de 2012, o mesmo que a Volkswagen tentou, sem sucesso, alterar no fim do ano passado em decorrência da piora nas condições do mercado.

"Estamos esperando a empresa entrar em contato. Espero ter uma reunião com os representantes da Volkswagen entre quarta [hoje] e quinta feira", disse ao Valor o presidente do sindicato, Rafael Marques, que ainda acredita na possibilidade de a companhia reverter as demissões. Ontem, dia de retorno dos operários das férias coletivas de fim de ano, a greve manteve paralisada a produção nas linhas da Volkswagen no ABC, onde são produzidos os modelos Gol, Saveiro e Polo. O sindicato pretende manter o movimento enquanto a montadora não der sinais de que voltará à mesa de negociação.

Da mesma forma, a entidade planeja parar hoje a fábrica da Mercedes-Benz, também instalada em São Bernardo, em manifestação contra demissões na montadora de caminhões. De acordo com Marques, 262 funcionários foram dispensados da Mercedes no mês passado, número não confirmado pela multinacional.

No caso da Volkswagen, o ministro do Trabalho, Manoel Dias, já se colocou à disposição para ajudar nas negociações entre as partes. Segundo Marques, nenhum trabalhador, seguindo orientação do sindicato, assinou a carta de demissão apresentada ontem pela fabricante de origem alemã. O plano é demitir os 800 operários no dia 5 de fevereiro, após licença remunerada de um mês. Além desse grupo, o sindicato afirma que outros 1,3 mil empregos estão ameaçados, já que o excesso de mão de obra na fábrica de São Bernardo do Campo é estimado em 2,1 mil operários, ou o equivalente a 16% dos 13 mil funcionários atualmente empregados na unidade.

Fora a crise enfrentada pela indústria de veículos, com queda tanto nas vendas domésticas como nas exportações, a desativação, em dezembro de 2013, das linhas que produziam a Kombi e o Gol G4 na unidade também contribuíram ao aumento da ociosidade na fábrica.

Entre julho e novembro do ano passado, a montadora negociou com o sindicato uma revisão no acordo trabalhista firmado em 2012 para reduzir custos e a mão de obra excedente no ABC. Contudo, a proposta, que previa medidas como congelamento de salários, programa de demissões voluntárias e incentivos à antecipação de aposentadoria, foi rejeitado pelos trabalhadores em assembleia realizada no dia 2 de dezembro.

A Volkswagen diz que os reajustes salariais estabelecidos no acordo vigente - com aumentos acima da inflação até 2016 - distanciam a companhia de suas principais concorrentes. Argumenta ainda que paga no ABC uma remuneração média mais alta do que as demais marcas.

Balanço da Anfavea, a entidade que representa as montadoras instaladas no país, mostra que 10,8 mil vagas de trabalho foram eliminadas no setor entre janeiro e novembro de 2014. O resultado final do ano passado, incluindo os números de dezembro, será divulgado amanhã pela associação.

Antes da Volkswagen, a Volvo já havia anunciado em dezembro a demissão de 206 operários na fábrica de caminhões em Curitiba (PR). Assim como acontece na Volkswagen, a multinacional sueca enfrentou greve após a decisão. Mas a paralisação durou apenas um dia, sendo interrompida com a definição de uma indenização especial aos demitidos.

Ontem, durante entrevista a jornalistas no Rio de Janeiro, o presidente da Nissan no Brasil, François Dossa, descartou que a montadora tenha intenção de demitir funcionários em sua fábrica em Resende, no Sul Fluminense. Ele explicou que 279 funcionários que estavam com contrato de trabalho suspenso em regime de "layoff" desde setembro já voltaram a trabalhar regularmente. "Não temos intenção de demitir. Pelo contrário, já que vamos lançar o nosso Versa", disse Dossa, referindo-se ao carro sedã que começa a ser produzido neste mês em Resende.

Presente no evento, o presidente mundial da aliança Renault Nissan, Carlos Ghosn, disse que o "layoff" feito no ano passado pela montadora japonesa foi uma medida de curto prazo e não uma mudança estrutural.

"Tem uma grande diferença entre umas montadoras e outras. Umas têm participação no mercado forte, outras são 'challengers' (desafiantes, em inglês). Nós somos 'challengers', com participação de 2,5% no market share brasileiro. Estamos bem abaixo de nossa média mundial, de 6,5%", afirmou Ghosn.

Procuradas pelo Valor, Fiat, General Motors (GM) e Ford também negaram planos de demissão neste momento.

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