quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Dias difíceis – Editorial / Folha de S. Paulo

• Semana começa com apagão e aumento de impostos, consequências há muito antecipadas dos erros do primeiro mandato de Dilma

Não foi uma segunda-feira (19) fácil para os brasileiros. Por volta das 15h, um apagão deixou dez Estados e o Distrito Federal sem energia por cerca de 90 minutos. Pouco depois, o governo federal anunciou um pacote de aumento de impostos para recompor o caixa.

São as consequências, há muito antecipadas, dos erros de gestão do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff (PT).

No caso da eletricidade, a mão pesada do Planalto, que tentou forçar artificialmente a queda das tarifas, levou à desorganização do setor e ao colapso dos investimentos.

A estiagem prolongada desde o ano passado só agrava a situação. O apagão até pode ter sido pontual, como alegam as autoridades --pois derivado de um pico momentâneo de consumo ligado ao calor extremo--, mas revela o quanto o sistema opera no limite.

Dado que os reservatórios das hidrelétricas sairão da estação chuvosa ainda mais vazios do que em 2014, há risco real de racionamento nos próximos meses.

A circunstância atenuante, se cabe a expressão, é que o consumo começa a ser contido, tardiamente, com a elevação das tarifas, que já subiram 17% em 2014 e devem ter nova majoração de pelo menos 30% ao longo deste ano.

Se ocorrer de fato um racionamento, ele será menos drástico que o de 2001, mas não menos custoso para famílias e empresas. Não se vislumbra ainda, por outro lado, uma estratégia para superar os problemas atuais de forma definitiva.

É distinto o quadro em relação ao reequilíbrio das contas públicas. A alta do imposto para operações de crédito de pessoas físicas, o aumento no PIS/Cofins para produtos importados e a volta da cobrança da Cide sobre combustíveis, entre outras medidas, elevarão a arrecadação em R$ 20 bilhões.

Considerando todas as iniciativas de elevação tributária, cortes de gastos e redução de subsídios, a nova equipe econômica já entregou uma boa parte do ajuste prometido para 2015, que ampliará o superavit primário (o saldo de receitas e despesas antes do pagamento de juros) para 1,2% do PIB.

Verdade que a consequência imediata de todas essas correções, por necessárias que sejam, é mais inflação e menos crescimento.

Mas, se o ajuste der certo a ponto de restaurar o ânimo empresarial e amainar a desconfiança em relação às contas públicas, será possível vislumbrar um ambiente melhor a partir de 2016.

Faria bem à biografia da presidente da República que ela própria, e não apenas seu ministro da Fazenda, viesse a público para explicar aos brasileiros os motivos da guinada de 180 graus que agora, felizmente, promove na economia.

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