terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Frei Caneca (20/08/1779-13/01/1825) Gesta da liberdade

"Com uma pesada corrente de ferro no pescoço o prisioneiro ia andando devagar. Estava descalço, usava uma batina suja e rasgada, vigiado por soldados bem armados. Em direção ao porto, caminhava em silêncio. A Revolução Pernambucana tinha sido esmagada, mas a idéia de libertar a província do poder central estava cada vez mais viva."

O prisioneiro retratado acima foi Frei Joaquim do Amor Divino Rabelo Caneca, mais conhecido como Frei Caneca, um dos mentores da Revolução Pernambucana. Preso em 1817, Frei Caneca foi levado para Salvador, onde cumpriu pena até 1821.

De família humilde, desde cedo demonstrando inteligência viva e grande força moral, Frei Caneca teve formação religiosa. Professou votos no convento do Carmo, em Pernambuco e tornou-se secretário do visitador da ordem. Freqüentou centros de estudos políticos de tendência liberal e participou do movimento revolucionário, pelo qual foi preso.

Ao ser libertado, de volta a Pernambuco, tornou-se professor de filosofia, geometria e retórica. Em meio a intensa atividade jornalística, fundou o jornal "Tifis Pernambucano", de oposição ao governo central conservador. Os temas políticos dominaram a carreira literária de Frei Caneca. Como escritor, ele assimilou os modelos do jornalismo panfletário e deu um tom pessoal às idéias dos filósofos franceses do Iluminismo, como Montesquieu e Rousseau.

Com a instauração da monarquia, por Pedro 1º, em 1822, preparava-se uma Constituição para reger o país. Em 1824 o Imperador dissolveu a Assembléia Constituinte, outorgando uma Constituição de perfil conservador, contra a qual se insurgiu o grupo de Caneca.

As lutas políticas que opunham o poder local ao Império tomavam vulto cada vez maior em Pernambuco. Dia 2 de julho de 1824, os líderes pernambucanos romperam definitivamente com o poder central. Anunciaram a formação de uma nova república - a Confederação do Equador - e pediram a adesão das outras províncias do Norte e Nordeste.

O movimento, no entanto, não obteve o apoio necessário. A adesão dos países estrangeiros, a princípio esperada, também não foi adiante. O movimento acabou sufocado, depois de muitas lutas sangrentas. Dia 29 de novembro de 1824, a coluna na qual lutava Frei Caneca foi cercada pelas tropas legalistas.

Frei Caneca, um dos maiores idealizadores e combatentes do movimento, foi condenado à forca. Foi preso e levado para um calabouço. No dia de Natal do mesmo ano, foi transferido de sua cela a uma sala incomunicável, para receber a sentença. Muito foi feito para que Caneca não fosse executado. Houve petições, manifestações de ordens religiosas, pedidos de clemência. Em vão.

O próprio condenado descreveu o seu julgamento:

"No dia 20 fui eu conduzido perante o assassino tribunal da comissão de que eram membros o general Francisco de Lima e Silva{1}, presidente; juiz relator, Tomás Xavier Garcia de Almeida; e vogais, o coronel de engenharia Salvador José Maciel, o tenente-coronel de caçadores Francisco Vicente Souto; o coronel de caçadores Manuel Antônio Leitão Bandeira; o conde de Escragnolle, que foi o meu interrogante."

Dia 13 de janeiro de 1825, o prisioneiro foi conduzido à forca. Na hora de chamar o carrasco, surgiu um problema. Não havia quem aceitasse enforcar Caneca. Castigos, sangue, pancadas. Nada, ninguém queria se prestar ao papel de carrasco. Por fim, resolveram trocar a forca pela execução por fuzilamento. Estava encerrada a carreira revolucionária de Frei Caneca. Seu corpo foi deixado num caixão de pinho em frente ao Convento das Carmelitas, de onde os padres o recolheram.

O poeta e escritor João Cabral de Melo Neto descreveu, em versos, o último dia de Frei Caneca, em sua obra O Auto do Frade. Seu irmão, o historiador Evaldo Cabral de Mello, foi o organizador e redigiu a introdução ao livro Frei Joaquim do Amor Divino Caneca Coleção Formadores do Brasil, Editora 34, Ltda, 2001, intitulada Frei Caneca ou a Outra Independência, . Quanto aos demais protagonistas, conta Evaldo Cabral de Mello, que Manuel de Carvalho se refugiou a bordo de uma fragata inglesa, indo viver em Londres, de onde só retornará após a abdicação para reiniciar uma carreira política que o levaria à presidência de Pernambuco e ao Senado do Império. O poeta Natividade Saldanha, secretário da Junta, asilou-se na Venezuela e depois em Bogotá, onde exerceu a advocacia e morreu em 1830.

Nota
{1} Pai do futuro Duque de Caxias

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