quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Jarbas de Holanda - O preço do ajuste para o petismo

Para os diversos segmentos do mercado, o espaço para o ajuste das contas públicas, liderado pelo ministro da Fazenda Joaquim Levy, terá – ademais do correspondente à enorme escala do rombo fiscal a ser corrigido – mais um custo também elevado. Porque precisará neutralizar ou reduzir significativamente o peso de outro obstáculo à essencial recuperação da credibilidade dos investidores internos e externos: a desconfiança deles em relação à presidente Dilma e ao seu intervencionismo populista; incerteza a respeito da efetiva autonomia do ministro; o receio de que as medidas que este vem encaminhando sejam esvaziadas ou suspensas bem antes de propiciarem as condições para uma retomada do crescimento, tendo em vista as eleições municipais de 2016. É o “risco Dilma”.

Passo a tratar, porém, de outro tipo de obstáculo, já bem perceptível, a um ajuste fiscal como o proposto pelo ministro Levy: o dos seus efeitos restritivos dos principais instrumentos políticos do PT – a intensificação do assistencialismo de bolsas e outros “benefícios” às camadas sociais de baixa renda, de par com os estímulos ao consumismo da chamada classe média emergente. A qual é, assim, contraposta à classe média tradicional e demais áreas melhor informadas da população, nas preocupações com eficiência, seriedade e padrões éticos dos governantes.

Sendo, ainda, incapaz de resistir a uma forte retórica eleitoral por mais falsa e fantasiosa que seja. Mas cujo respaldo ao populismo lulopetista será posto em xeque com o desmonte, mesmo que parcial, dos incentivos fiscais e de crédito a amplo consumismo. Desmonte inevitável com o fim de desonerações e subsídios ao setor automotivo e à produção e comercialização de outros bens e serviços – fatores importantes do descontrole das contas públicas, da pressão inflacionária. E, simultaneamente, o corte das despesas federais terá de reverter a explosão de gastos com o Bolsa Família e várias outras bolsas criadas ou ampliadas nos últimos anos, como o Defeso, o FIES, a distribuição de pequenas máquinas agrícolas e de tratores para as prefeituras, do Luz para Todos.

Para não falar dos “benefícios” de grande alcance eleitoral como o represamento dos preços de energia elétrica, de combustíveis, de transporte público. E tudo isso precisando ser feito num contexto de inflação e juros nas alturas, de aumento de impostos, de estagnação da economia, de agudos cortes de investimentos estatais e privados, de conseqüente desencadeamento do desemprego.

Neste cenário, e também enfrentando uma ampliação de seu desgaste é􀆟co com o processo do petrolão, as direções e as diversas lideranças do PT tendem a dividir-se entre duas posturas, contraditórias, que lhes são cobradas. A de combate ao “ajuste ortodoxo, recessivo e antissocial”,segundo a CUT, grande parte das bases e os “movimentos sociais” aliados. E a de sustentação do governo Dilma com o apoio ao ajuste considerado um “mal necessário” para que, superada a crise fiscal, possa ser viabilizado o grande objetivo de uma volta de Lula à presidência em 2018. O qual, com esse objetivo, foi quem forçou, decisivamente, a sucessora a nomear um ministro da Fazenda com potencial de recuperar a credibilidade do mercado. E é, também, quem administra, articulando e procurando limitar, as referidas reações ao ajuste, tendo em vista colocá-las, depois, a serviço do mesmo objetivo. Ou seja, um verdadeiro “samba do crioulo doido”, de boa orquestração muito difícil, e improvável.

Os “responsáveis” exclusivos pelo petrolão
O ex-ministro Gilberto Carvalho fez anteontem em Brasília, em reunião com 150 militantes do PT, uma avaliação sobre o megaescândalo da Petrobras que o ex-presidente Lula poderá vir a assumir em defesa dos governos petistas e dos representantes do par􀆟do no comando da estatal, envolvidos na operação Lava-Jato. Trecho da avaliação, resumida em reportagem do Globo: “O ex-ministro descreveu o escândalo como uma ação das empreiteiras para corromper funcionários da petroleira e minimizou as doações de campanha. ‘São empresas que se unem e corrompem funcionários de uma estatal para auferir lucros e fazer lavagem de dinheiro. A contribuição política é apenas um pequeno capítulo do processo de acerto entre as empresas que fazem seu cartel, como fizeram no metrô de São Paulo e na Petrobras’”.

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Jarbas de Holanda é jornalista

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