terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Luiz Carlos Azedo - Um jogo de perde-perde

• Dilma pode ter, no comando da Câmara, um adversário ardiloso e duro, cuja relação com o Palácio do Planalto será estabelecida em bases nunca antes vistas pelo PT

- Correio Braziliense

O principal assunto político da semana é a eleição da Mesa da Câmara, que se tornou uma dura batalha entre os dois principais partidos da base do governo, o PT e o PMDB. Quem mais perde na disputa é o Palácio do Planalto, qualquer que seja o resultado.

Caso o candidato do PT, Arlindo Chinaglia (SP), seja eleito presidente da Câmara, a presidente Dilma Rousseff terá a pauta da Casa na mão. Supostamente, esse é o melhor cenário para os governistas. Mas, em contrapartida, o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), o principal adversário, passará informalmente à oposição.

Suponhamos que isso realmente ocorra. Em tese, o governo seria obrigado a escolher entre fazer concessões ainda maiores ao líder do PMDB ou negociar com a oposição, o que implicará ter de pactuar a sua agenda com os tucanos. De imediato, estão na pauta do Congresso as medidas impopulares que foram adotadas para restabelecer o equilíbrio fiscal e dependem de aprovação do Legislativo.

O plano A do Palácio do Planalto, porém, não é o cenário mais provável. Nos bastidores da Câmara, Cunha continua sendo o favorito no pleito, simplesmente porque o apoio formal dos demais partidos da base do governo ao candidato do PT não tem o compromisso integral das respectivas bancadas. Cunha teceu sua rede de apoios nos mais diversos partidos, inclusive nos de oposição.

Dilma pode ter, no comando da Câmara, um adversário ardiloso e duro, cuja relação com o Palácio do Planalto será estabelecida em bases nunca antes vistas pelo PT. Os petistas sempre contaram com o apoio do presidente da Câmara, mesmo na breve e temerária passagem de Severino Cavalcanti (PP-PE) pelo cargo, no governo Lula. Fora eleito em circunstâncias parecidas com a atual: um racha na base do governo.

Para quem não se recorda, Severino foi aquele que pediu ao ex-presidente Lula uma diretoria da Petrobras “que fura poço”. Parecia fisiologismo provinciano, mas ele sabia das coisas. Já rolava o esquema de propina flagrado pela Operação Lava-Jato na estatal.

O político pernambucano era o rei do baixo claro. Deu-se mal por causa da “taxa extra” que supostamente resolveu cobrar do concessionário de uma das cantinas da Câmara. Acabou renunciando ao mandato para não ser cassado pelos colegas.

Há uma versão de que Cunha estaria envolvido na Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, como outros integrantes do PMDB, mas o peemedebista repeliu com veemência as acusações. Na verdade, o Palácio do Planalto teme que ele utilize o escândalo para chantagear a presidente Dilma. O presidente da Casa tem a prerrogativa de aceitar ou não a tramitação de pedidos de impeachment.

Dois outros candidatos disputam a eleição. O deputado Júlio Delgado (PSB) é o principal representante das oposições. Suas chances vão depender de um eventual segundo turno, no caso de ser o segundo colocado na primeira votação.

Caso isso ocorra, Delgado passaria a disputar a presidência da Câmara no mano a mano. É improvável um desfecho desse tipo, mas não é impossível, nem seria a primeira vez. O quarto candidato é o deputado Chico Alencar (PSol-RJ), que se lançou para marcar posição. Na prática, a candidatura dele enfraquece o candidato de oposição e ajuda Chinaglia a chegar ao segundo turno.

Ser ou não ser
A boataria tomou conta dos bastidores do Senado, ontem. Ninguém sabe se Renan Calheiros (PMDB-AL) será mesmo candidato a presidente da Casa. Nos bastidores, comenta-se que ele ainda avalia a situação, em meio aos boatos de que é um dos políticos mais envolvidos na Operação Lava-Jato. Experiente e frio, mantém o suspense, mesmo entre os pares da bancada do PMDB.

Caso Renan desista, o candidato natural da bancada seria o líder do PMDB, Eunício de Oliveira (CE), cujas relações com a presidente Dilma Rousseff não são das mais amistosas. Dois outros nomes surgem como alternativa na bancada: Luiz Henrique (SC), que só esperaria um sinal do Palácio do Planalto para ir à luta, ou Ricardo Ferraço (ES), cujo nome foi lançado pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG), mas não se colocou abertamente na pugna.

Na eleição passada, Renan só confirmou a candidatura no dia da eleição. Pode ser que a situação se repita. Nesse caso, haverá um anticandidato de oposição. O senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE) pôs o nome à disposição.

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