quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Ministro diz que 'Deus é brasileiro' e não faltará energia

• Um dia após apagão, ministro anuncia que térmicas desligadas para manutenção serão religadas antes do previsto

• Eduardo Braga nega falta de energia, mas diz "contar com Deus"; consumo foi recorde pouco antes do blecaute

Júlia Borba, Valdo Cruz e Lucas Vetorazzo – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA, RIO - Um dia após o apagão que afetou 11 Estados e o Distrito Federal, o governo decidiu tomar medidas para reforçar o abastecimento de energia para o Sudeste. A região vivenciou pico recorde de consumo minutos antes da interrupção do fornecimento, feita, segundo o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), para evitar um desligamento de maiores proporções.

Segundo o ONS, o pico da chamada carga de energia (o consumo efetivo somado às perdas nos sistemas de geração e distribuição) no Sudeste/Centro-Oeste, de 51.596 megawatts (MW), ocorreu às 14h32. A marca anterior havia sido obtida na terça passada, de 51.295 MW. O corte de energia ocorreu por volta de 14h55.

O diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, negou que o incidente tenha ocorrido por incapacidade da geração para atender a demanda.

Chipp disse que sistemas de proteção levaram ao desligamento automático indevido de 2.200 MW (megawatts) de usinas de geração, o que levou ao corte programado de carga. O motivo está sendo investigado.

"Não houve apagão. O que houve foi um corte preventivo feito pelo operador para evitar desligamento de maiores proporções."

Apesar de também negar que o apagão tenha ocorrido por falta de energia e descartar planos de racionamento, o ministro Eduardo Braga (Minas e Energia) disse que é preciso contar com Deus para que chova mais e, com isso, sejam recuperados os níveis dos reservatórios das hidrelétricas, o que garantiria mais segurança.

"Deus é brasileiro. Temos que contar que ele vai trazer um pouco de umidade e chuva para que possamos ter mais tranquilidade."

O plano para reforçar o Sudeste é abastecer o sistema nos próximos dias e semanas com mais de 1.500 MW (megawatts) extras. A maior parte virá de usinas térmicas da Petrobras, que estavam paradas para manutenção e serão religadas antes do previsto --adicionando 867 MW à capacidade de geração do país até 18 de fevereiro.

A energia das térmicas é mais cara e seu uso deve tornar ainda mais dispendiosa a conta dos consumidores.
O restante da energia extra virá de Itaipu, via transferência adicional de 300 MW; da injeção adicional de mais 400 MW no Sudeste e no Centro-Oeste vindos do Nordeste e da usina nuclear de Angra 1, com geração de até 200 MW.

Segundo o ministro, a ação visa garantir o fornecimento até que o problema na linha Norte e Sul, que esteve entre as causas do apagão de segunda, esteja superado.

Falha
Segundo Braga, o desligamento de usinas verificado após o problema na linha de transmissão e ao aumento do consumo foi uma falha. Mas não se sabe se os erros foram humanos ou do sistema eletrônico dessas unidades.

Chipp, do ONS, disse que um motivo ainda desconhecido provocou a queda da frequência com que giram as turbinas das usinas e que culminou no desligamento automático de parte das térmicas no Sudeste do país.

Especialistas apontam que a frequência das turbinas é baseada no casamento entre demanda e oferta de energia. A frequência tende a cair quando as usinas estão muito demandadas e não têm como atender o consumo sem sobrecarregar as máquinas.

Como as turbinas são projetadas para operar em uma frequência específica, alguns equipamentos desligam para evitar o colapso.

Segundo Chipp, quando as usinas pararam de funcionar, verificou-se que a linha que transporta energia excedente do Norte e do Nordeste para o Sudeste operava com carga elevada. Colocar mais energia nessa linha, disse, seria arriscado, já que uma falha nesse sistema poderia ocasionar corte de energia ainda maior.

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